30/6/2012, M K
Bhadrakumar*, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo de
Tradutores da Vila
Vudu
Mapa étnico e geopolítico do Af-Pak |
Os
tijolos para construir a histórica visita que o presidente Vladimir Putin da
Rússia fará ao Paquistão em setembro já começaram a chegar a Islamabad. É
momento de máxima importância na história e na política regionais. Será a
primeira vez que um presidente russo visitará o Paquistão, desde que o país
nasceu, em 1947.
Os
russos estão produzindo tijolos muito resistentes para a casa que esperam erguer
na região que é cabeça de praia no Oceano Índico – mansão suficientemente grande
para receber os amigos dos russos, do Paquistão e dos países vizinhos, Índia,
Irã e Afeganistão, que queiram conviver com os russos.
Mas...
os EUA enfureceram-se, à mera visão dos tijolos russos. O ponto é que essa Casa
da Rússia estará plantada no meio da estrada, sobre a Nova Rota da Seda que os
EUA vêm planejando, e que tem de atravessar o Paquistão. Se o acesso ao
Paquistão ficar bloqueado, será extremamente difícil para os EUA manter unidos o
corpo e a alma das dezenas de milhares de soldados que os EUA esperam manter
alocados no Hindu Kush e na Ásia Central, feito neopioneiros no “Oeste Selvagem”
da Xingjiang chinesa e no “baixo ventre macio” da Rússia.
Áreas tribais entre Afeganistão e Paquistão |
Em
resumo, a batalha começou, pelo controle sobre o futuro do Paquistão. Há muitos
interessados, e a luta à frente ameaça ser duríssima, porque no coração da
disputa estão inúmeras outras questões, todas com consequências profundas na
política mundial – segurança no campo da energia das duas grandes usinas da Ásia
(China e Índia); o futuro do Novo Oriente Médio; e, é claro, a estratégia dos
EUA para ‘conter’ Rússia e China.
Moscou
escalou diplomata talentoso e de vastíssima experiência, para visitar o
Paquistão em maio e avaliar o terreno. É homem de cuja reputação se fazem as
lendas nas montanhas do Hindu Kush – embaixador Zamir Kabulov, principal homem
da Rússia no Afeganistão. Ao escalar Kabulov, Moscou declara também,
gentilmente, a amplidão de suas intenções no que tenham a ver com o projeto
arquitetônico: a nova mansão russa terá ares de Afeganistão.
Imediatamente
depois da visita de Kabulov, os especialistas russos começaram a desembarcar no
Paquistão. Trazem propostas de alta significação para a segurança e a
estabilidade regionais. Moscou demarcou a questão da cooperação no campo da
energia, como o fulcro da nascente cooperação com Islamabad.
Ressurge
uma ideia de seis anos passados...
É
decisão arguta de Moscou, porque a segurança no campo da energia é questão-chave
na economia política do Paquistão, não menos importante que o terrorismo.
Grandes áreas do Paquistão só têm hoje poucas horas diárias de eletricidade; e a
ira popular é visível. Moscou avaliou que a segurança energética é parte
essencial da capacidade do Paquistão para preservar sua “autonomia estratégica”
e o status de potência sul-asiática; portanto, ao oferecer ajuda ao país nessa
área, os interesses geopolíticos russos em vastas porções do Oriente Médio
Expandido – do Golfo Persa à Região Autônoma de Xinjiang na China – estarão
também sendo promovidos.
Além
disso, em termos imediatos, entender-se com o Paquistão está-se convertendo em
imperativo para os russos, no cenário afegão pós-2014, depois de as potências
ocidentais terem completado a “retirada”, mas quando ainda haverá ali presença
militar não desprezível, sem fim previsto, de dezenas de milhares de soldados.
Rússia
e Paquistão estão juntos na oposição à ocupação de longo prazo do Afeganistão,
pelo ocidente: a Rússia espera influenciar as políticas paquistanesas
relacionadas ao futuro do Afeganistão; por sua vez, a cooperação com o Paquistão
amplia a resiliência russa total para desempenhar papel efetivo na estabilização
do Afeganistão e na oferta de segurança na Ásia Central; e, do mesmo modo, um
relacionamento forte com Paquistão – no campo da segurança energética, sobretudo
– pode garantir aos russos mais um gancho nos laços estratégicos com outras
potências regionais chaves, especialmente China, Índia, Irã e Arábia Saudita.
Por
fim, mas não menos importante, o Paquistão é valioso interlocutor para os
russos, no que tenha a ver com atividades e movimentos dos militantes que operam
no Cáucaso Norte.
Tudo
isso posto, a Rússia sopesa cuidadosamente suas opções e é avessa a embarcar em
aventuras à moda da era soviética que se possam converter em drenagem de
recursos. A prioridade dos líderes russos é regenerar e inovar a economia e
construir força nacional; e, no caso do Paquistão, Moscou estima que aí se possa
construir uma interessante parceria, de alto valor econômico para a Rússia
benefício para os dois lados.
Tudo
considerado, a estratégia de Moscou é desenvolver novos músculos de cooperação
com o Paquistão, que sejam sustentáveis, duráveis e que operem em harmonia com
as vibrantes parcerias estratégicas da Rússia com a China, a Índia e o Irã.
Dito
em outros termos, a abordagem russa provê um necessário “ajuste”
político-regional, ou, mesmo, é pré-requisito à iminente admissão de Paquistão e
Índia como membros-plenos da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) [orig.
Shanghai Cooperation Organization (SCO)].
Putin
é estadista orientado para a ação. A parte triste é que se passaram seis longos
anos desde que, pela primeira vez, o mesmo Putin propôs, na reunião da OCX em
junho de 2006, a criação de um clube de energia
dentro do grupo regional, no qual se reunissem os países produtores (Rússia, Irã
e os países da Ásia Central) e os três grandes consumidores (China, Índia e
Paquistão) de energia.
Naquela
mesma reunião da OCX, Putin anunciou, pela primeira vez publicamente, que a
empresa-leviatã da energia russa, a Gazprom, desejava participar da construção
do gasoduto Irã-Paquistão-Índia, IPI. Em sua fala em 2006, Putin disse que:
A Gazprom está pronta a participar
e a prover assistência técnica e, se necessária, também assistência financeira;
e estamos prontos a oferecer quantidades consideráveis de uma e outra, sobretudo
para projeto que com certeza decolará.[1]
A
ideia de Putin é que os exportadores de petróleo e gás dentro da OCX sempre
competiram por mercados promissores (como China ou Índia); para coordenar os
próprios movimentos, a OCX carece de um clube de energia, que atuará como centro
de coordenação, aproximando os produtores de energia e aqueles três consumidores
chaves.
Outro
importante ator na Ásia Central que até agora se manteve fora da OCX é o
Turcomenistão – e chega a soar estranho falar em clube de energia na região, que
não inclua tão poderoso produtor de gás, como o Turcomenistão. A Rússia tem
algumas disputas de gás com o Turcomenistão – país com o qual, contudo, a China
mantém relacionamento caloroso no campo da cooperação energética.
Desenvolvimento
de alta significação, pouco noticiado, foi que o presidente chinês Hu Jintao
convidou o presidente turcomeno a visitar Pequim, mês passado, quando da reunião
da OCX – convite aceito. Basta para ver que a China está interessada em
harmonizar suas políticas regionais com a Rússia e pode até ajudar Moscou em
seus esforços para coordenar os impulsos da segurança energética entre e com
países membros e países observadores da OCX.
Detalhe
surpreendente é que as propostas que os especialistas russos trouxeram a
Islamabad semana passada retomam, na essência, as linhas centrais daquela
proposta de Putin em 2006. Considerados os detalhes já conhecidos até agora, são
as seguintes as propostas que Moscou está trazendo a
Islamabad:
-
A Rússia pode oferecer assistência financeira e técnica aos projetos multibilionários de importação de gás e energia para o Paquistão (o gasoduto).
-
Especificamente, a Rússia tem interesse em participar dos dois grandes projetos de oleogasodutos na área, a saber, o TAPI (Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia) e o IP [Irã-Paquistão].
-
A Rússia prefere que a cooperação seja negociada no nível governamental, em negociações diretas (não em concorrências).
-
A Rússia também deseja participar no projeto Ásia Central e Sul da Ásia (ACSA) [orig. Central Asia and South Asia (CASA)], originalmente aventado em 2006, para levar ao Paquistão, por linhas de transmissão que cruzarão o leste do Afeganistão, 1.000-1.300 megawatts de energia extra, nos meses do verão, a partir do Tadjiquistão e Quirguistão (projeto que tem o apoio do Banco Mundial e do Banco Islâmico de Desenvolvimento [orig. Islamic Development Bank].
-
A Rússia está disposta a cooperar na exploração de petróleo, gás e minérios no Paquistão. Não surpreendentemente, Islamabad apressou-se responder às propostas russas. Até agora, já há entendimentos, acertados nas primeiras conversações, concluídas em Islamabad na 4ª-feira:
-
O Paquistão acolhe com bem-vindas as propostas russas. Especificamente, o Paquistão é favorável a negociar contratos com as empresas estatais russas de energia em contatos diretos governo-a-governo; e está disposto a adaptar a legislação vigente, para viabilizar esse processo. Serão tomadas as providências necessárias para concluir um memorando de entendimento que viabilize, durante a visita de Putin ao Paquistão, o processo de fazer avançar os projetos identificados:
-
Sobre o oleogasoduto IP, o Paquistão já fez contato com os interessados nos contratos para construir o oleogasoduto (obra estimada em US$1,5 bilhão). A Gazprom russa também participará. O Paquistão tem especial interesse em propostas que tragam, atachado, o pacote de financiamento. (China e Irã também manifestaram interesse em participar desse projeto). Até meados de julho, o Paquistão encaminhará à Rússia, para estudo, um rascunho de acordo para assistência técnica e financeira a ser recebida dos russos, com vista ao projeto IP.
-
A Rússia aceitou financiar os trabalhos de recuperação das usinas de energia de Guddu e de Muzaffargarh...
...
O que enfureceu deus-todo-poderoso
Todos
esses desenvolvimentos são desafio audacioso, frontal, às estratégias regionais
dos EUA na Ásia e no Oriente Médio. As ramificações vão muito, muito longe.
Em
primeiro lugar e a mais importante: vê-se a “defecção” do Paquistão, que
abandona o campo ocidental, sim. Mais que isso, contudo, o movimento dos russos
aproxima-se muito, muito, de golpe “incapacitante” contra a Iniciativa Nova Rota
da Seda dos EUA, pensada para conter a influência de russos e chineses na Ásia
Central. Como se não bastasse, os sonhos dos EUA de chegar aos vastos recursos
minerais da Ásia Central e do Afeganistão sofrem, aí, um rude golpe.
No
plano prático, a geografia do Paquistão foi a base das estratégias regionais dos
EUA no Afeganistão e na Asia Central; sem a cooperação do Paquistão [pensado
como não russo e não iraniano], nenhum elo de comunicação poderá ser mantido com
aquelas regiões; e isso, por sua vez, ameaça “existencialmente” os planos para
estabelecer presença permanente de militares dos EUA e da OTAN na região que é
“o coração da Eurásia”.
De
fato, a segurança no campo da energia é o calcanhar de Aquiles da economia
política do Paquistão e debilita a capacidade do Paquistão para desenvolver
autonomia estratégica que proteja seus interesses vitais; na direção oposta, o
atual déficit agudo de energia torna o Paquistão muito vulnerável a pressões dos
EUA. Daí que a mão russa amiga, ainda que movida por autointeresses, terá sérios
efeitos geopolíticos sobre as estratégias regionais dos EUA, uma vez que a
Rússia trabalha para dar mais independência e resiliência ao Paquistão, criando
espaço para que o país atravesse um estreito corredor de tempo, particularmente
difícil e tormentoso, ajudando o Paquistão a sobreviver ao vasto conjunto de
ameaças existenciais.
Mais
uma vez, a reunião de países que produzem e países que consomem energia na Ásia
é o cenário de máximo pesadelo para os EUA, que temem ser excluídos da matriz de
cooperação regional de países locais, onde se reúnem as economias que mais
crescem no planeta. Toda a estratégia dos EUA no período pós-soviético visou a
evitar essa eventualidade catastrófica, que tornaria impossível para os EUA se
integrarem “no coração da Eurásia” – onde está impressionante seleção das
maiores potências das próximas décadas: Rússia, China, Cazaquistão, Índia,
Paquistão e Irã. (A possível admissão da Turquia como “parceiro para o diálogo”
da OCX – por sugestão da China, na reunião da organização em Pequim, mês passado
– também enerva terrivelmente os EUA).
De
fato, outras várias questões também surgem. Os movimentos russos no Paquistão
efetivamente contornam e neutralizam as políticas dos EUA para isolar o Irã. No
caso de eclodirem hostilidades entre EUA e Irã, Washington enfrentará isolamento
quase total na região entre o Golfo Persa e o Estreito de Malacca. Por outro
lado, o projeto do oleogasoduto Índia-Paquistão (que parece ser prioritário
tanto para a Rússia quanto para a China) terá impacto devastador na política dos
EUA para o Irã, porque multiplicará várias vezes as capacidades estratégicas do
Irã. Os EUA terão de considerar que é questão de tempo, para que a China seja
conectada ao oleogasoduto IP. Esses laços comunicacionais efetivamente ajudam a
China a reduzir sua dependência do Estreito de Malacca.
O
pior de tudo: Washington não tem segurança de como a Índia abordará a mudança
geopolítica emergente que a Rússia está pondo em movimento. Índia e Rússia
tradicionalmente gozam de confiança e confiabilidade mútuas. Índia e Irã também
têm laços fundamentalmente fortes, que resistiram à pressão dos EUA. A Índia
está trabalhando independentemente a favor da normalização de suas relações com
a China; e os dois países conseguiram avanços consideráveis nessa direção.
(Curiosamente, as empresas estatais indianas e chinesas do setor de energia
acabam de concluir um memorando de entendimento, segundo o qual se comprometem a
não contestar as propostas umas das outras, em outros países, e a cooperar entre
elas, inclusive nos respectivos setores domésticos).
Mais
importante, a segurança energética está tornando-se preocupação crucial para os
líderes indianos, com a economia em rápida expansão e a cada vez mais presente
necessidade de garantir acesso, a preços razoáveis, a fontes de energia,
convertendo-se em paixão obcecada das políticas externas da Índia. (O ministro
de Assuntos Externos da Índia, S M Krishna embarca para o Tadjiquistão, fonte da
energia para o Projeto ACSA, na 3ª-feira).
As
opções diplomáticas e político-militares dos EUA para conter os movimentos dos
russos no Paquistão concentram-se principalmente sobre a via de influenciar as
políticas do Paquistão e da Índia. Os EUA buscam uma abordagem mista para o
Paquistão, alternando sinais soft e um pouco mais de músculos, que já
começa a assumir vagos sinais de ameaça. Recentemente, tudo levava a crer que os
EUA apresentariam, em junho, alguma espécie de pedido de desculpas pelo massacre
de soldados paquistaneses num ataque militar dos EUA em novembro passado, na
fronteira Afeganistão-Paquistão, depois de o Paquistão reabrir o trânsito para
passagem, por seu território, dos comboios da OTAN.
Mas,
depois das confabulações russo-paquistanesas, os EUA endureceram. Aconteceu mais
um ataque na 2ª-feira contra soldados paquistaneses (18 dos quais foram
brutalmente degolados) por grupos militantes de origem obscura que operam a
partir de “paraísos seguros” dentro do Afeganistão. Não se requer grande argúcia
para ver que as forças dos EUA no Afeganistão preferem não ver o que esses
militantes fazem bem debaixo de seus narizes. (Esses “paraísos seguros” de
militantes, curiosamente, correspondem exatamente à região pela qual passarão as
linhas de transmissão do Projeto ACSA, que partem do Tadjiquistão).
Seja
como for, na quarta-feira, o comandante dos EUA no Afeganistão, John Allen,
esteve no quartel-general do Paquistão em Rawalpindi, para propor ao comandante
do exército paquistanês, Parvez Kayani, que os dois lados engajem-se em
“operações conjuntas” contra os militantes que operam na fronteira
Afeganistão-Paquistão.
Vai
virar jogo de gato e rato. Os sinais são péssimos. Os incansáveis ataques dos
drones nos últimos meses desestabilizaram as áreas tribais paquistanesas
adjacentes à fronteira com o Paquistão. Os drones têm provocado muitas
mortes de civis, a ponto de funcionários da ONU começarem a considerar a
possibilidade de classificar essas matanças “fantasma” como “crimes de guerra”.
Os
ataques dos drones enfurecem a população das áreas tribais e disparam
sentimentos antigoverno, enquanto Islamabad parece impotente para impedir que os
EUA violem a integridade territorial do país. Muito obviamente, o Paquistão está
cedendo; e os EUA não permitirão que isso continue. Tudo indica que os EUA
aumentarão a pressão sobre o Paquistão e subirão calibradamente as tensões.
Uma
mudança de paradigma
O
xis da questão é que o “desafio estratégico” do Paquistão colheu de surpresa os
EUA. Os EUA sempre contaram com a mentalidade compradora das elites paquistanesas e, agora, de
repente, foram apanhados no contrapé, ao descobrir que aquelas mesmas elites (as
lideranças militares, sobretudo) já não são exatamente o que os EUA supunham que
fossem.
Claro,
essa é perspectiva viciada e na raiz dela está baixa disposição, de Washington,
para construir avaliação honesta de porque houve, afinal, essa mudança de
paradigma. Os EUA não precisarão procurar muito longe para perceber as
complexidades. A mais recente pesquisa divulgada pelo Pew Global Attitudes, na 4ª-feira,
mostra que 74% dos paquistaneses “odeiam” os EUA; o presidente Obama alcança
índices excepcionalmente baixos de popularidade. Não por acaso, o político
paquistanês atualmente mais popular é Imran Khan (70% de aprovação), cujo
principal item de campanha eleitoral é que o Paquistão afaste-se da guerra do
Afeganistão e exija que as tropas dos EUA façam as malas e deixem a região, por
bem, com seu maquinário de guerra.
Os
EUA enfrentam desafio mais complexo em relação à Índia. Washington teve a
audácia de elogiar Nova Delhi recentemente, ao falar da Índia como “engrenagem”
das estratégias norte-americanas na Ásia-Pacífico. Para desconsolo dos EUA, a
resposta da Índia, até agora, foi um ensurdecedor silêncio, ao mesmo tempo em
que o país afasta-se de qualquer “arranjo de gangue” contra a China. Por outro
lado, cresce a massa crítica indispensável para a normalização das relações
sino-indianas. Igualmente, a Índia tem-se atentamente dedicado a proteger seu
processo de diálogo com o Paquistão, contra as vicissitudes do impasse
EUA-Paquistão. Mesmo em
relação ao Irã , a Índia traçou limites que não serão
ultrapassados e deixou claro que não será manipulada – e já se veem sinais de
que Washington, afinal, entendeu.
Tudo
isso posto, os EUA dedicar-se-ão a intrometer-se no diálogo Índia-Paquistão e
tentarão desviar o foco, para que se abordem as questões altamente emocionais do
apoio do Paquistão ao terrorismo e aos ataques dos fidayeen em Mumbai em
novembro de 2008, que arranharam profundamente a psique dos indianos e
levantaram novas suspeitas quanto às intenções do Paquistão.
Sobre
segurança no campo da energia, os EUA têm encorajado a Arábia Saudita a ajudar
mais generosamente a Índia, na esperança de encorajá-la a reduzir sua
dependência do petróleo iraniano e, em termos gerais, para afastar a Índia do
projeto do oleogasoduto IP. Em termos ideais, Washington buscará um abraço
triplo, que aproxime EUA, Índia e Arábia Saudita, para manter os indianos longe
das tentações de um clube de energia gerido pela Organização de Cooperação de
Xangai.
Mas
longe vão os tempos em que
os EUA sabiam como os demais países reagiriam. Washington está
insegura. Os indianos também têm preferências e uma queda para calar os próprios
pensamentos, ao mesmo tempo em que começam a tomar decisões independentes sobre
como alcançar seus objetivos nacionais, em cenário regional
complicado.
Nota dos
tradutores
[1] Há matéria sobre isso em 21/6/2006, em: “Russia initiates SCO
energy club”.
MK
Bhadrakumar*
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista
em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia Online e Indian
Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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