24/6/2012, Jimmy Carter, Prêmio Nobel, 39º presidente dos EUA - New
York Times,
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jimmy Carter, ex presidente dos EUA |
Revelações de que altos funcionários
do governo dos EUA decidem quem será assassinado em países distantes, inclusive
cidadãos norte-americanos, são a prova apenas mais recente, e muito
perturbadora, de como se ampliou a lista das violações de direitos humanos
cometidas pelos EUA. Esse desenvolvimento começou depois dos ataques terroristas
de 11/9/2001; e tem sido autorizado, em escala crescente, por atos do executivo
e do legislativo norte-americanos, dos dois partidos, sem que se ouça protesto
popular. Resultado disso, os EUA já não podem falar, com autoridade moral, sobre
esses temas cruciais.
Por mais que os EUA tenham cometido
erros no passado, o crescente abuso contra direitos humanos na última década é
dramaticamente diferente de tudo que algum dia se viu nos EUA. Sob liderança dos
EUA, a Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada em 1948, como
“fundamento da liberdade, justiça e paz no mundo”. Foi compromisso claro e
firme, com a ideia de que o poder não mais serviria para acobertar a opressão ou
a agressão a seres humanos. Aquele compromisso fixava direitos iguais para
todos, à vida, à liberdade, à segurança pessoal, igual proteção legal e
liberdade para todos, com o fim da tortura, da detenção arbitrária e do exílio
forçado.
Aquela Declaração tem sido invocada
por ativistas dos direitos humanos e da comunidade internacional, para trocar,
em todo o mundo, ditaduras por governos democráticos, e para promover o império
da lei nos assuntos domésticos e globais. É gravemente preocupante que, em vez
de fortalecer esses princípios, as políticas de contraterrorismo dos EUA vivam
hoje de claramente violar, pelo menos, 10 dos 30 artigos daquela Declaração,
inclusive a proibição de qualquer prática de “castigo cruel, desumano ou
tratamento degradante.”
Legislação recente legalizou o
direito do presidente dos EUA, para manter pessoas sob detenção sem fim, no caso
de haver suspeita de ligação com organizações terroristas ou “forças associadas”
fora do território dos EUA – um poder mal delimitado que pode facilmente ser
usado para finalidades autoritárias, sem qualquer possibilidade de fiscalização
pelas cortes de justiça ou pelo Congresso (a aplicação da lei está hoje
bloqueada, suspensa por sentença de um(a) juiz(a) federal). Essa lei agride o
direito à livre manifestação e o direito à presunção de inocência, sempre que
não houver crime e criminoso determinados por sentença judicial – mais dois
direitos protegidos pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, aí
pisoteados pelos EUA.
Além de cidadãos dos EUA
assassinados em terra estrangeira ou tornados alvos de detenção sem prazo e sem
acusação clara, leis mais recentes suspenderam as restrições da Foreign
Intelligence Surveillance Act, de 1978, para admitir violação sem
precedentes de direitos de privacidade, legalizando a prática de gravações
clandestinas e de invasão das comunicações eletrônicas dos cidadãos, sem
mandato. Outras leis autorizam a prender indivíduos pela aparência, modo de
trajar, locais de culto e grupos de convivência social.
Além da regra arbitrária e
criminosa, segundo a qual qualquer pessoa assassinada por aviões-robôs
comandados à distância (drones) por pilotos do exército dos EUA é
automaticamente declarada inimigo terrorista, os EUA já consideram normais e
inevitáveis também as mortes que ocorram ‘em torno’ do ‘alvo’, mulheres e
crianças inocentes, em muitos casos. Depois de
mais de 30 ataques aéreos contra residências de civis, esse ano, no Afeganistão,
o presidente Hamid Karzai exigiu o fim desse tipo de ataque. Mas os ataques
prosseguem em áreas do Paquistão, da Somália e do Iêmen, que sequer são zonas
oficiais de guerra. Os EUA nem sabem dizer quantas centenas de civis inocentes
foram assassinados nesses ataques – todos eles aprovados e autorizados pelas
mais altas autoridades do governo federal em Washington. Todos esses crimes
seriam impensáveis há apenas alguns anos.
Essas políticas têm efeito evidente
e grave sobre a política exterior dos EUA. Altos funcionários da inteligência e
oficiais militares, além de defensores dos direitos das vítimas nas áreas alvos,
afirmam que a violenta escalada no uso dos drones como armas de guerra
está empurrando famílias inteiras na direção das organizações terroristas;
enfurece a população civil contra os EUA e os norte-americanos; e autoriza
governos antidemocráticos, em todo o mundo, a usar os EUA como exemplo de nação
violenta e agressora.
Guantánamo |
Simultaneamente, vivem hoje 169
prisioneiros na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba. Metade desses
prisioneiros já foram considerados livres de qualquer suspeita e poderiam deixar
a prisão. Mas nada autoriza a esperar que consigam sair vivos de lá. Autoridades
do governo dos EUA revelaram que, para arrancar confissões de suspeitos, vários
prisioneiros foram torturados por torturadores a serviço do governo dos EUA,
submetidos a simulação de afogamento mais de 100 vezes; ou intimidados sob a
mira de armas semiautomáticas, furadeiras elétricas e ameaças (quando não muito
mais do que apenas ameaças) de violação sexual de esposas, mães e filhas.
Espantosamente, nenhuma dessas violências podem ser usadas pela defesa dos
acusados, porque o governo dos EUA alega que são práticas autorizadas por alguma
espécie de ‘lei secreta’ indispensável para preservar alguma “segurança
nacional”. Muitos desses prisioneiros – mantidos em Guantánamo como, noutros
tempos, outros inocentes também foram mantidos em campos de concentração de
prisioneiros na Europa – não têm qualquer esperança de algum dia receberem
julgamento justo nem, sequer, de virem a saber de que crimes são
acusados.
Em tempos nos quais o mundo é
varrido por revoluções e levantes populares, os EUA deveriam estar lutando para
fortalecer, não para enfraquecer cada dia mais, os direitos que a lei existe
para garantir a homens e mulheres e todos os princípios da justiça listados na
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em vez de garantir um mundo mais
seguro, a repetida violação de direitos humanos, pelo governo dos EUA e seus
agentes em todo o mundo, só faz afastar dos EUA seus aliados tradicionais; e
une, contra os EUA, inimigos históricos.
Como cidadãos norte-americanos
preocupados, temos de convencer Washington a mudar de curso, para recuperar a
liderança moral que nos orgulhamos de ter, no campo dos direitos humanos. Os EUA
não foram o que foram por terem ajudado a apagar as leis que preservam direitos
humanos essenciais. Fomos o que fomos, porque, então, andávamos na direção
exatamente oposta à que hoje trilhamos.
(Comentário enviadopor e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirEssa e outras barbaridades, tornadas públicas com tanta veemência e tantas provas e comprovações, jamais são levadas às pautas do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, mas "especializado" em países da periferia, embora condene - sem a mínima consequência - os desmandos e as violências de Israel nos TPOs (Territórios Palestinos Ocupados). Fica tudo no papel, sem sanções, salvo as aplicadas contra os que estão na berlinda dos "indesejáveis". São temas tratados em double standards, com dois (ou mais) pesos e duas (ou mais) medidas.
Abraços do
ArnaC