8/2/2012, Bel Trew, Mohamed Abdalla & Ahmed Feteha, Al-Ahram
Online, Cairo
“Walled in: SCAF's concrete barricades”
“Walled in: SCAF's concrete barricades”
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
Intermináveis
batalhas de rua entre a polícia e manifestantes levaram o Ministério do Interior
a, literalmente, esconder-se atrás de muros. Veja no mapa abaixo crescimento
dessas barreiras de concreto, que fizeram do Cairo a cidade dos muros.
Os vários muros foram erguidos nos últimos quatro meses mostram como o Ministério do Interior do Egito pretende se esconder |
24 de Novembro - construído o muro da Rua
Mohamed Mahmoud
Os cinco dias de
confrontos sangrentos, que fez 40 mortos, começaram depois que as Forças
Centrais de Segurança do Egito [Central
Security Forces (CSF)] expulsaram os últimos ocupantes da Praça Tahrir, às
10h30 da manhã de 19 de novembro. Assustados ante a violência desproporcional
contra o pequeno grupo de manifestantes, muitos dos quais eram familiares dos
mártires da Revolução de 25 de Janeiro, as multidões passaram a reunir-se nas
ruas do centro da cidade. A polícia retirou-se, depois de rápidas escaramuças,
deixando para trás um caminhão das CSF, que foi incendiado. Poucas horas depois,
a CSF voltou pela rua Mohamed Mahmoud numa coluna de veículos blindados e a
batalha recomeçou.
Tahrir foi
violentamente evacuada mais duas vezes, uma pela polícia, a segunda pelo
exército, e houve muitas mortes. Resultado disso, o Conselho Superior das Forças
Armadas [Supreme Council of the Armed
Forces (SCAF)], sentindo a crescente pressão para realizar eleições
tranquilas, tomou a decisão drástica de construir um muro entre a polícia e os
manifestantes, na rua permanentemente conflagrada. Esse muro, que viria a servir
de modelo para outros sete muros construídos depois, é uma barricada de blocos
de concreto de quase 4m de altura. Clérigos da Universidade Al-Ahzar formaram
cordões humanos frente ao muro, para impedir que a multidão o derrubasse.
A área em frente
ao muro tornou-se área de risco para mulheres dia 25 de novembro, depois que a
jornalista Caroline Sinz da televisão francesa foi atacada por uma gangue,
arrastada para a Praça Tahrir, despida e agredida sexualmente. O muro foi afinal
derrubado por manifestantes nos protestos liderados pelos Ultras [torcida
organizada do time Ahly, de futebol], dia 2 de fevereiro, contra o Ministério do
Interior, a polícia e o Conselho Superior das Forças
Armadas.
17 de dezembro:
surge o muro da rua Qasr El-Aini
Ao final dos
confrontos na rua Mohamed Mahmoud, manifestantes iniciaram protesto pacífico,
sentados no chão, na rua Magles El-Shaab, em frente ao prédio do Gabinete, em
protesto contra a indicação, pelo SCAF, de Kamal El-Ganzouri, para o posto de
primeiro-ministro. Na noite de 15 de dezembro, forças de segurança sequestraram
Aboudi Ibrahim, 19, que participava dos protestos, porque, segundo testemunhas,
tentou recuperar uma bola de futebol que caíra à frente da Assembleia Popular.
Quando Aboudi foi solto, nas primeiras horas do dia 16 de dezembro, era evidente
que havia sido violentamente espancado. Manifestantes furiosos enfrentaram o
exército, o que resultou em o exército evacuar a manifestação, ainda na mesma
manhã. Os manifestantes transferiram-se para a rua Qasr El-Aini. Militares e
civis passaram a jogar grandes pedaços de pedra arrancados das calçadas contra
os manifestantes, além de peças e móveis de escritório e até urina, dos andares
superiores dos prédios próximos. Na luta que daí decorreu, os militares e
policiais das CSF usaram munição real e metralhadoras. O confronto estendeu-se
até o dia 20 de dezembro, e resultou na morte de mais de 14
manifestantes.
Foi então
construído o muro na rua Qasr El-Aini, para impedir o acesso de manifestantes
aos prédios do Parlamento e do Gabinete. A construção começou depois de o
exército evacuar com extrema violência a praça, na tarde de 17 de dezembro.
Queimaram-se as tendas armadas na praça Tahrir – e os manifestantes recuaram até
Zamalek. A batalha continuou, com manifestantes e o exército trocando pedradas
por cima do muro. Um manifestante escalou o muro e pôs-se a dançar sobre ele,
sob o fogo cruzado das pedradas.
19 de dezembro –
Surgem os muros das ruas Sheikh Rehan e Youssef El-Guindy
Na madrugada do
dia 19 de dezembro, por volta das 3h30, soldados do exército e policiais das CSF
apareceram à entrada da mesquita Omar Makram, do lado da praça Tahrir. Depois de
atirar na direção da praça e pôr abaixo as tendas ainda remanescentes, as forças
de segurança usaram fogo pesado e gás lacrimogêneo para manter os manifestantes
à distância, enquanto eram erguidos os terceiro e quarto muros. Um deles foi
construído na rua Sheikh Rehan, paralela à rua Magles El-Shaab; o outro, na rua
Youssef El-Guindy, logo depois da esquina de Sheikh Rihan. Os blocos foram
dispostos como uma barricada entre a praça Tahrir e a rua lateral que dá acesso
aos prédios do Ministério do Interior, quartel-general das CSF, um pouco mais a
leste.
5 de fevereiro –
Surgem os muros das ruas Fahmy, Mansour e El-Felaky
Foram convocadas
manifestações de rua para a 5ª-feira, 2 de fevereiro, depois do massacre no
estádio de futebol em Port Said, quando morreram mais de 70 torcedores do Ahly
(“Ultras”). A população culpou as forças de segurança pelas mortes, por não
terem impedido que se alastrassem as brigas entre torcidas rivais. A
manifestação reuniu-se em frente ao Ministério do Interior, órgão que controla a
polícia; houve cantos contra o ministério e o Conselho Superior das Forças
Armadas, identificado como superior e responsável final pelo massacre de
torcedores. A polícia usou, de início, munição revestida de borracha e gás
lacrimogêneo contra a multidão, ataque que começou às 18h45 e deu início a cinco
dias de batalhas esporádicas que se espalharam por todas as ruas da
vizinhança.
No domingo, às 3h
da madrugada, os militares e a polícia começaram a construir mais três outros
muros nas ruas que partem da rua Mohamed Mahmoud e levam até o prédio do
Ministério do Interior, com o que o prédio resultou completamente cercado de
muros. Manifestantes tentaram impedir a construção do muro da rua Mansour, e
foram atacados com veículos militares blindados.
Quando o dia
raiou, grupos que se autoidentificaram como moradores da área começaram a fazer
cordões humanos frente aos muros, para impedir que os manifestantes se
aproximassem, até que o último muro estivesse construído na rua El-Felaky. Nos
combates iniciados imediatamente depois disso, morreram 12 manifestantes, e a
multidão foi forçada a recuar até a praça Bab El-Louq e, mesmo, até a rua Hoda
Sharaawy, rua residencial, porque os muros bloqueavam todas as vias de saída.
6 de fevereiro – a
Rua Noubar
Na noite de 5 de
fevereiro aconteceram alguns dos ataques mais violentos pelas forças de
segurança. Com os três muros já construídos nas ruas Fahmy, Mansour e Felaky, os
combates foram empurrados para o oeste, na direção da praça Bab El-Louq e para a
área do centro do Cairo. Manifestantes documentaram a presença de atiradores
distribuídos nos prédios e uso excessivo de gás lacrimogêneo, enquanto os
caminhões percorriam as ruas em várias direções, perseguindo os manifestantes
que tentavam proteger-se. Nas primeiras horas do dia 6 de fevereiro, as CSF
começaram a construir mais um muro na rua Noubar, paralelo aos outros três
muros, o que fechou o conjunto de muros em volta do ministério. À noite, um
grupo não identificado de civis, que se apresentaram como residentes na área de
Abdeen, apareceram com armas de mira telescópica e, segundo testemunhas, uma
metralhadora. Todo esse armamento foi usado contra os manifestantes. Dois
manifestantes morreram nesses confrontos, que continuavam nas primeiras horas do
dia 7 de fevereiro.
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