terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

WikiLeaks e os arquivos da “CIA nas sombras”


27/2/2012, Plaza Pública, Guatemala
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


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Comentário:
15 meses depois de publicar 250 mil telegramas das embaixadas norte-americanas em todo o mundo, WikiLeaks volta a lançar luz sobre as relações obscuras entre uma empresa global, informantes dentro das forças de segurança dos estados e ex-agentes da inteligência/espionagem dos EUA: a empresa Stratfor. WikiLeaks, que tem sede em Londres, obteve 5 milhões de e-mails da empresa Stratfor, especializada em segurança, e selecionou 25 jornais em todo o mundo, para divulgá-los e comentá-los para a opinião pública. O jornal Plaza Pública, na Guatemala, é um deles.


Nenhuma publicação de mercado do Brasil está incluída nessa seleção de 25 publicações decentes, em todo o mundo.



De um dos e-mails agora publicados, de 8/3/2011:

“Abriu-se a caixa de Pandora (com a candidatura de Sandra Torres como candidata). O setor privado vai tratar de matá-la. Los Zetas vão protegê-la. Logo será o Apocalipse. E então? Como tiramos dinheiro disso tudo?
Abraços
[assina] Jaime Rivera, CEO de Bladex



“Os Arquivos da Inteligência/espionagem Global” que começaram a ser publicados hoje em todo o mundo são e-mail s dessa empresa de “inteligência global” com sede no Texas e revelam como opera uma empresa que vende serviços de inteligência confidencial a grandes empresas e agências de governos nos EUA. Os e-mails mostram a rede de informantes, a estrutura de pagamentos, as técnicas de lavagem de dinheiro e de métodos psicológicos para obter informação.

Há quase 30 mil e-mails nos quais se discute a Guatemala, entre 2004 e 2011. Plaza Pública os publicará ao longo dos próximos meses, oferecendo a nossos leitores, como fez com os telegramas diplomáticos do Cablegate no ano passado, o contexto necessário no qual cada e-mail está inserido.

Como advertimos no ano passado, nada garante que o que se lê nos e-mails de Stratfor seja verdade. Do nosso ponto de vista, Stratfor é uma fonte. Nesse caso, é uma fonte que tem acesso a dados e informações que se compram e vendem-se, no limite entre a legalidade e a ilegalidade. E Stratfor é também, por vocação empresarial, “fonte de outras fontes”, sem que ninguém, até agora, se tenha preocupado com a veracidade da “inteligência” que Stratfor vende, regida, como empresa, por seus próprios interesses empresariais.

Nesses “Arquivos da Inteligência/espionagem Global” vê-se o processo pelo qual Stratfor paga aos seus informantes através de contas na Suíça e cartões de crédito pré-pagos.

Dentre os e-mails sobre a Guatemala, já encontramos coisas que dão calafrios, sem qualquer credibilidade, mas que, tanto quanto se sabe, bem poderiam ser tratados como informação “de inteligência”. Por exemplo, um e-mail recente, que ainda não completou um ano, datado de 8/3/2011:

“Abriu-se a caixa de Pandora (com a candidatura de Sandra Torres). O setor privado vai tratar de matá-la. Los Zetas vão protegê-la. Será o Apocalipse. E então? Como tiramos dinheiro disso tudo?
Abraços. 
 [assina] Jaime Rivera, CEO de Bladex

O problema para a Guatemala é que, embora o comentário acima nada tenha a ver com a realidade, o e-mail é assinado por ninguém menos que o hoje presidente do Banco Latino-americano de Comercio Exterior, ouvido recentemente pela revista Forbes. Em seu perfil, aparece como assessor da Bolsa de Valores de Nova York, com renda anual de quase um US$1 milhão.

Essa é apenas uma amostra de quem são as fontes e informantes de Stratfor e do que dizem; muitos deles em postos de decidir, por exemplo, se o país recebe ou não investimentos externos e o que se faz com o dinheiro.

E Stratfor – diferente do que dizem os telegramas que chegam dos EUA – serve-se de métodos pouco ortodoxos. George Friedmann, fundador, gerente financeiro e diretor de Stratfor, resume numa frase: “Você tem de controlar [sua fonte]. Controlar quer dizer controle financeiro, sexual ou psicológico”, Friedman explicava à analista Reva Bhalla, dia 6/12/2011, que quer extrair, de um informante israelense, informação sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez.

Stratfor também menciona o jornal Plaza Pública pelo menos uma vez, quando zomba de uma coluna de David Martínez Amador na qual David critica o modo de os norte-americanos obterem informações em campo no México e na América Central, que só conseguem de informantes infiltrados. “David não gosta de nós porque somos gringos”, dia 19/8/2011.

O que WikiLeaks faz agora está sendo feito apesar do bloqueio econômico que lhe foi imposto por Bank of America, Visa, Mastercard, PayPal e Western Union, o que dificultou muito o processo de as doações de colaboradores chegarem até WikiLeaks.

Simultaneamente, as mesmas empresas nada fazem para impedir que seus serviços sejam usados para financiar organizações antissemitas, sionistas, racistas suprematistas brancos e criminosas de todos os tipos. Julian Assange continua em prisão domiciliar em Londres, há seis meses.

A falta de ética de algumas empresas jornalísticas, como o jornal The Guardian, destruiu a relação cooperativa que WikiLeaks havia construído com o jornal britânico, e obrigou a organização a publicar, de uma só vez, todos os telegramas diplomáticos dos EUA que tinha em seu poder. Diferente do que divulgaram os maiores jornais do mundo, os telegramas diplomáticos tiveram de ser divulgados em bloco, porque jornalistas, entre os quais jornalistas do TheGuardian, publicaram em livro as senhas de acesso ao material; e um desertor de WikiLeaks vendeu as senhas que tinha em seu poder.

Para salvar a integridade dos telegramas, antes de que fossem manipulados, WikiLeaks decidiu liberar todos. Na nossa avaliação, do jornal Plaza Pública, não foi a melhor opção, mas entendemos os motivos de WikiLeaks.

Assim aconteceu que, um ano depois, a própria embaixada dos EUA na Guatemala, para expor argumentos seus, citou artigos do jornal Plaza Pública que usavam informação dos telegramas vazados por WikiLeaks.

O que temos agora é mais um esforço a favor da transparência da informação, e esforço mundial. Jornais de prestígio em todo o mundo, como Público na Espanha; a revista Rolling Stone nos EUA; The Hindu na Índia; La Nación na Costa Rica; Página 12 na Argentina, La Jornada no México ou Plaza Pública na Guatemala são alguns dos parceiros de WikiLeaks nessa ocasião.

Cobertura mais completa sobre temas globais pode ser encontrada, no jornal Público/WikiLeaks, espanhol.

Ao longo das próximas semanas, Plaza Pública distribuirá, comentada, informação que haja nos e-mails de Stratfor sobre a Guatemala e alguns dos países vizinhos.

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