6/2/2012, *MK Bhadrakumar, Indian
Punchline (+vídeo)
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
O presidente Barack Obama falou sobre o Irã.
Escolheu momento em que capturou a máxima atenção do público norte-americano –
entrevista ao vivo, durante o
show pré-jogo, na
rede NBC, antes do Super Bowl, no domingo à
noite [1]. Na
essência, Obama desqualificou e esvaziou todas as ardentes especulações sobre o
que significaria o muito estranho “vazamento”, pela boca do secretário de Defesa
Leon Panetta, da possibilidade de Israel atacar o Irã nos próximos três
meses.
Li
em algum lugar que o melhor favor que se pode prestar a um amigo embriagado que
insiste em dirigir depois da festa, é roubar-lhe a chave do carro. Para
obrigá-lo a chamar um táxi. Foi exatamente o que Obama
fez.
Obama
disse que EUA e Israel movem-se “de braços dados” na questão iraniana; que ele,
Obama, não tem notícia alguma sobre qualquer decisão, em Israel, de atacar o Irã
– “Não me consta que Israel já tenha decisão tomada sobre o que venham a fazer”.
Disse que seus assessores e colaboradores “não veem sinal algum de que o Irã
tenha intenção ou capacidade” para atacar em solo dos EUA. E disse também,
claro, que a diplomacia continua a ser a “solução preferencial” para resolver o
impasse com o Irã. Tudo isso ajudou muito substancialmente a dissipar as nuvens
de guerra que se vinham acumulando nos céus do Golfo Persa nas últimas
semanas.
Na
minha avaliação, a frase mais importante da fala de Obama foi a seguinte: “Mas
os iranianos ainda não tomaram as medidas que têm de tomar, no plano
diplomático. Os iranianos têm de declarar ao mundo: “Vamos manter nosso programa
nuclear pacífico; e não trabalharemos para construir armas atômicas”.” – Não há
aí, bem clara, uma fórmula para a paz?
Obama
já não insiste que o Irã deva abdicar do direito legítimo de manter seu programa
nuclear, nos termos autorizados pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear; por
seu lado, o Irã pode ajudar a acertar as coisas, permitindo que se imponham
novas salvaguardas, que aplacariam as apreensões da comunidade internacional
sobre a verificabilidade das sempre repetidas intenções iranianas de não
produzir armas atômicas.
A
parte crucial de toda a fala é que Obama reconheceu abertamente que o programa
nuclear iraniano, pelo menos como é hoje, continua a ser programa pacífico.
O
mais fascinante do movimento político, me parece, é que Obama, político
altamente cerebral, apontou também para outra direção, como se lá estivesse a
mensagem principal. Disse ele: “Mereço um segundo mandato, mas não acabamos de
fazer o que temos de fazer. Conseguimos avançar. Não vamos agora nos pôr a andar
a esmo, noutra direção, que acabará por consumir o avanço que obtivemos”. E em
seguida, como em sequência “normal”, Obama continuou a falar, durante grande
parte da entrevista, sobre o Irã.
Parece-me
que Obama, político excepcionalmente inteligente, decidiu voltar alguns passos
atrás e impedir que a campanha eleitoral continue na trilha da bravata e dos
maus modos. Foi como se Obama usasse aquela entrevista para dizer que, embora a
campanha esteja só começando, ele não está interessado em jogar com a ‘carta’
iraniana. Em outras palavras, foi como se dissesse que não vai misturar jogadas
da política doméstica e a questão nuclear iraniana. Não há dúvidas de que Teerã
perceberá o movimento de Obama – por mais que muitos “analistas” não se cansem
de repetir que Obama não hesitará em ir à guerra contra o Irã, se entender que
qualquer nova guerra o ajudará na campanha pela reeleição.
É
evidente que estão em movimento vários canais subterrâneos de contatos. Meu
palpite é que Obama acertou, ao optar por registrar os sinais positivos que vêm
de Teerã, de que o país está interessado em retomar contatos construtivos.
Evidentemente é preciso paciência para montar todo o quebra-cabeças persa. Mas
fato é que o Irã fez de tudo para conquistar os inspetores da AIEA que visitaram
o país na semana passada. E os inspetores informaram, satisfeitos, que voltarão
em fevereiro, para uma segunda visita. Entre uma visita e outra, Obama
falou.
____________________
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
Nota
dos tradutores
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.