4/2/2012, Robert Fisk, The Independent,
UK
Traduzido pelo
Coletivo da Vila
Vudu
Entreouvido de um
morador da Vila Vudu: A impressão que
se tem hoje, lendo jornais, é que o jornalismo acabou, agora, de vez – e, de
fato - em todo o planeta.
O artigo abaixo não é nenhuma brastemp, porque não dá o salto de
qualidade radical indispensável e não
questiona o próprio jornalismo-empresa que há.
Mas, pelo menos, mostra um
jornalista incomodado com o serviço sujo que fazem outros jornalistas do mesmo
jornalismo, embora ainda mostre jornalista incapaz de ver com olhos críticos
também os seus próprios preconceitos.
O presidente
Ahmadinejad não é doido. E Fisk não passa de mais um jornalista autoconsumido
por suas próprias crenças liberais. Mas, pelo menos, dá sinais de angústia e
incômodo, o que é muito melhor e infinitamente mais progressista que as certezas
fascistas e fascistizantes grandiloquentes da D. Dora Kramer, do Merval, da D.
Danuza, da D. Lucia Hippólito, do William Waack, do Bonner & Poeta e
que-tais.
No pântano em que
nos debatemos, afogados no Brasil pelo PIOR JORNALISMO DO MUNDO, mesmo esse
pouco que Fisk oferece, já é melhor que o autismo doentio dos analistas e
colunistas e blogueiros que as empresas jornalísticas brasileiras impingem aos
consumidores brasileiros.
Robert Fisk |
Se Israel atacar o
Irã esse ano, Israel – e os EUA – darão prova de serem ainda mais doidos do que
seus inimigos acreditam que sejam. Sim, Mahmoud Ahmadinejad é doido, mas Avigdor
Lieberman, que parece ser ministro dos Negócios Exteriores de Israel, também é
doido. Vai-se ver, um doido quer dar uma mãozinha ao outro.
Mas por que,
diabos, Israel bombardearia o Irã, e atrairia sobre a própria cabeça a fúria
simultânea do Hezbollah libanês e do Hamás? Sem falar na fúria da Síria, que
também desabaria sobre Israel. E, isso, também sem lembrar que Israel atrairia
para o fundo do mesmo buraco e para o mesmo tiroteio o ocidente – a Europa e os
EUA.
Leon Panetta, Secretário de Defesa dos EUA |
Talvez porque vivo no Oriente Médio há 36 anos, mas ando
pressentindo alguma tramóia no ar. Até Leon Panetta, secretário de Defesa dos
EUA, nada mais nada menos, anda dizendo que Israel talvez ataque o Irã. E também
a CNN – e seria difícil achar mais antiga criadora de tramóias – e até o velho
David Ignatius [1], que não é
correspondente no Oriente Médio há uma ou duas décadas, repete que Israel talvez
ataque o Irã, “informação” colhida, como sempre, de suas “fontes”
israelenses.
Já esperava esse
tipo de conversa, quando passava os olhos pelo
The New York Times Magazine
da semana passada – e não é propaganda, porque não quero que os leitores
de The Independent percam tempo e energia lendo aquelas
bobagens – e encontrei um alerta, escrito por um “analista” (nunca consegui
entender o quê, exatamente, é um “analista”) israelense, Ronen Bergman, do
jornal israelense Yedioth
Ahronoth.
Eis aqui o
“esquenta” (como os do ramo dizemos) de Bergman, que é o mais perto que existe
da velha toada da velha propaganda de guerra:
“Depois de falar
com muitos [sic] altos líderes
israelenses e comandantes [outro sic] militares e da inteligência de
Israel, estou convencido de que Israel realmente atacará o Irã em 2012. Talvez
na pequena e cada vez menor janela de tempo que ainda resta, os EUA decidam,
afinal, fazer alguma coisa, mas do ponto de vista de Israel, a esperança já é
quase nenhuma. Em vez de esperança, o que se vê é a mesma combinação, tão típica
dos israelenses, de medo e tenacidade, a feroz convicção, certa ou errada, de os
israelenses sempre têm de defender-se sozinhos.”
Ronen Bergman |
Ora essa!
Primeiro, que qualquer jornalista que preveja ataque de Israel ao Irã põe o
próprio pescoço na guilhotina. Segundo, jornalista que preste – e há muitos em
Israel – perguntaria a si mesmo, antes de escrever: Para quem estou trabalhando?
Para o meu jornal? Ou para o meu governo?
Panetta, que já
mentiu aos soldados dos EUA no Iraque, quando lhes disse que estavam lá por
causa do 11/9, deveria saber jogar o jogo com mais competência. A CNN é a CNN e
não conta. E Ignatius é para ser esquecido. Mas... que conversa é essa, em
geral? Nove anos depois de invadir o Iraque – aventura muitíssimo bem sucedida,
como não se cansam de repetir até hoje – porque Saddam Hussein tinha “armas de
destruição em massa”, lá estamos nós, aplaudindo que Israel bombardeie o Irã,
por causa de outras “armas de destruição em massa”, ainda mais improváveis.
Não há dúvidas de
que, segundos depois de ouvir o noticiário, os redatores que redigem os
grotescos discursos de Obama já estarão metendo mãos à obra para encontrar as
palavras certas de apoio a um ataque israelense. Se Obama já trocou a defesa da
liberdade e dos direitos dos palestinos ao próprio Estado, pela própria
reeleição, não há dúvidas de que apoiará a agressão israelense, na esperança de
que o mantenha na Casa Branca.
Mas, se os mísseis
iranianos começarem a chover sobre os navios de guerra dos EUA no Golfo, porém –
para nem falar nos que choverão também sobre as bases dos EUA no Afeganistão –
os redatores de discursos de Obama terão, aí sim, muito mais trabalho. Que, pelo
menos, não deixem que britânicos e franceses entrem nessa.
Nota
dos tradutores
[1] David Ignatius é
colunista norte-americano, muito conhecido por suas ligações com a inteligência
israelense; aparece lembrado aí, por causa de matéria intitulada “Is
Israel preparing to attack Iran?”, 2/2/2012, publicada noWashington
Post, que foi comentada ontem em vários jornais do mundo, precisamente pelo
tom de desabrida propaganda de guerra.
Claro que os extremistas que estão por trás do presidente do Irã, podem ser doidos, alias parece ser, mas o presidente é uma pessoa bastante equilibrada.Quem faz esse julgamento dele não sabe o que ocorre no Irã... Ou será má-fé também?
ResponderExcluir@aloisiofcs