Fernando Soares Campos: testemunha do crime e autor Assaz Atroz |
Albert Einstein viera a Nova Iorque
com a missão de acompanhar e assessorar o Distrito de Engenharia Manhattan, o
famoso Projeto Manhattan, que tinha como meta produzir a bomba
atômica.
Naquela noite de 7
de dezembro de 1944, o já relativamente célebre cientista caminhava pela
calçada. O rigoroso inverno nova-iorquino castigava até a sua preciosa massa
encefálica. Absorto em conjecturas sobre a possibilidade de viajar no tempo e no
espaço sem queimar um baseado, Einstein parou ao lado de uma lixeira. Enfiou a
mão no bolso do sobretudo, sacou uma pequena lanterna, acendeu e colocou-a sobre
o coletor de lixo.
Ficou por alguns
minutos contemplando o tênue feixe de luz. Inclinou-se, encostou o rosto na
lanterninha e mirou por cima da projeção luminosa. “Será possível?!” Ergueu-se,
olhou ao redor e certificou-se de que ninguém o observava. Cruzou os braços,
fechou os olhos e cerrou o cenho. Assim, concentrado, nem notou que começara a
levitar.
Um gato preto,
sentado na escada de incêndio de um prédio em frente, assistia àquela cena
insólita. O felino arrepiou-se quando viu Einstein elevar-se lentamente, se
posicionar sobre o feixe de luz da lanterna e, num átimo, sumir! Shuuupt! –
“Myauauau!” [“Acho que estou sonhando!”]
No umbrático
cenário apareceu um mendigo, que pegou a lanterna, examinou a peça curiosamente
e a desligou. O homem nem podia imaginar que, ao clique de desligar, Einstein
despencou e se esborrachou no chão. Ploft!
Estirado no meio
da calçada, um tanto sonolento, abriu os olhos lentamente. No primeiro momento
não percebeu que já era dia claro, mas aos poucos sua vista foi-se adaptando à
claridade, e ele enxergou o mundaréu de gente que transitava no local. Ao seu
lado já se acumulava umas moedas e até algumas cédulas verdinhas de baixo
valor.
O venerável
cientista levantou-se e pôs-se a caminhar acompanhando um dos fluxos dos
transeuntes. Só aí notou que permanecia em Manhattan, na mesma calçada em que
empreendera aquele esforço de concentração, na noite passada. “Noite passada?!”
– Imaginou que talvez, depois da intensa pressão mental, tivesse arriado devido
a um possível colapso dos sentidos.
A passos
vacilantes e ainda em estado de ligeiro torpor, Einstein caminhava sem notar
qualquer alteração ambiental. Ouviu uma música e parou em frente à loja da qual
emanava o som, sem olhar para o estabelecimento. A canção lhe pareceu estranha,
mas bastante agradável. Fechou os olhos e aguçou a
audição:
Imagine que não há
paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
você se juntará a nós
E o mundo será como um só
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
você se juntará a nós
E o mundo será como um só
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só
A música cessou.
Inspirado na poética composição ele formulou uma de suas geniais tiradas:
“Imaginar é mais importante que o saber, pois o conhecimento é limitado,
enquanto a imaginação viaja ao infinito”.
Continuou a
caminhar. Parou numa esquina, parecia estar apreciando a movimentação das
pessoas e o trânsito de veículos nas ruas, mas na verdade ele estava alheado de
tudo, por isso nem notou a aproximação de um rapaz que carregava um livro preso
no sovaco.
O jovem o
abordou:
– Queira me
desculpar, mas o senhor não é Albert Einstein, que foi professor na Universidade
de Princeton?
– Sim, mas... eu
não “fui” professor em Princeton – estranhou. – Ainda faço parte do corpo
docente daquela instituição.
“O velhos são
assim mesmo: estão sempre perdidos no tempo e no espaço.” – pensou o rapaz. E
continuou: – Eu gostaria de ter um autógrafo seu. Pode
ser?
– Sim, com prazer!
Tem papel?
O rapaz pegou o
livro que trazia debaixo do braço e do bolso um lápis. Entregou o material à
celebridade do mundo científico e acadêmico.
Einstein leu o
título da obra: “O Apanhador no Campo de Centeio”. Abriu o livro na
página inicial, em que pretendia escrever uma mensagem e registrar seu
autógrafo. Perguntou:
– Como você se
chama?
Ambos são Kaio Diego Chapman |
– Chapman, Kaio
Diego Chapman...
Escreveu: “Caro
Kaio Diego, creio que neste mundo somente duas coisas são infinitas: o universo
e a estupidez dos homens. Mas não tenho certeza se isso é verdadeiro em relação
ao primeiro. Abraços. Albert Einstein. Nova Iorque, 8 de dezembro de
1944” .
Entregou o livro e
o lápis ao fã.
Kaio leu a
mensagem e observou:
– Acho que o
senhor se confundiu... Hoje é dia 8 de dezembro, sim, mas... de
1980!
Einstein
lembrou-se da “noite passada”: a lanterninha, o feixe de luz, a esforçada
“concentração”. .. Só então atentou para os trajes do jovem, o quê lhe pareceu,
não sabia por que, um tanto excêntrico. E os óculos? Nunca vira igual modelo.
Olhou em sua volta. Agora, tudo ao seu redor lhe causava estranheza: carros,
prédios, cartazes, vitrines... Fez menção de se afastar, continuar caminhando...
Ouviu Kaio Diego lhe chamar:
–
Professor!
– Sim! – voltou-se
para o rapaz.
Kaio Diego
empunhava um trezoitão apontado contra Einstein.
– Professor, não
me leve a mal, mas isso é pelo bem da humanidade... – disparou a arma até
descarregá-la.
Einstein caiu
fulminado. O sangue escorreu pela calçada, e sua memória iniciou processo de
projeção de reminiscências... Em sua mente se sucediam imagens da infância,
caçando passarinho nas caatingas de Ulm, nadando e pescando no lago von
Männer; quebrado uma cadeira na cabeça do coleguinha de sala de aula;
estudante na universidade; viajando mundo afora, a visita ao Brasil; a Teoria da
Relatividade... Novamente aquela música de momentos atrás soava aos seus ouvidos
de moribundo... Pensou: “Eu deveria ter-me dedicado à música. Talvez assim
tivesse evitado um final tão trágico...”
Enola Gay |
Uma mulher que
assistiu a tudo da janela de um prédio em frente correu ao telefone e ligou para
a polícia. Informou o endereço e concluiu desesperada: “Tá lá um corpo estendido
no chão!”
Em instantes a
polícia chegou ao local do crime. Os policiais avistaram Kaio Diego Chapman com
o livro em uma mão e o revólver na outra, pálido, balbuciando
disparates:
– Eu salvei
Hiroshima e Nagasaki... Corrigi a História... O Enola Gay não partiu...
Não tem mais Little Boy nem Fat Man... Podem conferir os novos
registros... Agora, cientistas de todo o mundo vão pensar mil vezes antes de se
dedicarem ao desenvolvimento de armas de destruição em
massa...
Fat Man e Little Boy |
Sem que os
curiosos mortais que cercavam a cena do crime notassem, um raio precipitou-se
sobre o corpo da vítima e o abduziu...
Einstein relaxou o
cenho, abriu os olhos e, surpreso, viu o mendigo à sua frente, com a lanterninha
ligada, focando o seu rosto.
– Não é nada do
que você está pensando! – falou encabulado o cientista.
– Entendo... É que
ultimamente andam servindo uísques de péssima qualidade!
O mendigo se foi,
e Einstein também se pôs a caminhar noite adentro, sem reparar que o gato preto
na escada de incêndio miava insistente: “Myauau! Ruuum!” [“A gente vê cada
coisa!”]
Hoje Kaio Diego
Chapman vive confinado num manicômio judicial cinco estrelas, em Manhattan, onde
passa os dias ruminando elucubrações macabras para justificar seu tresloucado
ato.
Assista
ao vídeo em que dois imbecis defendem o assassinato de cientistas iranianos, no
programa Manhattan Connection no
canal GNT da Rede Globo (cabo).
E para refrescar a “moringa”... Imagine
Ilustração de JAM: Sociedades
Alternativas (caricatura)
Demais fotos: redecastorphoto
Caros Castor e Vudus, com esta edição vocês deixaram nosso Editor-Assaz-Atroz-Chefe todo prosa.
ResponderExcluirAbraços
Editor-Assaz-Atroz-Alter Ego