11/2/2012, Pepe
Escobar, Asia Times
Online
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Waiting for the end of the world,
Waiting for the end of the world,
Waiting for the end of the world.
Dear Lord, I sincerely hope you're coming ‘cause you really started something.
*Elvis Costello,
“Waiting for the end of the world”
Pepe Escobar |
Temei! Temei
muito. A volta dos Guerreiros dos Teclados – a premiada Volta dos Mortos Vivos
‘especialistas’ da mídia – está aí. Dos falcões-frangas Republicanos aos
intelectuais públicos, a direita dos EUA irrompe em renovada revolta
neoconservadora. 2012 é o neo-2002; o Irã é o neo-Iraque. Seja pela estrada que
for – homens de verdade vão para Teerã via Damasco, ou homens de verdade vão
direto para Teerã, sem escala – eles querem guerra. E querem
já.
A
prova A é
coluna publicada no
Wall Street Journal (1) – semelhante a incontáveis outras
colunas que pipocam praticamente todos os dias nesse veículo dos Mestres do
Universo, mas também no Washington Post e em miríades de
outros panfletos, por toda a “civilização ocidental”.
O
festival de falácias vai da rotineira “a diplomacia esgotou-se” até “as sanções
chegaram tarde demais” – e culmina com a arma preferencial da direita: “o Irã
está a menos de um ano do ponto em que terá capacidade para montar uma bomba
exatamente quando quiser.” Por que perder tempo e ler o que escreveu a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA)? E nem se fala de ler o relatório
“Situação da Inteligência Nacional [orig. National Intelligence
Estimates] publicado pela comunidade de inteligência dos
EUA.
E
por que não acrescentar também muito desprezo imperial tingido de racismo, como
em “o Irã é país do Terceiro Mundo que não consegue nem proteger a vida de seus
próprios cientistas, no centro da cidade de Teerã”. Claro! Os cientistas
iranianos estão sendo assassinados pelo grupo terrorista iraniano
Mujahideen-e-Khalq, jubilosamente treinado, financiado e armado
pelo Mossad israelense, como a imprensa-empresa dos EUA acaba de descobrir (2). No Irã, toda a população já sabe
disso há meses.
No
auge, mais uma falácia – “a República Islâmica está decidida a destruir Israel”
– revela a verdadeira agenda: “o objetivo mais amplo é pôr fim ao regime”. Ah,
se tivéssemos de volta a nossa guarda-armada persa do Golfo!
Isso é o que passa por análise geopolítica na
mídia-empresa dos EUA controlada por Rupert Murdoch, lida e repetida e relinkada
diariamente pelos Mestres do Universo.
Monstros assustadores, super frangas [2]
A
prova B é uma
coluna publicada em
The Daily Beast de Tina Brown (3) assinada
por Niall Ferguson, professor de história em Harvard, pesquisador sênior adjunto no
Colégio de Jesus, Oxford, e membro sênior da Hoover Institution,
Stanford.
De
fato dei-me o trabalho, recentemente, de ler o mais recente livro de Ferguson, Civilization: The
West and the Rest [Civilização: o ocidente e o resto], durante meu voo
preferido Ocidente-Resto, 16 horas de New
York a Hong Kong (do século
americano ao século asiático).
Ferguson
aplica-se a refutar as razões pelas quais Israel não deveria atacar o Irã.
Assume que “os sauditas estão prontos para bombear suprimentos adicionais” de
petróleo (o que é falso). Assume que uma “humilhação militar” levará o regime em
Teerã ao colapso (o que também é falso). Diz que Teerã não se tornará “discípula
sóbria, calculista, da escola realista de diplomacia (...) porque, afinal,
conseguiu ter armas de destruição em massa” (falso, falso, erradíssimo: o
Supremo Líder Aiatolá é muito sóbrio e calculista e baniu todas as armas
nucleares do Irã; declarou-as
anti-islâmicas).
O
ex-vice-presidente
Dick Cheney teria orgulho de contratar Ferguson para as funções de apparatchik;
para Ferguson, “guerra preventiva pode ser um mal menor”; e é defensor empenhado
da “destruição criativa”.
Ferguson
classifica Israel como “o posto avançado mais oriental da civilização
ocidental”. Nada mau para uma teocracia/etnocracia racista suprematista isolada
e armada com, no mínimo, 200 ogivas (jamais declaradas) nucleares, e cujo
esporte favorito é aterrorizar palestinos e, mais recentemente, cientistas
iranianos. É como se um patrocinador do terrorismo de Estado tivesse brotado do
ventre da “civilização ocidental”.
A
fusão tóxica de ignorância e arrogância que há em Ferguson – sobre o Oriente Médio, sobre a
cultura persa, sobre a Ásia, sobre a questão nuclear, sobre a indústria do
petróleo, sobre, afinal de contas, “o resto” – seria inócua, não fosse o homem
louvado como importante intelectual público. O melhor da coluna de Ferguson são
os comentários, que vão de “É chocante que um pesquisador sênior adjunto no
Colégio de Jesus recomende que se bombardeiem os muçulmanos”, até “Qual é o
problema desses britânicos, que olham para os EUA como plataforma de
re-lançamento de seus sonhos imperiais?"
Se
isso é o que passa por análise intelectual no estrato superior do eixo
anglo-EUA, não surpreende que a empresa Império esteja
falida.
Ainda
mais danoso que a Invasão dos Guerreiros do Teclado é o efeito que a invasão
teve sobre o Guerreiro-em-Chefe, o presidente Barack Obama. Recentemente, Obama
fez-se de “marketeiro” para posicionamento de produto do novo livro de Robert
Kagan, The
World America Made
[O mundo que os EUA construíram]. Kagan, baluarte afamado dos
neoconservadores, é conselheiro de Mitt Romney – que talvez seja, talvez não
seja candidato Republicano à presidência, se conseguir vencer a repulsão
visceral que provoca em círculos da extrema direita.
Como
observou Andrew
Levine do Institute for Policy
Studies (4),
Obama-O-Neoconservador pode ser jogada esperta para conter preventivamente Mitt
e conquistar ainda mais votos. OK. Mas pode também ser exercício de
transparência, porque Obama, desde antes do discurso “State of the Union” já
andava repetindo Kagan sem tirar nem pôr: “esqueçam a Ásia; será outro século
norte-americano” e eu estarei ao timão; portanto, lembrem que quem inventou a
única mudança na qual se pode acreditar... fui
eu.
É
quando o filme vira filme de terror: se Obama-O-Neoconservador concluir que,
para chegar até o tal novo século de dominação norte-americana, ele, antes, terá
de pulverizar e em seguida passar o aspirador de pó em todo o Sudoeste da Ásia,
com volta do chicote no lombo de quem bateu ou não, ele fará tudo isso – para
delícia da Brigada dos Guerreiros dos Teclados.
________________
Notas
dos tradutores
(2). Israel
teams with terror group to kill Iran's nuclear scientists, U.S. officials tell
NBC News, 9/2/2012.
*“Esperando
pelo fim do mundo / esperando pelo fim do mundo / esperando pelo fim do mundo /
Santo Jesus, sinceramente espero que você esteja voltando, porque você deu a
partida para algo [estranho] por aqui” em gravação do final dos anos
1970s. (pode ser vista/ouvida a seguir).
[2] Orig.
Scary monsters, super freaks. Há
ecos aí de
Scary Monsters (and Super Creeps) [Monstros Assustadores (e Super Calafrios)],
título de um álbum de David Bowie, lançado em 1980, na linha do rock. Pode
ser ouvido a seguir.
Alimentado
da mesma fonte, há um livro, Scary
Monsters and Super Freaks, que foi best-seller em 2003, de Mike
Sager, jornalista e escritor, conhecido sobre “o poeta beat do jornalismo
norte-americano”.
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