Raul
Longo
Raul Longo (antes do Facebook) |
Há muito tempo todo mundo tenta me
convencer a entrar na tal rede de comunicações, mas como mal dou conta das
mensagens pelo Outlook, não me entusiasmava.
Disseram que seria ótimo para
encontrar amigos esquecidos, mas prefiro mesmo acarinhá-los na
memória.
Disseram também que seria bom negócio
para divulgar minha pousada. Não sou homem de negócios e prefiro que venham ao
Sambaqui aqueles que mereçam encontrar este lugar, do que os induzidos por
qualquer tipo de propaganda.
Enfim, disseram mundos e fundos, mas
só me interessei agora que saiu esse livro pela Pallas Editora. Resolvi
promovê-lo pelo Facebook porque ainda que o primeiro leitor seja o próprio
escritor, nos falta o aplauso que estimule e a vaia que aponte onde melhorar em
próximas oportunidades.
E já que as oportunidades são tão
raras, principalmente aos temas de que trato, então...: Ao Facebook.
Primeira dificuldade: meu nome é
indisponível porque alguém já tem uma conta no Facebook com o mesmo nome. Tá, é
previsível. O jeito foi usar o outro sobrenome, mesmo imaginando que muitos não
saberiam de quem se trata.
Daí vem umas perguntinhas para traçar
perfil. Nada previsível! Mero reducionismo. Por exemplo, onde estudei? Sei de
imbecis que estudaram em Yale e de gênios que não estudaram. Florestan Fernandes
só pôde começar a estudar depois dos 19 anos. George Bush comprou diploma. Se
não Yale, qualquer outra tão ou mais importante.
Onde trabalho? Na praia. Ganho pouco
é verdade, mas segui a carreira de empresário da praia por questão de vocação ao
belo, ao vento, à maresia, aos carinhos de Iemanjá.
Outro dado para completar o que
entendem por “perfil” é a cidade onde nasci. O que tenho a ver com a cidade onde
nasci? Me identifico mais com Quixeramobim, onde nasceu Antonio Conselheiro. Me
identifico com cidades que nem existem mais. Não existe mais a cidade que era
minha menina morena. Não existe mais a cidade que me fazia feliz por
corresponder ao amor que tinha por ela. No susto e no espanto, aguardo que passe
o medo de minha garota maravilhosa. Essas foram minhas cidades, as que moldaram
o perfil de minha personalidade, me ensinaram a amar as mulheres, a sorrir com
as crianças, a admirar os conhecimentos dos velhinhos. Não aquela em que nasci e
cujas ruas só percorria a noite pelos cantos mais escuros. Aquela onde as luzes
dos semáforos significam mais do que a vida em qualquer idade e
gênero.
Quando imaginei que perguntariam
minha raça, para poder dizer que pela minha bisavó e por gostar de samba e
feijoada dou-me ao direito de ser negro, preferiram definir meu perfil pelo
sexo. Se sou ou quero ser mulher serei Joana, jamais João! Mas, enfim, deixei
pra lá e não respondi coisa alguma, lembrando de um velhinho do sertão de
Sergipe onde a soldadesca da ditadura rastreava algum fugitivo. O único que
havia ali era eu mesmo, mas nem desconfiaram. Foram desconfiar logo do velhinho
porque não tinha documentos. E por que não? “- Oxente! É só ir até Estância e
perguntar quem é eu que não há quem não informe que eu sou eu
mesmo!”
Pra compensar o perfil rejeitado, e
tasquei uma foto de frente, num sorriso que minha querida amiga Jasmim Losso me
roubou num momento de distração.
Criei a senha, mais isso e aquilo e,
pronto, estou no decantado Facebook!
Primeira coisa que me aparece é uma
relação de fotos e nomes, alguns realmente conhecidos, outros que ficava
procurando adivinhar quem seriam dos esquecidos velhos tempos. Como ali se
afirmava serem todos meus amigos e se sugeria que os convidasse, convidei.
Afinal, muitos de meus grandes amigos foram-me totais estranhos 5 minutos antes
de conhecê-los.
De qualquer forma, ótimo! Exatamente
o que queria: divulgar o livro para o maior número possível de pessoas. E ainda
encontrei a opção para convidar a todos de cada relação clicando num único
quadradinho. Melhor do que ficar selecionando quem quero ou não quero que seja
meu amigo. Ninguém é obrigado a ser, e se não for que não responda. Mas por
minha vontade todos seriam, pois de inimigos já me bastam os donos do poder, os
espoliadores e os enganadores.
Dalí a pouco começa a despencar
comunicados de aceitação de convite, com um link para entrar na página daquelas
pessoas. Fui entrando e copiando o texto que fiz para divulgar a
publicação.
De repente vem uma mensagem,
automática por certo, do próprio Facebook, dizendo que convidei pessoas que não
conheço e isso vai contra as regras da rede que mandam ler para saber me
comportar. Com mais o que fazer dou olhada por cima e logo respondo que, sim,
compreendi que cometi um erro. Como só me ofereciam essa opção de resposta num
quadradinho, não tive chance de explicar que o próprio Facebook me induziu a
esse erro.
Clico também na opção para cancelar
os convites a quem não conheço e vou respondendo aos que continuam aparecendo na
caixa de entrada do Outlook, tentando imaginar como é que o tal Facebook
consegue saber quem conheço ou não, pois a grande maioria era de pessoas que
ainda não me vieram à lembrança.
Admirado de como o Facebook é capaz
de saber mais do que eu quem são meus verdadeiros amigos, fui até o final da
noite. Hoje abro o correio imaginando que os realmente conhecidos haveriam de
responder alguma coisa e despenca nova enxurrada de mensagens de aceitação de
convite. Dessa vez muitos com início de conversa e vários de fato conhecidos e
amigos, do Brasil e de outras partes.
Na primeira que abro vem lá nova
mensagem do Facebook dizendo que uns quantos amigos estão aguardando para entrar
em contato comigo e a relação desses todos só a espera de um “E aí?”. Como na
noite anterior já havia indicado que suspendessem os convites que
inadvertidamente fizera aos que não conheço, imaginei que agora me indicavam
apenas os que conheço. Até porque pelo menos os que encabeçavam a nova lista são
de fato amigos dos quais me lembro. Sem tempo a perder para verificar um por um,
novamente aceitei a opção do único quadradinho para todos aqueles que ali se
afirmava aguardarem para entrar em contato comigo pela rede. Me pareceu evidente
que já não estava mais convidando ninguém e sim aceitando convites para
continuidade de conversas que voluntariamente iniciaram.
No entanto, foi a partir daí que a
cada tentativa de responder ou ler a continuação de um início de mensagem que
tantos me mandam, aparece isso aí:
Solicitações de amizade bloqueadas por
7 dias
Marque a caixa para
indicar que entende a política de solicitação de amizade do
Facebook.
Notamos que você enviou
várias solicitações de amizade a pessoas que não conhece. Portanto, você não
poderá enviar solicitações de amizade por 7 dias.
Para evitar que isso
aconteça novamente, somente envie solicitações de amizade a pessoas que você
conheça.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------
Parte inferior do
formulário
Compreendo
que o envio de solicitações de amizade a pessoas que não conheço não é permitido
no Facebook.
Perdi a tarde inteira clicando ali no
quadradinho do “tô compreendendo”, mas apesar de me tratarem como a um imbecil,
quando clico no “Avançar” aparece nova proposta de cadastramento e, para
confirmar que sou imbecil, insiste até que tente me recadastrar para, por fim,
reafirmar pela enésima vez: “você já está cadastrado, imbecil”.
O problema maior é que não para de
entrar mensagem com meio recado de conhecidos e nem tanto. Para ler o recado
inteiro ou responder aos convites aceitos, tenho de entrar nesta droga do
Facebook que repete que estou de castigo por 7 dias.
Castigo por que acreditei na
propaganda enganosa do Facebook? Faz lembrar aquela tática do “produza drogas
que nós compramos e depois derrubamos seu governo”.
Se imaginar que me censuraram por
causa do tema do meu livro, parecerei alguém com mania de perseguição? Não serão
evangélicos, os administradores dessa rede?
Ou será porque quem não quer contar
onde estudou, em que cidade nasceu, qual o sexo ou onde trabalha, é um
terrorista cibernético em potencial?
Se nestes próximos 7 dias esses caras
ficarem entupindo minha caixa de entrada do Outlook, não consigo fazer mais nada
além de passar uma semana cancelando a malfadada experiência. Isso sim é
terrorismo!
Tentei encontrar um endereço onde
possa escrever aos que administram essa coisa e não encontrei. Tentei pelo
Google, mas ao invés de qualquer outra informação sobre a rede, abre-se a mesma
advertência de que pequei contra a ordem e desordem estabelecida por
eles.
E não param de soterrar minha caixa
de entrada!
Se alguém tem alguma sugestão de como
me livrar desse encosto, por favor, me escreva. Se tem como escrever para seja
quem for do tal Facebook, por favor, enviem esse apelo para que me eliminem
disso aí.
Vade retro Facebook!
(fotos e charges buscadas na web pela redecastorphoto)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.