Dilma Rousseff e Raul Castro |
Publicado em 02/02/2012 por *Mair Pena Neto
A
presidente Dilma Rousseff completou uma viagem de 48 horas a Cuba,
comportando-se como verdadeira estadista, reforçando as relações entre os dois
países e evitando os ardis plantados para que agisse como porta-voz dos Estados
Unidos, reproduzindo as ladainhas provenientes de Miami e da Casa Branca. Dilma
foi a Cuba em visita oficial para estreitar os laços com um país que precisa de
mais investimento e de mais produtividade para avançar economicamente e manter
suas conquistas sociais.
Assim
como aconteceu com Lula, foi cobrado de Dilma que se manifestasse sobre a
situação dos direitos humanos em Cuba. que os responsáveis pelas cobranças
desejavam, no fundo, era que ela sequer fosse lá, como todos os presidentes
brasileiros desde a revolução de 1959 até Lula. Mas já que Dilma, assim como
Lula, não se rende à agenda ditada de Washington, que se manifestasse
publicamente contra as restrições políticas na ilha.
É
curioso como a questão dos direitos humanos em Cuba “sensibiliza” tanto certas
pessoas. Não se vê a mesma indignação em relação a qualquer outro país. Ninguém
pediria que Dilma, em viagem aos Estados Unidos, se posicionasse publicamente
pelo fechamento de Guantánamo, em pleno território cubano, mesmo com a cobrança
recente feita pela alta-comissária para os Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas, Navi Pillay, que apontou a base como local de constante violação
destes direitos.
Dilma
se recusou a tratar a questão dos direitos humanos como arma de combate político
ideológico e frisou que desrespeitos acontecem em todos os países, inclusive no
Brasil. Não seria nada agradável para nós recebermos a visita de um chefe de
Estado estrangeiro e ouvir comentários sobre a violência da ação de despejo dos
moradores do Pinheirinho ou sobre a desumanidade da maior parte dos nossos
presídios.
O
Brasil é um país que aposta nas relações multilaterais como forma de pressão e
de resolução de conflitos. Ele não vai fazer o papel de juiz do mundo e sair por
aí condenando outros países, até porque tem suas próprias mazelas. Isso não
significa omissão, pois o Brasil ganhou recente relevância no cenário
internacional justamente por sua ação diplomática independente e soberana, que o
leva a ser convocado a atuar nas mais complexas questões mundiais. Temas
delicados, como direitos humanos, não se tratam com bravatas unilaterais,
principalmente quando envolvem nações em situações extraordinárias, como a
cubana, vítima de um bloqueio implacável há meio século.
Diria
que a visita da presidente do Brasil a Cuba transcorreu de forma impecável e com
acentuado caráter político. No trabalho prévio às 48 horas que ela passou na
ilha, o chanceler brasileiro Antonio Patriota conversou com autoridades cubanas
sobre questões relativas aos direitos humanos, e o Brasil concedeu visto de
turista à blogueira Yoani Sánchez, que deseja vir ao país. Ao mesmo tempo,
Patriota não aceitou o discurso fácil da condenação e, assim como Dilma faria em
solo cubano, ressaltou que uma questão mais urgente e multilateral seria o fim
da base de Guantánamo.
Com
o crescimento de sua economia e a capacidade financeira de que dispõe
atualmente, o Brasil tem muito mais a contribuir com Cuba ajudando no seu
desenvolvimento, com implicação direta no bem estar das pessoas. As relações
comerciais cresceram 31% de 2010 para 2011, e o Brasil é o segundo parceiro
comercial de Cuba na América Latina, depois da Venezuela. Existem oportunidades
para empresas brasileiras em Cuba, como provam as obras de ampliação e
modernização do porto de Mariel, com a participação da
Odebrecht.
Cuba
precisa melhorar sua agricultura e recuperar seu parque produtivo; e o Brasil
pretende participar deste esforço com a tecnologia e os processos desenvolvidos
pela Embrapa e, sobretudo, com um olhar mais solidário em relação aos vizinhos
latino-americanos. Sentimento este, por sinal, muito inspirado por Cuba e seu
internacionalismo, sempre manifestado pela presença de médicos e professores,
onde for necessário, e não pelas armas ou posturas
imperialistas.
*Mair
Pena Neto
é
jornalista
carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência
Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de
economia
Enviado
por Direto da
Redação
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