20/2/2012, Li Qingsi, China Daily, Pequim
"Saying no to gunboat diplomacy"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
"Saying no to gunboat diplomacy"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Li Qingsi é professor na Escola de Estudos Internacionais
da Universidade Renmin da China
da Universidade Renmin da China
Depois que Rússia e China vetaram
um projeto de resolução sobre a Síria, no Conselho de Segurança da ONU, dia 4 de
fevereiro, a Assembleia Geral aprovou, dia 16 de fevereiro, uma resolução
condenando a violência na Síria. Embora a resolução da Assembleia Geral não seja
determinativa, ela pressionará ainda mais o governo sírio e pode vir a ser o
primeiro passo para intervenção externa.
Conflitos sectários, fatores
geopolíticos e, sobretudo, o envolvimento do ocidente, na linha de "dividir para
conquistar", já incendiaram várias contradições agudas e intensas no mundo
árabe; e os confrontos armados na Síria ofereceram um pretexto para que o
ocidente se envolvesse também lá.
A atual crise síria não diz
respeito exclusivamente à proteção de direitos humanos, como o ocidente alega. O
ocidente trabalha para derrubar o governo sírio e substituí-lo por governo
pró-ocidental. A Síria é considerada um problema para a estratégia do ocidente
no Oriente Médio, dadas suas relações muito próximas com o Irã e o Líbano,
governados por grupos hostis aos EUA.
Para fazer-se presente no Oriente
Médio, a Liga Árabe quer engajar-se na estratégia ocidental para o Oriente
Médio. Decidida a questão síria por via não pacífica, o alvo seguinte do
ocidente será, sem dúvida, o Irã.
O veto da China não significa que
Pequim esteja alinhada ao lado do governo sírio, ou que não esteja vendo os
conflitos sangrentos que se travam naquele país. Significa, isso sim, que a
China não quer que a Síria acabe na mesma trilha desastrosa em que está hoje a
Líbia, que, afinal, já levou a guerra civil em grande escala.
Como membro permanente do
Conselho de Segurança da ONU, a China tem a responsabilidade e o dever de
defender a Carta das Nações Unidas, a justiça internacional e seu código de
conduta; nesses termos, deve rejeitar todas as resoluções que impliquem violação
da Carta da ONU e de seus objetivos.
Seria erro grave a China ver que
uma resolução põe em risco a soberania de um estado membro e agride o direito, e
não se manifestar contra a aprovação desse tipo de resolução.
A resposta furiosa do ocidente
aos vetos de China e Rússia mostra que os vetos realmente deixaram à vista o
objetivo ocidental de dominar o Oriente Médio e monopolizar as questões e as
soluções em todos os movimentos da ONU, objetivo que o ocidente tentou camuflar sob declarações de que estaria tentando proteger direitos humanos na Síria.
O mundo já testemunhou várias
invasões em estados soberanos e o assassinato de civis inocentes, feitos sempre
em nome da intervenção humanitária. Desde o fim da Guerra Fria, todas as
intervenções militares mostram que o ocidente, enquanto ostenta a bandeira da
proteção dos direitos humanos, visa de fato, sempre, a proteger seus próprios
interesses estratégicos globais ou regionais.
Seja nos países que foram
invadidos depois dos ataques terroristas contra os EUA em 11/9/2001, seja nos
países muçulmanos que promoveram ‘revoluções coloridas’ no ano passado, o que se
viu foi que, em vez de proteger direitos humanos, as invasões e ‘revoluções’ só
criaram instabilidade doméstica e situação humanitária ainda mais
deteriorada.
A experiência mostra que, desde a
Guerra Fria, países ocidentais, não importa quão sérias sejam suas divergências,
sempre se unem, quando em conflito com países não ocidentais. Mesmo nos atuais
tempos de globalização, permanece uma clara divisão entre o ocidente e o mundo
não ocidental.
Por razões históricas e práticas,
o equilíbrio de poder entre o ocidente, especialmente os EUA, e o mundo não
ocidental, sempre foi desigual. Poder absoluto sem controle e limitações sempre
leva à corrupção dentro do Estado; poder sem contrapoder na comunidade
internacional também degenerará em autoritarismo e violência, que ameaçam a
estabilidade de todo o planeta.
Depois da Guerra Fria, os EUA
trabalharam para "manter firme controle sobre a ONU e oprimir a comunidade
internacional", e os países pequenos e médios não se atreveram a manifestar seu
desagrado.
A reação histérica dos EUA ao
veto da China mostra que os EUA ainda não se adaptaram à mudança na China. Num
momento em que se ressuscita a política de barcos armados, agora sob novo
disfarce, uma abordagem diplomática autodisciplinada e serena parece
deslocada.
Se China e EUA puderem coexistir
em paz, teremos aí um feito pioneiro, sem precedentes. Mas a história dos
contatos entre China e EUA indica que essa cooperação pacífica não será
alcançada mediante exigências e concessões, nem se deve contar com situações de
ganha-ganha, movidos, nós, só pelo nosso wishful thinking. Disputar sem romper
relações não deve ser a linha limite da atitude dos chineses face aos EUA. Só
quando estivermos preparados para pagar o preço do rompimento, poderemos cogitar
de disputar sem romper.
Não importam as dificuldades da
situação externa: o crescimento da China não parará. Não, até que os diplomatas
parem de apelar ao pensamento emocional, de ‘coração a coração’. Não, até que os
sentimentos de 1,3 bilhão de chineses deixem de ser vistos como sentimentos de
segunda classe, que se podem agredir sem risco. E não até que a China possa
defender as leis e normas da ONU e a paz e a justiça no mundo, também com ações,
além de só com palavras.
Como membro permanente do
Conselho de Segurança da ONU, a China deve corresponder à grande
responsabilidade de salvaguardar a paz mundial. Para preservar a unidade, a
China tem usado com extrema parcimônia o seu direito de veto.
Como membro da comunidade mundial, a China sabe
que não pode realizar seus interesses sem cooperar com o mundo exterior. Mas a
China também se manterá alerta ante os estados ocidentais que tensionarem demais
a corda. Já tendo sofrido invasão por potências ocidentais, a China entende todo
o sofrimento que daí resulta. Uma China emergente não repetirá erros de outros,
porque o povo chinês sabe que o que não se quer para si não se deve impor aos
demais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.