18/2/2012,
Pepe Escobar (de Bangkok,
Tailândia),
Russia Today
“Escobar: Al-Qaeda agents worm into Syrian rebel
army”
(entrevista
transcrita e traduzida pelo pessoal da Vila Vudu)
Os
estados da União Europeia pedem que se abram corredores humanitários na Síria,
que alguns temem que abram a porta para intervenção estrangeira. O
correspondente de
Asia Times Online, Pepe Escobar, diz que a intervenção já
está em andamento.
Pepe
Escobar: De
fato, a intervenção já está acontecendo. Não esqueçamos que a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) tem um centro de comando na província de
Hatay, no sul da Turquia, muito próximo da fronteira síria. Já noticiamos e
comentamos isso há vários meses. É uma via aberta para agentes de inteligência,
que vão e vem pela fronteira; para armas, é claro, e armas que são financiadas,
basicamente pelo Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), especialmente os
sauditas e sobretudo os qataris, envolvendo inteligência, é claro, e monitores e
instrutores em campo. E há outra via também, através dessa fronteira. Há duas
estradas pela fronteira do Líbano: uma delas vai até os subúrbios de Damasco; a
outra vai até Homs. Essas vias estão abertas e operantes há três, quatro meses,
no mínimo desde outubro, novembro do ano passado. Quero dizer, a intervenção
estrangeira já está lá.
No
que tenha a ver com o Conselho Nacional Sírio (CNS), por exemplo, é apoiado
diretamente por Nicolas Sarkozy e David Cameron, pelo governo turco e pelos
qataris. E há também o Exército Sírio Livre (ESL), que até analistas, pode-se
dizer, isentos, na Europa e inclusive em Londres, dizem que não é sírio nem é
exército, são bandos de insurgentes infiltrados por afiliados da Al-Qaeda
com
jihadis
salafistas. A intervenção estrangeira já está lá.
As
coisas vão ficar ainda muito mais hardcore daqui por diante, porque os árabes do
Conselho de Cooperação do Golfo, que agora controlam a Liga Árabe, as monarquias
do Golfo, já estão dizendo publicamente que, sim, vamos armá-los cada vez
mais.
Russia
Today: Rússia
e China estão tentando mediar o conflito, chamando os dois lados para um
diálogo. A OTAN e os árabes dizem que estão criando um grupo chamado Amigos da
Síria [Friends of Syria, FOS]. O que estão de fato tentando obter com
essas iniciativas?
Pepe
Escobar:
[risos]
Com amigos como esses... Observe a lista de amigos: Washington, Grã-Bretanha e
França, ex-potências coloniais que, de fato, dividiram o Oriente Médio entre
elas, inclusive a divisão da própria Síria. Esse câncer, que já existe há um
século, ainda está lá, ativo, em toda a região. Foi responsabilidade de
britânicos e franceses, há cem anos. E o governo turco, ex-império otomano,
também com ambições de neo-otomanismo. E as monarquias do Golfo, aquelas
democracias exemplares do Golfo, que pregam mudanças democráticas, mas não
querem democracia em benefício dos sírios, e só o que querem é governo muçulmano
sunita linha dura da Fraternidade Muçulmana, em vez de
Assad.
Russia
Today:
O
senhor falou de Washington. Washington já admitiu que a Al-Qaeda está na Síria,
aliada aos grupos de oposição na Síria. E se Washington estiver considerando
ampliar o apoio àqueles grupos, o senhor acha que Washington pensa realmente em
aliar-se a terroristas?
Pepe
Escobar:
Sim.
E foi exatamente o que Washington já fez na Líbia! Não esqueça que a Líbia, a
Líbia “libertada”, é hoje governada por aquilo que chamam de “milícias”, 250 pelo menos, em Misrata, e eu diria que 40 ou 50 também em Trípoli. E o
comandante militar de Trípoli é ex-membro, ex-alto dirigente da Al-Qaeda.
Washington e os terroristas já trabalham juntos há, no mínimo, dez meses, na
Líbia; e há três ou quatro meses, pelo menos, na Síria. É o mesmo modus
operandi, sem a zona aérea de exclusão, porque, agora, Rússia e China,
traçaram a linha limite que não poderá ser ultrapassada: esqueçam, porque vocês
não vão conseguir uma “Líbia 2.0” .
Por
tudo isso, a situação é muito mais complicada hoje, porque há na Síria uma
guerra clandestina, oculta, que já se combate há alguns meses e que de agora em
diante vai-se ampliar. Está em curso na Síria uma guerra clandestina, oculta,
guerra de sombras, que se soma a uma guerra civil. O único grande perdedor nisso
tudo é o chamado “povo sírio”, do qual esses mestres de democracia, ou de
medíocre-cracia, como Sarkozy e Cameron, lembram-se, vez ou
outra.
Russia
Today:
Muito
obrigada por nos receber em Bangkok, Tailândia, para essa entrevista.
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