“Nenhuma
piedade pelos beduínos!”
11/2/2012,
Fausto Giudice, Túnis [enviado por
e-mail]
Enviado
pelo pessoal da Vila
Vudu
Ver
também
11/2/2012,
“Baltasar
Garzón e a armadilha da Transição espanhola”, John
Brown
Acabo
de descobrir, ao ler o excelente artigo de John Brown sobre Baltasar Garzón e as
arapucas da transição democrática na Espanha [endereço acima], que os oficiais
franquistas do exército da África que esmagou a República espanhola chamavam os
Republicanos de “os mouros do norte”, os árabes do norte. O que leva Gustau
Nerín, em seu livro La guerra que
vino de África [A guerra que veio
da África], citado por Brown, a qualificar o extermínio dos “Vermelhos”, pelos
fascistas, como “matança colonial”.
Imediatamente
me ocorreu um paralelo histórico rico de analogias.
O Duque
de Orléans deixa o Palácio Real (Louvre) e vai para o Hotel de Ville (Vernet)
|
Em
fevereiro de 1848, a população de Paris levantou-se
contra a monarquia instaurada em julho de 1830 e proclamou a Segunda República.
A burguesia aterrorizada apelou às tropas de África vitoriosas na conquista
sangrenta da Argélia, de 1830
a 1847, quando o Emir Abdelkader, chefe da insurreição
argelina, rendeu-se às tropas francesas de ocupação comandadas pelo general
Bugeaud, massacrador de operários parisienses em 1834.
Governador
da Argélia desde 1840, Bugeaud foi convocado de volta a Paris para enfrentar a
Revolução. Nomeado comandante militar de Paris, Bugeaud declara: “Terei o prazer
de matar muitos dessa canalha.” O encarregado do comando operacional das tropas
é o General de Saint-Arnaud, ao qual François Maspéro consagrou um livro
notável, L'honneur de Saint-Arnaud
[A honra de Saint-Arnaud] (éd.
Seuil, coll. Points, 1997, 448 p.).
Saint-Arnaud,
protótipo do conquistador colonial aplicará tudo que aprendeu na conquista da
Argélia – dentre outras, a tática de sufocar com fumaça os civis que se
refugiavam em cavernas – a serviço da contrarrevolução na metrópole. O homem que
escrevia na Argélia “Arrebentamos, queimamos, pilhamos, incendiamos colheitas e
árvores” era odiado pelo povo parisiense, que lhe jogou lama e derrubou-o do
cavalo nas jornadas de fevereiro. Saint-Arnaud teria sua vingança, e seria
sangrenta.
A cavalaria nas ruas de Paris em 2 dedezembro de 1851 (Autor desconhecido) |
Depois
do banho de sangue de junho de 1848, Louis-Napoléon Bonaparte prepara seu golpe
de Estado. Nomeia Saint-Arnaud General-de-Divisão, depois Ministro da Guerra.
Nos dias que se seguiram ao golpe de força de 2/12/1851 (o famoso 18 brumário de
Louis-Napoléon Bonaparte, para lembrar o título da brochura de Karl Marx) as
tropas de Saint-Arnaud, que se tornara ministro do Interior, lançaram-se contra
os quarteirões operários de Paris, aos gritos de “Nenhuma piedade pelos
beduínos!”
40
mil Republicanos seriam presos e condenados por “comissões mistas” criadas por
Saint-Arnaud e seu colega da Justiça, Abbatucci. Uma parte deles seria banida
para Lambèze, na Argélia e Caiena, na Guiana. Esses Republicanos, embora
chamados de “beduínos”, nem por isso deixaram de ser franceses. A maioria deles,
depois de deixados em Lambèze, tornaram-se colonos na Argélia francesa (os
condenados a pena de banimento não podiam retornar à metrópole depois de
cumprida a pena) e, na primavera de 1871, proclamaram a Comuna de Argel, ainda
mais efêmera que a Comuna de Paris.
Detalhe
perturbador: os “indígenas” judeus e muçulmanos eram proibidos de entrar nessa
“comuna”...
Sempre
alguém é “o árabe” de alguém.
Ilustração virtual
-- Ernest Dargent, Illustration pour “Histoire
d'un crime” - Quatrième journée: La victoire. ©
Photo RMN – Bulloz.
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