Joas Wagemakers |
19/11/2011, Jihadica – Joas
Wagemakers
Traduzido pelo
Coletivo da Vila
Vudu
Ayman
al-Zawahiri, atual líder da al-Qaeda, diz “salamun ‘alaykum” nada menos
que oito vezes, só nos primeiros parágrafo de epístola [1]
recém
distribuída e que visa exclusivamente a saudar, encorajar e elogiar os inimigos
do governo do presidente Bashar al-Assad, da Síria.
No documento, o
líder da al-Qaeda dirige-se aos que chama de “os mujahidin que implantam o bem e proíbem o mal”. Parece
ser tentativa de afirmar que o governo sírio estaria sendo desafiado por ‘homens
como os da al-Qaeda’ – artifício excelente, de seu ponto de vista, porque o
ajuda a implantar a ideia de que sua organização permaneceria viva e atuante,
sempre lutando para derrubar governos “infiéis”.
Al-Zawahiri
conclama os que o ouvem a resistir contra o presidente al-Assad o qual, para
ele, seria “parceiro da guerra contra o Islã em nome do terrorismo, e defensor
das fronteiras de Israel”. Ainda mais explicitamente – em frase que soa melhor
em árabe que em inglês – o líder da Al-Qaeda prega que os sírios digam a
al-Assad: “Quebramos as cadeias paralisantes do medo e as muralhas da fraqueza.
Os [homens] livres da Síria e seus mujahidin decidiram que viverão doravante como gente
honrada e morrerão como mártires [ya’ishu a’izza’ wa-yamutu
shuhada’).”
Al-Zawahiri
insiste em que haveria elos sólidos entre os governos dos EUA e da Síria. Diz
que “os EUA, que sempre colaboraram com o governo de Bashar al-Assad, insistem
em que estariam hoje [no campo oposto]”. Aconselha os manifestantes sírios a
declarar aos EUA e ao presidente Obama: “somos filhos dos conquistadores, filhos
dos mujahidin e herdeiros
dos murabitun (combatentes que operavam a partir de
cidades fortalezas).” A batalha contra o governo sírio – diz al-Zawahiri – deve
prosseguir até “que possamos erguer as bandeiras da Jihad vitoriosa” em Jerusalém.
Abordagem mais racional e ponderada, mas também de apoio
declarado aos que querem derrubar o governo de Al-Assad na Síria, também aparece
em outro documento, esse assinado por Abu Basir al-Tartusi [2], pensador e professor islâmico que
vive em Londres, que não participa do núcleo que comanda a al-Qaeda, mas é dos
principais ideólogos da organização. Abu Basir é sírio de nascimento e
salafista; nos últimos tempos tem escrito freneticamente, sempre reflexões a
favor da derrubada de Bashar Al-Assad.
Abu Basir não
seria verdadeiro salafista se não abrisse esse documento com críticas à religião
da família al-Assad. A família Assad é alawita – ramo do islamismo que os
salafistas e, embora em menor extensão, também os sunitas, vêem como desviantes
e, mesmo, como infiéis. Diz que os Assad – dentre outros “defeitos” – são batinis (i.e., pessoas que crêem que o Santo Corão
teria um significado esotérico, diferente do significado religioso manifesto;
idolatram imagens); e dizem que o califa “Alib Abi Talib é Deus (...)”.
“Esses alawitas” –
diz Abu Basir – não se importam nem com a pátria nem com os cidadãos. Nunca
conseguiram coisa alguma e nunca dedicaram sequer um momento de atenção às
necessidades do povo. Abu Basir diz que o sistema sectário sírio é culpado disso
tudo, provavelmente porque o grande número de seitas e as diferenças entre elas
estimulam as pessoas a só pensar nos interesses específicos de cada seita, à
custa da lealdade ao país e ao povo como um todo. Resultado disso, o regime de
Assad só atraiu desgraças para a Síria: destruição, divisionismo e miséria.
Surpreendentemente,
contudo, se se considera a opinião que Abu Basir manifesta em geral contra todos
os alawitas, ele demarca diferenças entre “alawitas que participam do governo do
presidente al-Assad” e a massa dos “alawitas que sofrem miséria idêntica à de
todos os sírios”. Sua ira, pois, é dirigida contra o governo de Assad.
Aconselha os que
se opõem ao regime sírio a unir-se em torno de uma demanda única: a mudança de
regime. Não é prudente, diz Abu Basir, acrescentar qualquer outra demanda (aqui,
Abu Basir parece reconhecer que, se não se pressupõe que todos os sírios queiram
o fim do regime, não parece haver qualquer causa comum que una todos os sírios e
permita criar algum tipo de coalizão).
Apesar de
aconselhar o povo sírio a armar-se e recorrer a métodos violentos contra o
governo de Assad, Abu Basir argumenta no sentido de convencer os sírios de que
essa violência seria necessária e justificada. Diz repetidas vezes que a
resistência pacífica é recomendável, mas diz também que não vê sentido em
continuar a recorrer a meios pacíficos, depois de os sírios terem sofrido tanta
violência e tanta brutalidade; e admoesta os sírios, por não considerarem,
ainda, a possibilidade de armarem-se contra o governo, quando já está bem claro
que manifestações pacíficas nada conseguiram. Incita o povo a conseguir armas e
cita um verso do Santo Corão sobre o estado de prontidão militar, para sublinhar
a legitimidade do recurso à violência.
Depois de comparar
o regime sírio e o antigo colonialismo francês e constatar que não há diferença
alguma, ameaça com a fúria divina os que permanecem nas fileiras do exército de
Assad [houve poucas deserções]; e conclama-os a assumir as responsabilidades que
lhe caberiam, como sírios, de defender a honra do país e o povo “contra o
imperialismo do regime sectário de al-Assad”.
Notas dos
tradutores
[1] Al-Zawahiri, Izz AL Srark – Awwalulu- Dimash (em árabe)
[2] Al-Tartusi-Ma-la-Yarifu-l-Nas-an-al-Nizam-al-Suri-al-Taifi (em árabe)
[1] Al-Zawahiri, Izz AL Srark – Awwalulu- Dimash (em árabe)
[2] Al-Tartusi-Ma-la-Yarifu-l-Nas-an-al-Nizam-al-Suri-al-Taifi (em árabe)
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