Publicado
em 10/11/2011 por RuiMartins
Caro
senador, valho-me dos contatos, poucos é verdade, mas importantes, que tivemos
no começo da campanha dos Brasileirinhos Apátridas, pela recuperação da
nacionalidade nata para os filhos dos emigrantes, e na campanha pela aprovação
da sua PEC 05/05, que aprovávamos já em 2005, quando muitos dos atuais
defensores sequer se preocupavam com a possibilidade de haver parlamentares
emigrantes.
Como
o senador sabe, de 2008 para cá, com a criação das Conferências Brasileiros no
Mundo, o governo ativou a participação social dos emigrantes e criou mesmo um
conselho, o CRBE, que temos criticado com insistência por padecer de um defeito
básico, o de ser tutelado pelos diplomatas do Itamaraty.
Mas
não é esta a razão deste recado. O motivo se prende à sua Proposta de Emenda
Constitucional 05 de 2005, pela qual se criariam novas circunscrições eleitorais
no Exterior com o objetivo de dar aos emigrantes a possibilidade de votar nas
eleições legislativas e de serem votados, para se ter no Congresso quatro
deputados emigrantes.
O
caro senador terá mesmo um encontro com o presidente do Conselho de Emigrantes,
o CRBE, que irá buscar seu apoio para se reativar o debate e se prosseguir com a
votação no Senado dessa PEC, já aprovada uma vez. Como se sabe, uma proposta de
emenda constitucional necessita ser aprovada duas vezes, por maioria de dois
terços no Senado, e igualmente na Câmara Federal.
O
meu recado, senador, é para alertá-lo não ser este o momento adequado. A
primeira aprovação da PEC 05/05 provocou euforia nos meios emigrantes, mas teve
a reprovação da imprensa que mobilizou a opinião pública. Resultado – muitos
senadores prometeram ser contra na segunda votação, jogando assim no lixo essa
sua importante iniciativa. Não é, portanto, o momento oportuno, porque para a
população do Brasil continental, que desconhece os problemas dos emigrantes, só
é visto o fato de se criarem mais deputados.
Porém,
não é só a imprensa e nem a opinião pública manipulada pela imprensa os
contrários a se levar adiante, agora, essa PEC. Como dirigente do movimento de
cidadania Estado do Emigrante considero haver prioridade para a criação, isso
sim, de uma Secretaria de Estado dos Emigrantes, antes de se tratar de
parlamentares emigrantes e de se lançar prematuramente os inexperientes
emigrantes numa precipitada eleição de deputados, na qual se repetiriam os
mesmos erros e abusos ocorridos nas eleições para o Conselho
CRBE.
Senhor
senador Cristovam Buarque – ter deputados parlamentares sem haver junto ao
governo um órgão de decisão, a Secretaria de Estado dos Emigrantes, não será de
nenhuma valia para os emigrantes. Mas permitirá a alguns se aproveitarem e
utilizarem o movimento emigrante em proveito próprio.
Não
devemos começar a construir a casa dos emigrantes pelo teto, como já fez o
Itamaraty com o CRBE, destituído de independência e autonomia. Primeiro, deve
haver uma Secretaria de Estado dos Emigrantes que irá preparar as bases para o
atendimento das reivindicações e das necessidades básicas dos emigrantes, sejam
trabalhadores, comerciantes ou pequenos e médios
empresários.
Só,
a seguir, com a criação das circunscrições eleitorais, instalação dos partidos
políticos no Exterior, permitindo aos emigranes exercer sua liberdade de escolha
é que deveremos pensar em parlamentares emigrantes. Isso para que sejam
verdadeiros representantes da população emigrante e não aproveitadores da boa fé
dos emigrantes. Tudo ainda está muito verde. Sem os emigrantes saírem da tutela
dos diplomatas, dos consulados e do Itamaraty nada será possível em termos de
representação democrática.
Senhor
senador Cristovam Buarque, ajude-nos a obter nossa independência e nossa
autonomia dentro do governo, para que os representantes dos emigrantes possam se
sentar-se à mesa do governo em condições de igualdade com os outros ministérios
e secretarias de Estado. Ajude-nos nisso, e, a seguir, juntos e no momento
adequado, iremos lutar pelos parlamentares emigrantes, coisa que defendemos como
necessária desde o lançamento do nosso movimento.
Não
se deixe iludir pelos que só têm um objetivo em vista – ganhar uma eleição para
deputado federal. A luta pelos nossos emigrantes não é em favor de conquistas
pessoais, e o prioritário neste momento é a obtenção de um órgão institucional
emigrante independente do Itamaraty.
Rui
Martins – Berna: Jornalista,
escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante,
ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os
movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na
Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência
BrPress.
Enviado
por Direto
da Redação
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