Benyamin Netanyahu |
Publicado
em 06/11/2011 por Mário Augusto
Jakobskind
O
mundo está em estado de tensão. Além da crise grega, que ocupa grandes espaços
na mídia de mercado com advertências dos neoliberais sobre reflexos de uma
quebra do país em outras partes do mundo, o primeiro-ministro de Israel, o
militarista Benyamin Netanyahu mostrou mais uma vez a sua cara. Primeiro, ao
cortar a contribuição anual de Israel à Unesco em represália ao ingresso da
Palestina no organismo da ONU para a cultura, além da suspensão da cota
destinada ao país que Israel não quer reconhecer e usa sofismas para não deixar
claro a sua posição. Os EUA fez a mesma coisa que Israel em relação à
Unesco.
Como
se não bastasse, o governo de Netanyahu ampliou a represália ao anunciar a
construção de mais assentamentos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Se um
acordo de paz entre israelenses e palestinos estava difícil, com o novo anúncio
a paz torna-se praticamente inviável. No fundo é exatamente isso que quer
Netanyahu tendo sido o ingresso da Palestina na Unesco mero pretexto para
fortalecer o projeto do Grande Israel.
Em
seguida, o mundo ficou sabendo que Netanyahu e seu ministro da Defesa Ehud Barak
estão tentando convencer os seus pares para uma possível ação militar contra o
Irã. Conseguiram a adesão do racista que ocupa o Ministério do Exterior, Avigdor
Lieberman. O presidente Shimon Perez admitiu que a possibilidade de uma ação
militar estava ficando mais próxima. Mas nem todos estão convencidos e pode ter
sido por isso que a informação vazou.
O
governo israelense usa como argumento o fato de o Irã estar preparando uma bomba
atômica, o que é negado por Teerã. Pelo que se sabe, o único país da região que
possui ogivas nucleares é Israel, mas protestos nesse sentido são tímidos e se
limitam até agora a movimentos pacifistas. Os Estados Unidos, onde o lobby
sionista é forte, na pratica, aceita a realidade de Israel nuclear. E
convenhamos, um país controlado por um governo de extrema direita, como o de
Netanyahu, torna-se um perigo para o mundo ter ao seu alcance bombas nucleares.
Mas sobre isso os dirigentes ocidentais silenciam.
O
noticiário em torno de uma possível ação militar contra o Irã já provocou a
advertência de Teerã, que garante estar em condições de responder a um ataque
com graves consequências para os países que decidirem a ação, Israel e os
Estados Unidos. A OTAN por enquanto limitou-se a afirmar que não pretende agir
no Irã. Em outras ocasiões a organização dizia o mesmo e acabava
aderindo.
A
única coisa que pode deter a insanidade de Netanyahu e do complexo industrial
militar estadunidense é exatamente a possível resposta iraniana. O Irã, diga-se
de passagem, pode ter o controle do estreito de Ormuz onde passa o petróleo do
Golfo Pérsico que vai para o Ocidente. Na advertência iraniana foi lembrado que
o estreito de Ormuz, da mesma forma que o território israelense, está ao alcance
dos mísseis de Teerã.
Quer
dizer, se a insanidade do extremista Netanyahu realmente prevalecer, o ataque de
Israel ao Irã afetará muitos outros países e poderá resultar numa crise mundial
sem precedentes.
Analistas
acreditam que como o Ocidente não quer pagar para ver o que aconteceria depois
de uma ação militar nos moldes contra o Irã, o noticiário alarmista objetiva na
prática conseguir o apoio para a ampliação de ações diplomáticas visando maior
isolamento do regime dos aiatolás e do presidente Ahmadinejad. Mas mesmo assim,
todo cuidado é pouco, porque o governo israelense já agiu em outras ocasiões de
forma isolada, como em 1981 ao atacar um complexo nuclear do Iraque. E quem
garante que os EUA não estão estimulando Israel a realizar uma aventura
militar?
Como
o Irã não é o Iraque e está em melhores condições para reagir a um ataque, o
Ocidente prefere por enquanto agir com mais cautela. A próxima semana poderá ser
decisiva, porque a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgará
mais um relatório sobre a questão nuclear no Irã. Analistas já estão prevendo
que a AIEA poderá confirmar a existência de um programa militar que levará a
bomba atômica iraniana. Por enquanto são apenas especulações. O governo do Irã
já acusou a AIEA de preparar um relatório mentiroso. Resta aguardar então o
desenrolar dos acontecimentos.
Já
na Grécia, depois do anúncio do primeiro ministro George Papandreu sobre a
possível realização de um referendo para o povo decidir se o país aceita ou não
o pacote econômico neoliberal, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel subiram pelas
paredes. Ameaçaram mundos e fundos se isso acontecesse, demonstrando que não são
tão democratas como dizem, pois quem teme a palavra do povo não é propriamente
democrata. Na verdade os dirigentes só aceitam o que diz o mercado, que por sua
vez é incompatível com qualquer tipo de consulta popular.
Com
a intensificação das pressões, Papandreu voltou atrás com a ideia da convocação
do referendo e conseguiu um voto de confiança no Parlamento. Agora pode convocar
um governo de união nacional, que a oposição mais a direita não aceita, porque
quer antecipar as eleições gerais.
É
possível que Papandreu apelou para o referendo como jogada política, mas de
qualquer forma colocou no tabuleiro a possibilidade. O que está em questão
verdadeiramente é o fato da União Europeia exigir que o povo grego pague a conta
da crise provocada pelo capital financeiro.
Os
gregos, heroicamente, saem diariamente às ruas para dar o recado: não aceitam as
medidas draconianas contra os trabalhadores. Reduzir salários, aumentar o tempo
para a aposentadoria e acabar com outras conquistas sociais, fora as
privatizações e enfraquecimento do Estado é a receita europeia para enfrentar a
crise que os trabalhadores não são responsáveis. Só resta ao povo grego reagir
às imposições neoliberais.
Mário
Augusto Jakobskind é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
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