Não
é a primeira vez e certamente não será a última que ouvimos dos nossos
digníssimos governantes declarações infelizes.
Desta feita, porém, a declaração em causa revela uma manifesta falta de
sensibilidade para com os problemas sociais do país.
Supostamente a Questão Social deveria ser a causa maior de qualquer
governo digno desse nome. Mas não é. Recentemente o 1º. Ministro Passos Coelho,
perfeitamente alinhado com os Agiotas Internacionais representados pela Troika,
brindou-nos com a supimpa declaração de que:
“Temos que empobrecer para
sairmos desta situação”.
Assim mesmo. Sem pestanejar…
A
História diz-nos que nenhum país cresce, empobrecendo a Força de Trabalho. Pelo
contrário. Sempre que o Trabalho é devidamente compensado, a riqueza cresce e
gera Desenvolvimento. O melhor exemplo do que afirmamos, é o caso da Alemanha
durante o Ministério do Chanceler Otto von Bismarck, que inaugurou o
Estado-providência, como forma de estimular a Economia.
Os
trabalhadores alemães, como agentes produtivos, passaram a ter direitos sociais
e protecção social. Além da Previdência Social, estabeleceu também programas de
crédito barato à iniciativa privada para a produção de bens do consumo corrente.
As infra-estruturas, as matérias-primas e a moeda estavam a cargo exclusivo do
Estado.
Foi
graças a esta política de intervenção estatal na Economia que a Alemanha se
tornou uma potência Económica no final do Século XIX. Curioso assinalar que
aquele político, considerado o Napoleão Germânico, nem sequer era marxista. Pelo
contrário, foi um conservador e monárquico. Não foi, portanto, com Investimento
Directo Estrangeiro e Financiamento externo, cujos operadores querem sempre,
obviamente, trocar um chouriço por um porco… nem com um Estado ausente da
Economia e omisso na Questão Social, como agora se defende, que a Alemanha
alcançou naquela época o patamar do Desenvolvimento. A História do seu actual
desenvolvimento porém, já não se conta da mesma maneira… embora as suas raízes
remontem àquele século.
Os
países na esfera de influência da Alemanha, como os Escandinavos, seguiram o
mesmo modelo Económico. Daí que não nos admiremos de ver hoje o superior nível
de vida de tais países, cujos altos Índices Humanos são os mais elevados da
Europa e do Mundo, acima dos 0,950 (o máximo é 1, que ninguém até agora
alcançou). E são-no, porque dedicam às despesas sociais, um valor superior a 30%
do PIB, sendo a Suécia campeã, com 38,2 %.
Os
USA, por exemplo, ficam-se pelos irrisórios 19,4%, embora seja ainda detentor da
maior Economia Mundial, e Portugal, antes da austeridade forçada, pelos 25,5%.
Significativo, o leitor não acha?
A
propósito de um chouriço por um porco… o Ministro da Economia faz-nos pobres,
mas de outra maneira…
No
início deste mês anunciou triunfalmente um contrato de concessão com a Colt
Resources para extracção de ouro numa mina no Alentejo. Questionado sobre as
vantagens para a Economia Nacional, depois de falar com algum entusiasmo dos
postos de trabalho que irão ser criados, informou que o país terá um retorno de
4%, acrescentando que tal valor está alinhado com o praticado no mercado, sempre
este… agora na moda.
Parece até desculpa de
quem é apanhado com as calças na mão…
Ora
a questão que se levanta é: porque não os 100%? Porque só 4% de royalties e não
mais?
Podemos até compreender que o Estado não tenha neste momento capacidade
de investimento para meter ombros ao empreendimento. Mas bolas, parece-nos que
estamos a entregar o ouro ao bandido…
Acerca desta questão, todavia, que consideramos de grande interesse para
a nossa Economia, não vimos até ao momento ninguém levantar a voz, nem levantar,
nem baixar… Porque será?
A
pobreza de uma Nação não se faz apenas rebaixando o valor do Trabalho… Mais, não
queremos ser impertinentes, mas perguntamos: será apenas uma coincidência a Colt
Resouces ser uma multinacional canadiana do ramo e o nosso simpático Ministro
ter sido até há pouco professor de Economia na Simon Frazer University, no
Quebeque, Canadá? Deixamos a pergunta aos investigadores da “Teoria da
Conspiração”…
Em
recente conferência de imprensa, a Troika declarou que “…os salários do sector
privado deverão seguir o exemplo do sector público…”. Ora, se o corte dos
salários na função pública já é uma violência social, imoral até, porque tira o
pão da boca a muita gente, como não o será no sector privado, mais numeroso e
onde se praticam salários de miséria em muitos sectores? Além do mais, tal
medida, a ser implementada, irá afundar ainda mais a curva do Crescimento
Económico, que se prevê negativo em 3,5%, e logo o Défice Orçamental irá subir,
mesmo que as despesas sociais não aumentem em extensão.
A
coisa é tão escabrosa que até levanta vozes discordantes, de figuras
insuspeitas, como Belmiro de Azevedo, grande empresário do sector do comércio de
bens alimentares, para quem a austeridade e a falta de uma estratégia de
crescimento da Economia não pode conduzir-nos ao “nascimento de um exército de
excluídos e à miséria absoluta”.
Para
se perceber que não são os salários e a produtividade dos trabalhadores
portugueses que condicionam a falta de competitividade da nossa Economia, basta
consultar os dados do EUROSTAT para este ano.
Este
organismo de estatística da Comissão Europeia informa que o custo médio de hora
de trabalho em Portugal é de 12,22 €. Na Zona Euro, esse valor é de 26,22€, ou
seja, mais de 114%! Em termos de horas de trabalho por ano, os trabalhadores
portugueses também estão em desvantagem, 1737 horas anuais contra 1668 horas do
conjunto dos países da Zona Euro, para o sector industrial. São, portanto, menos
4%, ou seja, os trabalhadores industriais da Zona Euro trabalham menos que os
portugueses e ganham mais do dobro.
A
propaganda da Elite Dirigente, todavia, com muitos parvos à mistura, consegue
convencer o Zé Ninguém de que é um mau trabalhador e que é o grande culpado da
Crise da Dívida e do Euro.
Por
outro lado, se considerarmos os salários médios anuais, Portugal fica em último
lugar, sendo que a Dinamarca é o 1º deste ranking, onde o valor médio salarial
anual é 2,9 vezes o valor do salário médio de um trabalhador português.
A
produtividade contudo, do trabalhador dinamarquês, é pouco mais que 1,57 vezes a
do trabalhador português. Significa que um trabalhador em Portugal, com a mesma
produtividade daquele, recebe pelo seu trabalho menos 87% de salário médio
anual!
Há,
pois, uma substancial diferença entre trabalhar no “Reino da Dinamarca” e
trabalhar na “República Portuguesa”.
Então das duas, uma: ou o trabalhador dinamarquês é um grande
preguiçoso, por que os bens que produz são mais caros 87%, ou o empresário
português é ganancioso… pois paga menos 87% do que devia pagar aos seus
trabalhadores, considerando a mesma produtividade que se verifica no mundo
laboral da Dinamarca.
Estamos em crer que é esta última, a ganância, a razão de tão grande
disparidade. Independentemente da carga fiscal e social sobre o Capital, de que
os empresários portugueses se queixam muito, serão as margens de lucro, que só
os deuses conhecem… substancialmente mais altas aqui do que na Dinamarca, que
retiram competitividade às nossas exportações.
Por
estes números, não se compreende pois a insistência em rebaixar a remuneração do
Trabalho, a menos que se pretenda transformar Portugal na China da
Europa…
Esta
mentalidade, infelizmente, está muito presente na nossa Sociedade há séculos.
Ainda esta semana, depois de referirmos as vantagens comparadas entre o
mundo laboral português e o resto da (des)União Europeia, um dos nossos
interlocutores, que tem uma mercearia de bairro, das que ainda, felizmente,
existem, atalhou logo, sentenciando com o dedo em riste, que o empregado
nacional quer é ganhar muito e trabalhar pouco, ao que nós, perfeitamente
irritados, pois o homem não entendeu patavina do que acabáramos de esclarecer,
reagimos: “Pois é, meu caro. Está-se a ver que o senhor é daqueles que ainda
vive no tempo da escravatura… Bom mesmo, é trabalhar de graça, não é?”
Claro que existem bons e maus trabalhadores, como também existem bons e
maus patrões. A generalização, infelizmente um mau hábito muito praticado entre
nós, ao violar princípios de racionalidade e inteligência, impede a Concertação
Social e o Consenso Político, tão necessários à superação da Crise.
Ponta
Delgada, 20 de Novembro de 2011
Escrito e enviado por Artur Rosa
Teixeira, correspondente da redecastorphoto em Portugal, Ultramar e
arrabaldes.
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