Pepe Escobar |
5/11/2011, Pepe Escobar, Asia
Times Online
Traduzido e
comentado pelo pessoal da Vila
Vudu
A morte é destino
melhor, mais leve, que a tirania.
(Ésquilo, Agamêmnon) [2]
Palavras que saem
pela boca são como montanhas.
(Provérbio
mandchu)
Amigos,
Aí
vai jornalismo brilhantíssimo e tradução dificílima. O mérito da tradução vai
para dois de nossos tradutores: a Marinildes e o Zé do Ki (do quiosque), que
trabalharam muito e estão contentes com o resultado.
Antes
de ir dormir, a Marinildes e o Zé do Ki disseram que trabalhariam outra noite
quase inteira, se fosse preciso para DESMORALIZAR completamente o “jornalismo”
do Estadão.
Hoje,
o Estadão “noticia”, sobre o mesmo assunto, para engambelar seus infelizes
leitores PAGANTES: “Os líderes do G-20 não chegaram a acordo para recapitalizar
o FMI e o Fundo de Estabilidade Financeira, informa o enviado especial a Cannes,
Andrei Netto” [“Cúpula do G-20 acaba sem reforçar caixa europeia”,O Estado de
S.Paulo, 5/11/2011, p. 1].
“Mas
que droga de notícia é essa?! Prá que mandar esse “Andrei Netto” (e o nome
aparece em negrito, na p. 1 do “jornal” [risos, risos]) a Cannes, pra escrever
ISSO?”! “O Andrei Netto poderia ter ficado aqui mesmo, no Bairro do Limão, só
ouvindo a BBC, e escreveria igualzinho! Mas... é ISSO que o Estadão faz com a
nossa grana, de assinantes PAGANTES?”! -- pergunta a Marinildes, indignada.
“Queremos nossa grana de volta! Ou queremos jornalismo que
preste!”
A
Marinildes disse também que o nome da “coisa” é “Fundo Europeu para
Estabilidade Financeira”, não, é claro, “Fundo Europeu de Estabilidade Financeira”, como o
Estadão inventou que seria.
Dado
que NÃO HÁ PORCARIA NENHUMA de Estabilidade Financeira, a “coisa” não pode
chamar-se “Fundo de Estabilidade” e tem de chamar-se “Fundo
para (alguma, talvez, mas só se a China resolver
participar e a Europa pagar o preço que a China está cobrando pela participação)
Estabilidade Financeira. A coisa também poderia chamar-se “Fundo para Fingir que
há Estabilidade Financeira” (FFEF).
Todas
as correções são bem-vindas.
[assina]
Coletivo de Tradutores Vila Vudu
Cannes é
mundialmente famosa pelo festival anual de cinema que acontece na cidade e
percorre todos os itens que vão do glamour ao lixo mais trash. É cenário ideal, esse
resort de Club Med, para um filme de horror financeiro monstro – espécie
de versão com afogamento em série de uma Odisséia da quebradeira universal. [3] Uns deram ao filme o título de
“Reunião do G-20” . Para outros, melhor “Lerdos e
Furiosos”.
O par protagonista
(feios, os dois) desse filme pornô atende por “Merkozy”, como disseram alguns
parisienses [4] – resultado de
polinização cruzada entre a primeira-ministra alemã Angela “Dear Prudence”
Merkel [5] e o neonapoleônico
presidente francês Nicolas Sarkozy.
Nas cenas iniciais,
saídas diretamente de um daqueles ridículos episódios de Friends, os
Merkozy estão em total pânico: o Deus (invisível) do Mercado, mais furioso que
Zeus, ameaça, com uma fuzilaria de raios, reduzir a Fortaleza Europa a miséria
maior que a miséria subsaariana – e sem os luxos de zona aérea de exclusão
implantada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte,
OTAN.
O muito fotogênico
Barack Obama, o Grande – líder do mundo livre – está prestes a baixar em Cannes,
e Merkozy têm de correr, para mostrar a ele que a humilde choupana da dupla – a
Europa – está em ordem, com todo o lixo (a dívida) já varrido, pelo menos, para
baixo do tapete (made in China).
Pior ainda, Sua
Alteza o Presidente Hu (Jintao) da China – líder de todo o universo – também
está para chegar, e a dupla Merkozy terá de fazer-se de dupla Brangelina (Brad
Pitt & Angelina Jolie), na tentativa de seduzir a Alteza chinesa e levá-lo a
desembolsar para fins caritativos umas moedinhas, dos 3,2 trilhões de dólares
das reservas da China.
É quanto aparecem as
Erínias (Fúrias, para os romanos, personificações da vingança) – sob a
improvável forma de primeiro-ministro George Papandreou da Grécia, mais sitiado
que Leônidas nas Termópilas. O grego decide invocar ritualmente a democracia. E
inventa um referendo popular – para que o populacho grego decida sobre o próprio
futuro já soterrado sob dívidas. E toda a eurozona, feito coro de Harpias,
põe-se a uivar de horror.
A dupla Merkozy
então prepara um golpe de roteiro, que destronaria o próprio Ésquilo. A dupla
proíbe os gregos de votar sobre a operação de resgate que a dupla – ou os bancos
franco-alemães – decidiu impor. Os pobres gregos só são autorizados a dar pitaco
sobre se a Grécia permanece na eurozona, ou cai fora. Para somar insulto à
ofensa, as gralhas-abutres burocráticas na Comissão Europeia gritam que a Grécia
seja expulsa da União Europeia, se abandonar o euro.
Até que o
neonapoleônico Sarkozy finalmente consegue entrar em cena, e pronuncia as
palavras fatais: “Não podemos aceitar a divisão do euro. Significaria a divisão
da Europa”.
Quer dizer que, pelo
menos nessa parte do roteiro, Merkozy e as Harpias Europeias parecem ter
chantageado o povo grego; obrigaram os gregos a submeter-se. Quem, dentre os
mestres do universo, preocupa-se com terem reduzido a Grécia ao status de
protetorado, depois de terem surrupiado mais de 50% dos meios com que os gregos
contavam para arrancar-se da miséria, para que os bancos nada sofressem? Quem se
preocupa com a Grécia e com os gregos, enterrados até 2021 numa dívida –
insustentável – que equivale a 120% de tudo que o país
produzir?
Mario Draghi, o novo
presidente do Banco Central Europeu [European Central Bank (ECB)], sucessor de
Jean-Claude Trichet, certamente não está preocupado com coisa alguma. Draghi, o
Dragão, era sócio do banco Goldman Sachs, quando os gigantes norte-americanos
“ajudaram” o governo grego – então, governo de direita – a maquiar suas dívidas.
Continua tudo em família (grande demais para quebrar).
A dupla Merkozy,
pois derrotou a democracia – e a “Europa”, como a conhecemos, já não existe. O
que sobra é um filme de penitenciária, filme B, no qual os donos da
penitenciária são a dupla Merkozy, com vários zumbis assessores: Draghi; João
Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia; Herman van Rompuy, presidente
do Conselho Europeu; e bancos franco-alemães. E os zumbis escravos são,
virtualmente, todos os povos de todos os países da Europa-Club Med.
A tal “coisa”, o
Fundo Europeu para a Estabilidade Financeira [European Financial Stability
Facility, EFSF]
O enredo engrossa. À
moda dos filmes-catástrofe, o vingativo Deus (invisível) do Mercado já tem de
ser aplacado, mesmo que algum país apenas comece a flertar, de longe, com a
ideia do calote. O Salve-Rainha – a última instância, a solução que só aparece
no último segundo – seria, em teoria, o poder de fogo do Fundo Monetário
Internacional que, hoje, não passa de reles $380 bilhões de
dólares.
Quer dizer: o filme
pode ter começado como reunião de uma eurozona em cacos, partida. Mas, de
repente, transformou-se em reunião de acionistas do Fundo Monetário
Internacional, muito mais partidos, muito mais em cacos, e filmada à moda Oliver
Stone.
Spots de propaganda do Fundo Monetário
Internacional podem ser vistos em nada menos que 53 países – inclusive em três
dos países PIGs: Portugal, Irlanda e Grécia. Evidentemente, o FMI não pode
pôr-se a gritar ao mundo “Precisamos de dinheiro!” Por isso, só lhes restou
resmungar baixinho, lá entre eles, o quanto precisam de uma porta corta-fogo
monstro em Washington, para o caso de o “resgate” da eurozona dar com os burros
n’água (e dará).
Daqui
em diante, só Alfred Hitchcock explica. O McGuffin
[6] nesse caso, ali, bem à mão, atende
pelo orwelliano nome de Fundo Europeu para a Estabilidade Financeira [ing.
European Financial Stability Facility (EFSF)]. É uma “coisa” que se
espera que funcione como porta corta-fogo – colete salva-vidas, no caso de a
Itália, por exemplo, seguir rápida para o fundo, feito o Titanic. Dizem que a
tal “coisa, esse EFSF, valeria a aterradora quantia de 1,4 trilhões de
dólares. Sim, mas, mas... Onde, diabos, está esse dinheiro?!
O leitor tem todo o
direito de não entender coisa alguma. Nenhum euro-roteirista jamais conseguirá
explicar o tal de EFSF, sem, simultaneamente, contar o fim e enterrar o
filme. Temos de partir para um flashback nada cinematográfico. Pausa para
um refrigerante.
A Alemanha recusa-se
terminantemente a usar o Banco Central Europeu para salvar países que se afogam.
Então, a “Europa” (a dupla Merkozy e sortimento variado de fantoches) inventou o
EFSF. Como se pode gerir um fundo sem tostão? Simples! Faça o que o
Goldman Sachs (errado) fez.
O tal Fundo Europeu
para a Estabilidade Financeira é uma empresa de fachada, com sede num paraíso
fiscal discreto: Luxemburgo. Ninguém precisa de dinheiro, porque essa empresa só
negocia “garantias”, “seguros”, “avais”. Primeiro, foi uma garantia de 440
bilhões de euros (US$607,9 bilhões) quase todos franco-alemães. Pode ser
estendida: a Alemanha, pode ir até 211 bilhões e a França até 158 bilhões, de
euros garantidos. São muitos euros (inexistentes), mas não é quantidade que
ameace o padrão AAA da dívida da França. Lembrem: aí não se negocia com
dinheiro. A coisa toda é só blá-blá-blá-blá.
Assim, com todo esse
blá-blá-blá-blá garantido e segurado, os europeus pediram que as agências de
risco lhes atribuíssem uma nota. O tal EFSF
ganhou imediatamente nota AAA. Em seguida, os europeus foram aos
mercados, e tomaram sacos e sacos de dinheiro emprestado. Claro: a dívida
aumenta. A nova dívida é então usada como ajuda aos países superendividados –
como Grécia ou Irlanda.
Vai funcionar por
algum tempo. Em seguida virá o verdadeiro problema, quando não houver fundos
suficientes para salvar a Itália (1,8 trilhão de euros) se a Itália falir (o
rendimento dos bônus da dívida da Itália está na estratosfera). Nessa situação,
a Itália precisará de uma porta corta-fogo de, no mínimo, 1 trilhão de euros.
Não é fácil arrancar mais dinheiro, usando sempre as mesmas garantias. O
dinheiro vai custar mais caro. E quando as coisas ficam realmente difíceis, a
quem se pede socorro?
A Sua Alteza Hu, é
claro. Ou, como tantas vezes, àquelas democracias modelares – às monarquias do
Golfo Persa.
Não se trata de
dinheiro de verdade: tudo é dívida. E tudo depende de a China – e, no pior
cenário, as petromonarquias – acreditarem que, se entrarem com o dinheiro deles
para ajudar a Europa, que, afinal, não é dinheiro tão virtual, China e
petromonarquias conseguirão arrancar alguma espécie de lucro. Sua Alteza Hu – e
a China – acreditaram? Não. De modo algum.
O
fim do perigo amarelo
Quando se chega à
hora de a onça beber água, trata-se sempre e só de protecionismo nacional, na
economia “global”. Um Plano B viável para encarar qualquer tipo de crise seria a
Taxa Tobin, também conhecida como imposto sobre transações financeiras
[ing. financial transactions
tax, FTT], imposto Robin
Hood e, também, imposto Wall Street – essencialmente um imposto sobre negócios
com ações, papéis, derivativos e outros “produtos”. O alvo preferencial são os
megabancos que provocaram a infindável crise econômica atual.
É altamente
explicativo ver quem se opõe à Taxa Tobin: todo o governo Obama; o secretário do
Tesouro dos EUA Tim Geithner – a mais perfeita tradução que jamais houve do “1%
de Wall Street” – que mobilizou um
lobby para que os
europeus derrubassem a Taxa Tobin; os britânicos (porque pagariam muito mais que
os demais, dado o movimento gigante de negócios na City de Londres).
Também é iluminador
ver quem defende a Taxa Tobin: Bill Gates, que, em documento apresentado ao
G-20, disse que a Taxa Tobin é “evidentemente possível, do ponto de vista
técnico”; Sarkozy, diga-se a favor dele, concordou (“é tecnicamente possível”);
os governos de Alemanha, Brasil e Argentina.
Quanto à Sua Alteza
Hu, mantém-se imperscrutável, sobre o assunto. Verdade é que “imperscrutável” é
praticamente parte de sua assinatura. Ao chegar a Cannes, sua Alteza Hu declarou
que encorajava “a estabilidade da eurozona e do euro”. E nada mais.
Todos lembram aquele
filme anterior, em que os países BRICS emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China
e África do Sul) andaram considerando a possibilidade de comprar papéis da
eurozona, para ajudar. Em seguida, não se falou mais disso. Agora, a onda é a
China entrar para aquela “coisa”, o
EFSF.
Os chineses sabem,
de sobra, que dois governos europeus que não valem um réis de mel coado não podem,
absolutamente, aplacar a fúria do Deus do Mercado. O premiê chinês Wen Jiabao
até já disse a Van Rompuy que a Europa precisa de reforma estrutural. Há duas
semanas, o vice-ministro das Finanças chinês Zhu Guangyao havia sido mais
cauteloso, dizendo que a possibilidade de a China soltar o dinheiro estava “em
discussão”, mas Pequim queria saber o que a União Europeia realmente estava
fazendo.
Até que, essa
semana, na 5ª-feira, anteontem, Guangyao disse que é “muito prematuro” a China
discutir o EFSF. E Zhang Tao,
diretor-geral do Banco da China, disse, em resumo, que, até agora, ninguém tem
nem ideia do que está acontecendo.
Assim se chega ao
final do filme, sem qualquer pista para o desfecho de todos esses sub-enredos do
roteiro. É quando o público afinal dá-se conta da esquizofrenia monstro que
acomete a dupla Merkozy. Merkel – que não pode ser acusada de ser uma Cameron
Diaz – tem mentalidade reles de “dinheiro no colchão”; por isso está abrindo a
porta para que os chineses entrem na Europa pelo EFSF.
Quanto a Sarkozy –
que se acha um Alain Delon –, é mais megalômano que Napoleão. Há mais de dois
anos, promete, todos os dias “redescobrir o capitalismo”. Depois de posar como
Grande Libertador da Líbia, imaginou que, em Cannes, seria coroado presidente
vitalício – o Relações Públicas ideal para as eleições do próximo ano. Mas a
húbris – e logo contra a Grécia, quem diria?! – intrometeu-se.
Assim, só restam,
afinal, as verdadeiras estrelas da história – Sua Alteza Hu e o premiê Wen. O
que realmente buscam permanece oculto em palavras que não parecem montanhas:
“vantagens mútuas”. Situação de “ganha-ganha”. Tradução: a China aceitará
participar daquela “coisa”, o
EFSF, se, em troca, o país for reconhecido como “economia de
mercado” – status que libertará a China dos controles estritos da legislação
anti-dumping da União Europeia.
Os abutres burocráticos da Comissão Europeia recusaram – porque, argumentaram, a
União Europeia já está inundada de produtos made-in-China. Segundo a
Organização Mundial do Comércio, só em 2016 a China será reconhecida como
economia de mercado.
A China também quer
o fim do embargo, pela União Europeia, de vendas de armas. E, sobretudo, a China
quer ter maior poder de decisão no IMF e no Banco Mundial – desejo partilhado
por dois outros países BRICS, o Brasil e a Índia.
Quer dizer: a bola
está no campo europeu. Se Pequim decidir ajudar a União Europeia – que virada
histórica de dimensões tectônicas! – a coisa pode ser só mais simbólica que
substancial. Ninguém teria acumulado $3,2 trilhões em moedas estrangeiras, se
gastasse como mulher de emir nas lojas Harrods.
Ao mesmo tempo,
assim como Pequim, de fato, já patrocina o consumo nos EUA, os chineses sabem
que não perdem pedaços se apoiarem a Fortaleza Europa, para que os europeus
também continuem a consumir. É bom negócio, também, pôr algumas reservas em
euros: geoestrategicamente, é investimento de altíssimo rendimento, em Relações
Públicas.
Portanto, o nó
górdio de todo o enredo do filme Lerdos e Furiosos permanece atado, sem solução
à vista: como convencer Sua Alteza Hu a soltar alguma grana? Ótimo momento para
filmar um filme-sequência. Mas, ah! Que saia de lá aquela dupla Merkozy!
Queremos Brad Pitt & Angelina Jolie, os Brangelina.
Notas dos
tradutores
[1] Fear and
Loathing in Las Vegas: A Savage Journey to the Heart of the American
Dream [Medo e delírio em Las Vegas: viagem selvagem ao coração do sonho
americano] é romance escrito por Hunter S. Thompson e ilustrado por Ralph
Steadman. Foi publicado originalmente em duas partes, na revista Rolling
Stone em 1971. Em 1998, foi adaptado para o cinema (Fear and Loathing in
Las Vegas, dir. Terry Gilliam, com Johnny Depp e Benicio del
Toro).
[3]
Orig. a monster financial horror movie - a sort of
drowning-by-numbers version of the Odyssey on crack. “Drowning-by-numbers” é
título de uma comédia macabra, de 1998, dirigida por Peter Greenaway, em que
três mulheres de três gerações sucessivas (a avó, sua filha e uma neta) afogam
os respectivos maridos.
[4] “A expressão
‘Merkozy’ nasceu há dez dias no Twitter” (“Merkozy
– ou o governo europeu de emergência”, 4/11/2011, Paulo Querido,
Jornal de Negócios, Lisboa.
[6] “McGuffin” é ideia
de Alfred Hitchcock, consagrada como conceito da teoria do cinema. Não é uma
pessoa; é um elemento qualquer introduzido no roteiro para concentrar a atenção
ou para conduzir a ação. Num filme, o McGuffin é um segredo que uns tentam
descobrir e outros querem esconder; noutro filme, é o urânio, que uns querem
roubar e outros querem impedir que seja roubado; noutro, é uma jóia perdida, que
uns querem encontrar e outros querem impedir que seja encontrada, etc. Sempre é
algo com o que todos os personagens preocupam-se, de diferentes modos. O
McGuffin é qualquer coisa em torno da qual toda a história é construída, mas
que, de fato, não é essencialmente importante para nenhuma narrativa, nem
precisa ter importância em si. O que importa é que o McGuffin seja ou pareça ser
importante para os personagens.
Sobre “McGuffin”,
diz o próprio Hitchcock: “ ‘McGuffin’ evoca um nome escocês. Pode-se então
imaginar uma conversa entre dois homens que viajam num vagão de trem. Um
pergunta: ‘O que é esse pacote que você pôs no maleiro?’ O outro responde: ‘Ora!
É um McGuffin’. O primeiro volta a perguntar: ‘E o que é um McGuffin?’ O outro
responde: ‘É um aparelho para apanhar leões nas montanhas Aridondaks.’ O
primeiro diz: ‘Mas não há leões nas Aridondaks!’ Diz o segundo: ‘Então, o pacote
não é um McGuffin’. Essa historieta mostra o vazio do ‘McGuffin’... o nada do
‘McGuffin’” (Hitchcock, em Truffaut e
Hitchcock, Entrevistas, em espanhol).
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ResponderExcluir(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirSerá que esses empregados do GAFE (Globo,Abril, FSP, Estadão) sabem o que seja a Taxa Tobin, que, adotada 15-20 anos atrás, evitaria que esse neocapitalismo consumista-financeiro sacrificasse povos e nações inteiras?
Será que suas cabecinhas reacionárias teriam capacidade de compreender o que deveras acontece, desde 1997, no mundo da economia de papel (fundos pervertidos)?
Abraços do
ArnaC
É uma ópera-bufa.
ResponderExcluirRi de chorar com o texto, embora saiba que os 99% dos europeus estão à beira do precipício.
O pior é que isto não parece ter fim.
(ccomentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirRealmente excelente a matéria de Pepe Escobar. Não sabia que esse brilhante jornalista, muito perceptivo em política mundial, também era tão bem informado em questões financeiras.
Embora fosse boa medida o imposto sobre operações financeiras em âmbito mundial (imposto Tobin), não creio que teria sido suficiente para evitar o colapso financeiro desencadeado em 2007, nem o é para agora impedir que ele se aprofunde.
À parte a complexa questão de para quais governos fluíram as receitas, ele teria uma função muito interessante, a saber, a de possibilitar controle mais detalhado ao ficarem registrados, em mega-computadores dos órgãos arrecadadores, todas as operações efetuadas (caso isso fosse implantado sem brechas para evasão).
Entretanto, não foi por falta de conhecimento do que ocorria nos mercados financeiros (O BIS publica estatísticas regulares e razoavelmente detalhadas sobre os derivativos) que autoridades (sic) reguladoras desses mercados deixaram de intervir para conter a esbórnia. Para favorecer os bancos, elas deixaram até de cumprir leis e regulamentos que não chegaram a ser revogados na razzia da desregulamentação praticada desde o início dos anos 80.
A grande questão reside, pois, no fato de, no sistema de concentração financeira e econômica ilimitada, os grandes bancos e corporações (tudo interligado) serem patronos, donos e tudo mais dos “governos”, eleitos nas pretensas democracias ocidentais.
Cordialmente,
Adriano Benayon
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirApreciei que estão difundindo esta minha contribuição para o debate do tema.
Gostaria de aditar isto acerca do imposto Tobin: um dos problemas de sua implementação, mesmo que com ela concordassem os governos dos países onde se encontram os principais centros financeiros mundiais, seria o fato de que o grosso das operações financeiras se processa nos centros offshore ou tax havens (refúgios fiscais).
Todos esses centros se caracterizam por não cobrar impostos nas transações financeiras, e os bancos, fundos e operadores financeiros em geral dirão que não há como obrigar os governos dessas localidades a manter as isenções, mesmo porque vivem de outras taxas como as de manutenção de contas.
É de notar que os principais e a maioria desses centros estão localizados em antigas possessões britânicas, ainda sob influência da oligarquia (de que faz parte a monarquia) britânica, sem falar em que, desde a criação dos eurodólares e das xenomoedas, em geral, desde começos dos anos 60, a City de Londres e a Suíça operam como grandes centros livres de impostos, do mesmo modo que o Estado de Delaware nos EUA.
Adriano Benayon