8/11/2011, *MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo Coletivo da Vila
Vudu
Israel começou a perder o domínio estratégico que teve
no Oriente Médio, quando encontrou pela frente o Hezbollah, que o desafiou na
guerra do Líbano, em 2006. Mas continua como mestra incontestável da propaganda
global. O ponto alto dessa performance parece ter sido o famoso ousadíssimo
ataque, por pilotos israelenses, contra uma instalação nuclear secreta da Síria,
em 2007 [1].
2007
foi a culminância da propaganda israelense. Leiam o relatório, na página do
governo holandês. Ou no blog do
Washington Post. O que teria provocado aquela magnífica onda de
divulgação e propaganda, há quatro anos? Evidentemente, para encobrir a derrota
que o Hezbollah aplicou-lhe, Israel planejou a operação militar e a operação de
propaganda, que, acreditavam os israelenses, lhes devolveriam a imagem de antes,
de marcianos descidos no Oriente Médio.
Não
é em tudo semelhante ao que vemos hoje? Não estamos assistindo ao replay daquele raro momento de gênio para a
autopromoção e a propaganda –, que Israel está forçando ao máximo, para atacar o
Irã?
Tenho
quatro motivos pelos quais chamo de propaganda a propaganda israelense.
(1)
Os líderes israelenses com certeza sabem o mesmo que sabe o ex-chefe do Mossad,
Ephraim Halevy, que repetiu várias vezes, semana passada, que o programa nuclear
iraniano não representa, de fato, ameaça existencial a Israel.
(2)
Os líderes israelenses entendem a política. Entendem que na Europa e nos EUA, os
líderes foram colhidos no redemoinho da crise econômica e mal conseguem
manter-se à tona. Sabem bem que Israel não tem capacidade para combater
sozinhos, em guerra para a qual não contem com total apoio dos EUA; e que os
EUA, por sua vez, não têm fôlego para envolver-se hoje em mais uma guerra –
menos ainda se for guerra no Oriente Médio que faça subir o preço do petróleo.
(Evidentemente, a primeira reação do Irã será fechar o Estreito de Ormuz, por
onde passa 1/3 do petróleo que o mundo consome.)
(3)
Os três mais altos comandantes das forças armadas de Israel e os chefes do
Mossad e do Shin Bet já se manifestaram contra um ataque ao Irã. Os líderes
israelenses sabem bem porque todos esses se opõem tão firmemente à guerra contra
o Irã. Sabem que o Hezbollah fará chover dezenas de milhares de foguetes sobre
todas as cidades pequenas e grandes e sobre todas as colônias de israelenses, o
que provocará número colossal de mortes entre os civis. Digam o que disserem,
políticos como Benjamin Netanyahu e Ehud Barak sabem que efeito essa tragédia
terrível teria sobre suas bem-sucedidas carreiras eleitorais. E, por fim,
(4)
os israelenses são mentes brilhantes e com certeza, antes de iniciar um ataque
contra o Irã, não deixariam de perguntar a pergunta fundamental: Qual o objetivo
do ataque? Destruir o programa nuclear do Irã? Mas, para tanto, Israel teria,
antes, de saber exatamente onde se localizam as instalações nucleares do Irã –
informação que, hoje, Israel não tem. Em resumo, a liderança israelense estaria
pondo em risco a vida de centenas de milhares de israelenses inocentes, numa
guerra sem objetivo claro. E de fato, no final da história, o Irã que emergisse
depois do ataque israelense, sem dúvida construiria sua bomba atômica, a qual,
essa, sim, seria ameaça existencial contra Israel por, no mínimo, alguns
milênios.
Assim
sendo, por que essa onda de propaganda israelense que está enlouquecendo o
planeta?
Vejo
três fatores em operação:
(1)
As políticas regionais de Israel chegaram a um beco sem saída. E o iminente
reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral da ONU é pílula amarga demais
para engolir. Agora, o anel de isolamento regional que cerca Israel fechou-se.
(2)
Os movimentos sociais de protesto em Israel estão ganhando ímpeto. A política
econômica de Israel carece desesperadamente de reformas; mas o governo foi
apanhado de calças curtas e não tem dinheiro.
O
governo israelense precisa muito de alguma coisa que distraia a atenção da
população, afastando-a das questões 1 e 2, acima. O espectro da guerra contra o
Irã é o derradeiro golpe de propaganda ao qual os políticos israelenses estão
recorrendo, em desespero, para mobilizar a nação.
(3)
Não poderia haver melhor momento para “apertar” Barack Obama. Evidentemente,
Netanyahu sabe o quanto Obama é supremamente “apertável” – desde que Obama foi
forçado a recuar do que disse no famoso discurso do Cairo, em 2009. Com Obama
começando sua campanha eleitoral para a reeleição, Netanyahu o vê como
vulnerável a chantagem – e chantagem é jogo em que Israel é mestra. A
experiência mostra que sempre que a pressão aumenta no Oriente Médio, os EUA
instintivamente soltam os cordões do dinheiro para Israel. Obama está à beira de
fazer isso.
A
parte engraçada é que não há nenhum sinal de que o Irã tenha, de fato,
trabalhado muito para sua dramática aparição como potência regional. Não é autor
da coreografia da Primavera Árabe, nem nada teve a ver com os EUA invadirem o
Afeganistão e o Iraque. Praticamente tudo aconteceu naturalmente – resultado das
tolices dos EUA e das políticas israelenses.
A
primeira implicação disso tudo é que os israelenses não são infalíveis e
invencíveis. Não são, mas não acho que os líderes israelenses sejam idiotas.
Precisam, isso sim, desesperadamente, dos efeitos de uma onda de propaganda
espetacular – como em 2007 – que mostre Israel como nação potente e valorosa,
contra um Irã covarde e fraco. Para que a coisa funcionasse, Israel teve de
pressupor que o Irã atacado permaneceria encolhido e não retaliaria. O problema
é que o Irã não está cooperando. Estaremos assistindo à última onda de
propaganda de Israel?
Nota
dos tradutores
[1]
“Operação Pomar” [ing. Operation
Orchard], 6/9/2007 (em inglês).
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.