Noriega, mais um canalha ao alcance da Veja |
Publicado em 13/11/2011por Mário Augusto Jacobskind
O
nome dele é Roger Noriega (foto), um linha-dura que ocupou o cargo de
subsecretário do Departamento de Estado no governo de George W. Bush e de
embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos
(OEA).
Notoriamente
vinculado ao complexo industrial militar norte-americano, Noriega volta e meia é
convocado pela mídia de mercado para dar recados de grupos que se utilizam de
expedientes de todos os tipos na defesa de poderosos interesses
econômicos.
Pois
bem, a revista Veja, sempre ela, divulgou entrevista em que Noriega faz
previsões suspeitas envolvendo o Brasil. Segundo este estimulador de golpes nas
Américas, o Brasil dá cobertura e serve de base para o terrorismo
internacional.
Noriega,
que segue como funcionário do Departamento de Estado, ainda por cima acusa o
Brasil de ser complacente e apoiar o terrorismo na Tríplice Fronteira. Esta
região, por sinal, volta e meia aparece no noticiário com matérias requentadas
acusando a existência de células terroristas árabes.
A
própria revista Veja já publicou matérias do gênero em várias ocasiões. Aí vem
Noriega para voltar ao tema que o governo brasileiro já investigou e concluiu a
improcedência das acusações.
Dá
ou não dá para desconfiar que a nova investida de Noriega é
suspeita?
Além
de fazer duras críticas aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia,
Evo Morales e Rafael Correa do Equador, Noriega previu nas páginas da Veja que o
Brasil será alvo de atentados durante a Copa do Mundo, sugere ainda que o
governo mude sua política externa e rompa os elos com os três dirigentes sul
americanos mencionados.
Noriega,
que em abril de 2002 foi um dos estimuladores da tentativa de golpe de estado
contra o presidente Hugo Chávez, está mais uma vez se intrometendo indevidamente
em assuntos internos de um país soberano e, no fundo, tenta provocar pânico ao
fazer previsões com base em coisa alguma, o que também levanta a suspeita
segundo a qual serviços de inteligência dos EUA, a CIA e outros, podem estar
preparando algum atentado terrorista para incriminar os governos dos países que
não rezam pela cartilha de Washington. Ele na prática procura preparar a opinião
pública a aceitar o argumento de que Venezuela, Bolívia e Equador representam um
perigo para o Brasil.
E,
de quebra, Noriega ainda afirma que as embaixadas do Irã incrementam células
terroristas na América Latina.
Pelos
antecedentes deste funcionário do Departamento de Estado todo o cuidado é pouco.
Nesse sentido, representantes de vários movimentos sociais reunidos em Brasília
chamaram atenção para as declarações de Noriega. Pediram providências imediatas
do governo brasileiro e chegaram até a pedir que o embaixador dos EUA no Brasil,
Thomas Shannon, seja considerado persona
non grata.
Para
estes movimentos, a adoção de tal medida seria uma forma de demonstrar que o
Brasil não aceita passivamente intromissões indevidas em questões internas.
Não
contente com a entrevista publicada na Veja, Noriega andou fazendo declarações
de caráter golpista em outras plagas. Empolgado com o desfecho das ações
militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Líbia, Noriega
mais uma vez deitou falação contra o governo constitucional da
Venezuela.
Fez
mais uma previsão, a de que Chávez não teria mais de seis meses de vida e que a
sua morte provocaria o caos no país petrolífero devido a confrontos entre
apoiadores e opositores do presidente venezuelano, o que justificaria uma
intervenção militar dos EUA. No portal Inter American Security Watch, ao pregar
abertamente a intervenção ele declara textualmente que “as autoridades dos
Estados Unidos devem estar preparados para lidar com o impacto de uma situação
de turbulência a curto prazo em um país onde se compra 10 por cento do nosso
petróleo”.
Não
é a primeira vez que Noriega se manifesta sobre a doença de Chávez. No mês de
setembro chegou a afirmar que “deveríamos nos preparar para um mundo sem
Chávez”. As declarações de Noriega então entraram em contradição com a dos
médicos de Chávez assegurando que ele reagia bem ao tratamento a que vinha sendo
submetido contra o câncer.
Por
coincidência ou não, poucas horas antes da declaração de Noriega sobre o estado
de saúde de Chávez, o governo venezuelano denunciava a presença de um submarino
no litoral do país.
Na
verdade, Noriega exerce a função de estimulador de setores golpistas
latino-americanos e se os governos silenciarem a respeito, o referido
funcionário do Departamento de Estado continuará ocupando espaços na mídia de
mercado para sugerir retrocessos e tentar fazer com que o continente retorne ao
período tenebroso dos anos 70.
Roger
Noriega é mesmo uma figura nefasta ao processo democrático
latino-americano.
Zuenir Ventura, outro |
Em
tempo: o
recorde da semana em termos de deturpação da história ficou por conta de um
colunista de O Globo que comparou o ato público organizado pelo governo do
Estado do Rio contra o projeto ilegal sobre os royalties do petróleo com a passeata dos
100 mil. O que disse Zuenir Ventura é realmente uma ofensa à geração 68 que
lutou com o que estava ao seu alcance contra a
ditadura.
Mário
Augusto Jakobskind é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto
da Redação
Legendas das fotos: redecastorphoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.