quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por que o Hezbollah apóia o regime de Assad


Amal Saad-Ghorayeb

1/11/2011, Amal Saad-Ghorayeb, 
Conflicts Forum. Listening to Political Islam (resumo) 
Resumo traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Monografia completa (em inglês)
  
Embora o Hezbollah realmente dependa do regime de Assad para receber armas, só isso não basta para realmente entender toda essa relação complexa, nem explica satisfatoriamente a firmeza da aliança entre o Hezbollah e a Síria. Reduzir a forte aliança que há entre o Hezbollah e o regime de Assad à logística de mísseis deixa escapar inúmeros outros fatores e considerações que dão fundamento à aliança.

A inabalável firmeza com que o Hezbollah defende o regime de Assad até nos momentos mais incômodos e difíceis tem de ser considerada no contexto da luta regional entre o “projeto nacionalista e de resistência” liderado por Irã, Síria, Hezbollah e Hamás, também conhecido como o “jabhit al mumana’a” (“eixo da resistência”, como dizem alguns no ocidente), de um lado, e, de outro lado, o “projeto dos EUA”, ao qual se associam os aliados árabes dos EUA que formam um dito “eixo moderado”. Considerado nesse contexto regional mais amplo, o valor estratégico da Síria não está apenas no papel de fornecedor de armas, mas deriva, sobretudo, de seu status de base árabe institucional de toda a frente de resistência, ou, nas palavras de Nasrallah, “o único regime de resistência na região”.

Para o Hezbollah, “o governo sírio sempre teve o mérito de preservar e manter viva a causa palestina”. O regime de Assad é tão indispensável para a Palestina, que Nasrallah disse claramente: “a configuração dessa posição síria” (e, por implicação, a preservação do regime) é “precondição para que se possa continuar a defender a causa dos palestinos”. Assim sendo, qualquer ameaça à segurança e à sobrevivência do regime de Assad é “um perigo”, não só para a Síria, mas para a Palestina e – considerando o papel que teve a Síria para pôr fim à guerra do Líbano – também para o Líbano.

Os protestos na Síria são uma espécie de “colusão” com potências de fora que querem substituir o governo de Assad por “outro governo, semelhante aos governos árabes ditos moderados, todos prontos para assinar qualquer acordo de capitulação com Israel.” Assim, diferente de querer instituir reformas ou alguma democracia na Síria, a mais recente política de Washington visa, essencialmente, a instituir a subserviência: “se o presidente Bashar al-Assad renunciasse e aceitasse o que os americanos querem, a Síria já estaria em paz.” 

Além de fatores estratégicos que explicam o apoio continuado do Hezbollah ao regime de Assad, a posição do movimento também se explica por considerações teóricas. As posições revolucionárias do Hezbollah nesse caso consideram dois critérios convergentes: primeiro, “o modo como o regime sírio relaciona-se e posiciona-se em relação ao projeto de EUA-Israel na região”; e, segundo, o potencial para reformas que se vê no regime de Assad. A posição pró-resistência do regime de Assad e seu papel na região, combinados com a disposição do regime para fazer reformas, são dois traços que não se veem nos ‘rebeldes’ sírios. O Hezbollah, nesse contexto, de modo algum “apóia ou apoiará a derrubada de um governo resistente, um regime mumani’i, que também já iniciou reformas”.

O conceito de liberdade, como o Hezbollah o entende, como liberdade positiva para que cada um controle o próprio destino e alcance a autodeterminação, é, ao mesmo tempo, diferente e mais amplo que o conceito liberal, que só se ocupa com uma liberdade negativa, no sentido de os indivíduos verem-se livres de imposições e limitações externas.

Ser livre não é ser deixado só para poder fazer o que cada um deseje; ser livre é ser livre para poder continuar lutando por justiça.

Por essa razão, e sobre esse fundamento moral, o Hezbollah opõe-se de forma absolutamente antagônica a levantes de base liberal, como o que se vê na Síria, nos quais todos os esforços visam a libertar o indivíduo do controle pelo estado e, para isso, cedem, como preço a pagar na troca, toda a capacidade para resistir e lutar contra projeto de EUA e Israel, quer dizer, contra o colonialismo.

Fim do resumo.

Monografia completa (em inglês)

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