Berlusconi e as moças... |
Publicado
em 10/11/2011 por Mair Pena Neto
Na recente reunião do G20, em Cannes, na França, a presidente
Dilma Rousseff falou claramente que a crise econômica global, que afeta
sobretudo a Europa, não pode ser combatida com desemprego e arrocho. Não sei se
foi ouvida ou se não quiseram ouvi-la, mas é importante que o Brasil reafirme
essa posição, no momento em que o discurso neoliberal tenta recuperar sua
hegemonia numa Europa combalida e põe e dispõe de governantes.
O cenário que assistimos agora é alarmante. O capital financeiro,
causador da crise que atinge severamente a Europa, e também os Estados Unidos,
consegue se dissociar dos males que causou e cobra por eles. As populações,
perplexas, não conseguem reagir e consideram natural esta completa inversão de
valores. A velha cantilena da redução do Estado aparece com força total, com a
banca ditando o que os países podem e devem fazer.
O primeiro-ministro grego George Papandreu cogitou promover um
referendo para ver se a população do país concordava com os sacrifícios que lhe
são impostos pela União Européia e foi levado a abandonar o cargo e substituído
por outro, que aplique as medidas de austeridade exigidas para a continuação da
ajuda financeira que reduza a dívida impagável. Só que estas medidas - cortes
de gastos, principalmente os sociais, mais impostos e privatizações - resultam
justamente na falta de crescimento do país e no aumento do desemprego. Nenhum
país sai da crise com política recessiva. Só quem tem a ganhar com essas
medidas são os credores.
A bola da vez agora é a Itália e seu bufão primeiro-ministro
Silvio Berlusconi, que também está pela bola sete. Não por ser contra o
mercado, mas por ter perdido a confiança interna e se tornado incapaz de impor
a agenda recessiva estabelecida pela banca. Papandreu e Berlusconi são os
exemplos mais recentes das marionetes em que se transformaram os governantes de
Estados fracos, que abdicaram de suas soberanias.
As populações, que elegeram democraticamente seus governantes, os
vêem sem poder e desconectados de suas aspirações. O sacrifício que lhes é
imposto não retorna para eles e nem para seus países. Vão direto para os
bancos. O que parece em jogo não é uma recuperação econômica e a melhoria das
condições de vida, e, sim o pagamento das dívidas. O nome crise da dívida é
significativo. Trata-se de pagá-las a qualquer custo e não equacioná-las para
que ocorram sacrifícios dos dois lados em nome de um bem comum. Este simples
valor desaparece diante da cobiça e da fúria liberal.
O perigo desta situação é a descrença na própria democracia e em
suas formas de representação. Os governantes à frente dos países em crise são
de diferentes matizes e isso não impediu que tivessem ou venham a ter o mesmo
destino: o descarte. Os atores principais não são os mandatários das nações nem
as populações. O jogo é jogado a portas fechadas pelos donos do capital, que
puxam as cordas das marionetes.
A situação só pode mudar se o controle das cordas mudar de mãos.
Como cantava o compositor português Sergio Godinho numa canção antiga, mas que
não perde a atualidade, "o mandão é que põe e dispõe, mas o povo é que
manda no povo, isso é claro, claro, mais claro que a gema do ovo".
Mair Pena
Neto
– é jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado
e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de
economia.
Enviado por Direto da Redação
Ilustração redecastorphoto
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