10/11/2011, Nate
Wright, Middle East Research and
Information Project, MERIP
Traduzido
pelo Coletivo da Vila Vudu
“Você
só falou dos problemas. Não disse coisa alguma sobre soluções” – diz um homem; a
multidão aplaude. Saqr foge da pergunta: fala do ex-presidente do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva. Os problemas do país começarão a ser resolvidos, “quando o
povo eleger a pessoa certa” – diz ele.
Moradores
do bairro Darb al-Ahmar, na cidade do Cairo, reuniram-se num café de bairro,
numa 6ª-feira no final de outubro, para começarem a organizar no bairro o
partido político fundado por ativistas da praça Tahrir. Os homens que jogam
gamão e tomam chá são membros do Partido
Al-’Adl (ar. Adl, “justiça”: “Partido da
Justiça”)
[1],
um dos 35 novos partidos que buscam participar do próximo governo egípcio. Logo
aparece uma mesa e um microfone na entrada do café.
O
primeiro turno das eleições parlamentares, marcadas para começar dia 28 de
novembro, acontecerá em menos de um mês, mas a campanha eleitoral está apenas
começando. Durante os oito meses, desde as manifestações gigantes no Cairo e
outras grandes cidades, que levaram à fuga do presidente Mubarak para Sharm
al-Sheikh, os políticos egípcios viram-se envolvidos em difíceis discussões
sobre a nova legislação eleitoral, para a formação de alianças partidárias e
sobre cronogramas eleitorais – discussões complicadas ainda mais por decisões
arbitrárias, tomadas pelo conselho militar ainda governante –, numa turbulenta
transição política. Resultado disso tudo, muitos partidos lançaram-se às
eleições, alguns deles com a pressa de alunos obrigados a fazer a lição de casa
no ônibus que os leva para a escola.
Na
primeira sessão pública, no café Nasif, o Partido Al-’Adl é o quarto partido que
os moradores de Darb al-Ahmar veem por ali, mas o primeiro novo partido. Os
outros – a Fraternidade Muçulmana, o Al-Wafd e o Al-Ghad – todos da oposição a
Mubarak – são partidos políticos com longa experiência de concorrer a eleições
parlamentares.
A
agenda daquela reunião do Partido Al-Adl, formado por ativistas da Praça Tahrir
nas semanas posteriores à queda de Mubarak, visa a oferecer a plataforma de um
genuíno novo partido político, a egípcios que pouco ouviram falar nem de
plataforma nem de partido políticos genuínos.
Gamal
‘Ali Hasan decidiu participar daquela assembleia de bairro no café, porque sua
irmã, Nadya, é candidata do partido ao parlamento egípcio. Seu amigo, Muhammad
Mahmoud, veio só para dar apoio moral: Muhammad já decidiu que votará em
candidatos da Fraternidade Muçulmana e do Partido Liberdade e Justiça. Ao lado
dele, Mahmoud Hasan Husayn, jovem e bem vestido, defende o Partido Nacional
Democrático (NDP), partido de Mubarak, que governou o país mediante vasta rede
de corrupção e nepotismo. Diz que a “revolução sem líderes” da Praça Tahrir
lançou o país ao caos. “Se [a revolução] tivesse um líder” – Muhammad responde,
gritando como ele – “teria sido golpe de estado!”
“O
que é que vocês vão fazer?”
Às
10h, quando o Cairo começa a acordar, um dos principais candidatos do Partido
Al-’Adl no distrito de Qasr al-Nil, Ahmad Saqr, pega o microfone para apresentar
seu partido a um grupo de 75 homens que andam pela calçada e vão parando para
ouvi-lo. “Nosso projeto é justiça” – diz ele. – “Justiça e segurança”. Fala de
crianças abandonadas pelas ruas e de desemprego, de sua visão de um parlamento
fortalecido, com autoridade para monitorar o executivo e exigir transparência do
governo. Fala de reformas na educação e no vasto aparelho de segurança, da
abolição dos monopólios. Em seguida, o público é convidado a fazer-lhe
perguntas.
“Você
só falou dos problemas. Não disse coisa alguma sobre soluções” – diz um homem; a
multidão aplaude. Saqr foge da pergunta: fala do ex-presidente do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva. Os problemas do país começarão a ser resolvidos, “quando o
povo eleger a pessoa certa” – diz ele.
Outro
homem pede detalhes da reforma da educação que o partido se propõe a fazer. Saqr
diz que, depois da reunião, poderá conversar com cada um, sobre pontos
específicos. “Anuncie seu programa para todos, em público” – grita alguém. –
“Você falou da educação. Então diga: “O que é que vocês vão fazer?” Saqr tenta
responder, mas sua voz é abafada por gritos dos presentes, que exigem detalhes
do plano de reformas.
Saqr
deixou-se prender numa curiosa armadilha: o principal candidato de um partido
que se orgulha de ser mais pragmático que ideológico, não tem detalhes a
oferecer sobre as reformas que prega.
No
início da semana, a porta-voz do Partido Al-’Adl, Noura Sulayman, passou uma
longa tarde detalhando a alguns candidatos a plataforma do partido, num
quartel-general de campanha deserto, que só se enche de gente à noite, depois do
horário de trabalho, quando os voluntários aparecem. Falou de planos para
introduzir o pensamento crítico nas escolas, acabar com a aprendizagem por
‘decoreba’ e repetição; requalificação e retreinamento para os professores;
lançamento de um programa de novos funcionários públicos para criar empregos;
reestruturação da legislação para pequenas e médias empresas; afastar as odiadas
forças de segurança das atividades diárias de policiamento; e descentralizar a
polícia, para torná-la mais transparente para as comunidades locais. Mas Saqr,
político amador, num país de eleitores que nunca votaram, não consegue dar aos
moradores de Darb al-Ahmar a resposta que querem ouvir. Várias outras vezes
deixa-se prender na armadilha de frases de efeito, que pouco explicam.
Sulayman
reconheceu que os candidatos não conseguem falar com clareza aos eleitores, nos
eventos de campanha. “Quase sempre, o que dizem paira acima do nível do chão,
onde vivem os eleitores” – diz ela. O Partido Al-’Adl está preocupado com que
outros partidos, a maioria dos quais ainda não apresentou qualquer plataforma,
roubem suas ideias.
Mas
os presentes querem mais. “Diga o que vai fazer para acabar com a tortura” –
grita outro homem. A resposta de Saqr não o satisfaz, o homem repete: “Quero
saber é como!” A reunião tende perigosamente a escapar de qualquer controle, e
moradores locais começam a manifestar-se contra Saqr. Quando um dos
participantes o critica por ter iniciado seus negócios em Dubai, Saqr responde
que sua empresa importa componentes de computador para empresas egípcias. “Não”,
diz alguém em defesa do candidato, “diga que aqui só há ladrões, e que em Dubai
não há ladrões”, referindo-se à prática, no governo Mubarak, de cobrar propinas
dos empresários. Hasan apela à multidão. “É a primeira vez que um jovem vem a
esse bairro” – diz ele. “Está aqui como nosso convidado e temos de respeitá-lo”.
Ao final da reunião, a hostilidade desaparece. Muitos saúdam calorosamente o
candidato. Mahmoud, que saiu na metade da reunião, depois de acusar o candidato
de não responder as perguntas do público, voltou. Diz que saiu para arregimentar
mais pessoas para a reunião. “Saqr é boa pessoa”, diz ele, sobre o candidato.
“Mas vai ouvir o que outros lhe digam.”
Nada
disso significa que a equipe do Partido Al-Adl tenha concluído o trabalho. A
cidade permanecerá acordada ainda por muitas horas, e o partido tem menos de um
mês para tornar-se identificável e visível, numa paisagem confusa, na qual mais
de 55 partidos políticos disputam os votos dos eleitores. Depois da meia noite,
Saqr reúne um pequeno grupo de membros do partido e deixa o café, continuando
uma longa noite de campanha pelas ruas estreitas de Darb
al-Ahmar.
Nascimento
do partido
O
Partido Al-Ad formou-se logo nos primeiros dias depois da partida relutante de
Mubarak, quando a derrubada de um dos líderes mais “estáveis” do mundo árabe
transformou o que poderia não ter passado de um momento único, acontecido só na
Tunísia, em levante popular que se alastrou por toda a região. O povo vencera,
como então parecia, e começava a construção de um novo Egito. Dia 28 de
fevereiro, ativistas que se haviam encontrado na Praça Tahrir resolveram criar
um partido que conseguisse manter-se à margem das batalhas ideológicas sobre
livre mercado ou mercado justo, estado islâmico ou estado secular. Um mês
depois, o Partido Al-Adl começou a receber assinaturas de membros. “Havia a
percepção generalizada de que a revolução fora vitoriosa”, diz Sulayman. “O
passo seguinte foi reconstruir e formar novo governo”.
O
partido reúne a energia de jovens profissionais, formados, que dedicam ao
partido noites de trabalho voluntário. Muitos deles viajaram ou estudaram na
Europa ou EUA e são fluentes em inglês. Há entre eles dentistas e arquitetos,
professores de escolas e universidades, e pelo menos um especialista em
engenharia genética fotografa para registro muitos dos eventos do partido.
Sulayman morou nos EUA, Grã-Bretanha e Líbano, e trabalhou durante nove meses,
como voluntária, na campanha eleitoral de Bill Clinton, em 1992. Inspira-se no
sucesso do partido islamista turco “Justiça e Desenvolvimento”, e diz que
muitos, no Partido Al-Adl, estão “estudando a campanha eleitoral de Obama”. Vêm
da geração Twitter no Egito. Falam bem, são ambiciosos, abraçam o que entendem
como “uma perspectiva global”, mas ainda são minoria num país em que a pobreza e
o analfabetismo estão aumentando. Muitos deles trabalharam em Organizações Não
Governamentais; a experiência que trazem de projetos de desenvolvimento de
comunidades está sendo encorpada na estratégia do novo partido. (...) Al-’Adl
gosta de pensar sobre o próprio partido como uma espécie de partido ‘diferente’:
em parte, é grupo político de pressão; em parte, é grupo que trabalha para o
desenvolvimento local de comunidades; e em parte, é partido
revolucionário.
Os
quadros partidários falam de um desejo de transformar a sociedade, não de apenas
representar a sociedade. “Temos de mudar o que se entende como normas culturais,
como a higiene, por exemplo; como tratamos os outros na rua, nosso senso de
comunidade” – Sulayman. “Passamos por verdadeira ruptura cultural e temos de
começar a reconstruir”. Umar Bakdash, responsável por vetar candidatos
potenciais, espera que os candidatos tragam ideias “que mudem o modo de pensar
das pessoas”.
Depois
de ter completado sua lista de candidatos para as eleições parlamentares, o
Partido Al-Adl passou a operar em ritmo de campanha eleitoral. Os ativistas
orientaram o trabalho para as áreas nas quais esperam obter mais votos. Todas as
noites os candidatos participam de reuniões em bairros, para disseminar a ideia
de que é preciso eleger um Parlamento ‘técnico’, que supere diferenças de
ideologia e dedique-se a buscar um governo que funcione, em termos de desempenho
e eficácia. Segundo Sulayman, o partido está tentando separar-se da imagem das
manifestações de rua e de trabalho social nas comunidades, para se reapresentar
como força legislativa potencial. “Os partidos políticos chegam ao governo e
lutam pelo povo” – diz ela.
Mas
o novo modelo de política tecnocrática não está encontrando eco no Egito. O novo
campo político recém aberto no Egito andou, até aqui, de uma crise para outra,
em clima de intensa paranóia e incerteza, que deixou em frangalhos a atmosfera
de unidade revolucionária inicial. Islamistas e secularistas vêm-se
frequentemente engolfados em discussões azedas. Resultado disso é que muitos
egípcios já tomam como sinônimos os adjetivos “secular” e “ateu”.
Os
liberais continuam a suspeitar da validade dos compromissos com a pluralidade
assumidos pelos partidos islamistas, com vistas a uma nova Constituição, que
deve ser redigida no próximo ano. “Você tem ouvido o que dizem esses que ‘falam
em nome de Deus’. Você tem ainda alguma esperança de que a democracia egípcia
durará mais que a primeira legislatura parlamentar?” – perguntou Naguib Abadir,
coordenador executivo do Partido Egípcios Livres.
Paisagem
eleitoral
A
mídia internacional apresentou alguns ativistas jovens, usuários habituais da
Internet e ativos nas redes sociais, como os que se reuniram no Partido Al-Adl,
como agentes que acenderam a fagulha dos protestos revolucionários no Egito. Mas
nos meses seguintes, à medida que o país se aproxima das eleições parlamentares,
e a campanha até as eleições converteu-se em duro trabalho de abrir caminhos e
sustentar discussão direta com os moradores das periferias, aquele grupo inicial
foi-se convertendo, cada vez mais, em minoria marginalizada.
Uma
nova geração capacitada está deslocando os políticos mais velhos, apostando na
possibilidade de capitalizar, em termos políticos, o momento de visibilidade
pública que hoje vivem. Ativistas que tiveram papel de destaque nos protestos
afastaram-se de partidos como a Frente Democrática e o Partido Tagammu. Membros
mais jovens da Fraternidade Muçulmana, frustrados ante a liderança fechada do
grupo, criaram já quatro partidos diferentes. E imediatamente foram expulsos da
Fraternidade, por desobediência.
“Muitos
jovens sentiram-se frustrados dentro dos partidos em que militavam, porque [os
políticos mais velhos] viram [a revolução] como uma chance para eles mesmos,
como ocasião para voltarem a aparecer sob nova luz, nos mesmos palanques de
sempre” – disse Shadi Ghazali Harb, destacado ativista que se separou da Frente
Democrática e criou o Partido da Consciência. “Naqueles partidos, os jovens não
encontraram nenhuma oportunidade para se destacar e liderar.”
Muitos
partidos fundados por jovens ativistas tiveram de trabalhar muito para preencher
as exigências para criar novos partidos. Alguns não conseguiram reunir as
assinaturas de 5.000 proponentes, exigidas para o registro oficial como partido
político. Grupos que se destacaram muito durante a revolução, como a Coalizão da
Juventude Revolucionária [ing.
Revolutionary Youth Coalition] e o Movimento 6 de abril,
continuaram a fazer grandes manifestações. Mas não conseguiram traduzir sua voz
pública em representação partidária com peso parlamentar potencial. O Partido da
Consciência só obteve o registro oficial em setembro. Deram início a projetos de
desenvolvimento sustentável em pequenas comunidades e vilas, em distritos menos
competitivos – “estratégia do oceano azul”, como dizem os membros do partido –
na esperança de conquistar alguns assentos no Parlamento. Mas Harb sabe que seu
partido não terá papel significativo na primeira legislatura. “Trabalhamos para
ser uma força eleitoral daqui a dez anos” – diz ele. “Queremos ser maioria
significativa em dez anos, com representação forte daqui a cinco anos.”
Em
pesquisas divulgadas em setembro, o Partido Al-Adl é o único dos partidos
fundados por jovens que aparece ter condições de disputa, dentre os demais novos
partidos. Os números não são impressionantes. A “melhor” pesquisa mostra o Adl
com 4,7% dos votos de eleitores já decididos (menos que a metade do necessário
para eleger um representante no Parlamento). Mas, no quadro difuso dos muitos
partidos, o Al-Adl manteve-se sempre visível.
Dentre
os novos partidos, só dois grupos mantêm-se também visíveis no quadro eleitoral,
mas os dois são fortemente identitários. Os partidos salafitas arregimentaram o
apoio de uma minoria significativa e de uma coalizão eleitoral; e o Bloco
Egípcio converteu-se em porta-voz dos liberais em geral.
O Bloco Egípcio é liderado pelo Partido Egípcios Livres,
fundado por vários dos mais destacados empresários egípcios. Empurrado pela
fartura de fundos dos próprios empresários e pela experiência gerencial, o
partido foi rapidamente constituído e já estava em campo, em campanha, bem antes
de todos os demais. Uma massiva campanha publicitária atraiu rapidamente mais de
120 mil membros. “Só nós temos o conhecimento e a competência organizacional
para levar o Egito na direção do futuro” – diz Abadir, gerente de organização do
Partido. As notórias discussões entre Naguib Sawiris, empresário conhecido e
fundador do Partido, e os islamistas, inclusive um controverso micropostado no
Twitter em junho (mostrava Mickey
Mouse e Minnie vestidos como islamistas conservadores), contribuíram para
associar ao partido a imagem de combatente a favor do secularismo. O Partido
Egípcios Livres foi logo procurado, para coalizão, pelo Partido Tagammu’ (único
partido da oposição de esquerda admitido no governo de Mubarak), e pelo Partido
da Social-Democracia Egípcia[2],
recheado de conhecidos analistas políticos. Esse bloco espera ocupar o palco, no
próximo Parlamento, como oposição furiosamente liberal. “Será grande surpresa,
se o Bloco Egípcio não alcançar número suficiente de cadeiras no Parlamento que
lhe permita ser minoria com poder de bloquear votações” – disse Abadir.
Dificuldade, contudo, é que, ao assumir posição muito beligerante contra os
partidos islamistas, o Bloco Egípcio já alienou parte muito significativa de uma
sociedade que é, sobretudo, religiosa. Dificilmente conseguirão atrair nomes que
já não se identificassem, desde antes, com sua visão
cosmopolita.
Sem
que os novos partidos de políticos mais jovens e as lideranças políticas
seculares consigam maior visibilidade eleitoral, tudo faz crer que partidos já
existentes desde muito antes da revolução ainda serão maioria no primeiro
parlamento eleito depois da revolução do Egito.
Uma
coalizão eleitoral, a Aliança Democrática, entre o Partido Liberdade e Justiça
da Fraternidade Muçulmana, e Partido Al-Wafd, anunciada em junho, pôs em
polvorosa os políticos egípcios. A Fraternidade Muçulmana investe em suas
credenciais islamistas históricas e numa vasta rede de assistência social às
populações mais pobres, estabelecida e operante em todo o país. E o Partido
Al-Wafd – fundado em 1919, banido depois da Revolução dos Oficiais Livres de
1952 e refundado em 1983 – é partido tradicional das elites sociais, mas o papel
histórico dá-lhe a sensação de serem partido “naturalmente” representativo que
talvez não resista às novas condições da disputa eleitoral no Egito. “Os
egípcios são naturalmente Wafdistas, desde 1919” – disse ao jornal New Cairo Margret ‘Azir, candidata do partido, ao ser
perguntada se a preocupava a emergência dos partidos da
juventude.
A
parceria entre os mais tradicionais islamistas e os partidos liberais no Egito
é, no mínimo, estranha. Uns poucos membros destacados do Partido Al-Wafd
manifestaram-se contra a cooperação com a Fraternidade Muçulmana, e mudaram-se
para o Bloco Egípcio. Os dois partidos encontram oposição interna à aliança e
têm mostrado relutância a apoiar manifestações que exigem o fim das leis
militares de emergência, o que fez aumentar a desconfiança de que esses dois
partidos já articulem uma contrarrevolução. Teme-se que o principal ator
político no Egito, o Exército, tenha já um acordo com a Fraternidade Muçulmana
para impedir qualquer mudança estrutural na liderança política do
país.
A
Aliança Democrática rapidamente se tornou, para todos, o inimigo eleitoral a ser
derrotado. A Aliança Democrática é vista por membros e por opositores como a
mais provável coalizão de maioria que brotará das próximas eleições. Atraiu os
partidos salafitas recém formados e grande número de pequenos grupos de
influência, totalizando aliança que, no momento máximo, chegou a reunir 30
grupos, segundo Muhammad Al-Baltagi, secretário-geral do Partido Liberdade e
Justiça, no Cairo. O cenário parece estar pronto para a batalha eleitoral entre
a Aliança Democrática, grande coalizão comandada pelos políticos mais
organizados e mais experientes do país, e o Bloco Egípcio, que aspira a ser a
oposição liberal. Partidos que optem por programas próprios, como o Partido
Al-Adl, talvez consigam alguns assentos no Parlamento, mas serão facilmente
deslocados nas disputas políticas pelos grandes blocos.
O
colapso das alianças
Tudo
veio abaixo nas primeiras semanas de outubro.
[Continua:
“Egito: a campanha eleitoral 2/2"]
Notas
dos tradutores
[1]
Al-Adl
(Partido da Justiça) quer
ser partido de centro, criando uma ponte entre a Aliança Democrática e a Aliança
Islâmica, dominadas pelos islamistas, e o Bloco Egípcio, dominado pelos
liberais. Quer criar uma terceira coalizão, como uma “terceira via”. Teve papel
importante na polarização da discussão política e atraiu descontentes dos dois
lados, sobretudo os dissidentes da coalizão que governou sob
Mubarak.
[2]
É
o PSDB da tucanaria do Egito.
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