Publicado
em 20/11/2011 por *Mário Augusto
Jakobskind
É
grave a crise econômica na Europa. Há analistas que dizem ser pior do que a de
1929. Não é só a Europa, mas os Estados Unidos estão em recessão. Como as duas
áreas do planeta são consumidoras, e a China é uma das principais beneficiárias
com a exportação de seus produtos de consumo, se a fonte secar ou mesmo o fluxo
de consumo de produtos chineses for reduzido, a América Latina automaticamente
será afetada. Não poderá contar, como agora, com a República Popular da China
para escoar as commodities. Essa análise é feita por analistas que acompanham de
perto o desenrolar dos acontecimentos.
Na
Europa, depois da Grécia, a bola da vez é a Itália, que se encontra também em
situação desesperadora. Depois de Silvio (bunga bunga) Berlusconi ocupa o cargo
de presidente do Conselho de Ministros, que corresponde a primeiro-ministro, um
tal de Mario Monti, ex-vice-presidente da Goldman Sachs, gigante do mercado. Ou
seja, a Itália, como a Grécia coloca um “técnico” para fazer o jogo sujo do
capital financeiro, perdendo mesmo a sua soberania.
Como
afirmou Mikis Theodorakis, o compositor grego de longa tradição política e que
aos 14 anos perdeu um olho quando combatia na resistência antinazifascista, se a
Grécia se submeter às exigências dos chamados "parceiros europeus" será "o nosso
fim quer como povo quer como nação".
Theodorakis,
que ao longo dos anos sempre combateu o bom combate, além de compor músicas
belíssimas (quem não se lembra da trilha sonora de Zorba, o grego?), alerta
ainda que “se europeus não se levantarem, bancos trarão de volta o fascismo”.
Gregos, italianos, espanhóis, portugueses, estadunidenses estão nas ruas
protestando contra as investidas do capital financeiro, responsável pela crise e
que exige dos trabalhadores o pagamento da fatura.
Embora
os europeus não conheçam a fúria dos generais de plantão, como aconteceu na
América Latina nos anos 70, com o apoio integral de sucessivos governos dos EUA,
não se exclui a possibilidade de que o mesmo capital financeiro exija a
instalação de governos fortes no velho continente. Em princípio estão tentando
os técnicos ao seu serviço, mas se o caldo engrossar...
Um
parêntesis: a Grécia com o regime dos coronéis nos anos 70, Portugal com o
famigerado Oliveira Salazar e a Espanha com o hediondo Francisco Franco
assolaram os seus povos com ditaduras ao estilo Pinochet/Médici e outros do
gênero. Os tempos são outros, claro, e figuras como as mencionadas não teriam
mais vez, mas isso não impede que em situação de emergência o capital financeiro
se valha de regimes fortes.
Na
verdade, quem dita as cartas das finanças na Europa é a Alemanha. A primeira
ministra Angela Merkel é a senhora dos anéis. Ela tem ditado regras aos demais
países, cujos dirigentes pouco se importam com a perda de soberania, que muitos
analistas consideram coisas do passado. Para estes dirigentes e os analistas de
sempre, o que importa mesmo é a pós-modernidade. E a pós- modernidade é isto que
está aí no cenário internacional.
Mas
já que falamos em repressão, um fato histórico vergonhoso, envolvendo as
relações Brasil-Argentina, veio à tona. Documentos que se tornaram públicos
indicam que por volta de 1982, o então embaixador brasileiro em Londres, Roberto
Campos, defensor histórico do capital financeiro, batalhou no sentido de o então
capitão Alfredo Astiz ficasse livre. Como se sabe, Astiz, o anjo da morte, que
torturou e matou sem piedade, acabou de ser condenado a prisão
perpétua.
Astiz,
que literalmente se borrou quando foi preso nas Malvinas pelos britânicos,
contou com os esforços de Roberto Campos no sentido de libertá-lo, segundo
informa o jornal argentino Pagina 12. Tal fato demonstra também como a ditadura
brasileira e argentina andavam juntas. A diferença agora é que os torturadores
assassinos argentinos estão sendo julgados, enquanto os similares brasileiros
contam com a impunidade de uma lei de anistia promulgada em 1979, nos estertores
da ditadura, mas ainda na vigência do regime ditatorial e sob pressão dos que
tinham culpa no cartório.
No
mais, exemplo de promiscuidade jornalística mais recente fica por conta da TV
Globo na cobertura, na quinta-feira (17) do que está acontecendo na Bacia de
Campos com o derramamento de petróleo pela empresa estadunidense Chevron-Texaco.
Sem o menor constrangimento, o repórter sobrevoou o local num avião cedido pela
própria Chevron-Texaco, passando a relatar o que era de interesse da referida
empresa. Ou seja, dourando a pílula da agressão ao meio ambiente provocada pelo
derramamento.
Os
noticiários dos outros canais de televisão simplesmente diziam que a
Chevron-Texaco não tinha se pronunciado. Ficou caracterizada a exclusividade da
TV Globo, mas com o noticiário divulgado em conformidade com a empresa
estadunidense.
Eis
mais uma faceta do jornalismo global.
*Mário
Augusto Jakobskind é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto da Redação
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