quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Inteligência iraniana impõe dura derrota à CIA-EUA


Mahan Abedin

30/11/2011, Mahan Abedin, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


A prisão de 12 espiões que trabalhavam para a CIA-EUA, anunciada recentemente pelas autoridades iranianas, pode vir a revelar-se muito duro golpe contra os esforços da agência norte-americana que busca coletar informações sobre o Irã e, no geral, contra toda inteligência dos EUA. Essas prisões recentes acontecem imediatamente depois da prisão, em maio passado, de outros 30 suspeitos de também trabalharem para a CIA; e indicam que o Irã já conta com importantes capacidades de contrainteligência.

Os mais recentes sucessos iranianos são reforçados pela descoberta e desmontagem de uma cadeia de espionagem da CIA que operava dentro do grupo Hezbollah no Líbano. Todas essas notícias já foram confirmadas, muito a contragosto, por atuais e antigos funcionários da inteligência dos EUA – o que sugere fortemente que se trate, sim, de grave derrota da inteligência dos EUA, ou, mesmo, de desastre de grandes proporções.

Recentes sucessos da contrainteligência do Hezbollah contra Israel e EUA (em junho, o Hezbollah prendeu dois espiões da CIA que trabalhavam infiltrados na organização) são outros bons resultados devidos, pelo menos em parte, à crescente colaboração que o Hezbollah tem recebido da contrainteligência iraniana.

Fontes do jornal Asia Times Online em Teerã dizem que, nos últimos meses, o Ministério de Inteligência e Segurança do Irã [ing. Ministry of Intelligence and Security (MOIS)] tem-se mostrado mais disposto a partilhar técnicas e know-how extremamente sensíveis de contraespionagem, com o Hezbollah e com os serviços oficiais da inteligência do Líbano.

Quanto à prisão, no Irã, dos 12 suspeitos de espionar a serviço da CIA, além de ser indicação clara da escalada de missões clandestinas da inteligência dos EUA dentro do Irã, há duas observações necessárias. Primeira: é patente que a CIA opera hoje sob baixos padrões de qualidade, seja no recrutamento seja na gestão de seu pessoal. Segunda: há sinais de que o Ministério de Inteligência e Segurança do Irã já está conseguindo converter o Irã em espaço inacessível aos serviços de inteligência estrangeiros hostis.

Informação obtida de muitas fontes na imprensa iraniana – e confirmada por fontes de Asia Times Online em Teerã – sugere que a CIA estaria operando sem objetivo claro (‘atire para todos os lados’), e recolhendo informação de praticamente qualquer cidadão.

Em maio, circularam notícias de que haveria “operadores” do governo entre os suspeitos de espionagem então presos; agora, o ministro da Inteligência do Irã Heydar Moslehi já disse a jornalistas locais, no domingo, que não há funcionários do governo entre os 12 novos suspeitos de espionagem presos.

Falando dos bastidores da reunião semanal do Gabinete, Moslehi deu fortes indícios de que muitos, se não todos os presos recentes são ou jovens cientistas ou estudantes de famílias abastadas que viajam frequentemente ao exterior, em viagens de estudos ou para congressos e seminários científicos.

Informação que se encontra em muitos veículos da mídia iraniana ao longo dos últimos seis meses – e também confirmada por fontes de Asia Times Online em Teerã – parece indicar que, além do alvo principal (o programa nuclear iraniano e o establishment de defesa do país), a CIA opera também conta outros alvos dentro do Irã: o sistema bancário e financeiro iraniano; as redes de logística e transporte (principalmente transporte aéreo); o planejamento urbano; o setor de petróleo e gás; e a indústria de softwares, principalmente empresas privadas que criam e operam os programas especialistas usados dentro do governo iraniano.

Mais especificamente, a CIA parece interessada em descobrir e entender como o Irã está conseguindo contornar e superar as sanções internacionais e unilaterais impostas por EUA e países europeus; como e em que extensão o Irã está usando o sistema financeiro internacional para manter em andamento vários projetos críticos, e os negócios do dia-a-dia da vida do país; vulnerabilidades que haja na rede logística e de transportes; os níveis de prontidão e preparo das organizações iranianas de socorro humanitário e resposta a emergências; e, em termos mais gerais, a resistência da infraestrutura iraniana crítica que esteja disponível para operar no país no caso de grande desastre ou longo período de estresse (como, evidentemente, se o país for militarmente atacado).
 
Para alcançar esses objetivos, o Serviço Nacional Clandestino [ing. National Clandestine Service (NCS)] da CIA criou uma equipe dedicada de operadores e analistas, que trabalham, basicamente, em países que têm fronteiras com o Irã, mas também mais longe, especialmente em países onde vivam número significativo de estudantes iranianos, como a Malásia.

Essa rede dedicada é excepcionalmente bem treinada. Por exemplo, todos esses agentes de campo e analistas têm de ser falantes super eficientes da língua persa e ter competências de alto nível nas “trocas interculturais”.

Há sinais de que a CIA-EUA começou a construir essa vasta rede dedicada em 2003; e em meados de 2008, a maioria dos agentes já estava em campo. Tudo isso ajuda a ver a extensão e a importância dos recentes sucessos da contrainteligência do Irã, a qual, agora, já expôs, neutralizou e tornou inócuos praticamente todo o gigantesco aparato e vastos investimentos da contrainteligência da CIA-EUA no país.

Ao longo das investigações e trabalho especializado de contraespionagem, o Ministério de Inteligência e Segurança do Irã diz já ter identificado 42 oficiais do NCS-CIA que trabalham em vários países e já ter recolhido informação detalhada sobre o objetivo e a natureza de seu trabalho.

As equipes desse serviço NCS-CIA parecem trabalhar embutidas em várias organizações oficiais e não oficiais dos EUA, como embaixadas dos EUA, corporações multinacionais, organizações comerciais de porte médio, consultorias e empresas de recrutamento de empregados, serviços de imigração e outros serviços oficiais mais amplos, em universidades e instituições para-acadêmicas de renome, e em institutos, think tanks e empresas menos conhecidas.

Se se pode crer em matérias distribuídas pela imprensa online iraniana, a obsessão com cientistas e estudantes iranianos de ciências pode ter sido o calcanhar de Aquiles da operação, a partir do qual toda a operação pôde ser desmontada. Já se sugeriu que a existência de uma rede de 30 pessoas e suas sub-redes, já desmanteladas no início desse ano (anúncio feito no final de maio) chamou a atenção das autoridades iranianas graças a informações prestadas voluntariamente por um estudante iraniano que suspeitou, ao ser abordado por uma instituição para-acadêmica (que lhe ofereceu bolsas de estudo e dinheiro), na Malásia.
 
O Ministério de Inteligência e Segurança do Irã passou então a investigar aquela instituição e rapidamente descobriu que mantinha contato direto com a CIA. A partir daí, a investigação ganhou fôlego e, em pouco tempo, mais de trinta suspeitos de atividades de espionagem foram identificados e localizados.

Já se sabe que 75% dos acusados de espionagem esse ano têm altas qualificações acadêmicas. Por um lado, pode sugerir novidade na abordagem pela CIA, que agora andaria à caça de cientistas iranianos e estudantes mais bem dotados, pensando em recolher informações a serem utilizadas em curto e médio prazos.

Mas, por outro lado, o fato de estarem sendo abordados estudantes “em geral” (não agentes ou funcionários do governo que têm acesso a informação de melhor qualidade), indicam, também, que a CIA está sem rumo, pressionada pelo tempo e pelo desespero; indica que a Agência não está em condições de selecionar melhor nem a informação que mais lhe interesse nem o melhor informante a recrutar, e tem de operar com recrutas “de baixo nível”, na esperança de poder “aquecer” rapidamente esses agentes “frios”, uma vez que esses estudantes e cientistas só muito raramente têm acesso a qualquer tipo de informação realmente classificada – além de serem alvos sempre expostos às investigações dos serviços da inteligência iraniana.

Não há dúvidas de que, depois desse mais recente sucesso da inteligência do Irã, as próprias organizações iranianas (entre as quais os serviços de inteligência do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, mas, igualmente, todo o establishment iraniano de defesa) estão em melhores condições para operar, livres de inúmeros espiões dos EUA e, em todos os casos, mais seguros do que antes.

Além do mais, pode-se dizer que, quanto mais a CIA vê-se obrigada a baixar os critérios de exigência e a ter de recrutar agentes “frios”, a própria CIA passa a expor-se a riscos maiores, no longo prazo, e mais difícil vai-se tornando a operação dentro do Irã, uma vez que já está bem provado que o Ministério de Inteligência e Segurança do Irã é, sim, perfeitamente capaz de desmontar as redes norte-americanas de espionagem e, como se viu, bem no início daquelas operações.

Em resumo, parece haver hoje certa disparidade entre as tentativas de escalada, nos movimentos de espionagem da CIA no Irã, e a eficácia das respostas de contraespionagem que saem do Ministério de Inteligência e Segurança do Irã. Não parece haver qualquer dúvida de que, hoje, os espiões iranianos estão vencendo essa disputa.

Contudo, apesar de haver progressos muito visíveis nas capacidades de contraespionagem no Irã, o país ainda não alcançou o ponto em que as atividades de espionagem dentro do país tornem-se proibitivas custosas, a ponto de agências ocidentais não conseguirem operar lá. De fato, hoje, todos os serviços secretos dos principais países ocidentais, do Leste Europeu, dos EUA e de Israel ainda operam, ou diretamente dentro do Irã, ou fora, associados a elementos da diáspora iraniana.

Seja como for, há claros sinais no ar de que, em termos exclusivamente de guerra de inteligência (que nada tem a ver com ações de sabotagem e “assassinatos pré-definidos” [targeted assassinations]), o Irã já começou a virar o jogo.

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