Leon e Renata |
Publicado
em 01/11/2011 por *Rui Martins
Mal
cheguei ao interior de São Paulo, me deram a notícia da morte de Leon Cakoff. Comprava uns livros num
sebo na cidade de Tatuí, quando o livreiro me transmitiu a informação à
queima-roupa. E acabo de ver, pela TV Cultura, um programa sobre a Mostra de
Cinema a êle dedicado.
A
cidade de São Paulo tem uma dívida, que nunca poderá pagar, com Cakoff. A Mostra
de Cinema era conhecida em todo mundo e muitos cineastas internacionais nutriam
a esperança de terem seus filmes exibidos nesse importante festival
internacional.
Lembro-me
da euforia de Cakoff, num Festival de Locarno, quando ali presente o cineasta
iraniano Abbas Kiarostami, em pleno apogeu naquele momento. Abbas já havia
aceitado o convite para ir a São Paulo e estava pronto o cartaz da Mostra,
concebido pelo próprio cineasta iraniano. Com seu olhar vivo e penetrante,
aquele sorriso sempre juvenil, Cakoff tirou de sua pasta e me mostrou orgulhoso
o cartaz. No ano seguinte, me falou do desejo do iraniano de fazer um filme na
capital paulistana.
Falar
em Kiarostami me faz lembrar de Jafar Panahi, cumprindo prisão política de seis
anos em Teerã e condenado a não mais fazer cinema, que também foi a São Paulo
levar seus filmes premiados em Veneza, Cannes e Locarno. Essa era a diferença de
Cakoff com relação ao Festival do Rio, da época de Nei Sroulevich e de agora, a
preferência pelo cinema de autor, pelo cinema independente e não comercial,
responsável pelo sucesso da Mostra.
Vez
ou outra, quando surgia em Locarno (também festival de cinema independente) um
bom filme, no formato que imaginava ser da Mostra, procurava alertar Cakoff,
como colaboração voluntária de um seu admirador e do seu excelente trabalho.
Durante uma época, quando cobria o Festival de Berlim para o Estadão ou para a
CBN, ainda na época da Budapeststrasse, encontrava sempre Cakoff tentando ver o
máximo de filmes, enquanto eu extenuado me restringia apenas aos filmes da
competição internacional.
Este
ano, de retorno a Berlim depois de alguns anos de ausência, não vi Cakoff e nem
o verei mais por lá. Entretanto, a Mostra de São Paulo vai continuar porque
Renata de Almeida , esposa e parceira de Cakoff em cinefilia (foto), é a
garantia.
*Rui
Martins – Berna: jornalista,
escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante,
ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os
movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na
Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência
BrPress.
Enviado
por Direto da
Redação
Cakoff
e Abujamra em: Provocações – 19/1/2011 – TV Cultura, SP
(Comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirSem o nosso Leon, vai ser muito difícil para a Renata sustentar o peso das responsabilidades internacionais da Mostra. É no exterior, com a presença diuturna do Leon, a cada ano, em todos os eventos que interessavam, que o certame paulistano se realizava. Ele foi, sem dúvida, um embaixador do cinema mundial entre nós, i.e., da arte sem fronteiras e nacionalismos atrasistas. A última vez que estive com ele, ao lado do Nelson, em Acapulco, observamos o quão bem ele trabalhava junto a distribuidores franceses e mexicanos. Um gênio da difusão do cinema. Que Deus e os Orixás o tenham!
Abraços do
ArnaC