Ameaças, ameaças e
só ameaças. Não passa disso.
Uri Avnery |
5/11/2011, Uri Avnery, Gush Shalom [Bloco da Paz]
(mensagem
distribuída por e-mail pelo
Autor)
Traduzida pelo
pessoal da Vila Vudu
“Não há nem uma
pequena, mínima, possibilidade de Israel atacar o Irã.”
(“As ameaças de Israel contra o Irã”,
Uri Avnery, 5/4/2010,
Counterpunch
Todos conhecem a
cena, dos tempos de escola: o menino baixinho briga com o menino muito maior e
grita para os companheiros: “Me segurem! Me segurem... Ou eu quebro a cara
dele!”
O governo de
Israel está fazendo exatamente isso. Todos os dias, em todos os canais de
televisão, algum figurão do governo israelense grita que, agora sim, agora sim,
Israel vai quebrar a cara do Irã.
O Irã está próximo
de produzir bomba nuclear. Israel não pode permitir. Então... Israel vai detonar
o Irã, reduzir o Irã a cacos.
Binyamin Netanyahu
repete isso em todos os seus incontáveis discursos, inclusive no discurso de
abertura da sessão de inverno do Parlamento israelense. Ehud Barak, também.
Todos os comentaristas comentam o assunto. E a imprensa amplifica o som e a
fúria. Mas o jornal Haaretz publicou na primeira página uma grande foto
dos sete ministros mais importantes de Israel (o “septeto da segurança”): três a
favor do ataque, quatro contra.
Há um ditado
alemão que diz: “Revolução muito alardeada não quer acontecer”. Vale também para
guerras.
Artefatos
nucleares vivem sob estrito controle militar. Muito muito estrito. Hoje, o
controlador militar das bombas atômicas israelenses apareceu sorrindo, deixando
a coisa andar. Os meninos – o primeiro-ministro e o ministro da Defesa de
Israel, exatamente os dois patrões do controlador militar das bombas israelenses
– estão só brincando de atacar o Irã.
O respeitado
ex-chefe, por muitos anos, do Mossad, Meir Dagan, falou publicamente contra
qualquer ideia de Israel atacar o Irã. “Nunca ouvi ideia mais estúpida em toda a
minha vida” – disse Dagan. Explicou que entende como seu dever alertar Israel
contra a ideia de atacar o Irã... desde que ouviu falar dos planos de Netanyahu
e Barak.
Na 4ª-feira,
Israel enfrentou um tsunami de “notícias vazadas”: Israel testara um míssil
capaz de transportar uma bomba atômica e “entregá-la” a mais de 5 mil km de
distância, adiante, até, daquele país... vocês sabem qual. E a Força Aérea de
Israel acabara de encerrar manobras na Sardenha, distância de voo maior, até, da
que nos separa daquele país... aquele, vocês sabem qual. E na 5ª-feira, o
Comando Doméstico fez exercícios por toda a cidade e arredores, na Grande
Telavive, com sirenes berrando por todos os lados.
São movimentos que
sugerem fortemente que tudo não passe de encenação. Talvez para assustar os
iranianos. Talvez para empurrar os EUA a tomar ações mais extremas. Talvez, sim,
toda a encenação tenha sido previamente combinada com os EUA. (Vazamentos
britânicos também diziam que a Royal
Navy britânica está em treinamento, preparando-se para apoiar um ataque dos
EUA ao Irã.)
Vez ou outra,
Israel usa a tática de agir como se os israelenses fôssemos doidos de hospício
(“O dono da banca enlouqueceu” – como se ouve pelos mercados e feiras, sobre
preços baixos demais). Israel cansou de ouvir conselhos dos EUA. O que temos de
fazer é bombardear, bombardear, bombardear, bombardear.
Calma. Falemos
sério, por favor. ISRAEL NÃO ATACARÁ O IRÃ. É isso. Ponto final.
Muitos dirão que
me arrisco demais. Não seria melhor acrescentar “provavelmente”, ou “quase com
certeza”? Não. Não acrescento coisa alguma. Repito e repito: ISRAEL NÃO ATACARÁ
O IRÃ.
Depois da aventura
de 1956 em Suez – que acabou por ordem do presidente Dwight D. Eisenhower –
Israel nunca mais se envolveu em nenhum tipo de operação militar importante, sem
a expressa autorização dos EUA.
Os EUA são hoje o
mais confiável apoiador com que Israel ainda conta (além das ilhas Fiji, da
Micronesia, das ilhas Marshall e de Palau). Destruir essas relações será como
cortar a mangueira de ar do escafandro. Para chegar a esse ponto, é preciso ser
mais do que meio maluco: é preciso ser doido furioso.
Além do mais,
Israel não pode entrar em guerras sem o apoio dos EUA, porque todas as bombas e
todos os aviões de Israel vêm dos EUA. Em guerra, é preciso receber suprimentos,
peças de reposição, todos os tipos de materiais. Durante a guerra do Yom Kippur,
Henry Kissinger manteve uma linha de suprimentos, por avião, que operava 24
horas por dia. E a guerra do Yom Kippur foi piquenique, comparada com o que
seria uma guerra contra o Irã.
EXAMINEMOS o mapa
– providência que se recomenda sempre, antes de guerras.
A primeira coisa
que chama a atenção é o muito estreito Estreito de Ormuz, por onde passa 1/3 de
todo o suprimento de petróleo transportado por petroleiros, para todo o mundo.
Passa por aquela garganta praticamente todo o petróleo produzido na Arábia
Saudita, Estados do Golfo, Iraque e Irã.
De ponta a ponta,
o estreito mede cerca de 35 km . É a mesma distância de Gaza a
Beer Sheva que, semana passada, os rojões de fabricação caseira da Jihad Islâmica cruzaram sem problema
algum.
No instante em que
o primeiro avião israelense entrar no espaço aéreo do Irã, o estreito será
fechado. A Marinha do Irã tem mísseis em navios, no mar. Mas nem serão
necessários. Para fechar Ormuz, bastam os mísseis em terra.
O mundo já está
balançando, à beira do abismo. A pequena Grécia oscila, ameaçando cair e levar
com ela grossas fatias da economia mundial. Ormuz fechado, e cortado o
suprimento de quase 1/5 de todo o petróleo que as nações industriais do planeta
consomem, é catástrofe difícil de imaginar.
Para reabrir o
estreito à força, seria necessária grande operação militar (com muitos “coturnos
no solo”, inclusive), maior que todas as dificuldades que os EUA enfrentam hoje
no Iraque e no Afeganistão. Os EUA têm dinheiro para tudo isso? Ou a OTAN?
Israel não compete nessa liga “de cima”. Mas, mesmo assim, estará terrivelmente
envolvido na ação, no mínimo, na condição de alvo.
Em manifestação de
unidade que só se vê muito raramente, todos os chefes dos serviços secretos
israelenses, inclusive os principais diretores do Mossad e do Shin Bet, já se
manifestaram publicamente, todos contrários à ideia de atacar o Irã. É fácil
entender por quê.
Não sei, sequer,
se a operação seria possível. O Irã é país de grande território, quase do
tamanho do Alasca; as instalações nucleares estão dispersas por todo o
território e, muitas delas, são subterrâneas. Ainda que se usassem bombas de
penetração profunda, que explodem sob o chão, fornecidas pelos EUA, toda essa
gigantesca operação só conseguiria conter os esforços iranianos por alguns
poucos meses. Israel pagaria preço altíssimo, por resultados
magros.
Claro também que,
se a guerra começar por ação de Israel, imediatamente choverão mísseis sobre
Israel – não só do Irã, mas também do Hezbollah e, talvez, também do Hamás. As
cidades israelenses não são adequadamente defendidas contra ataques dessa
magnitude. Morreriam muitos israelenses. As mortes e a destruição em solo
israelense tornam totalmente proibitivo qualquer movimento de guerra contra o
Irã.
Repentinamente, a
mídia israelense só fala dos três submarinos israelenses, que logo serão cinco,
talvez seis, se os alemães forem compreensivos e generosos. Os jornais dizem,
abertamente, que esses submarinos garantem a Israel a possibilidade de “um
segundo ataque nuclear” (?!), caso o Irã use ogivas nucleares (que o Irã não
tem!) contra Israel. Mas o Irã pode usar armas químicas, claro, dentre outras
armas de destruição em massa.
E há também o
preço político. O mundo islâmico fervilha. O Irã não é exatamente muito popular
em parte do mundo islâmico. Mas, se Israel atacar o Irã, o ataque contra um dos
principais países do mundo muçulmano unirá instantaneamente sunitas e xiitas, do
Egito e Turquia ao Paquistão e mais. Israel estaria correndo o risco de
converter-se em mansão de luxo, numa selva em fogo.
FATO É QUE toda
essa conversa sobre guerra ao Irã, em Israel, serve a vários objetivos
políticos, da política interna de Israel.
Sábado passado, os
movimentos sociais de protesto voltaram às ruas. Depois de pausa de dois meses,
grande número de manifestantes reuniram-se em Telavive, na Praça Rabin. Foi caso
excepcional porque, no mesmo dia, vários rojões do Hamás estavam sendo
disparados contra cidades próximas da Faixa de Gaza. Até agora, em situação
semelhante, as manifestações sempre foram canceladas. Os problemas de segurança
sempre foram vistos como maiores que quaisquer outros. Dessa vez, não. E as ruas
encheram-se de manifestantes e protestos.
Havia também quem
acreditasse que a euforia do festival Gilad Shalit teria apagado da opinião
pública israelense a ideia de protestar contra o governo de Netanyahu. Não
apagou.
Outro fenômeno
curiosíssimo: a mídia, depois de vários meses aliada aos manifestantes que
enchiam as ruas, acaba de mudar de lado. Repentinamente, todos os jornais,
inclusive o Haaretz, opõem-se
aos manifestos populares. Como que obedecendo a uma só voz, todos os jornais de
Israel escreveram, na manhã seguinte aos protestos, que lá se reuniram “mais de
20 mil” pessoas. Bem. Estive lá e tenho alguma experiência com essas coisas.
Havia naquela praça, no mínimo, 100 mil pessoas, a maioria, jovens. Mal se
conseguia andar.
Os protestos
tampouco acabaram, como dizem os jornais. Longe disso. Mas... que ideia melhor,
para fazer calar os que clamam por justiça social, do que pôr-se a falar sobre a
“ameaça existencial”?
Além do mais, para
fazer as reformas que a sociedade exige, é preciso dinheiro. Ante a crise das
finanças mundiais, o governo luta para reduzir o déficit do orçamento, temeroso
de pôr em risco a posição de Israel no ranking dos países confiáveis para investimento
externo. Assim sendo... de onde sairia o dinheiro para as tais reformas? Só há
três fontes plausíveis: das colônias exclusivas para judeus nos territórios
palestinos ocupados (mas... que estado judeu atrever-se-ia a pedir dinheiro aos
colonos?); os judeus israelenses ortodoxos (idem); e o gigantesco orçamento
militar.
Criada a
possibilidade de guerra contra o Irã, a guerra mais crucial da história de
Israel, quem sugeriria que se tocasse no sacrossanto orçamento militar? O país
precisa de cada shekel, para
comprar mais aviões, mais bombas, mais submarinos. Escolas e hospitais, é claro,
que esperem.
Por isso, do ponto
de vista de Netanyahu, Mahmoud Ahmadinejad é a salvação. Onde estaria Netanyahu,
hoje, se não houvesse Ahmadinejad?
Comentário ridículo de quem pensa que conhece a política Israelense. Gilberto Martins.
ResponderExcluirPrezado Gilberto
ResponderExcluirUri Avnery é um dos fundadores do Estado de Israel nos idos de 1947...
Castor
Não sei não. Meus cachorros latem e mordem.
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