6/11/2013, Jaisal Noor entrevista Shir Hever, TRNN (video; 8’
11”)
Traduzido
da transcrição por João Aroldo
JAISAL
NOOR, TRNN PRODUCER: Bem-vindos a The Real News Network. Eu sou Jaisal Noor em Baltimore.
Nas
notícias sobre os territórios palestinos ocupados, os negociadores israelenses
estão agora exigindo que os palestinos concedam sua futura fronteira de estado
junto ao muro de separação na Cisjordânia. Os palestinos dizem que isso é uma
apropriação de terras ilegal, já que o muro de separação cruza a Linha Verde
internacionalmente reconhecida de 1967. Quase 10%da Cisjordânia continuará no
lado ocidental da barreira em Israel quando a construção do muro estiver
finalizada, de acordo com o grupo de direitos humanos israelense B'Tselem.
Está
aqui conosco para discutir isso Shir Hever. Ele é um pesquisador econômico no Alternative Information Center, uma
organização palestino-israelense ativa em Jerusalém e Beit Sahour. Ele também é
autor de The Political Economy of Israel's
Occupation: Repression Beyond Exploitation.
Obrigado
por estar conosco, Shir.
SHIR HEVER, ECONOMISTA, ALTERNATIVE
INFORMATION CENTER: Obrigado
por me receber, Jaisal.
NOOR: Então, Shir, queremos saber sua
resposta a esta notícia. Já suspeitávamos que Israel quer anexar a maior parte
da Cisjordânia. Mas agora eles estão dizendo que querem tomar tudo a oeste do
muro. Então queremos sua resposta. E também, o que vai acontecer com a grande
quantidade de assentamentos no outro lado do muro?
HEVER: Acho que devemos separar realidade da ficção. E o
muro de separação é realidade, é algo que está sendo construído por Israel há
13 anos. E digo isso não porque eles levaram anos construindo o muro, mas
porque eles estão constantemente movendo o muro. O muro é parte da política
usada por Israel para confiscar terra palestina, para separar as populações. E
isso é uma realidade com a qual centenas de milhares de palestinos têm que
lidar todo dia quando o muro os impede de chegar às suas escolas, hospitais e
seus locais de trabalho ou terras.
Mapa do Muro da Vergonha construído por Israel em território palestino (clique no mapa com o botão direito e abra uma nova janela para visualizar melhor) |
E,
de fato, o muro, embora Israel o chame ofici almente de barreira de segurança,
num encontro em que estive presente, o general de brigada Yair Golan, o
ex-comandante das forças israelenses na Cisjordânia, disse às pessoas presentes
que de fato o muro não [foi] construído para garantir segurança. Foi—as ordens
que recebeu do governo israelense foram de que o primeiro propósito do muro é
separar os povos, quer dizer, que a verdadeira intenção do muro é impedir que
israelenses e palestinos se encontrem, se tornem amigos, se casem, e seu
propósito secundário é garantir segurança. E isso é uma das razões pela qual o
muro está sempre sendo movido, porque eles tentam incorporar mais judeus no
lado israelense do muro, mas ao mesmo tempo tentam excluir [o máximo] de
palestinos no outro lado, no lado oriental do muro. Essa é a realidade.
Mas
quando falamos de negociações [inaud.] sobre as demandas pela equipe de
negociadores israelenses e as conversas atuais com os palestinos, nós vamos
para o [inaud.] porque essas negociações não são negociações de verdade. Não há
dois lados aqui que possam negociar. Há um poder, que é Israel, que é o poder
de ocupação, o poder soberano na região, e eles têm controle sobre ambos os
lados do que acontece em torno do muro de separação. Eles continuam coletando
impostos nos dois lados do muro. Então a única razão pela qual a equipe
israelense de negociação está fazendo esse tipo de demanda é para perpetuar a
ilusão de que é uma negociação entre dois lados.
E
a maneira pela qual o governo israelense está tentando vender as negociações,
tanto para o público israelense como para o resto do mundo, como se fosse uma
barganha. Então eles começam—os palestinos já disseram que há a fronteira
internacionalmente reconhecida de 1967, que é a fronteira estabelecida [inaud.]
e esta deveria ser a fronteira internacional e o estado palestino deveria ser
criado no outro lado. E isto é. Então Israel disse, esse é sua proposta;
faremos uma contraproposta. Nós diremos que o muro de separação deveria ser a
fronteira, isto é, vamos anexar [inaud.] algumas áreas, de fato, transformando
o território palestino em pequenos enclaves. Mas a razão pela qual estou
chamando isso de ficção é porque todos sabem que isto não vai acontecer. Todos
sabem também que a liderança palestina nunca aceitará isso, e mesmo o governo
israelense não vai prosseguir e torná-la uma oferta real. Eles não vão permitir
um estado palestino, um estado palestino soberano, mesmo nos pequenos enclaves
restarem após o muro ser considerado a fronteira.
Palestino escala Muro da Vergonha construído por Israel |
Então
a razão pela qual eles estão fazendo essa oferta é para criar a ilusão de que
estão barganhando. Mas acho que está claro que as negociações não vão dar
certo. Mas acho que todos pensam isso agora. Mas mesmo o governo israelense
está tentando ganhar tempo para manter as negociações [inaud.] mais um pouco
para eles poderem dizer que estão no meio de um processo de paz, que eles estão
tentando fazer o melhor. E isso os ajuda a evitar um pouco da crítica
internacional.
NOOR: E em 2004 a Corte Internacional
de Justiça considerou que este muro violava a lei internacional. Como
exatamente Israel é capaz de exigir que ele seja—ou pedir que seja sua
fronteira, como você diz, apenas como postura? Mas fale também como isso é
possível.
HEVER: Sim. Devemos entender que Israel não reconhece a
validade da lei internacional na prática. Oficialmente, sim. De fato, logo
depois que Israel ocupou o território palestino em 1967, eles reconheceram que
a Quarta Convenção de Genebra se aplica ao território ocupado. Mas depois
mudaram de ideia e decidiram que não se aplicava e não cumprir mais com as leis
internacionais, especialmente quando não é conveniente para eles. O muro,
dizem, não foi—originalmente o muro foi projetado. Eles dizem que não tem nada
a ver com [inaud.] futuras fronteiras. Ele não tem nada a ver com qual área é
ocupada ou não. Trata-se apenas de segurança. Mas de alguma maneira aconteceu
que a rota do muro não entra em território israelense nem por um centímetro.
Toda a rota do muro é dentro do território palestino. Então as considerações
sobre segurança são só levadas em conta quando são às custas dos palestinos,
nunca quando são às custas de Israel.
Mas
a ideia de que o muro pode ser considerado uma fronteira internacional é
absurda. Como Israel pode afirmar isso? Eles podem afirmar isso enquanto os EUA
quiserem continuar a charade e dizer ao mundo que há negociações, que os EUA
estão mediando entre dois lados como se houvesse mesmo dois lados. Enquanto
essa charada continuar, Israel pode dizer o que quiser. Eles podem fazer essas
ofertas. Eles sabem que elas não serão aceitas. Mas se a liderança da
Autoridade Palestina em Ramallah cair nessa armadilha e fazer uma
contraproposta e dizer, bem, não, nós não vamos-- [inaud.] aceitar o muro de
separação como fronteira, queremos insistir nas fronteiras de 1967, isso só vai
prolongar as negociações. Isto é o que Israel quer, prolongar as negociações.
NOOR: Shir Hever, muito obrigado pela
sua participação.
HEVER: Obrigado, Jaisal, por me receber.
NOOR: Siga-nos no Twitter em
@TheRealNews, e você pode nos enviar perguntas, comentários, ou sugestões de
pautas para @JaisalNoor. Obrigado.
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