Contra o “império anglo-sionista”!
25/11/2013, The Saker, blog The Vineyard of the
Saker [excerto]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Recadão
discutido na Tendinha do Loxas na
Vila Vudu:
ATENÇÃO: Em 22/11/1013, muita gente boa, pelo
mundo, festejava que a Ucrânia havia rejeitado a “integração” à União Europeia (de
fato, trata-se de um acordo comercial entre a Ucrânia e a UE, que a Ucrânia
optou por não assinar).
O clima era de comemoração, (ver em: 26/11/2013,
redecastorphoto, Ucrânia
deu um “pé-na-b#nda” do “ocidente”, traduzido de Russia Today de 23/11/2013).
Em 23/11/2013, a imprensa-empresa “ocidental” só noticiava
“manifestações” na Ucrânia A FAVOR da “integração” à União Europeia. Como se
algum "povo ucraniano" tivesse saído repentinamente às ruas, em
massa, para exigir O CONTRÁRIO do que seu governo fizera na véspera e que
tantos, na véspera, haviam festejado tanto.
Como afinal se vê em 24/11/2013,
(a)
as matérias de 23/11/2013 eram a
manifestação-festa de alguns mais bem informados que NÃO QUEREM SABER DE UNIÃO
EUROPEIA; e
(b) as matérias que os jornalões-empresas
divulgaram em 22 e 23/11/2013 são manifestação de vastíssimos interesses
apostados A FAVOR da “integração” da Ucrânia na UE.
As matérias “jornalísticas” de 22 e 23/11/2013
foram vendidas como se fossem fatos & jornalismo, mas não passaram de
desinformação “jornalística”, informação mal investigada, mal pesquisada e mal
construída, pura ânsia noiada de “pôr
texto” (qualquer-merda) em imagens espetaculosas de “manifestações” (ver foto
de Gleb Garanish em: Ucrânia
deu um pé-na-b#nda do “ocidente”) de meia dúzia de gatos pingados
arrastados para as ruas (e para a fotografias de espetacularização).
AGORA (24/11/2013), felizmente, The
Saker, tira a “surdina do pistão e põe as coisas no lugar”. Não traduzimos,
por absoluta falta de tempo, a MARAVILHOSA introdução sobre história da
Ucrânia, que o postado oferece. Contra o “império anglo-sionista”!
O excerto que aí vai, explica, com
riqueza de informação, o que está em discussão, mesmo, na Ucrânia, hoje. E como
é discussão sobre a “anexação” pela via de um acordo comercial leonino, de um
país ainda governado por oligarquia safada, por um bloco continental comercial
riquíssimo (que o autor chama, corretamente, de “império anglo-sionista”), é
assunto muito, muito importante, para todos os pobres do mundo. Grande Saker!
NÃO LEIA JORNAIS do grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão). Eles
desinformam! Desligue a Globo.
A seguir o excerto traduzido pelo pessoal da Vila Vudu:
A resposta
curta é que se trata, aqui, do futuro da oligarquia ucraniana. A resposta mais
complexa é que se trata, aqui, do que o ocidente pode ganhar por cooptar a
oligarquia ucraniana para a esfera de influência ocidental.
Na prática,
significa que enquanto o ocidente concordar em manter no poder os oligarcas, o
ocidente pode extrair da Ucrânia vantagens realmente grandes, como um mercado
para bens da União Europeia, mão de obra barata, a possibilidade de o ocidente
plantar forças da OTAN na Ucrânia (sem ter, para isso, de admitir a Ucrânia na
OTAN).
Localização política e estratégica da Ucrânia (verde) na Europa |
Embora
absolutamente não seja catastrófico, o rompimento dos atuais laços econômicos
que ligam Rússia e Ucrânia feririam mais gravemente a Rússia, pelo menos no
curto prazo. Além disso, o ocidente também crê que a associação à União
Europeia impediria, desde já, qualquer integração posterior entre Rússia e
Ucrânia.
Parece-me que isso faça razoável sentido, simplesmente porque nenhuma
integração entre Ucrânia e Rússia é ou será possível, enquanto os oligarcas
ucranianos que hoje estão no poder lá continuarem.
Qual o real
objetivo do império anglo-sionista, na Ucrânia?
Hillary Clinton |
Há um movimento para re-Sovietizar a região.
Não terá esse nome.Vai ser chamado de União Aduaneira, União Eurasiana e coisas
assim. Mas não nos deixemos enganar. Sabemos qual é o objetivo e estamos
tentando conceber meios efetivos para conter
o movimento ou impedi-lo.
Simples,
clara e direta. Até a expressão “re-Sovietizar” mostra que Hillary e, sejamos
francos, praticamente todas as elites ocidentais, ainda estão completamente
empacadas no paradigma de uma Guerra Fria segundo o qual todos os movimentos
que os russos façam são fatal e necessariamente “do mal”; e que o ocidente e a
Rússia estão empenhados em jogo de soma zero. Pela lógica dessa gente, se a
Rússia perder, não importa o que perca, o resultado é altamente desejável para
o ocidente.
E que
melhor modo haveria, para o Império – que quer “conter ou impedir” qualquer
integração entre Rússia e Ucrânia – que oferecer à oligarquia ucraniana um
acordo de associação com a União Europeia, que nada custaria à União Europeia e
que, inevitavelmente, dispararia uma guerra comercial entre Rússia e Ucrânia?
Objetivos
russos na Ucrânia
Os
objetivos russos na Ucrânia são bem claros.
Primeiro, a
Rússia entende que uma união aduaneira com a Ucrânia beneficiaria os dois
países.
Segundo, a
Rússia também espera que, com o tempo, tal união, mutuamente benéfica, servirá
para desinflar sentimentos antirrussos (sempre ativos e estimulados pelas
elites políticas ucranianas) e que, com o tempo, a Ucrânia pode vir a ser
membro da futura União Eurasiana.
Terceiro,
considerada a amarga experiência que teve com países da Europa Central, estados
do Báltico e a Geórgia, a Rússia espera, sem dúvida, impedir que a Ucrânia
converta-se em colônia do Império Anglo-sionista na Europa.
Por fim, a
maioria dos russos crê que russos e ucranianos são ou uma só nação ou, no
mínimo, duas “nações irmãs” que partilham uma história comum e cuja inclinação
natural é viver em amizade e solidariedade.
Os
objetivos russos na Ucrânia são realistas?
Ironicamente,
a Rússia encara exatamente o mesmo problema na Ucrânia, que o Império
Anglo-sionista: a Ucrânia, nas atuais fronteiras, é criação absolutamente
artificial. Praticamente, não há quem discorde de que a Ucrânia Ocidental e a
Ucrânia Oriental têm objetivos quase exclusivamente opostos. Em todos os planos
– da língua, da economia, da política, história, cultura – as partes oeste e
leste da Ucrânia são absolutamente diferentes uma da outra. O centro, e a
capital Kiev, é uma mistura de leste e oeste; e o sul é entidade cultural única,
diferente e ainda mais diversa, que o resto do país.
A divisão dos dialetos falados na Ucrânia mostra bem as diferentes etnias e culturas existente no país. (clique na imagem para aumentar) |
Além de
tudo isso, creio que se devem necessariamente analisar muito mais a fundo as
consequências de uma integração da Ucrânia à Rússia, antes de mergulhar em
conclusões.
Se, de
fato, a Ucrânia é uma “grande Bósnia”, fará sentido para a Rússia trazer essa
“grande Bósnia” para junto de sua, até aqui muito próspera, união com
Bielorrússia, Cazaquistão e outros países do leste? Não argumento contra a
evidência histórica bem clara que mostra que a Ucrânia, a Bielorrússia, o
Cazaquistão são partes de um só corpo histórico/cultural. O que estou dizendo é
que a parte ucraniana desse corpo está acometida de uma forma muito perigosa de
gangrena e que não vejo meio pelo qual a Rússia e o restante da (futura) União
Eurasiana poderiam curar essa parte doente.
Embora
alguns segmentos da economia ucraniana interessem potencialmente à Rússia, a
maior parte é desastre absoluto, sem qualquer chance de reforma. Politicamente,
a Ucrânia é um desastre em câmera lenta, onde políticos corruptos combatem uns
contra os outros pela chance de pôr as mãos no dinheiro e no apoio dos
oligarcas locais e de seus patrões ocidentais. Socialmente, a Ucrânia é uma
bomba-relógio que explodirá, mais cedo ou mais tarde; e, embora a Rússia possa
continuar a “resgatar” a economia ucraniana com empréstimos sobre empréstimos,
a coisa não pode durar para sempre.
Por fim, a
Ucrânia ocidental é uma placa de Petri onde se reproduzem todas as bactérias da
histeria russofóbica, muitas vezes
mediante propaganda claramente neonazista, que jamais aceitará qualquer acordo
com os odiados Moskals (russos, ou “moscovitas” pelo léxico
nacionalista).
O que há de
mais assustador, é que a atual configuração da Ucrânia está fadada ao desastre,
não importa quem prevaleça – o governo de Yanukovich ou a oposição.
Basta ver o
que os “liberais” e os “democratas” conseguiram no governo dos oligarcas de
Ieltsin: a economia russa foi ao colapso, o país quase rachou em várias
pequenas partes, “chefões” mafiosos controlavam toda a economia subterrânea, e
oligarcas judeus literalmente pilharam a riqueza da Rússia e a realocaram no
exterior, enquanto a imprensa-empresa estava ocupadíssima convencendo o povo
russo de uma quantidade imensa de mentiras e delírios. Hoje, exatamente o mesmo
tipo de gente está comandando o espetáculo na Ucrânia.
A grande
diferença
Nursultan Nazarbaev |
Pus
Nazarbaev em primeiro lugar, porque sempre foi a favor da integração com a
Rússia e seus aliados – o Cazaquistão jamais quis de fato ser independente e
foi literalmente empurrado para fora por Ieltsin e seus aliados “democráticos”,
Kravchuk e Shushkevich.
Putin só
apareceu na cena política uma década depois de Nazarbaev ter tentado e feito
tudo que pôde para manter um país pós-soviético único. E Lukashenko é
personalidade complexa e excêntrica, que segue política estranhíssima em
relação à Rússia: quer integrar a Bielorrússia com a Rússia fortemente
orientada para o mercado, ao mesmo tempo em que mantém a Bielorrússia, economia
e sociedade, numa situação de país “neo-soviético”.
Justamente
pelas muitas diferenças que os separam, Nazarbaev, Putin e Lukashenko emergiram
como três poderosas figuras que conseguiram pôr sob controle os respectivos
oligarcas locais e, assim, impediram que seus países fossem convertidos em
colônias anglo-sionistas. Mas na Ucrânia não emergiu nenhum real líder local:
todos, absolutamente todos os políticos ucranianos são piada, perfeitos
fantoches nas mãos de interesses privados.
“Escolha civilizacional”
para a Ucrânia? E vitória de Pirro para a Rússia?
Aleksandr Lukashenco |
Pode-se
argumentar que a melhor opção para a Rússia seria tomar uma tesoura gigante e
cortar o mapa ao longo da fronteira entre Rússia e Ucrânia, extrair dali o país
e realocá-lo em algum ponto no meio do Oceano Pacífico. Não sendo isso
possível, a segunda melhor coisa a fazer seria a Ucrânia se autorrecortar em
seus componentes naturais e integrar a Ucrânia do Leste à União Eurasiana.
Infelizmente, essa segunda via é tão impossível quanto a primeira. O que resta,
então, para a Rússia? Qual a opção “menos ruim”, da qual a Rússia pode tentar
fazer o melhor uso possível? Exatamente o que está fazendo hoje: tentando
impedir um colapso total da economia ucraniana, ao mesmo tempo em que faz votos
para que apareça por lá algum “Putin ucraniano”.
Vladimir Putin |
Em resumo,
sim: a decisão de último minuto, pela qual Yanukovich mudou de ideia e rejeitou
a associação de seu país à União Europeia é boa notícia para a Ucrânia e para a
Rússia, mas não se pode dizer que seja “vitória” para Putin ou para a Rússia.
Primeiro,
eu não descartaria completamente a possibilidade de que Yanukovich mude
novamente de ideia (é homem sem princípios ou valores, e muda de ideia como
muda de camisa). Segundo, já vimos que o Império está em surto alucinado de
raiva e fúria por conta do recente revés que sofreu; e EUA e União Europeia não
pouparão esforços para orquestrar outra revolução em Kiev, Ucrânia. O mesmo
vale para a oposição ucraniana, que receberá agora quantia imensa de dólares do
ocidente, para criar o maior caos possível. Quanto ao povo ucraniano... só lhe
restará a opção de se manifestar em pesquisas de opinião que lhe perguntam a
pergunta errada.
Por fim,
enquanto a atual oligarquia ucraniana permanecer no poder, não há como
alimentar esperanças de qualquer melhoria significativa, nas condições de
suplício em que vivem a Ucrânia e seu povo.
Notas dos tradutores
[1] Nursultan Äbişulı Nazarbaev, presidente do Cazaquistão, eleito em
1991 e reeleito em 1999. Presidente até hoje.
[2] Aleksandr Grigorievitch Lukashenko ou Łukašenka, presidente da Bielorrússia, eleito pela primeira vez em 1994 e várias vezes reeleito.
[2] Aleksandr Grigorievitch Lukashenko ou Łukašenka, presidente da Bielorrússia, eleito pela primeira vez em 1994 e várias vezes reeleito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.