23/11/2013, [*] John Laughland
(entrevistado), Russia Today
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido no quiosque “Xuxu Frito” na Vila
Vudu: Taí! Pense bem! São notícias que você
nuuuuuunca verá/ ouvirá/ lerá na Rede Globo! [pano rápido]
“Unir-se ao velho projeto geopolítico e
ideológico europeu teria sido catastrófico para a economia da Ucrânia”,
disse a Russia Today o especialista
em economia e política John Laughland. Disse também que, hoje, quem estava
chantageando a Ucrânia para que assinasse sua carta de suicídio era a União
Europeia, não a Rússia.
Russia Today (RT): A ministra de Política
Internacional da União Europeia, Catherine Ashton, diz que a decisão da Ucrânia
de não assinar o acordo comercial proposto pela União Europeia foi um grande
desapontamento. Quem perde mais, nesse caso – a Ucrânia ou a União
Europeia?
John Laughland (JL): Perde mais
a União Europeia, por que foi quem concebeu esse Acordo de Associação, como
todos os demais acordos que está tentando assinar com estados do antigo Leste
Europeu, como seu projeto geopolítico. É muito importante compreender que,
apesar das muitas acusações que se fazem hoje contra a Rússia, é a União
Europeia, não a Rússia, quem tem a expansão para o Leste como projeto
geopolítico e, de fato, ideológico.
Já vimos
isso em setembro passado, com a Armênia, que, claro, comparada à Ucrânia é um
país minúsculo e, por isso, nem aparece no radar de muitos “especialistas”; a
Armênia optou por se associar em associação aduaneira com a Rússia e com os
outros membros da mesma união aduaneira entre Rússia, Cazaquistão, Belarus e
outros. Imediatamente, Bruxelas declarou que não poderiam assinar qualquer
Acordo de Associação com a União Europeia.
Pequena manifestação pró acordo UE-Ucrânia em Kiev foto: Gleb Garanish |
Quero dizer
que, já em setembro, a União Europeia deixou bem claro que, ou você assina o
acordo com a União Europeia, ou assina acordo com os russos. Se assinar a “integração”
aduaneira com a União Europeia, fica proibido de assinar coisa alguma com a
Rússia. Isso, porque, há 20 anos, a União Europeia trabalha num projeto
geopolítico e ideológico. Esse projeto é que hoje colidiu contra o rochedo
ucraniano.
RT: O que lhe parece a declaração do
presidente Putin, de que a União Europeia “chantageou” e “pressionou a Ucrânia”
para que suspendesse o pacto assinado com a Rússia?
JL: Putin está absolutamente certo. Toda a
imprensa-empresa ocidental o está acusando de chantagem, mas ele está certo. É
o que acabo de dizer sobre a Armênia. A União Europeia disse aos armênios que,
dado que assinaram a integração aduaneira com a Rússia, ficavam impedidos de
assinar qualquer integração com a União Europeia. Era “recado”, indireto, para
a Ucrânia. E é movimento que tem de ser visto no contexto do projeto
geopolítico da União Europeia.
Não é
simples acaso que todos os enviados da União Europeia, embaixadores e relatores
que foram escalados para essa negociação com a Ucrânia sejam poloneses. Todos
eram cidadãos poloneses. O enviado especial foi o ex-presidente da Polônia,
Aleksander Kwaśniewski; o embaixador da UE em Kiev é polonês. A incorporação da
Ucrânia à União Europeia é um antigo sonho da Polônia; os poloneses sempre
viram a Ucrânia como quintal deles. Essa é a única via para compreender essa
questão, mesmo que, afinal de contas, trate-se apenas de um acordo de comércio.
Minha opinião é que a Ucrânia raciocinou com muita inteligência.
Embaixada da União Europeia em Kiev foto: Marian Striltsiv |
E devem-se
dar os créditos também a [presidente da Ucrânia Viktor] Yanukovich, que
ofereceu a possibilidade de uma discussão entre as três “partes”: Ucrânia,
União Europeia e Rússia. Seu governo sempre disse que quer ser uma ponte entre
a União Europeia e a Rússia. Pois essa proposta da Ucrânia foi furiosamente
rejeitada pela União Europeia, precisamente porque seu projeto geopolítico é
empurrar a Rússia para o mais longe possível dos negócios europeus.
Viktor Yanukovich |
RT: Esse acordo comercial com a União
Europeia ajudaria a economia da Ucrânia, que está passando por tempos difíceis?
JL: Esse acordo acabaria, de vez, com a
economia da Ucrânia. Teria sido como um “golpe de misericórdia” numa economia
já muito enfraquecida. E não o digo só por razões de polemista. Qualquer
analista que acompanhe a história triste, em alguns casos catastrófica, das
economias do Leste Europeu, sabe também disso, como eu acompanhei nos anos
1990s e 2000s – e estou pensando especialmente nos países dos Bálcãs, países
mais frágeis como a Bulgária e a Romênia.
Mas o mesmo
vale, hoje, para países como Grécia e Chipre. Quem tenha acompanhado a história
desses países nos últimos 15-20 anos, sabe o quanto a assinatura desse tipo de
acordo com a União Europeia – e, de fato, até a “adaptação” que os países
tiveram de fazer para qualificar-se para assinar acordos de integração com a
União Europeia – foram absolutamente catastróficos para essas economias. As
indústrias, nesses países, não têm meios para enfrentar a concorrência, porque
a regulação na União Europeia é cara demais para essas economias mais fracas.
E, também, porque seus mercados naturais estão no Leste, sobretudo na Rússia.
Assinar qualquer tipo de integração comercial com a União Europeia, sobretudo
no caso de isso implicar “separar-se” da Rússia, como a chantagem europeia lhes
quer impor, é como assinar um bilhete de suicídio.
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[*] John Laughland (nascido em 06 setembro de 1963) é um jornalista britânico, eurocéptico
conservador, acadêmico e autor que escreve sobre assuntos internacionais e
filosofia política. Tem doutorado em Filosofia pela Universidade de Oxford;
estudou na Universidade de Munique, e tem sido professor na Sorbonne e no Institut d'Études Politiques de Paris. Também
possui o diploma francês de pós-doutorado, a “habilitação”, por seu trabalho
sobre “Soberania nas Relações Internacionais”.
Laughland tem contribuído artigos para o The Guardian, The Mail on Sunday, The Sunday Telegraph, The Spectator, Brussels Journal, The Wall Street Journal, National Review, The American Conservative e Antiwar.com. Também é diretor da European Foundation, um eurocentro think-tank. Laughland foi editor convidado de The Monist em janeiro de 2007. Desde 2008, ele tem sido Diretor de Estudos no Institute of Democracy and Cooperation em Paris. É membro pesquisador do Centre for the History of Central Europe na Sorbonne (Paris - IV).
Laughland tem contribuído artigos para o The Guardian, The Mail on Sunday, The Sunday Telegraph, The Spectator, Brussels Journal, The Wall Street Journal, National Review, The American Conservative e Antiwar.com. Também é diretor da European Foundation, um eurocentro think-tank. Laughland foi editor convidado de The Monist em janeiro de 2007. Desde 2008, ele tem sido Diretor de Estudos no Institute of Democracy and Cooperation em Paris. É membro pesquisador do Centre for the History of Central Europe na Sorbonne (Paris - IV).
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