29/10/2013,
[*] Manlio Dinucci, Il Manifesto, It., L’arte della guerra
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Mario Mauro e o "lobby" dos F-35 |
Quem suporia
que o professor Mario Mauro, graduado em Letras e Filosofia pela Universidade
Católica do Sagrado Coração em Milão e, além do mais, com experiência militar
de sargento, ter-se-ia convertido em expert em estratégia? Nomeado Ministro da Defesa, ele
imediatamente expediu sua “Diretiva para a comunicação estratégica”.
O presidente
Napolitano – explica-se na introdução – declarou que é preciso reagir contra a
desinformação e as polêmicas que conspurcam o aparelho militar, posto no
espírito da Constituição e ao presidir a participação italiana nas missões de
estabilização e de paz.
Informar
sobre o que faz a Defesa para cumprir seu dever institucional, não é, portanto,
apenas um dever, mas uma necessidade, para impedir a difusão de informações
erradas. Como aquela – atenção! – que nós, do jornal Il Manifesto, distribuímos em 2011,
na qual denunciamos a guerra da Líbia e as verdadeiras razões ocultadas naquela
guerra, enquanto o presidente Napolitano garantia que “não entramos em guerra;
estamos empenhados numa ação autorizada pelo Conselho de Segurança”.
Giorgio Napolitano |
A opinião
pública e os meios de comunicação em massa, destaca a “Diretiva”, devem ser
postos em condições de compreender e respeitar a necessidade de que haja um
instrumento militar capaz, flexível e ágil.
As novas
ameaças à segurança impõem que o empenho da Defesa estenda-se até bem além dos
limites nacionais, para antecipar e impedir os ataques. Resposta errada ou
distorcida à comunidade internacional (leia-se: à OTAN sob comando dos EUA)
compromete não só a imagem da Itália, mas também põe em risco os seus
interesses estratégicos e econômicos. É preciso aumentar no público a
consciência de que as operações militares contribuem para o crescimento do país
e de que a Itália deve assumir papéis e funções de responsabilidade cada vez
maior.
Um desses
papéis-funções é, por exemplo, como Mauro confirmou em recente reunião dos
ministros de Defesa dos países da OTAN, participar com contingente de mais 20
mil soldados do exército que permanecerão no Afeganistão depois de 2014, ação
que custará 4 bilhões de dólares por ano, para fortalecer o governo afegão (um
dos mais corruptos do mundo).
Nas
operações militares, como ensina a “Diretiva”, a comunicação estratégica deve
ser considerada a base das demais funções operativas. Em outras palavras,
quando se empenham forças militares nas guerras, é preciso, simultaneamente,
convencer os cidadãos sobre a necessidade de fazê-lo. Essa função específica de
convencimento, também ensina a “Diretiva”, deve ser cumprida no contato com as
comunidades que vivam em áreas próximas das instalações militares (convencendo,
por exemplo, a população de Niscemi a aceitar as antenas-monstrengos do Mobile User Objective System, MUOS
[1] dos EUA); e os demais cidadãos, a
aceitarem os programas militares de investimento (quer dizer: convencendo todo
mundo de que é excelente consumir 15 bilhões de euros para comprar caças F-35).
Sistema MUOS de comunicação |
A
comunicação estratégica é dirigida em geral aos meios de comunicação, ao mundo
da escola, às universidades, às associações culturais. Deve ao mesmo tempo
visar aos “atores culturais” (jornalistas, diretores de programas de televisão,
blogueiros e outros, para que esses convençam a opinião pública a defender as forças
armadas e suas operações) e aos “decisores políticos” (deputados e senadores,
porque votam leis que reforçam o setor militar).
Não se trata
só de informar os destinatários preferenciais da Defesa, esclarece a
“Diretiva”, mas também outros que estejam envolvidos no bom êxito das decisões
tomadas pela Defesa. Em outras palavras: a campanha que o Ministério da Defesa
da Itália está pondo em marcha não é apenas uma colossal campanha de
desinformação, concebida e posta em ação por pessoal escolhido e especialmente
formado para a função de desinformar. Ela é também um verdadeiro e amplo plano
para militarizar todas as mentes.
Nota dos
tradutores
[1] O sistema MUOS (Mobile User
Objective System) é sistema de última geração de comunicações
militares por satélite, previsto para melhorar
significativamente a comunicação em solo para as forças dos EUA que estejam em
deslocamento, e para facilitar o emprego dos “usuários combatentes
transportadores de unidades celulares de comunicação” (especialmente os drones) por todo o planeta. O
sistema MUOS oferece simultaneamente capacidade para
voz, vídeo e armazenamento de dados, e usa a tecnologia 3G de comunicação de
telefonia celular. O MUOS oferece
capacidade dez vezes maior de comunicação que os sistemas atuais. As naves MUOS são o primeiro modelo de um sistema de
comunicação por satélite que substituirá o sistema Ultra High Frequency Follow-On (mais, em 27/8/2013, “Sicily Against War: Resisting
the Niscemi US Military Base” [Sicília contra a guerra: resistência
contra a base militar dos EUA em Niscemi]. Sobre o sistema MUOS, ver em: “Mobile
User Objective System-2 Satellite Launch”.
População de Niscemi -Sicilia, It. é contra a instalação do MUOS |
__________________
[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo
italiano. Últimas publicações: Geocommunity Ed.
Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo
secolo, Zanichelli 2010; Escalation. Anatomia della
guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.