7/11/2013, The Saker, Blog The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Alain Soral e Dieudonne M'bala M'bala |
Começo hoje
uma série de artigos sobre o que creio que seja a crise extremamente profunda
pela qual passa a Europa e sobre o potencial dessa crise para resultar em
alguns eventos cataclísmicos. Começo por dar uma olhada ao que se passa na
França, provavelmente o país que mais bem conheço e, também, um dos que, me
parece, tem grande potencial para gerar uma explosão com consequências de longo
alcance.
Pode-se
considerar a situação econômica e financeira da França (catastrófica), ou os
muitos problemas sociais que assolam a já muito frustrada população francesa,
mas quero focar um aspecto específico da atual crise francesa: a amplíssima
distância que separa a maioria da população, de um lado, e as elites
governantes, de outro, e que ilustrarei com caso muito eloquente: a crescente
histeria que acometeu as elites francesas, por causa de um filósofo – Alain Soral – e um
comediante de show de piadas, um stand-up comedian – Dieudonne
M'bala M'bala.
Já escrevi
sobre essas pessoas notáveis [1] [2] [3]
e vocês devem ler aqueles artigos para fazerem um quadro melhor do que está
acontecendo agora. Para os que realmente não queiram ler páginas antigas,
começo pela seguinte mini-introdução.
Dieudonne
M'bala M'bala
é franco-camaronês e era, de longe, o cômico
mais popular na França, até que fez um pequeno sketch sobre um colono
israelense religioso, na televisão francesa. A cena nem foi particularmente
engraçada, mas enfureceu, realmente enfureceu, o equivalente francês do
AIPAC-EUA – que na França se chama Comissão de Relações Israel-França, CRIF – e
que começou uma campanha sistemática para silenciar “Dieudo” [pr. /Diô-dô/]
como é conhecido na França. Dieudo recusou-se a encolher-se e retaliou, fazendo
piada dos que o estavam perseguindo, o que o converteu em ídolo dos muitos que
odeiam as elites financeiras que governam a França desde 1969. Hoje, já
completamente banido de todos os veículos da imprensa-empresa em todo o país,
Dieudo ainda é o cômico mais popular na França.
Alain Soral é autor e
filósofo francês, cuja carreira política incluiu uma filiação ao Partido
Comunista Francês e à Frente Nacional. Credita-se a ele o desenvolvimento do
conceito de “esquerda do trabalho/direita dos valores” [orig. gauche du
travail - droite des valeurs], que se pode resumir como a defesa,
simultânea, de ideias e medidas sociais/socialistas nas questões econômicas e
sociais, combinadas com moral, ética e valores éticos e religiosos
conservadores nas questões ideológicas, éticas e culturais. É fundador de um
movimento interessante chamado “Igualdade e Reconciliação” [orig. Égalité et
Reconciliation], que visa a reconciliar o povo nativo francês
(chamado français de souche [francês de raiz]) e o povo francês
recentemente imigrado para a França (chamado français de branche [francês
de galho, ou de ramagem]) e fazê-los coexistir em completa igualdade.
Igualdade e Reconciliação (Égalité & Réconciliation) |
Por causa
de suas inúmeras ideias “politicamente incorretas” e declarações sem meias
palavras, Soral é absolutamente odiado e temido pela classe governante na
França. Embora Soral também tenha sido completamente banido de todos os
veículos da imprensa-empresa, continua a ser imensamente popular entre o
público em geral e seus livros são todos best-sellers.
Soral e
Dieudo são pessoas muito diferentes, têm backgrounds muito diferentes e
diferentes personalidades. Tempo houve, até, em que foram críticos ferozes um
do outro. Mas então as elites francesas decidiram destruí-los, ambos; e eles,
então se aproximaram e hoje são bons amigos e apoiam-se mutuamente. Resultado
disso, temos esse fenômeno realmente bizarro: um filósofo branco e um
comediante negro tornaram-se, unidos, uma espécie de Emmanuel Goldstein [4]
de duas cabeças da França moderna: as elites os odeiam e a imprensa-empresa
entrou num frenesi tipo “dois minutos de ódio” [5] orwelliano,
para convencer o povo francês de que Soral e/ou Dieudo são quase uma reencarnação
de Adolf Hitler. Desnecessário dizer que é ideia tão estúpida, que Dieudo vive
a fazer piadas sobre ela em seus shows, enquanto Soral a ridiculariza em
seus livros e a usa para demonstrar que a França é governada por uma elite
minúscula de felásdaputa pervertidos e arrogantes.
Verdade
seja dita: tem-se de admitir que as elites francesas enfrentam, neles, dois
inimigos formidáveis. Dieudonne é realmente um dos comediantes mais talentosos
de todo o cenário francês; e Soral é, sem dúvida possível, o filósofo mais
original e brilhante que a França conheceu desde a 2ª Guerra Mundial. Além do
mais, a lei francesa torna muito difícil banir completamente um show ou
um livro. Deus sabe o quanto as elites francesas tentara. Ambos, Dieudo e
Soral, foram várias vezes processados por “racismo” e “antissemitismo”; ambos
foram fisicamente agredidos por bandidos da Liga de Defesa dos Judeus (LDJ); e
ambos são seguidamente acossados pelas autoridades (versões francesas do FBI e
Segurança Nacional dos EUA). Já bem claramente, a campanha de perseguição saiu
pela culatra e já assegurou a Dieudo e Soral status (bem merecido) de mártires. Para concluir, Dieudo e Soral
revelaram-se usuários altamente sofisticados da Internet, onde seus shows,
eventos especiais, entrevistas, livros, eventos mensais tornaram-se altamente
populares e vistos por muitos milhões de pessoas, na França e em todo o planeta
de língua francesa.
Gradualmente,
Soral e Dieudo construíram um movimento político real, ativo no front da
internet e das questões internacionais.
Como já
disse, o movimento “Igualdade e Reconciliação”, “E&R” defende plena
aceitação e total integração dos imigrantes muçulmanos, na sociedade francesa. É
crucialmente importante, porque, diferente do que prega a Frente Nacional,
E&R não advoga pela expulsão de todos os imigrantes para bem longe da
França. E mais, porque E&R também rejeita a ideia de que os imigrantes sejam
qualquer verdadeiro problema. Claro, E&R não nega que o desemprego seja
altíssimo na França, nem nega que alta porcentagem do crime e violência na
França sejam cometidos por imigrantes, mas vê a coisa como efeito de erros políticos que vêm sendo cometidos há muito
tempo, não como causa dos problemas da França.
Assim
também, o movimento E&R é aberta e declaradamente pró-muçulmanos. Não
em algum sentido religioso, porque a maioria dos membros de E&R não são
gente muito religiosa, mas, mais, no sentido cultural.
E&R vê
o Islã e o Catolicismo Romano francês como duas fontes de civilização, ética e
moralidade, seja alguém religioso ou não, e deixa que cada um decida sobre a
teologia dessas religiões. É muito diferente do absolutamente estéril “diálogo
ecumênico” que procura encontrar ensinamentos comuns a Jesus Cristo e ao
Profeta Maomé, ao mesmo tempo em que desesperadamente tenta não ver e não
deixar ver as diferenças reais e profundas entre as duas teologias. E&R
fala de uma instância comum em muitas, se não em todas, as questões que os
franceses muçulmanos e os franceses cristãos enfrentam. E isso faz perfeito
sentido.
Pensem no
seguinte: islamismo e cristianismo opõem-se declaradamente aos valores do
capitalismo, da maximização dos lucros, da especulação, à usura, à imoralidade
sexual, à destruição da família tribal tradicional, ao imperialismo, etc.. Ainda
que as raízes teológicas do Islã e do Cristianismo sejam diferentes,
praticamente todos os seus ensinamentos éticos filosóficos são muito
semelhantes. Francamente, só me ocorre uma diferença considerável, e tem a ver
com visões fundamentalmente diferentes que muçulmanos e cristãos têm sobre a
pena de morte. Mas a pena de morte foi abolida na França em 1981 e, hoje, essa
diferença já praticamente nada significa.
Evidentemente,
o Cristianismo e o Islã têm seus desvios perversos, sejam as políticas
plutocráticas genocidas do Papado no passado, sejam os wahabistas comedores de
fígados que o mundo enfrenta hoje, mas E&R consegue facilmente rejeitá-los
e condená-los. Do lado dos cristãos, E&R advoga um tipo de catolicismo
romano popular que havia na França pré-revolução de 1789 e que pouco tem a ver
com os piores excessos do Papado. Do lado dos muçulmanos, E&R mantém-se
sempre bem próximo dos ensinamentos de Sheikh Imran Hosein e de Sayyed Hassan Nasrallah. São também
próximos do Centre Zahra em Paris, mantido por iranianos. Eu diria
que os muçulmanos atraídos para o movimento E&R são do mesmo tipo que os
cristãos que o movimento atrái: politicamente progressistas, religiosos convictos,
praticantes, mas tolerantes.
Desnecessário
dizer que o potencial desse movimento radicalmente novo é imenso, porque une
esquerda e direita; cristãos e muçulmanos; religiosos e seculares (desde que
não sejam ateístas militantes); nativos e imigrantes; brancos e negros; ricos e
pobres.
Mas o que
parece realmente detonar o pânico entre as elites francesas é a profunda
penetração que o movimento obtém nos notórios “banlieues” franceses, nas
periferias das cidades, nos subúrbios pobres e destituídos de tudo, e que, ao
longo das últimas décadas, encheram-se de imigrantes africanos, e que se
converteram em áreas fechadas, inacessíveis, sem lei, onde o crime impera.
Para
entender esse fenômeno, é crucial entender que o crime na França NÃO É, eu disse
“NÃO É”, produto dos novos ou antigos emigrados, nem dos muçulmanos religiosos.
Imigrantes, novos ou antigos, muçulmanos e religiosos têm fortes raízes
culturais, familiares, clânicas e estilos de vida que absolutamente não
favorecem a vida criminosa. E a miséria, tampouco, tem algo a ver com isso.
Pessoalmente,
morei por 20 anos ao lado de uma grande mesquita frequentada por multidões de
muçulmanos muito pobres, da África subsaariana, Maghreb, Bálcãs e do Oriente
Médio, e posso testemunhar que nunca, nunca, literalmente, nenhuma vez, algum
crime foi cometido naquela área por pessoas que frequentavam aquela mesquita.
Bem ao contrário disso, aqueles muçulmanos religiosos que frequentavam a
mesquita eram muito mais bem educados, mais corteses, mais gentis, que os
locais.
De fato,
era bem visível que aquelas pessoas dedicavam-se, atenta e empenhadamente, a
mostrar aos locais (sempre assustados à primeira vista, nos primeiros contatos)
que não havia por que temê-las. O pior “crime” que cometiam regularmente era
estacionar os carros na esquina, mas, isso, porque não havia onde estacionar os
carros. E, ao final de cada Mês Santo do Ramadan, os muçulmanos convidavam todo
o bairro para celebrar com eles, para provar os pratos deliciosos que ofereciam,
e para visitar a mesquita. Dizer que aqueles muçulmanos são cidadãos perfeitos
ainda é dizer muito pouco.
O chamado
“crime muçulmano” na França é sempre conectado às gangues de segunda geração,
de jovens, que perderam as raízes culturais e religiosas e sabem pouco ou nada
sobre elas hoje, e que, simultaneamente, são rejeitados pela população local de
franceses nativos. Como Soral gosta de dizer “ninguém sai da mesquita
diretamente para um surto de estupro em gangue”. É uma coisa ou outra, não as
duas. Soral chama esses bandidos de “Islamo-racaille”(fr.), expressão
que pode ser traduzida por “islamo-gangues” [orig. “Islamo-thugs”] –
tipos horríveis, perigosos, sem noção de certo e errado, e que exteriorizam sua
alienação atacando os franceses nativos que eles odeiam. São os tipos que
sentem profunda atração pela brutalidade crua do wahabismo e acabam matando
policiais na França ou se unem aos comedores de fígado humano na Síria. Neles,
o “Islã” não passa de pretexto, de justificativa pia para o banditismo
psicopático. Suspeito que muitos Cruzados medievais tinham exatamente esse
perfil psicológico.
Muitos
jovens imigrantes estão, é claro, em algum ponto entre o tipo “família e
religioso praticante” e o tipo “fora-da-lei sem noção”. E, pela primeira vez,
um movimento político relevante oferece a eles uma opção muito atraente, o
E&R.
Na
essência, E&R diz a eles “em vez de não ser nem uma coisa nem outra, seja
as duas – seja muçulmano e francês; não odeie os nativos que sofrem a
mesma opressão que vocês sofrem e que são os melhores amigos e aliados de
vocês; nossos inimigos querem nos jogar uns contra outros, para melhor nos
controlar; temos portanto de nos unir e nos manter juntos”. Essa é mensagem
nova e original.
No passado,
só dois movimentos encararam abertamente a questão da imigração. Por um lado,
tinha-se a Frente Nacional, que pregava políticas como a “preferência nacional”
(melhores leis sociais e trabalhistas só para os nativos); “tolerância zero”
com o crime (mais polícia, leis mais duras, cadeias cada vez maiores e mais
lotadas) e a expulsão de todos os imigrantes (exceto talvez os que tivessem
passaporte francês, mas até isso era controvertido). Do outro lado, havia uma
organização criada pelo Partido Socialista chamada “SOS Racismo”, que
abertamente pregava que os imigrantes rejeitassem a cultura local francesa; os
imigrantes, sob o slogan bem-soante de “direito de ser diferente”, eram
induzidos a odiar os nativos e a exigir que a sociedade francesa aceitasse
integralmente suas culturas de origem. Ao longo de 20 anos, as “griffes” da
Frente Nacional e de SOS Racismo só fizeram agravar cada dia mais,
infinitamente, a questão da imigração na França. O mais recente e
particularmente horrível desenvolvimento nessa linha de disputa foi a nova
linha política que está sendo promovida pelas elites francesas.
As mesmas
elites que há 20 anos criaram e financiaram clandestinamente o movimento SOS
Racismo e seu ridículo slogan “Não toque no meu amigo” [orig. “Touche pas a
mon pote”], declara agora
que os muçulmanos, sim, de fato, são problema grave. Enquanto, no passado,
essas elites sistematicamente ridicularizaram o cristianismo, hoje dizem que “o
Islã não é compatível com a República”. Quanto aos jovens nas periferias [nas banlieues],
são hoje pintados como terroristas em potencial, em “células dormentes” da al-Qaeda.
Resultado
disso, quando as elites francesas não estão ocupadas com legalizar casamentos
homoafetivos, estão ocupadas proibindo o véu nas escolas e reclamando de
excesso de carnes halal [tratadas como prescreve a lei da Xaria (NTs)]
nos açougues. E, embora apenas uma mínima porcentagem de mulheres muçulmanas na
França andem veladas pelas ruas, as elites francesas agora proibiram
oficialmente a burqa e o niqab em lugares públicos. Bem
evidentemente, os imigrantes muçulmanos na França foram degradados, de “companheiros”,
para inimigos.
Contra tudo
isso, mais e mais jovens imigrantes voam em bandos para o movimento de Soral,
Dieudonne e E&R, cuja popularidade cresce rapidamente. Recentemente,
aconteceu algo realmente incrível, que seria impensável há poucos anos.
Em um de
seus sketches, Dieudo cantou uma música intitulada “Shoananas”,
trocadilho com as palavras Shoah (do hebraico HaShoah,
“desastre”, palavra pela qual os judeus franceses frequentemente designam o
holocausto de judeus) e ananás [fr. “abacaxi”]. Imediatamente, como era
de esperar, o CRIF, o SOS Racismo e outras organizações processaram Dieudo por
“incitação ao ódio”. Dieudo foi condenado a pagar multa de 20 mil euros, e
apelou contra a condenação. No dia em que Dieudo apresentava sua apelação ao
tribunal, aconteceu uma coisa absolutamente extraordinária.
Encontrei
dois vídeos em YouTube que mostram o evento e que colo nessa página, porque é
alta a probabilidade de que um, ou os dois, sejam retirados da rede (pessoal,
baixem logo, enquanto dá!). Aí estão eles:
Versão curta:
Versão mais longa:
Para os que
não entendem francês, resumo o que aí acontece.
Elementos
da Liga de Defesa dos Judeus (LDJ) apareceram no tribunal para gritar
insultos contra Dieudo e seus apoiadores, os quais revidaram gritando insultos
contra elementos da LDJ, ao mesmo tempo em que jogam abacaxis contra
eles, cantando “Shoananas”. Os policiais faziam o que podiam para manter os
dois blocos separados. De repente, os apoiadores de Dieudo começaram a cantar
“liberdade de expressão” [fr. liberte d'expression], ao que os
apoiadores da LDJ responderam com gritos de “am Israel hai”
(“Israel vive”, em hebraico) e começaram a cantar o hino nacional de Israel.
Nessa altura, os apoiadores de Dieudo começaram a cantar “A Marselhesa”, a
plenos pulmões, canto que imediatamente sobrepujou a voz dos ativistas da Liga
de Defesa dos Judeus.
Mas...
examinem melhor os rostos que cantam “A Marselhesa”: conseguem ver que muitos,
ali, são mulatos e negros? São, precisamente, os jovens vindos sobretudo,
embora não exclusivamente, das famosas “periferias”. Bem poderiam ser,
exatamente, os mesmos que, em 2001 e 2002 vaiavam o Hino Nacional da França
quando era executado nos campos de futebol (o que causou imenso escândalo, à
época).
“A
Marselhesa” é primeiro e sobretudo, um canto revolucionário, e quando aparece
muito mais berrado que cantado por multidões de pobres de punhos erguidos, é
claro que se está diante de desenvolvimento muito, muito, muito sério. Desnecessário
dizer que nada disso foi “notícia” na imprensa-empresa francesa. Mas pode-se
apostar que as elites viram tudo aquilo. E é fácil imaginar o medo que aquelas
imagens lhes inspiraram.
Coincidência
ou não, quando os policiais ouviram aquela multidão a cantar “A Marselhesa” aos
gritos, imediatamente começaram a tirar os ativistas da LDJ de dentro do prédio
do Tribunal. Nem chega a surpreender, se se considera a imensa popularidade de
que gozam Dieudo e Soral entre os quadros das várias corporações uniformizadas
na França (adiante, mais sobre isso).
Alguma
coisa de muito importante e de muito novo está acontecendo na França.
O paradigma
tradicional de Direita x Esquerda está ruindo, dentre outros motivos, no
mínimo, porque a “Direita” oficial e a “Esquerda” oficial já são praticamente
idênticas, indistinguíveis uma da outra.
Simultaneamente,
o fenômeno E&R vai-se tornando não apenas maior, mas mais profundo. Mais
e mais jovens franceses olham para trás, para a história da França desde 1945 e
vão aos poucos dando-se conta de que o país tem sido governado por um bando de
plutocratas arrogantes que derrubaram de Gaulle em 1968 e que substituíram um
notável líder nacional por um protege da família Rothschild, Georges
Pompidou, que começou sua carreira como diretor do Banco Rothschild e que,
adiante, foi escolhido pelas elites francesas para substituir de Gaulle.
A
plutocracia francesa a qual, associada à CIA, orquestrou clandestinamente os
eventos do “Maio de 68”,
para fazer a “mudança de regime” na França, passou a ter rédea solta para mudar
radicalmente a via política “soberanista” traçada por de Gaulle.
Alguém aí
adivinha quando começou a política de importar mão de obra barata para a
França? Com Pompidou, precisamente, é claro! Agora, graças ao movimento
E&R, ambos, os pobres nativos franceses e os pobres imigrantes estão
redescobrindo sua história comum e começam a compreender que os dois
grupos foram vítimas das mesmas políticas.
Enquanto
isso, o regime governante comete uma estupidez depois de outra. A mais recente
é simultaneamente muito engraçada e muito séria. Trata-se do imenso escândalo
em torno da “quenelle”.
Quenelle de brochet au sauce Nantua |
Originalmente,
a quenelle era um prato francês que, se bem preparado, pode ser
delicioso. Cozida no formato de bastão, a [palavra] quenelle há muito
tempo ganhou outro significado, de gíria. Digamos que a expressão em francês
“meto-lhe uma quenelle” tem similares em várias línguas, facilmente
compreensíveis.
Dieudo e a "quenelle" |
Dieudonne provavelmente
não percebeu as complexas consequências que adviriam de suas palavras, quando
passou a referir-se repetidamente em suas piadas, ao regime governante, como
“uma quenelle”. Para enfatizar, Dieudo passou a mostrar, com os braços,
os vários tamanhos de “quenelles” que ele, ou seus apoiadores, estavam
“metendo” nas elites. As pequenas, como ele mostrava, mediam um palmo; as
grandes, as realmente bem-sucedidas, mediam o comprimento de um braço esticado.
Na imagem ao lado, vê-se Dieudo mostrando exatamente o comprimento da tal quenelle.
Essa imagem
tornou-se viral e converteu-se rapidamente em meme de Internet e mais e mais
pessoas adotaram o gesto, como signo de algo como “f*der o sistema”, “enrabar o
governo” ou “aqui p’rá você, presidente [Hollande]!”.
Para
piorar, passou a ser uma espécie de esporte nacional aproximar-se de políticos
conhecidos e tirar uma foto ao lado dele, fazendo o gesto da quenelle. Apareciam
quenelles por todos os cantos, sobretudo quando alguém conseguia
fotografar-se ao lado de alguém do governo.
Na foto que
se vê logo abaixo, aparece o ministro francês do Interior, Manuel Valls,
sionista pervertido, que pregou abertamente a repressão violenta contra
Dieudonne e Soral, em discurso ao Congresso do Partido Socialista. Valls é o
idiota imbecil sorridente que nada percebeu e aparece no centro da foto, cercado
de jovens franceses que lhe “dão a quenelle”. Desnecessário dizer que,
quando a foto foi divulgada, o país explodiu em gargalhadas, o que só fez
aumentar a fama da “quenelle”.
Manuel Valls levou suas "quenelles" |
A Liga
Contra o Racismo e o Antissemitismo da França declarou que a quenelle era
“uma saudação nazista invertida, usada como símbolo
da sodomização das vítimas do Shoah”. Sério! Como seria de prever, a
internet francesa ribombou de gargalhadas.
O governo
não achou graça nenhuma e reagiu com a paranoia típica dos Stalins e Saddams
Husseins: literalmente, lançou uma caça às bruxas para “detectar”quenelles
mais explícitas ou menos, e onde e quando alguma foi “detectada”, tentou punir
os responsável no caso de ser funcionário público, sobretudo entre policiais e
militares. Simultaneamente, a internet foi inundada de todo o tipo de gente a
fazer quenelles e desafiar a ira do regime.
Dieudo,
claro, convocou militares e soldados uniformizados para seu teatro em Paris,
para encenarem, todos juntos, uma quenelle cênica, ao lado do astro. E
criou uma página na internet exclusivamente dedicada a fotos de pessoas em
uniforme, a fazer quenelles. A página esteve em Les Quenelles
[mas já não está no ar (NTs)].
Apoiem nossos irmãos "queneleiros" |
Agora, o
governo francês já não sabe o que fazer, perdido e confuso. Por um lado, é
simplesmente impossível processar todas as pessoas que são mostradas na prática
do gesto; é impossível, até, processar todos os policiais e militares
uniformizados que alguém viu a fazer a quenelle. De início, o comandante
do Exército exigiu “sanções exemplares” contra os dois primeiros soldados que
fizeram uma quenelle à frente de uma sinagoga onde estavam de guarda;
mas, agora, tem de punir legiões e legiões de soldados que insistem em repetir
o gesto, a maioria dos quais, seja por qual motivo for, odeiam o governo. Por
outro lado, como o governo francês pode ignorar o fato de que está sendo
abertamente desafiado e ridicularizado nas ruas?
Assim
afinal chegamos a um tópico cuja importância não há como superestimar; um tema
que, mais importante, simplesmente não há:como se pode promover mudança de
regime, numa democracia que já foi completamente subornada, comprada e paga,
por uma plutocracia?
Soldados “quenelleiros” se encontram na estrada... |
Essa é
questão absolutamente crucial para a França, tanto quanto para os EUA, o Reino
Unido e qualquer outro país da União Europeia; e a resposta a ela parece
escapar sempre aos milhões de pessoas no Ocidente que vivem absolutamente
desgostosas com o regime que as governa, mas não veem qualquer via realista
para mudar tudo.
A
violência, claramente, não é opção. O regime já foi suficientemente esperto
para classificar qualquer forma de “ação direta” como “terrorismo”, ao mesmo
tempo em que criou um monstruoso estado-espião que já superou, em muito, a Securitate
de Ceausescu. Se você jogar um tijolo, que seja, contra uma autoridade, ela o
rotula de terrorista e o mete na cadeia por décadas.
Entrar no
jogo eleitoral é perda de tempo. Os plutocratas são proprietários da
imprensa-empresa, a qual, erguida sobre os ombros de publicitários do quilate
de Edward Bernays já aprendeu a impor lavagem cerebral a vastas populações,
muito mais eficientemente do que Hitler ou Kim Il-Sung jamais conseguiram. Basicamente,
como se viu na
Assembleia do Estado de Washington, EUA, ontem (6/11/2013), [6] todas as eleições são compradas. É isso.
Ponto. Parágrafo. A ideia de “um homem um voto” já foi substituída por “um
dólar um voto”.
Tentar
convencer pessoas por campanhas regulares de informação também já está provado
que não funciona. Quem precise ainda de argumentos, considere as mentiras que o
movimento “Verdade sobre o 11/9” descobriu, desmontou e comprovou além de
qualquer dúvida razoável – as Torres Gêmeas e o prédio WTC7 foram derrubados
por demolição controlada. E essas provas tiveram impacto ZERO sobre o
processo político nos EUA. – Isso prova que a maioria das pessoas já foram
zumbificadas além do ponto de salvação, ou entregaram os pontos, destruídas
pela esperança nenhuma e por desgosto e desespero totais.
Mesmo
assim, nós, as pessoas “comuns”, temos, sim, ainda, uma arma formidável:
podemos demonstrar nossa total falta de respeito por governos que não nos
respeitam e por seus valores. Como Dieudo, podemos rir deles. Deus sabe o quanto
todos andamos precisados de uma boa gargalhada! Podemos rir muito, se
manifestarmos nosso completo desprezo pelas instituições que o estado tanto se
esforça para nos obrigar a respeitar.
Para
começar, temos de rir e fazer rir da voz do poder – a imprensa-empresa. – E
temos de rir e fazer rir de toda a liturgia do poder – as eleições.
Mas não
podemos fazer só isso, porque esse é só o primeiro passo. Em seguida, seguindo
o exemplo de Dieudo e Soral temos de usar cada oportunidade que haja para
manifestar abertamente nosso total desprezo por qualquer coisa ou instituição
que mostre reverência aos governos da plutocracia e aos seus valores. Não só
isso, mas temos também de denunciar todos esses propagandistas como “panacas
pagos pelo regime” – exatamente o que eles são. Por fim, temos de forçar o
regime a mostrar sua verdadeira cara, obrigando-o a agir contra nós.
O humor tem
papel crucial nesse processo, porque – pelo menos por hora – ainda não foi
declarado ilegal. O humor também é arma valiosíssima para atacar a legitimidade
do regime. Aqui, penso nos muitos quadros que o falecido George Carlin
apresentou, sobre o governo dos EUA, como os que se vêem a seguir (em inglês):
Carlin era
brilhante, mas não teve a excepcional oportunidade que Dieudo e Soral estão
tendo hoje, com devastador sucesso: hoje há uma ampla porcentagem da população
que já está, não só muito distanciada do poder que a governa, mas, também, que
tem os fundamentos para ousar considerar outro modelo: falo, é claro, dos imigrantes
muçulmanos na França.
Louis Farrakhan |
Sim, os EUA
tem a “Nação do Islã”, com líder muito interessante, Louis Farrakhan. Mas o problema com a Nação do Islã é que
seus ensinamentos não são verdadeiramente islâmicos, o que os mantém separados
do resto do vasto mundo islâmico. Além disso, desde o assassinato de Malcolm X
por dois ativistas da Nação do Islã, suspeito que todo o movimento esteja
irrecuperavelmente invadido por espiões do FBI.
Mas na
França a comunidade islâmica tem ligação muito mais orgânica com o mundo
islâmico, inclusive com países como o Irã, que promove visão muito mais
refinada e sofisticada das falhas da sociedade ocidental contemporânea que
qualquer das mesquitas pró-governo na França e em todo o mundo, ou que os
wahabistas.
É irônico,
sim, que o francês, que por tantos anos viu a imigração muçulmana para seu país
como uma maldição, esteja começando, lentamente, a perceber que pode ter sido,
isso sim, uma bênção.
Não quero
pintar quadro róseo do Islã na França: há muitos problemas a resolver, tanto
para os franceses nativos como para os imigrantes, e algumas formas do Islã não
são provavelmente compatíveis com as tradições e a cultura originais francesas.
E, sim, há muitos sinais de que a situação que hoje fermenta pode explodir,
mais dia menos dia. Mas o fenômeno Dieudo-Soral-E&R dá-me esperanças de que
a explosão não tenha de ser destrutiva, que pode ser explosão libertadora.
O que é
garantido, para mim, é que acontecerá alguma explosão. Não só se a França
chegar à completa ruína, mas porque o regime governante hoje perde a legitimidade,
literalmente, dia a dia. Se chegar a ser confrontado, e há real possibilidade
de que aconteça na França, não é absolutamente assegurado que a polícia e as
forças de segurança permanecerão leais à plutocracia governante, a qual, bem
feitas as contas, só fez tornar ainda muito pior do que antes a vida dos
policiais regulares.
Pierre Jovanovic |
Posso
facilmente imaginar um “feriado bancário” que se converte em levante violento
e, depois, tudo pode acontecer. Um dos mais notáveis observadores da cena
francesa, o economista e autor Pierre Jovanovic, entende que o presidente François
Hollande não conseguirá sequer chegar ao fim de seu mandato.
Ora, é
claro que não espero que Dieudo ou Soral tornem-se presidente ou
primeiro-ministro, nem que o movimento E&R converta-se em grande partido
político (para começar, seus criadores não registraram o movimento como partido
político). Não se trata disso. Espero, isso sim, que esse movimento contribua para
uma redefinição da cena política francesa e crie uma força suficiente para
virar de cabeça para baixo o atual establishment do poder, coisa que não
se vê desde Maio de 1968 (a Frente Nacional, cuja ascensão foi secretamente
ajudada pelos socialistas franceses, para dividir a direita francesa, há muito
tempo já foi cooptada pelo sistema).
Considerando
as profundas crises sistêmicas e estruturais em que se debate hoje a Europa, a
França poderia dar o exemplo e o primeiro passo, se por mais não for, porque os
problemas da França não são muito diferentes dos problemas que atormentam o
resto da Europa ocidental.
[assina]
The Saker
Notas de rodapé
[1] 18/5/2009, em: “Israel lobby commits major blunder
in France: tries to silence a comedian”
[2] 5/6/2009, em: “Dieudonne's anti-Zionist campaign in
full swing in France”
[3]
20/8/2012, em: “Russia’s
prevailing ideological consensus: sovereignism and anti-capitalism”
[4] Emmanuel Goldstein
é personagem de 1984, de George Orwell. É o inimigo n. 1 do estado,
segundo o Partido. É apresentado como o cabeça de uma organização misteriosa anti-partido chamada “A Fraternidade” (que
talvez seja fictícia); e é autor de um livro: “Teoria e Prática do Coletivismo
Oligárquico”. Embora seja elemento chave da trama, só é visto e ouvido numa
tela e talvez, de fato, não passe de útil criação de propaganda do Ministério
da Verdade [NTs]
[5] “Dois minutos de ódio”
também é ideia de 1964 de George Orwell; é um período diário, durante o
qual o Partido e a sociedade de Oceania têm de assistir a um filme que mostra
os inimigos do Partido (quase sempre Emmanuel Goldstein e seus seguidores) e
devem manifestar seu ódio contra eles. Uma espécie de “coluna do Jabor”, da
rede Globo, contra o governo da presidenta Dilma do Brasil [NTs]
[6] 6/11/2013,
“Estado de Washington
vota contra a rotulagem de produtos geneticamente modificados”, Russia
Today.
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