Dividir nações soberanas & substituí-las por sistemas de administração
global
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu (sugestão do Chico Villela)
Leia antes:
Parte 3: O imperialismo reimaginado para o
século 21
Mapa do Pentágono que, sob o disfarce de "Combate ao Terrorismo", demonstra o Imperialismo do século 21 (clique na imagem para aumentar) |
Já vimos
alguns exemplos de como o imperialismo está vivo e bem. Também já vimos como o
imperialismo foi implantado pelos britânicos. Mas como, exatamente, está sendo
implantado e mantido hoje? E por que tantos embarcam, por vontade própria,
nesse navio fantasma?
Vídeo: Thomas
Barnett descreve a construção de um exército de “sistemas administradores”
(codinome: “sociedade civil”), para expandir-se em “espaços de paz”, ao mesmo
tempo em que os exércitos globais norte-americanos expandem-se nos “espaços de
batalhas”. A ONG Revenue Watch de Georges
Soros, e a organização National Endowment
for Democracy criaram precisamente esse exército de ONGs.
E, assim
como tantos soldados promovem o imperialismo, convencidos de que estariam
lutando por “liberdade”, inúmeros militantes dessas ONGs expandem os tentáculos
globais de Wall Street & London, convencidos de que estariam promovendo
“direitos humanos”.
....
A expressão
“sistemas administradores” foi usada pelo estrategista militar do EUA, Thomas
Barnett, para uma audiência embevecida, na conferência “2008 TED [Technology,
Entertainment, Design]” intitulada
“The Pentagon’s New Map for War & Peace” [O novo mapa do Pentágono
para Guerra & Paz] (vídeo acima). Aos
18 minutos desse vídeo, Barnett começa a explicar um conceito de como reformar
os militares dividindo-os em duas forças separadas, “a força de Leviatã que os
EUA já construíram” e “os sistemas administradores”.
A primeira
daquelas forças derruba as redes em operação nos países-alvos, usando ataques
aéreos, operações especiais, invasões; para isso, precisa de soldados, armamento,
munição, bombardeiros. A segunda, consiste de sistemas administradores que
passam a construir sobre as cinzas deixadas pela “força Leviatã” ou sobre o
caos semeado por uma “desestabilização” paga com dinheiro vindo de fora. Esses
“sistemas administradores” incluem tudo: de ONGs, organizações internacionais e
empresários e empresas, até agentes civis e de negócios internos (guerra
psicológica) e às vezes, sendo necessário, também soldados e Marines.
Barnett
avisa que se alguém tentar interferir na construção das redes de “sistemas
administradores” do ocidente, “os Marines vêm aí e matam você!”.
Provavelmente, exatamente o que os soldados ingleses faziam, sempre que havia
insatisfação nas suas colônias.
O Massacre de Boston. Os que resistam contra os “sistemas administradores”, muito cuidado! Metam-se a querer contê-los, e “os Marines vêm aí e matam vocês!” |
...
Aquela
palestra do vídeo acima aconteceu em 2008, e já vemos passos sólidos dados na direção
de expandir e utilizar precisamente aquela tal força. Barnett disse dos
“gatilhos” das operações especiais, que desejava que as regras fossem “as mais
soltas possíveis”.
Recentemente, o Corbett
Report e Media
Monarchy falaram do papel expandido proposto
para a “elite” das forças militares. Recentemente, se falou do almirante
William McRaven do Comando de Operações Especiais, que estaria buscando “mais
autonomia para posicionar suas forças e seu equipamento de combate nos pontos
que a inteligência e os eventos globais indiquem que são mais necessários”.
Vídeo: Comando
das Operações Especiais em busca de mais “autonomia” para posicionar-se onde “a
inteligência e os eventos globais indiquem que são mais necessários.” Esse
“afrouxamento das regras” foi parte da formatação da “faca de dois gumes”,
“faca só lâmina”, da conquista neoimperial: o exército global e o sistemas
administradores.
....
Além disso,
entre 2008 e 2011, antes da eclosão da Primavera Árabe, o Departamento de
Estado dos EUA e sua rede de facilitadores globais embarcaram numa campanha
para criar um literal exército de ONGs e grupos de oposição para começar a
derrubar governos e a construir exatamente a rede global de administração que
Barnett expôs na conferência TED. Foi noticiado recentemente (vide Soros
Big-Business Accountability Project Funded by Big-Business [O big-business
da “empresa transparente”, de Soros, financiado pelo big-business]) que
um outro exército de ONGs está sendo mobilizado para construir sistemas
administradores dedicados a gerenciar os recursos de determinados países.
Chama-se “Revenue Watch” e está focado prioritariamente na África e no Sudeste
da Ásia; é a abordagem por “sistema administrador” que complementa (a) os movimentos de agressão bélica
que o Comando
da África, AFRICOM-EUA, move contra países africanos e (b) a declaração, pelos EUA do “Século
do Pacífico” na Ásia.
É
absolutamente claro que a proposta de Barnett não exige, necessariamente, a
colaboração da “força Leviatã armada pelos EUA” para detonar as redes que
interesse detonar – como se viu na Primavera
Árabe financiada pelos EUA.
Fomentar
tumultos e agitação, até a insurreição armada, não é ação muito distante de
aberta intervenção militar, e usa ativos que Barnett incluiu na força Leviatã,
como “desencadear” operações especiais, e criar unidades civis, ONGs e empresas
recrutadas dentro do sistema local.
Na Líbia,
por exemplo, os estrategistas de ONGs e assuntos civis iniciaram as agitações
em fevereiro de 2011, enquanto entravam no país e nos grupos as armas
necessárias para derrubar o governo de Gaddafi. Organizações internacionais
como a Corte Criminal Internacional fora usadas para envenenar a opinião
pública contra o governo líbio, usando informação que aquelas organizações
recebem de várias ONGs; e a OTAN começou a preparar o assalto, com ataque aéreo
de ampla escala. Depois de iniciado o bombardeio, foi questão, apenas, de
acionar forças especiais, armas e os demais facilitadores infiltrados, para
preencher o vácuo deixado pela violentíssima campanha aérea da OTAN. Assim, as
forças de Leviatã e os sistemas administradores trabalharam coordenadamente,
uma limpando o caminho, varrendo de lá as velhas redes instaladas; os outros
construindo as novas redes, para
facilitar a permanência dos EUA, já residentes, e do presidente do
Instituto do Petróleo, Abdurrahim el-Keib, como primeiro-ministro.
Em nações
onde as opções militares como essa não sejam possíveis, sejam difíceis ou
impossíveis de justificar, como na Tailândia, por exemplo, todo o peso do apoio
de Wall Street & London é
aplicado para fortalecer sistemas administradores e movimentos “adequados” de
oposição que lá ficarão, como procuradores “seguros”, no caso de ser possível
detonar as redes locais.
No caso da
Tailândia, o “preposto seguro” é Thaksin Shinawatra, grande
empresário e ex-consultor do Grupo Carlyle, que conta com extensivo apoio dos EUA,
com serviços de lobbying fornecidos a ele por outro membro do Grupo
Carlyle, James Baker e de sua empresa Baker
Botts; do enviado pessoal de Bush ao Iraque, Robert Blackwill; da empresa Barbour Grifith & Rogers;
e de Keneth Adelman, signatário
do PNAC, da empresa Edelman.
Durante seu
governo, de 2001 até ser derrubado por golpe popular em 2006, na véspera do
qual ele estava literalmente prestando
contas de seus serviços ao Conselho de Relações Exteriores em New York, Thaksin
envolveu soldados tailandeses na invasão norte-americana do Iraque e
autorizou a CIA a incluir a Tailândia para seu horrendo programa de “entrega
especial de prisioneiros” para serem torturados.
Atualmente,
o mesmo Thaksin é comandante-em-chefe de uma “revolução colorida”, bastião da
força de ocupação de Barnett, porque nenhuma força ocidental é sustentável
naquelas circunstâncias. Inclui-se entre seus serviços o uso documentado de
manifestantes armados, em 2010, contra uma tentativa
de insurreição. Esses exército
privado de Thaksin é chamado “camisas vermelhas” ou “Frente Unida pela Democracia
contra a Ditadura” [orig. United
Front for Democracy Against Dictatorship (UDD)] e reuniu-se com a
ONG Human Rights Watch, mantida pela Open
Society de Soros; com o National Democratic Institute for International
Affairs (NDI); com a National Endowment for Democracy (NED) e
com o Conselho Comercial EUA-ASEAN, em abril de 2011, em visita a
Washington, DC.
....
Há também
círculos acadêmicos organizados para dar apoio a todos os esforços que surjam
para minar as redes locais soberanas da Tailândia. Desses círculos, os mais
conhecidos são “Nitirat”, ou “Juristas Esclarecidos”, cujo público é formado
quase completamente dos “camisas vermelhas de Thaksin, e inclui, sempre sentado
na primeira fila, Robert Amsterdam, o lobbysta profissional norte-americano
cujos serviços Thaksin contratou.
Finalmente,
há ONGs de propaganda, que empregam jornalistas, como a conhecida Prachatai,
que recebe centenas de milhares de dólares por ano do Departamento de Estado
dos EUA, mediante o National Endowment for Democracy (NED); da Open Society de George Soros; e da USAID.
NED também financia o Comitê de Campanha pelos Direitos
Humanos, a Fundação Cruz-cultural e a Environmental
Litigation and Advocacy for the Wants. Dado que todas são mantidas por
dinheiro da mesma fonte, cada ONG assina as petições das demais, e assim todos
perpetuam suas agendas comuns (além de idênticas).
Por mais
que suas declarações digam promover “liberdade”, “democracia” e “direitos humanos”,
não deixa de ser impressionante o quão completamente conseguem misturar os
interesses dos patrocinadores e das organizações “internacionais”, com as
causas locais que dizem promover, e com o trabalho que, afinal, esses grupos
realmente fazem.
(...)
Como se viu
acontecer também na Geórgia, EUA (Parte 2/4), a ignorância e as boas intenções
são usadas para atrair quadros para essas ONGs. Também como na Georgia, essas
organizações dependem, propositalmente, de repetido e substancial aporte de
dinheiro que lhes vem de Wall Street
& London, dado que o dinheiro que esses grupos arrecadam localmente
praticamente nunca é suficiente. E embora muitos “seguidores” desses movimentos
e ONGs creiam que estejam trabalhando para alguma “alta causa”, não passam de
mercenários a serviço de forças que desconhecem completamente, num outro tipo
de sistema imperial que se foi aperfeiçoando ao longo dos séculos, por
tentativa e erro. (...)
Trevor
Reese oferece uma interessante observação sobre o estado do imperialismo no
século 18, que ainda se aplica aos nossos dias:
No século 18, os negócios coloniais eram
questões subsidiárias na vida política inglesa; o dictum de Sir John Seeley, de que o povo britânico
fundou um império num momento de desmaio ou privação de sentidos, é verdadeiro,
no sentido de que a expansão imperial nunca foi objeto da atenção da opinião
pública. Embora sempre tenha havido alguns críticos no país que manifestaram
sentimentos anti-imperiais e temiam que o império escapasse a qualquer controle
dos ingleses, sempre foram pequena maioria. Geralmente, quando se pensa sobre
as colônias, o que raramente acontece, as pessoas as veem com aprovação, e
creem que há vantagem em ser um império, embora saibam praticamente nada desse
assunto.
Assim
também, a grande maioria da opinião pública é deixada em completa escuridão
sobre o que Wall Street & London
fazem do outro lado do mundo.
Enquanto
intervenções militares são manchete e todo o mundo e criam diversão (confusa e
para confundir) para muitos, esses mesmos, a chamada “opinião pública”, é
mantida absolutamente ignorante sobre tudo que tenha a ver com ONGs, sobre o
conceito, mas e mais importante, também sobre a terrível, horrenda máquina de
guerra à qual as ONGs estão integradas e que hoje está em operação da Tunísia à
Tailândia e em todo o território entre uma e outra. (...)
Nota dos tradutores
[1] É imagem-criação de João Cabral de Melo
Neto, no poema A faca só lâmina: “assim como uma faca / que sem bolso ou
bainha / se transformasse em parte / de vossa anatomia”. Lê-se, na
íntegra, na Revista Bula.. Recolhemos aqui, para traduzir o título
original “Empire’s Double Edged Sword: Global Military + NGOs”.
_____________________
[*] Tony Cartalucci é um pesquisador de geopolítica e escritor sediado em Bangkok,
Tailândia. Seu trabalho visa cobrir os eventos mundiais a partir de uma perspectiva
do Sudeste Asiático, bem como promover a auto-suficiência como uma das chaves
para a verdadeira liberdade.
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