quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O tal de “mundo mais seguro”...

26/11/2013, [*] Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


1a. Bomba Nuclear subaquática detonada no mundo (Atol Bikini - 1946)
Quer dizer, então, que “a diplomacia abriu um novo caminho rumo a um mundo mais seguro – um futuro no qual se possa confirmar que o programa nuclear iraniano é pacífico e que o Irã não poderá produzir bombas atômicas”.

A boa nova foi anunciada um mês antes do Natal, pelo laureado do Prêmio Nobel, presidente Barack Obama: ele acabava de fazer um mundo mais seguro – assim sendo, poderia continuar a aumentar os arsenais de bombas atômicas que os EUA mantêm na Europa: as B61-11 foram transformadas em B61-12, que também podem ser usadas como bombas rebenta-bunker no caso de um primeiro ataque nuclear.

É parte do “mapa do caminho” do governo Obama para manter a supremacia nuclear dos EUA.

Os EUA mantêm cerca de 2.150 ogivas nucleares armadas, quer dizer, em prontidão, prontas para serem lançadas por mísseis e bombardeiros; além de outras 2.500 ogivas em arsenais, mas que podem ser rapidamente ativadas e outras 3.000 adicionais que foram descartadas mas não desmanteladas e que podem ser reativadas: no total são cerca de 8.000 ogivas nucleares.

Arsenal nuclear da OTAN (EUA) depositado na Turquia

O arsenal russo é comparável, mas são menos ogivas prontas para lançamento, só cerca de 1.800. O novo Tratado START entre os EUA e a Rússia não limita o número de ogivas nucleares operacionais nos respectivos arsenais, mas só as ogivas em estado de prontidão para serem lançadas de transportadores estratégicos com alcance superior a 5.500 km (3.418 milhas): o teto foi fixado em 1.550 ogivas para cada lado, mas já foi ultrapassado, porque cada bombardeiro é contado como uma ogiva, apesar de carregar 20 ou mais bombas. O Tratado deixa aberta a possibilidade de melhoria na qualidade das forças nucleares.

Para tanto, os EUA estão instalando um “escudo” antimísseis na Europa, ostensivamente para neutralizar um ataque iraniano (hoje, impossível), mas, de fato, para obter uma vantagem estratégica sobre a Rússia, a qual está tomando contramedidas.

Além das ogivas norte-americanas, a OTAN tem mais 300 ogivas francesas e mais 225 ogivas britânicas, nucleares, é claro, praticamente todas em posição para lançamento a qualquer momento.

Israel – que é a única potência nuclear em todo o Oriente Médio e, diferente do Irã, não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear – tem algo entre 100 e 300 ogivas, com vetores de transporte e disparo; e produz plutônio suficiente para fabricar 10-15 novas ogivas nucleares por ano, semelhantes à que os EUA usaram em Nagasaki; Israel também produz trítio, gás radiativo usado para fabricar ogivas de neutrons, que causam menor contaminação radiativa, mas são mais letais.

Em 1986 Mordechai Vanunu, revelou ao mundo a existência do arsenal  nuclear de Israel

Ao mesmo tempo, a confrontação nuclear está se desenvolvendo na região Ásia/Pacífico, onde os EUA estão promovendo uma escalada militar. A China tem arsenal nuclear, estimado em cerca de 250 ogivas, e cerca de 60 mísseis balísticos intercontinentais. A Índia tem cerca de 110 ogivas nucleares. O Paquistão, 120. E a Coréia do Norte, como se sabe, também tem as suas.

Além desses nove países que possuem armas atômicas, há pelo menos mais 40 outros em posição de comprá-las. De fato, não há nenhuma separação entre o uso civil e o uso militar da energia nucelar, e se pode obter urânio e plutônio enriquecido o bastante para fabricar bombas atômicas, de praticamente qualquer reator. Estima-se que o mundo já acumulou quantidade suficiente desses materiais para produzir mais de 100 mil bombas atômicas; e continua a produzi-los em quantidades crescentes: há mais de 130 reatores nucleares “civis”, que produzem urânio altamente enriquecido, pronto para produzir armas atômicas. 

Aí está! Eis o tal o mundo “tornado mais seguro”... “porque” as cinco maiores potências nucleares plus a Alemanha (que vendeu a Israel submarinos nucleares de ataque) assinaram um acordo pelo qual “o programa nuclear do Irã será exclusivamente pacífico”. [Pano rápido].
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[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo italiano. Últimas publicações : Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

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