quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Violência: “The American Way of Life”

15/11/2013 e 12/1/2013, [*] John Kozy - Global Research
Traduzido por João Aroldo

Matando + matando = Segurança?
Os EUA foram concebidos e criados pela violência.

Os americanos não só participam da violência, eles se divertem com ela.

Assassinatos ocorrem nos EUA em média 87 vezes por dia. Ir à guerra no Afeganistão é menos perigoso do que viver em Chicago.

Os romanos iam ao Coliseu para assistir pessoas morrerem. Nas grandes cidades, os americanos só precisam olhar pela janela. O beisebol, que já foi o esporte nacional americano, um esporte benigno e soporífero, foi substituído pelo futebol americano que é tão violento que destrói o cérebro dos jogadores. Filmes violentos, eufemizados como filmes de ação, dominam nossos cinemas e aparelhos de TV. Nossas crianças jogam videogames de matança.

Então você acha mesmo que o controle de armas vai miraculosamente tornar os EUA uma nação tranquila? Você acha mesmo que proibir produtos e práticas vai tornar os americanos amantes da paz? Uma cultura não pode ser mudada por leis, a mudança necessita de esforço consistente ao longo de várias gerações. Será que os americanos são capazes disso?
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Carrie Nation
Carry Amelia Moore Nation nasceu em 25 de novembro de 1846. Tornou-se um membro radical do movimento de temperança, que se opunha ao consumo de álcool. Descrevia-se como “um buldogue correndo aos pés de Jesus, latindo para o que Ele não gosta”, e alegou uma ordenação divina para promover a temperança ao destruir bares.

Ela começou seu trabalho de temperança em Medicine Lodge, Kansas ao formar um ramo local da Woman’s Christian Temperance Union e fazer campanha para a proibição da venda de bebidas alcoólicas no Kansas.

Ficou famosa por vandalizar tavernas. Frequentemente acompanhada de mulheres cantando e músicos, ela marchava até um bar, cantando e rezando enquanto quebrava a mobília e o estoque do bar com um machado. Entre 1900 e 1910 ela foi presa por volta de 30 vezes pelas “machadadas,” como ela as chamava. Morreu em 9 de junho de 1911 e foi enterrada em um túmulo não marcado em Belton, Missouri.

Woman’s Christian Temperance Union depois colocou uma pedra com a inscrição “Fiel à Causa da Proibição, Ela Fez o Que Pode”. Se ela tivesse vivido mais oito anos, teria visto a proibição tornar-se lei.

Mas, claro, isso não durou. A Lei Seca foi invalidada em 5 de dezembro de 1933. Durou apenas 14 anos. Não teve nenhum efeito benéfico na sociedade. De fato, ajudou a estabelecer o crime organizado nos EUA.

Mas os americanos não desistem tão fácil. Nessa sociedade anti-intelectual onde dizem que as pessoas precisam de mais cientistas, prevalecem as práticas não científicas. Aquilo que não funciona é repetido diversas vezes.

Richard Nixon
Então, em 1971, a administração Nixon declarou guerra às drogas. Agora, quase 50 anos depois, as trincheiras estão começando a desmoronar. Este longo esforço pela proibição também não funcionou, e também não teve nenhum efeito benéfico na sociedade. De fato, resultou na morte de milhares nos EUA e em outros países, arruinou inúmeras vidas de jovens, e desperdiçou grande quantidade de dinheiro.

Assim como a Lei Seca, alimentou a criação de cartéis criminosos internacionais.

Aquilo que as pessoas com inclinação científica abandonariam como ineficaz, os americanos colocaram em prática com vigor cada vez maior.

Poderíamos pensar que alguém reconheceria a loucura. Mas não, o povo está clamando novamente. Agora, quanto às armas.

Não me entenda mal. Eu não tenho armas; eu não posso pensar em alguma razão pela qual pessoas vivendo em um estado civilizado precisam de armas. As armas têm apenas um objetivo – matar! As pessoas em um estado civilizado não deveriam ter uma razão para fazer isso. Se as armas são necessárias para proteção pessoal, o estado fracassou em sua função primária de garantir a tranquilidade doméstica. (Leia a Constituição!)

Uma nação que não pode garantir nem isso falhou completamente. E o fato de que há aqueles que insistem em possuir armas nos EUA fala mais sobre eles e o fracasso da nação do que sobre as armas.

Mas mais uma tentativa de proibição é nada mais que uma tentativa emocional de se fazer alguma coisa, mesmo que seja algo que não terá qualquer efeito no nível de violência nos EUA.

Alguns se referiram às leis de controle de armas como atos “para se sentir bem”. Talvez, mas atos para se sentir bem são melhores que atos para se sentir mal, e não conheço alguma boa razão para se opor ao controle de armas. O que eu sou contra é a crença Poliana de que o controle de armas vai reduzir a violência na sociedade americana. As armas não são a causa dessa violência; a natureza violenta da sociedade norte-americana é a causa do namoro dos americanos com as armas.

Os EUA foram concebidos e criados pela violência. Os europeus que colonizaram os EUA não eram nem tolerantes nem esclarecidos; eles eram a escória da sociedade, e eles se desprezavam entre si.

Os puritanos totalmente impuros de Massachusetts desprezavam os quakers da Pensilvânia e os católicos de Maryland. Na Guerra de Pequot, colonos ingleses comandados por John Mason lançaram um ataque noturno a uma grande aldeia Pequot no rio Mystic e queimaram os habitantes nas suas casas e mataram todos os sobreviventes.

A Guerra de Pequot e o massacre do rio Mystic
Por estimativas conservadoras, a população dos EUA antes da colonização europeia era maior que 12 milhões. Quatro séculos depois, esse número foi reduzido para 237.000. Quatro séculos de violência contínua contra os americanos nativos; e a violência continua.

Abraham Lincoln, consagrado como o grande emancipador, libertou os escravos incitando uma guerra que matou algo em torno de 750 mil americanos. A emancipação veio aos escravos por violência inédita. Em contraste e, aproximadamente, na mesma época, o autocrático czar Alexandre II da Rússia emancipou mais de 23 milhões de servos sem matar uma única pessoa.

Oh, esses horríveis czares russos!

Rifle Winchester modelo 1873, calibre .44
Após a Guerra Civil, os americanos levaram as fronteiras da América até o Oceano Pacífico. Fizeram isso com armas.

Colt Peacemaker .45 
O rifle de repetição Winchester modelo 1873 e o revólver Colt Peacemaker são coloquialmente conhecidos como “as armas que conquistaram o Oeste”, por seus papéis predominantes nas mãos dos colonizadores ocidentais. Os americanos abriram o caminho à bala doMississippi ao Pacífico.

A política externa americana durante décadas consistia principalmente de desventuras militares – política externa pelas armas!

Hoje, a arma tornou-se o drone e a bala, o míssil Hellfire.

O general Smedley Butler (1881-1940), um dos dois únicos americanos a ganhar a medalha de honra em duas ocasiões distintas, escreveu:

Smedley Butler
Passei a maior parte do meu tempo sendo um capanga de alta classe para os grandes negócios, para Wall Street e os banqueiros.

Em suma, eu era um escroque, um gângster para o capitalismo...

Ajudei a tornar o México, especialmente Tampico, seguro para os interesses petrolíferos americanos em 1914.

Ajudei a fazer do Haiti e Cuba um lugar decente para os rapazes do National City Bank para coletarem os lucros.

Ajudei no estupro de uma meia dúzia de repúblicas da América Central para o benefício de Wall Street.

Ajudei a purificar a Nicarágua para a casa bancária internacional Brown Brothers em 1909-1912.

Eu trouxe luz para a República Dominicana para os interesses açucareiros americanos em 1916.

Na China, eu ajudei a fazer com que a Standard Oil seguisse seu caminho sem ser molestada.

Agora, é claro, estamos usando as armas para tornar o Oriente Médio e o Sudeste Asiático “seguros para a democracia”.

Mas essa tentativa não está dando certo.

A violência permeia essa cultura. Os americanos não só participam da violência. Eles se divertem com ela. Assassinatos ocorrem nos EUA em média 87 vezes por dia.

Ir à guerra no Afeganistão é menos perigoso do que viver em Chicago. Os romanos iam ao Coliseu para assistir pessoas morrerem. Nas grandes cidades, os americanos só precisam olhar pela janela.

O beisebol, que já foi o esporte nacional americano, um esporte benigno e soporífero, foi substituído pelo futebol americano que é tão violento que destrói o cérebro dos jogadores.

Filmes violentos, eufemizados como filmes de ação, dominam nossos cinemas e aparelhos de TV. Nossas crianças jogam videogames de matança.

Você acha mesmo que o controle de armas vai fazer dos EUA uma nação mais tranquila? Você acha mesmo que proibir produtos e práticas vai tornar os americanos mais pacíficos?

Drones com mísseis Hellfire. Matam pessoas indiscriminadamente em outros países
Uma cultura não pode ser mudada por leis; a única função da lei é justificar a vingança. Nenhuma lei em toda a história mundial eliminou as práticas que ela deveria reduzir. A profissão mais antiga era ilegal desde o começo da história registrada. Ela ainda continua.

A verdade é que uma sociedade baseada na lei é uma sociedade sem lei.

A sociedade americana é violenta não por causa das armas, mas por causa das atitudes dos americanos.

Quando os primeiros europeus vieram às Américas, eles achavam que tinham descoberto um novo mundo. Ao invés disso, eles encontraram uma terra já habitada por pessoas com seus próprios modos de vida. A intolerância cristã precisava do uso da violência. Assim como os romanos tomaram partes da Europa que eles queriam, esses europeus tomaram as Américas. A violência estava em suas almas. Os americanos atuais herdaram isso.

Wayne LaPierre, um porta voz da National Rifle Association, disse:

A única coisa que para um cara mau com uma arma é um homem de bem com uma arma.

Wayne LaPierre
Alguém deveria dizer a ele que muitos o consideram um cara mau com uma arma.

Então, claro, façam leis para controlar a proliferação de armas, mas não fiquem otimistas quanto ao resultado. Tais leis podem ajudar, mas não contem com isso. A menos que você possa mudar o caráter americano, nossa natureza violenta vai continuar até exterminarmos a nós mesmos.

Viver pela… Oh, você sabe como isso termina.

As culturas são difíceis de se mudar; mudá-las necessita de esforço contínuo por várias gerações. Duvido que os americanos sejam capazes disso.
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[*] John Kozy é um professor aposentado de filosofia e lógica que escreve sobre questões sociais, políticas e econômicas. Depois de servir no Exército dos EUA durante a Guerra da Coréia, passou 20 anos como professor universitário e outros 20 anos de trabalho como escritor. Publicou um livro de lógica formal no comércio, em revistas acadêmicas e um pequeno número de revistas comerciais, e tem escrito uma série de editoriais, como convidado, para jornais. Seus artigos podem ser encontrados em seu sítio na internet. 

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