15/11/2013 e 12/1/2013, [*] John Kozy - Global Research
Traduzido por João Aroldo
Matando + matando = Segurança? |
Os EUA foram concebidos e criados pela
violência.
Os americanos não só participam da
violência, eles se divertem com ela.
Assassinatos ocorrem nos EUA em média
87 vezes por dia. Ir à guerra no Afeganistão é menos perigoso do que viver em
Chicago.
Os romanos iam ao Coliseu para
assistir pessoas morrerem. Nas grandes cidades, os americanos só precisam olhar
pela janela. O beisebol, que já foi o esporte nacional americano, um esporte
benigno e soporífero, foi substituído pelo futebol americano que é tão violento
que destrói o cérebro dos jogadores. Filmes violentos, eufemizados como filmes
de ação, dominam nossos cinemas e aparelhos de TV. Nossas crianças jogam
videogames de matança.
Então você acha mesmo que o controle
de armas vai miraculosamente tornar os EUA uma nação tranquila? Você acha mesmo
que proibir produtos e práticas vai tornar os americanos amantes da paz? Uma
cultura não pode ser mudada por leis, a mudança necessita de esforço
consistente ao longo de várias gerações. Será que os americanos são capazes
disso?
_____________________
Carrie Nation |
Carry Amelia Moore
Nation nasceu em
25 de novembro de 1846. Tornou-se um membro radical do movimento de temperança,
que se opunha ao consumo de álcool. Descrevia-se como “um buldogue correndo aos
pés de Jesus, latindo para o que Ele não gosta”, e alegou uma ordenação divina
para promover a temperança ao destruir bares.
Ela começou seu trabalho de temperança
em Medicine Lodge, Kansas ao formar um ramo local da Woman’s Christian
Temperance Union e fazer campanha para a proibição da venda de bebidas
alcoólicas no Kansas.
Ficou famosa por vandalizar tavernas.
Frequentemente acompanhada de mulheres cantando e músicos, ela marchava até um
bar, cantando e rezando enquanto quebrava a mobília e o estoque do bar com um
machado. Entre 1900 e 1910 ela foi presa por volta de 30 vezes pelas “machadadas,”
como ela as chamava. Morreu em 9 de junho de 1911 e foi enterrada em um túmulo
não marcado em Belton, Missouri.
A Woman’s Christian Temperance Union
depois colocou uma pedra com a inscrição “Fiel à Causa da Proibição, Ela Fez o
Que Pode”. Se ela tivesse vivido mais oito anos, teria visto a proibição
tornar-se lei.
Mas, claro, isso não durou. A Lei Seca
foi invalidada em 5 de dezembro de 1933. Durou apenas 14 anos. Não teve nenhum
efeito benéfico na sociedade. De fato, ajudou a estabelecer o crime organizado
nos EUA.
Mas os americanos não desistem tão
fácil. Nessa sociedade anti-intelectual onde dizem que as pessoas precisam de
mais cientistas, prevalecem as práticas não científicas. Aquilo que não
funciona é repetido diversas vezes.
Richard Nixon |
Então, em 1971, a administração Nixon
declarou guerra às drogas. Agora, quase 50 anos depois, as trincheiras estão
começando a desmoronar. Este longo esforço pela proibição também não funcionou,
e também não teve nenhum efeito benéfico na sociedade. De fato, resultou na
morte de milhares nos EUA e em outros países, arruinou inúmeras vidas de
jovens, e desperdiçou grande quantidade de dinheiro.
Assim como a Lei Seca, alimentou a
criação de cartéis criminosos internacionais.
Aquilo que as pessoas com inclinação
científica abandonariam como ineficaz, os americanos colocaram em prática com
vigor cada vez maior.
Poderíamos pensar que alguém
reconheceria a loucura. Mas não, o povo está clamando novamente. Agora, quanto
às armas.
Não me entenda mal. Eu não tenho
armas; eu não posso pensar em alguma razão pela qual pessoas vivendo em um
estado civilizado precisam de armas. As armas têm apenas um objetivo – matar!
As pessoas em um estado civilizado não deveriam ter uma razão para fazer isso.
Se as armas são necessárias para proteção pessoal, o estado fracassou em sua
função primária de garantir a tranquilidade doméstica. (Leia a Constituição!)
Uma nação que não pode garantir nem
isso falhou completamente. E o fato de que há aqueles que insistem em possuir armas nos EUA fala mais sobre eles e o fracasso da nação do que sobre as armas.
Mas mais uma tentativa de proibição é
nada mais que uma tentativa emocional de se fazer alguma coisa, mesmo que seja
algo que não terá qualquer efeito no nível de violência nos EUA.
Alguns se referiram às leis de
controle de armas como atos “para se sentir bem”. Talvez, mas atos para se
sentir bem são melhores que atos para se sentir mal, e não conheço alguma boa
razão para se opor ao controle de armas. O que eu sou contra é a crença Poliana de que o controle de armas vai
reduzir a violência na sociedade americana. As armas não são a causa dessa
violência; a natureza violenta da sociedade norte-americana é a causa do namoro
dos americanos com as armas.
Os EUA foram concebidos e criados pela
violência. Os europeus que colonizaram os EUA não eram nem tolerantes nem
esclarecidos; eles eram a escória da sociedade, e eles se desprezavam entre si.
Os puritanos totalmente impuros de
Massachusetts desprezavam os quakers
da Pensilvânia e os católicos de Maryland. Na Guerra de Pequot, colonos
ingleses comandados por John Mason lançaram um ataque noturno a uma grande
aldeia Pequot no rio Mystic e queimaram os habitantes nas
suas casas e mataram todos os sobreviventes.
A Guerra de Pequot e o massacre do rio Mystic |
Por estimativas conservadoras, a
população dos EUA antes da colonização europeia era maior que 12 milhões.
Quatro séculos depois, esse número foi reduzido para 237.000. Quatro séculos de
violência contínua contra os americanos nativos; e a violência continua.
Abraham Lincoln, consagrado
como o grande emancipador, libertou os escravos incitando uma guerra que matou algo
em torno de 750 mil americanos. A emancipação veio aos escravos por violência
inédita. Em contraste e, aproximadamente, na mesma época, o autocrático czar
Alexandre II da Rússia emancipou mais de 23 milhões de servos sem matar uma
única pessoa.
Oh, esses horríveis
czares russos!
Rifle Winchester modelo 1873, calibre .44 |
Após a Guerra Civil,
os americanos levaram as fronteiras da América até o Oceano Pacífico. Fizeram
isso com armas.
Colt Peacemaker .45 |
O rifle de repetição
Winchester modelo 1873 e o revólver Colt Peacemaker são
coloquialmente conhecidos como “as armas que conquistaram o Oeste”, por seus
papéis predominantes nas mãos dos colonizadores ocidentais. Os americanos abriram
o caminho à bala doMississippi ao Pacífico.
A política externa americana durante
décadas consistia principalmente de desventuras militares – política externa pelas
armas!
Hoje, a arma tornou-se
o drone e a bala, o míssil Hellfire.
O general Smedley Butler (1881-1940),
um dos dois únicos americanos a ganhar a medalha de honra em duas ocasiões
distintas, escreveu:
Smedley Butler |
Passei a maior parte do meu tempo sendo
um capanga de alta classe para os grandes negócios, para Wall
Street e os banqueiros.
Em suma, eu era um escroque, um gângster
para o capitalismo...
Ajudei a tornar o México, especialmente
Tampico, seguro para os interesses petrolíferos americanos em 1914.
Ajudei a fazer do Haiti e Cuba um
lugar decente para os rapazes do National City Bank para coletarem os lucros.
Ajudei no estupro de uma meia dúzia de
repúblicas da América Central para o benefício de Wall Street.
Ajudei a purificar a Nicarágua para a casa
bancária internacional Brown
Brothers em 1909-1912.
Eu trouxe luz para a República
Dominicana para os interesses açucareiros americanos em 1916.
Na China, eu ajudei a fazer com que a Standard Oil seguisse
seu caminho sem ser molestada.
Agora, é claro,
estamos usando as armas para tornar o Oriente Médio e o Sudeste Asiático “seguros
para a democracia”.
Mas essa tentativa não está dando
certo.
A violência permeia essa cultura. Os
americanos não só participam da violência. Eles se divertem com ela. Assassinatos
ocorrem nos EUA em média 87 vezes por dia.
Ir à guerra no Afeganistão é menos
perigoso do que viver em Chicago. Os romanos iam ao Coliseu para assistir
pessoas morrerem. Nas grandes cidades, os americanos só precisam olhar pela
janela.
O beisebol, que já foi o esporte
nacional americano, um esporte benigno e soporífero, foi substituído pelo
futebol americano que é tão violento que destrói o cérebro dos jogadores.
Filmes violentos, eufemizados como
filmes de ação, dominam nossos cinemas e aparelhos de TV. Nossas crianças jogam
videogames de matança.
Você acha mesmo que o controle de
armas vai fazer dos EUA uma nação mais tranquila? Você acha mesmo que proibir
produtos e práticas vai tornar os americanos mais pacíficos?
Drones com mísseis Hellfire. Matam pessoas indiscriminadamente em outros países |
Uma cultura não pode ser mudada por
leis; a única função da lei é justificar a vingança. Nenhuma lei em toda a
história mundial eliminou as práticas que ela deveria reduzir. A profissão mais
antiga era ilegal desde o começo da história registrada. Ela ainda continua.
A verdade é que uma sociedade baseada
na lei é uma sociedade sem lei.
A sociedade americana é violenta não
por causa das armas, mas por causa das atitudes dos americanos.
Quando os primeiros europeus vieram às
Américas, eles achavam que tinham descoberto um novo mundo. Ao invés disso,
eles encontraram uma terra já habitada por pessoas com seus próprios modos de
vida. A intolerância cristã precisava do uso da violência. Assim como os
romanos tomaram partes da Europa que eles queriam, esses europeus tomaram as Américas.
A violência estava em suas almas. Os americanos atuais herdaram isso.
Wayne LaPierre, um porta voz da National Rifle
Association, disse:
A única coisa que para um cara mau com uma arma é um homem de bem com uma
arma.
Wayne LaPierre |
Alguém deveria dizer a ele que muitos
o consideram um cara mau com uma arma.
Então, claro, façam leis para
controlar a proliferação de armas, mas não fiquem otimistas quanto ao resultado.
Tais leis podem ajudar, mas não contem com isso. A menos que você possa mudar o
caráter americano, nossa natureza violenta vai continuar até exterminarmos a
nós mesmos.
Viver pela… Oh, você sabe como isso
termina.
As culturas são difíceis de se mudar;
mudá-las necessita de esforço contínuo por várias gerações. Duvido que os
americanos sejam capazes disso.
______________________
[*] John
Kozy é um professor aposentado de
filosofia e lógica que escreve sobre questões sociais, políticas e econômicas. Depois
de servir no Exército dos EUA durante a Guerra da Coréia, passou 20 anos como
professor universitário e outros 20 anos de trabalho como escritor. Publicou um
livro de lógica formal no comércio, em revistas acadêmicas e um pequeno número
de revistas comerciais, e tem escrito uma série de editoriais, como convidado, para
jornais. Seus artigos podem ser encontrados em seu sítio na internet.
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