Acordo de Parceria Trans-Pacífico (Trans-Pacific
Partnership – TPP)
15/11/2013, [*] William K. Black
– New Economic Perspectives
Excerto traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Entreouvido
na Vila Vudu: NENHUM jornalão-empresa ou meio eletro-eletrônico
brasileiro publicou sequer uma linha sobre o acordo comercial “Parceria
Trans-Pacífico”, discutido até agora em segredo – e que está para ser aprovado.
E poucos blogs – sequer os blogs ditos “progressistas” – deram a devida cobertura
ao vazamento, por WikiLeaks, essa semana, do capítulo sobre propriedade
intelectual, desse acordo.
No
Brasil, só o blog redecastorphoto,
a Revista
Fórum e o blog Nova
Ordem Mundial noticiaram o vazamento do capítulo sobre propriedade
industrial daquele acordo (que pode ser lido na página de WikiLeaks, ainda em inglês, porque é tradução
técnica, extremamente difícil, que não conseguimos fazer ainda.
Aqui
se lê, pelo menos, um comentário de um professor de Economia e Direito dos EUA que já leu (ontem!) o capítulo vazado
e APAVOROU-SE com um dos aspectos desse acordo – a proibição de os estados e
governos distribuírem remédios gratuitos para algumas doenças epidêmicas na América
Latina (e também nos EUA!); proibição que, sem que ninguém saiba, está a alguns
meses de ser aprovada!
Daí,
afinal, para o autor do artigo, a importância de os chilenos elegerem Bachelet,
para que o Chile, que tem litoral no Oceano Pacífico e que é signatário daquele
acordo, possa tentar alguma reação contra os EUA e seus “parceiros” &
respectivos mega laboratórios produtores de medicamentos, na defesa de outros
vários povos pobres da região, que estão sendo arrastados num engambelamento
amplo, geral e irrestrito, do qual um dos principais agentes engambeladores é,
sim, sim, o jornalismo e os jornalistas desinformativos que há por aqui.
O esforço despendido pelas empresas
para dominar a economia e os governos globais está chegando ao nível do
vale-tudo. As empresas veem governos e democracias como a mais feroz ameaça a
combater, e fazem o possível para desacreditá-los e atropelar o processo
democrático de governo e de tomada de decisões.
As grandes empresas dedicam-se,
especialmente, a desacreditar, destruir ou capturar o processo legal de
regulação, e já cooptaram apoio impressionante nos partidos políticos, nos EUA
e em todo o mundo. O presidente Obama só fez continuar e tornar ainda mais
mortífero o esforço do presidente Bush para trair nossa nação, nossa democracia
e nosso povo – usando agora, como arma, o acordo negociado secretamente de uma
Parceria Trans-Pacífico [orig. Trans-Pacific Partnership (TPP)]. Nesse primeiro artigo sobre a
Parceria Trans-Pacífico, eu explico que, embora não haja nenhuma probabilidade
de convencer Obama a repudiar a tal Parceria, há ainda uma chance de o povo do
Chile salvar a democracia e a soberania nacional dos EUA.
Haverá eleições nacionais do Chile no
próximo dia 17/11/2013, e espera-se a volta ao poder da ex-presidenta Michelle
Bachelet. Nesse artigo, exponho a desgraçada posição que os EUA adotaram nas
negociações, sempre alinhados com os interesses das grandes empresas, não com
salvar a vida dos doentes de uma terrível doença infecciosa parasitária que é
epidêmica em grande parte da América Latina e gravíssimo problema de saúde
pública nos EUA. A doença de Chagas é grave problema também no Chile – um dos
países signatários da tal Parceria Trans-Pacífico.
Michelle Bachelet |
O fracasso do Chile sob a presidência
de Sebastian Piñera (e do Peru e do México), que não se opuseram aos EUA, nem
exigiram melhor discussão, dentro da TPP, do problema das vítimas do Mal
de Chagas, é desgraça nacional que pesa sobre as cabeças dos atuais presidentes
de EUA, Chile, Peru e México.
Todos os progressistas devem exigir da
Dra. Bachelet, se for eleita presidente do Chile, que divulgue imediatamente,
para começar, todas versões do tratado que estão em discussão. A Dra. Bachelet
é pediatra e, sem dúvida, já tratou doentes vítimas do Mal de Chagas. Ela
facilmente entenderá a grave ameaça que é, contra a saúde pública em toda essa
vasta região do mundo, o que está previsto nesse acordo da Parceria
Trans-Pacífico.
Conclamo a Dra. Bachelet a exigir,
imediatamente, que a versão atual do acordo seja radicalmente modificada, em
nome de defender a democracia e a saúde pública de milhões, mais que os
interesses das empresas multinacionais e impedir que eles e seus painéis de
plutocratas destruam, além da saúde pública, também a democracia. (...) O
presidente Obama já declarou sua intenção de assinar e ratificar o tratado da
Parceria Trans-Pacífico “antes do final de 2013”.
Aqui, eu discuto um dos exemplos
obscenos da posição do governo Obama nas discussões dessa Parceria
Trans-Pacífico. (...)
A versão do Tratado que foi divulgada
por WikiLeaks inclui o seguinte trecho:
“Artigo QQ.A.5: {Entendimento sobre
determinadas medidas de saúde pública7}
As partes chegaram aos seguintes entendimentos
sobre esse capítulo:
As obrigações desse Capítulo não
impedem, nem devem impedir qualquer das partes [signatárias] de adotar medidas
para proteger a saúde pública promovendo acesso a remédios para todos, em
particular em casos de HIV/AIDS, tuberculose, malária, Chagas [os EUA opuseram-se a Chagas] e outras moléstias epidêmicas, e em circunstâncias de
urgência extrema ou emergência nacional. (...)”
Os EUA OPÕEM-SE a incluir “Chagas” na
lista de exceções a serem tratadas de modo diferente das demais, por esse
Tratado!
Chagas é doença terrível, letal em
alguns casos, causada por um parasita que causa terrível sofrimento em
praticamente todo o território americano, dos EUA à Argentina. Mais de 8
milhões de pessoas sofrem do Mal de Chagas na América Latina. Nos EUA o número estimado
é de 500 mil doentes.
Chagas é particularmente comum no
México rural e na Bolívia. Além de ser transmitida pelo inseto (vetor
primário), também se dissemina por comida contaminada, transfusões de sangue e
pela mãe infectada para o feto. Implica que o Mal de Chagas é grave ameaça de
saúde para os norte-americanos, como para nossos vizinhos. O Mal de Chagas é
doença grave, porque não há sintomas clínicos durante a fase da infecção
crônica, sequer quando já está causando dano potencialmente fatal ao coração.
Esforços vigorosos para reduzir a
contaminação (não há vacina contra o Mal de Chagas) deveriam ser prioridade
absoluta para os governos de EUA e de toda a América Latina (México, Chile e
Peru são partes da negociação e assinarão a tal Parceria Trans-Pacífico. Mas os
EUA estão insistindo em EXCLUIR a doença de Chagas da lista de “epidemias” ante
as quais as nações poderão (depois de assinado o tratado) “promover acesso a
medicamentos para toda a população”! Prover o acesso a “medicamentos para toda
a população” é medida particularmente importante no caso do Mal de Chagas,
porque o tratamento precoce de recém-nascidos é extremamente efetivo e consegue
eliminar a doença em recém-nascidos infectados pelas mães doentes.
A combinação de indiferença ante as
vítimas do Mal de Chagas e a depravação moral de tentar impedir que governos e
estados distribuam medicamentos de baixo custo ou gratuitos aos doentes é
obscena. (...) Equivale ao que os advogados chamam consideram perfeito insulto
à lei. (...)
Barack Obama |
O que o governo Obama está fazendo,
proibindo, por força de tratado, que governos e estados ofereçam medicamentos
às vítimas do Mal de Chagas é combinação de estupidez e imbecilidade, nos dois
casos em ponto máximo. Os representantes do Chile, México e Peru cobriram de
vergonha e desgraça seus respectivos governos, quando não denunciaram a posição
dos EUA sobre o Mal de Chagas, nas discussões do tratado da Parceria
Trans-Pacífico e não se retiraram das negociações (...)
E Obama traiu cada linha de seu
discurso de 2010 sobre “O Estado da União”: há lobbystas construindo as políticas do tratado da Parceria
Trans-Pacífico – e secretamente, escondidos da opinião pública (...). As
políticas do tratado da Parceria Trans-Pacífico não são traçadas pelo povo dos
EUA nem, sequer, pelos políticos que os norte-americanos elegemos: estão sendo
traçadas pelo que Obama disse, em 2010, que seria “o pior” – “corporações
estrangeiras” (...) E aquelas políticas estão sendo mantidas secretas, ocultadas
dos povos de todas aquelas nações e de seus representantes eleitos. A “via
rápida” que Obama decidiu, como processo para discutir e aprovar o tratado da
Parceria Trans-Pacífico visa a eliminar qualquer influência dos poderes eleitos
nos EUA.
Obama sabe que essa Parceria
Trans-Pacífico é indefensável e que 95% dos norte-americanos votariam contra
ela. Obama “odeia a luz”, porque o sol ainda é o melhor desinfetante!
Por isso, a presidenta Bachelet, do
Chile, tão logo seja eleita em seu país, prestará serviço inestimável ao mundo
se, imediatamente depois de eleita, tornar pública a monstruosidade que se está
construindo secretamente, sob o título de Parceria Trans-Pacífico. (...)
______________________
[*] William K. Black, JD, Ph.D. é professor associado de Direito e Economia na University of Missouri-Kansas City.Foi
diretor-executivo do Institute for Fraud
Prevention de 2005 até 2007.Lecionou na LBJ School of Public Affairs na University of Texas, na Austin University em na Santa Clara University, onde ele também
foi o graduado em residência de Direito em Seguross e professor visitante no Markkula Center for Applied Ethics.
Professor Black foi Diretor de
Contencioso do Federal Home Loan Bank
Board, vice-diretor do FSLIC, Vice-Presidente Sênior e Conselheiro Geral do
Federal Home Loan Bank of San Francisco
e Sub–Chefe Sênior do Conselho doo Office
of Thrift Supervision. Foi Diretor encarregado da National Commission on Financial Institution Reform, Recovery and
Enforcement.
Seu livro, The Best Way to Rob a
Bank is to Own One (University of
Texas Press 2005) é considerado “um clássico” da literatura financeira. Black colaborou recentemente com o Banco Mundial no
desenvolvimento de sistemas de combate à corrupção e prestou serviços de perícia
para OFHEO em sua ação de execução contra o ex-administração da Fannie Mae.
Atualmente ensina sobre
combate aos crimes de colarinho branco, finanças públicas, leis antitruste,
direito, economia e desenvolvimento na América Latina..
É frequentemente convidado, como
especialista, pelas mídias nacionais e internacionais (rádios, TVs e jornais).
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