Publicado
em 08/11/2012 por Urariano
Motta *
Recife
(PE) - Há
quatro anos, em 5 de novembro de 2008, publiquei o texto a
seguir.
Na
vitória de Barack Obama há um aspecto original que não vem sendo notado. “Há
muitos aspectos, colunista apressado”, poderia ser dito. Tentarei explicar. Além
do mais claro, quero dizer, além do fato mais óbvio, de Obama ser o primeiro
negro eleito para a presidência dos Estados Unidos, me chama atenção que na sua
vida há uma vitória sem ruído de pessoas “derrotadas”, ou marginalizadas na
cultura da sociedade norte-americana. Para ser mais preciso, na sua vitória há
uma vitória muito especial da sua mãe.
A
mãe de Obama, Stanley Ann Duham, foi
uma pessoa rara já a partir do nome com que foi batizada. O pai queria um filho
homem, e se compensou , ou se vingou, impondo-lhe um nome de homem. Para quê? O
bom da vida são as limonadas que fazemos dos limões que nos atiram. Stanley Ann,
para a sociedade americana em 1960, não demorou a mostrar a que veio. Aos 18
anos, conheceu o negro Barack Hussein Obama na Universidade do Havaí, em uma
aula de... russo! Branca, namorou o jovem queniano, casou.... queremos dizer,
juntou suas roupas e livros às dele, e teve Barack Hussein Obama Jr. Como a
estabilidade não era bem o seu ideal, separou-se poucos anos depois. Em 1964,
ainda irrecuperável, Stanley Ann voltou à faculdade para se formar e casar à sua
maneira mais uma vez: uniu-se a um estrangeiro não-branco, o indonésio Lolo
Soetoro.
Stanley
Ann era não só diferente, rebelde, por intuição. Antropóloga, escreveu uma
dissertação de 800 páginas sobre os trabalhos de serralheria dos camponeses de
Java. Trabalhando para a Fundação Ford, defendeu o direito das mulheres
trabalhadoras e ajudou a criar um sistema de microcréditos para os pobres. Maya
Soetoro-Ng, a meia-irmã de Obama, afirmou recentemente sobre a mãe:
“Essa
era basicamente a sua filosofia de vida: não nos limitarmos por medo de
definições estreitas, não erguermos muros à nossa volta e nos empenharmos ao
máximo para encontrarmos a afinidade e a beleza em locais
inesperados”.
Stanley
Ann Duham morreu de câncer no ovário em 1995. O pai, a quem Obama dedicara um
livro, ele mal viu, depois dos 2 anos de idade. Por isso afirmou, o primeiro
homem negro eleito para a presidência dos Estados Unidos: “Eu creio que se eu
soubesse que a minha mãe não iria sobreviver à doença, eu escreveria um livro
diferente – menos meditação sobre o pai ausente, mais celebração da mãe que era
a única coisa constante em minha vida”, escreveu no prefácio de suas memórias,
“Sonhos De Meu Pai”. E acrescentou “Eu sei que ela era a mais gentil, o espírito
mais generoso que já conheci e o que existe de melhor em mim eu devo a ela”.
Para essa Ann, mulher estranha para os valores dominantes, delicada e rebelde,
na campanha eleitoral Obama chamava de a sua "mãe
solteira".
O
presidente eleito não repete, é claro, o pensamento, os atos e as convicções da
mãe. Se assim fosse, não teria chegado aonde chegou. Mas sem as idéias de
Stanley Ann Duham, Barack Hussein Obama Jr. não teria tido a mais remota
possibilidade de existir. Em lugar do “sonho americano”, que toda imprensa
proclama, Obama é antes uma vitória do pensamento e de idéias não-conservadoras,
que estavam no limite dos marginalizados hippies. E os hippies, vocês lembram,
naqueles malditos tempos acabavam nas prisões, ou como em
Easy Rider, sob tiros de espingarda.
Em
2008, um filho de mãe solteira, de uma irrecuperável, é eleito presidente. Para
essa nova história, somente espero não ser um colunista muito
apressado.
As
linhas acima escrevi há quatro anos. Neste novembro de 2012, depois de ver os
crimes que Obama cometeu na política externa dos Estados Unidos, reconheço que
fui muito apressado. O presidente Obama é apenas um presidente dos Estados
Unidos. Se algum dia ele foi o filho da mãe, daquela hippie marginalizada, foi, mas não mais.
No
exercício da presidência o negro anulou sua origem.
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Enviado por Direto da Redação
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