16/11/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Tantas guerras a declarar, tão
pouco tempo! Se você é líder político da nação mais militarizada do planeta
[1] – como é o caso do
primeiro-ministro de Israel Benjamin “Bibi” Netanyahu –, você tem de achar jeito
de brincar com os brinquedinhos que tem.
Por
mais que tenha a comichão, você não pode bombardear o Irã, porque você não tem
as bombas-de-furar-montanhas certas nem tem capacidade para reabastecer os jatos
de combate na velocidade necessária. E, para piorar, o presidente dos EUA,
Barack Obama, reeleito, já disse que, daqui em diante, o caminho é diplomático;
nada de bombas.
Barack Obama |
É
sinal de que Obama considera, no mínimo, um acordo:
Tem
de haver um modo pelo qual eles [o Irã] possam usufruir dos benefícios da
energia nuclear para finalidades pacíficas, cumprir seus deveres internacionais
de transparência e assegurar a comunidade internacional de que não trabalham
para construir armas atômicas.
A
partir daí, Obama comprometeu-se a “fazer um esforço, nos próximos meses, para
ver se iniciamos um diálogo” e abriu uma brecha no Muro de Desconfiança que
separa EUA e Irã.
Então, o que faz Bibi? Simples.
Lança a Operação “Pilar de Nuvens” (depois rebatizada para “Pilar da Defesa”;
sobre isso, há artigo inestimável sobre as ramificações “divinas” do nome da
nova guerra. Imperdível! [2]) contra o único lugar do planeta
onde o exército de Israel [orig. Israeli Defense Forces (IDF)] consegue
implantar o inferno, sob total impunidade e com “dano colateral” desprezível:
uma região sitiada, ilegalmente bloqueada, cujos habitantes são diariamente
punidos com a pena capital sem terem cometido crime algum, aquela prisão a céu
aberto conhecida como Gaza.
Claro
que você não lerá essa explicação nos veículos da imprensa-empresa dos Murdochs
[nem nos veículos do Grupo GAFE –
Globo-Abril-FSP-Estadão –, no Brasil (NTs)], ou assistindo aos noticiários
da CNN [nem do canal GloboNews, de
televisão PAGA, no Brasil (NTs)]. Nem encontrará aí qualquer explicação
detalhada sobre o cronograma que pode já estar arrastando o mundo para mais uma
guerra.
Ashraf al-Qidra |
Até
o presente momento, o melhor cronograma disponível é o publicado na
Electronic Intifada [3]. Crucialmente importante,
nesse cronograma é o que aconteceu domingo passado: porta-voz do Ministério da
Saúde de Gaza, Ashraf al-Qidra anunciou que um menino de 13 anos, Hameed Abu
Daqqa, recebeu um tiro no estômago quando jogava bola com amigos em frente de
casa, no sudeste de Gaza. O terrorista futebolista evidentemente ameaçava
gravemente a segurança das centenas de helicópteros israelenses que zumbiam no
céu.
Inventar
guerras é brincadeira de criança para o exército de Israel. Basta que Telavive
assassine qualquer meia dúzia de civis palestinos - como aquele perigoso
terrorista futebolista – e, em seguida, mande para lá alguns tanques. A
resistência em Gaza tinha de responder – e miraram soldados israelenses, não
civis. E pronto. Foi o pretexto perfeito para que Telavive enlouquecesse mais
uma vez, completamente, e iniciasse o massacre.
Ahmed al-Jaabari |
Na
2ª-feira, o Hamás e outros grupos da resistência palestina ofereceram uma nova
trégua a Israel. De nada adiantou. Na 4ª-feira, o chefe militar do Hamás, Ahmed
al-Jaabari, foi assassinado, vítima de assassinato predefinido, alvo de
“targeted assassination” (para saber o que é, consultem o general David
Petraeus e os rapazes da CIA, especialistas nesse tipo de assassinato).
Ninguém
precisa ler o jornal Haaretz [4] para saber que al-Jaabari era
o principal agente a serviço de Israel em Gaza – encarregado de cuidar da
segurança de Israel – há, já, cinco anos e meio. Em troca de seus serviços,
Israel pingava alguns shekels nos
bancos de Gaza, entregues em caminhões blindados.
Então...
por que assassinar al-Jaabari? Simples. Em janeiro haverá eleições em Israel.
Assassinato é o que Bibi entende por campanha eleitoral eficaz. Lema da
campanha: Matar palestinos. Ante esse tipo de campanha, todas as vozes políticas
dissidentes que haja em Israel – ainda que sejam muito fracamente dissidentes –
emudecem.
Mudemos de assunto
Mitt Romney |
Sobre o Irã, Paul Pillar,
ex-analista da CIA [5] e também John Glaser [6] no blog antiwar acertaram na mosca. Bibi apostou no
cavalo errado nos EUA – o ridículo, patético, derrotado Mitt “Pastas Cheias de
Mulheres” Romney.
Como
sempre, o relacionamento pessoal entre Obama e Bibi é mais gelado que
fim-de-semana no Ártico – pelo menos desde 2010, quando Obama queria o fim da
construção de colônias exclusivas para judeus nos Territórios Palestinos
Ocupados, e Bibi respondeu com mais provocação, desafiando o Irã a atacar
Israel, na esperança de arrastar os EUA para mais uma guerra.
Dessa
vez, Bibi evidentemente já sentiu que Obama considera a possibilidade de um
acordo com o Irã. Então, assassinou logo dois pássaros (árabe/persas) com uma
(ou várias) pedrada/assassinato predeterminado. E mudou de assunto – mais uma
vez: de “Irã = ameaça existencial”, para “Hamás = terroristas” – sabendo
perfeitamente bem que, enquanto Israel assassinar palestinos, com Washington
olhando para outro lado (para o Pacífico Asiático, talvez?), a liderança em
Teerã absolutamente não aceitará nem confiará nos EUA para “negociações”.
"Bibi" Netanyahu |
É
como se Bibi dissesse a Obama:
Ah, você quer conversar com aqueles
mulás malucos? Só se passar por cima do meu cadáver, Barry
boy!
E,
de quebra, ainda se sai bem com a opinião pública ocidental, cuja lavagem
cerebral já é total, graças ao trabalho da imprensa-empresa: mais uma vez, os
“terroristas” palestinos do mal aterrorizam israelenses, oh! tão inocentes, os
coitadinhos! A cereja envenenada desse bolo mortífero é um porta-voz do exército
de Israel a repetir, frenético, que a Faixa de Gaza governada pelo Hamás é “uma
base avançada do Irã”.
Com
precisão de cronômetro, poucas horas depois de o cessar-fogo/trégua já ter
fracassado completamente, o governo de Obama, como sempre fez antes da versão
2.0, lá estava, a proclamar, como sempre, que “Israel tem o direito” de atacar
qualquer um, qualquer coisa, de qualquer jeito, onde for, “como autodefesa”. E
que o Hamás não se atreva a retaliar.
Uma invasão por terra parece agora
iminente [7]. Mas Bibi – mais uma vez – pode
estar abocanhando pedaço de gefilte fish maior do que conseguirá
mastigar. Que ninguém espere qualquer condenação vinda das covardes
petromonarquias do Clube Contrarrevolucionário do Golfo (CCG), antes conhecido
como Conselho de Cooperação do Golfo. Tampouco se deve esperar qualquer
condenação que venha dos tais “Amigos (ocidentais) da Síria”, tão ofendidíssimos
por o governo de Assad matar “seu próprio povo”.
Mohamed Mursi |
Mas o Egito, governado por Mursi da
Fraternidade Muçulmana terá de... fazer alguma coisa! A rua egípcia, totalmente
mobilizada contra os acordos de Camp David exigirá alguma ação. Foi o Cairo,
diretamente, quem construiu a trégua entre Telavive e o Hamás – trégua que
Israel acaba de sabotar completamente. O Hamás também conta com o apoio da
Turquia e – muito importante – também do Emir do Qatar e seus petrobilhões.
Ficarão calados, assistindo à carnificina? E nem o Rei de Playstation na Jordânia pode brincar de
conciliador com Israel, ou terá de marcar seu bilhete de viagem só de ida para
Londres, mas cedo do que pensa.
Se
Obama é homem de colhão, está furioso. Vai esmagar Bibi. Não, não aposte nisso.
Sabemos que não esmagará.
Notas de
rodapé
[1] 14/11/2012, Commondreams, Jim Lobe em: “Israel Ranked World’s
Most Militarized Nation”
[2] 15/11/2012, The Moon of Alabama, em: “O fanatismo
religioso de Israel” (em português)
[3] 15/11/2012, The Electronic Intifada, Ali Abunimah em: “How Israel shattered Gaza truce leading to escalating death and tragedy: a timeline”
[3] 15/11/2012, The Electronic Intifada, Ali Abunimah em: “How Israel shattered Gaza truce leading to escalating death and tragedy: a timeline”
[4] 14/11/2012, Haaretz, Aluf
Benn em: “Israel
killed its subcontractor in Gaza”
[5] 11/11/2012, The National
Interest, Paul Pillar em: “Netanyahu’s
Game and the Two Gulfs”
[6] 14/11/2012, Antiwar blog, John Glaser em: “Is
Israel Escalating War on Gaza to Foil US-Iran Deal?”
[7] 8/11/2012, Antiwar blog, John Glaser em: “Netanyahu
Sought to Provoke Iran War, Drag in US, in 2010”
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