quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Hezbollah: “A batalha de Gaza é a batalha de todos”


20/11/2012, Yusuf Fernandez - Al-Manar, Líbano
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Yusuf Fernandez
O secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, disse hoje que a resposta dos palestinos, com mísseis Fajr-5, de fabricação iraniana, contra Telavive é desenvolvimento de grande importância na história do conflito árabes-israelenses.

Falando durante a comemoração do Dia de Ashura no subúrbio do sul de Beirute, sobre a nova ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, o líder da Resistência libanesa disse que o governo israelense mais uma vez repete os erros de 2006, quando supôs e disse que teria eliminado todos os mísseis que havia no Líbano. O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, disse, na 6ª-feira, que os ataques israelenses teriam destruído todos os mísseis balísticos com alcance superior a 40 km. Mas o míssil iraniano, lançado na tarde do mesmo dia, tem alcance de 110-150 km. Vídeo a seguir:


Sayyed Hassan Nasrallah disse que a ofensiva contra a Faixa de Gaza permite ver, mais uma vez, a verdadeira face dos governos ocidentais, sobretudo do governo dos EUA, britânico e francês, que se dizem solidários aos povos árabes mas, de fato, apoiam Israel incondicionalmente. 

Os principais trechos da fala de Nasrallah

Sayyed Hassan Nasrallah
Vimos ontem a ofensiva bárbara e selvagem contra nosso povo em Gaza, que começou com o assassinato do comandante militar do Hamás, Ahmed Jaabari, herói e mártir, e que foi seguido pelo martírio de grande número de civis. E os confrontos continuam, com uma série de disputas heroicas.

Dirijo-me a meus irmãos do Hamás, apresento-lhes meus pêsames e ao mesmo tempo felicito os irmãos pelo martírio desse grande homem e de todos os irmãos que caíram. E também felicito todos os que continuam a lutar contra o inimigo sionista.

Evidentemente, condenamos mais essa agressão. O mínimo que se tem de dizer é que os países árabes e muçulmanos e todas as nações livres do mundo têm de apoiar a luta dos habitantes de Gaza e de seus valorosos combatentes resistentes.

O fator determinante é a vontade do povo palestino, sua força e sua perseverança. (...)

Sabemos que esse povo já deu provas de resistência corajosa e sábia, que tem capacidade material e humana para fazer frente àquela luta. (...) Os lançamentos de mísseis Fajr-5 contra Telavive são prova da coragem e da sabedoria da resistência palestina.

O que hoje se passa pode ser resumido em alguns pontos:

Primeiro ponto: O que está acontecendo em Gaza é um elo a mais na cadeia da confrontação entre o inimigo sionista e os povos de nossa região, especialmente os palestinos. Esse enfrentamento determinará novamente o destino da Palestina e o destino de toda a nação. Deve-se extrair ensinamentos e assumir responsabilidades.

Vê-se bem claramente que o inimigo não precisa de motivos nem de pretextos para passar à ofensiva e nos atacar. Nos últimos dias, nada acontecera. Os políticos israelenses são movidos exclusivamente por interesses políticos ou eleitorais. Aconteceu exatamente assim contra o Líbano em 1996 durante o ataque “Vinhas da Ira” ordenada por Shimon Peres, que carecia de uma vitória militar para ser eleito primeiro-ministro. Mas os seus atos voltaram-se contra ele: perdeu a aposta e não foi eleito.

Quando os israelenses querem iniciar hostilidades contra nós, não precisam de ação alguma de nossa parte: partem à ofensiva e, dali em diante, reagem a qualquer reação.

Israel é inimigo perverso

Segundo ponto: Esse inimigo, como de hábito, sempre recorre à perfídia e à mentira em tudo o que faz. Durante os últimos dias, Israel sugerira que teria aceitado a trégua – exatamente como também fez no ataque de 2008-2009, e os palestinos estavam tranquilos. Mas os israelenses, romperam o clima que levaria a um acordo ao assassinarem o comandante militar do Hamás (...) É movimento que nos ensina a jamais baixar a guarda. Nunca nos devemos deixar enganar pelo inimigo.

Aprendendo com as guerras do Líbano e Gaza

Terceiro ponto: segundo os objetivos declarados do ataque contra Gaza, parece que os israelenses tentam extrair lições das guerras de 2006 e 2008 contra o Líbano e a Faixa de Gaza.

Naquelas duas guerras, os israelenses fixaram-se altos objetivos; não os alcançaram, fracassaram e perderam tudo.

Dessa vez, apesar de alguns ataques violentíssimos, os objetivos declarados dos israelenses são muito modestos. Não disseram que aspiram a acabar com a resistência; sequer que visariam a pôr fim, para sempre, aos ataques com foguetes e mísseis da Resistência.

Disseram só que queriam, em primeiro lugar, desmontar a estrutura dos líderes da Resistência; em segundo lugar, destruir, pelo menos, alguns de seus depósitos de mísseis; e, em terceiro lugar, que queriam restaurar a própria capacidade de dissuasão na Faixa de Gaza. É prova de que Israel sabe que sua capacidade de dissuasão sofreu grave erosão nos últimos tempos.

Tratam também de transferir toda a culpa para os vários grupos da Resistência palestina. Mas só o curso dos acontecimentos nos mostrará quais os reais objetivos de Israel.

Pedimos a Deus que sejam derrotados; que, mais uma vez, seus projetos sejam torpedeados; e que suas ações maléficas voltem-se contra eles.

A surpresa: os mísseis Fajr-5

É, precisamente, o que já se começa a ver acontecer.

No início do ataque, os israelenses disseram que haviam destruído todos os sistemas de foguetes médio alcance, superior a 40 km; e ainda fingiram minimizar seus objetivos, sempre para não deixar transparecer qualquer impressão de fracasso: concederam que ainda restariam os foguetes de alcance inferior a 40 km. Pois qual não foi a surpresa, quando viram cair sobre Telavive os mísseis Fajr-5. Vídeo a seguir:


Cometeram, portanto, o mesmo erro que o ministro da Defesa de Israel, Peretz, nos primeiros dias da guerra de julho de 2006, quando disse que havia eliminado as capacidades missilísticas da Resistência Islâmica no Líbano.

O lançamento dos mísseis Fajr-5 contra Telavive é acontecimento de grande importância e operação em grande escala na luta e na resistência contra Israel, na história do conflito árabe-israelense. É fato muito revelador e tem enorme significação.

A verdadeira face dos ocidentais 

Quarto ponto: Parece que os povos árabes e muçulmanos precisam de derramamento de sangue, para despertar da letargia. Novamente enfrentamos aqui as velhas posições que os EUA tradicionalmente manifestam, sempre seguidos pela Grã-Bretanha e França. Muitos caciques da Primavera Árabe expuseram a seus respectivos povos noções falsas, erradas. (...) E os fizeram crer que os norte-americanos teriam mudado e que, agora, estariam interessados em ajudar os povos árabes oprimidos, e convidam os povos a criar vínculos estratégicos com governos do ocidente.

O que está acontecendo em Gaza tem a vantagem de, outra vez, deixar à vista, bem claramente, a verdadeira face dos norte-americanos, que apóiam Israel incondicionalmente e falam do direito “de defender-se” que Israel teria, como dizem, e condenam os grupos da Resistência palestina. Britânicos e franceses seguiram a trilha dos EUA.

Significa que os povos árabes, na visão dessas pessoas, não têm importância alguma: aos EUA, Grã-Bretanha e França não importam nem os valores humanos, nem a luta contra a opressão, nem as injustiças infligidas aos povos, nem os direitos humanos, nem a democracia. A eles só interessam seus próprios interesses e sua relação com Israel – e Israel é deixado à vontade para fazer o que queira. Se algum governo rende-se àqueles interesses, EUA, Grã-Bretanha e França tudo fazem para protegê-lo e preservá-lo no poder.

O sangue, o martírio, a opressão de Gaza outra vez aí estão, para revelar a verdadeira face dos ocidentais, que nada fizeram além de enganar o mundo durante os últimos dois anos.

A pergunta que se repete é: O que fazer?

Quinto ponto: O que árabes e muçulmanos devem fazer? É a pergunta sobre a qual se fala há mais de 60 anos, em todas as guerras. Todo o mundo sabe o que é preciso fazer, mas poucos fazem. Basta ter vontade de agir e agir.

É necessário adotar postura de seriedade, sem dissimulação. Em primeiro lugar, é preciso expulsar os embaixadores de Israel; em seguida, romper relações com Israel e eliminar ou, no mínimo, suspender, todos os acordos assinados com a entidade sionista. É indispensável romper o bloqueio da Faixa de Gaza e abastecer os palestinos, não só de comida e remédios, mas também, e sobretudo, com armas e munições. Os habitantes de Gaza são capazes de se autodefender eles mesmos e não têm necessidade de mais quadros humanos.

Ninguém está pedindo aos árabes que se ponham à frente da luta pela libertação da Palestina. O que se pede é que, no mínimo, exijam dos governos ocidentais que pressionem Israel para que suspendam os ataques. A ideia de que Israel não cede a pressões é falsa. Já se viu como os EUA podem, quando querem, conseguir que Israel obedeça ao que digam os norte-americanos.

Os países árabes podem usar, como arma de pressão, o petróleo. Nem peço que suspendam a exportação, mas, ao menos, poderiam racionar o petróleo – o que faria subir os preços. Alguns países, como os EUA, seriam profundamente afetados por medida desse tipo.

Postura firme dos países árabes e muçulmanos, expressa pela Liga Árabe e pela Organização da Conferência Islâmica teria poder suficiente para pressionar fortemente os israelenses.

Israel aproveita-se dos conflitos da região

Por desgraça, alguns chegaram a dizer que o objetivo da ofensiva israelense é desviar a atenção do que se passa na Síria. São ideias desoladoras. São notícias absurdas e absolutamente equivocadas.

O que está acontecendo hoje é que Israel aproveita-se dos conflitos na região e, dentre outros conflitos, aproveita-se do que se passa na Síria. Hoje, as circunstâncias são muito diferentes das que havia em 2008-2009, quando a Síria podia ajudar mais a Faixa de Gaza. Hoje, uma das linhas de apoio à Faixa de Gaza está bloqueada: a Síria, preocupada com o que acontece em seu próprio território, está impedida de prestar apoio logístico (...).

Nada impede de ver que Israel, hoje, se aproveita desse conflito, da mudança nas prioridades de alguns países e das tensões sectárias que convertem amigos em inimigos.

Aqui, faço uma convocação, um chamamento à união, à reunião. Que todos façam todos os esforços possíveis para deter o ataque israelense. A Palestina sempre foi denominador comum de todas as vontades na região, uma bússola a apontar prioridades (...).

Estamos num cenário em que o sangue desafia a espada – como aconteceu em Kerbala, com o imã Hussein. Que seja nova página gloriosa de nossa história. Que, mais uma vez, os vencedores sejam os que lutam na Resistência, nessa batalha histórica. 


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