segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O mundo árabe já não é em 2012, o que era em 2008


“Se o mundo não defende os palestinos contra Israel, temos o direito de nos defender nós mesmos”

18/11/2012, Musa Abumarzuq, Guardian, UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Musa Abumarzuq
A mais recente agressão israelense na Faixa de Gaza já levou vários países europeus e os EUA a reafirmar a posição de total apoio ao agressor. William Hague, secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha; Cathy Ashton, ministra da União Europeia para Assuntos Estrangeiros; e Barack Obama, todos esses, já disseram que os foguetes do Hamás seriam responsáveis pela crise; e que Israel teria o direito de defender seus cidadãos.

Soubessem o que realmente acontece, saberiam que Israel atacou primeiro. A escalada começou quando um ataque militar israelense em Gaza, dia 8/11, assassinou uma criança palestina. Em seguida, outras incursões e ataques israelenses, forçaram grupos palestinos a reagir.

Apesar disso, houve sérios esforço para acalmar a situação e alcançar uma trégua. Mas é bem evidente que Israel tem outra agenda. Quando assassinou Ahmed al-Jaabari, comandante das Brigadas al-Qassam, Israel sabotou os esforços do Egito para construir uma trégua entre todos os grupos da resistência palestina e os israelenses. Isso, precisamente, foi confirmado pelo presidente egípcio, no sábado.

Com a aproximação das eleições em Israel, o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, mais uma vez usa o sangue dos palestinos como ferramenta de campanha eleitoral, especialmente depois que nem a aliança com o partido do ultra-extremista Avigdor Lieberman fez melhorar suas possibilidades eleitorais, como pesquisas já mostraram.

Palestinos buscam pessoas nos escombros, logo após uma sequência de
ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza, 18 de novembro de 2012
Não é a primeira vez que os israelenses fazem da guerra ferramenta de campanha eleitoral. Shimon Peres fez o mesmo, em 1996, no ataque ao Líbano; e a aliança Olmert-Livni-Barak fez também o mesmo, em 2008, quando atacou Gaza. Importante, aqui, é ver a imoralidade, a visão curta, da atitude de governos europeus e do governo dos EUA. Todos fantasiam sobre os fatos e manifestam irrestrita parcialidade a favor da violência e da agressão

É essa posição enviesada desses governos que dá cobertura à violência dos israelenses e encoraja a liderança política em Israel a repetir os ataques. Assim, aos olhos de nosso povo e de todo o mundo árabe, os países ocidentais são cúmplices da violência israelense. Os governos europeus, na contramão do desejo de seus povos os quais, na maioria, apoiam os direitos dos palestinos, mais uma vez mostram que falam a língua da hipocrisia e pensam por padrões vesgos.

Os direitos humanos, que os europeus dizem defender em todo o mundo são negados aos palestinos. Governos europeus fazem-se de cegos e surdos e nada fizeram, enquanto 1,7 milhão de palestinos sofrem, há mais de cinco anos, sob bloqueio israelense – que nos nega água, comida, remédios e determina, até, quantas calorias podemos comer por dia.

Todos os povos têm, garantido, o direito de resistir contra a ocupação e a agressão militar; mas, se os palestinos se defendem, o nosso direito de nos defender é imediatamente apresentado como ‘terrorismo’, o que justificaria perseguição e ataques cada dia mais violentos.

Os ataques militares de Israel contra Gaza nunca pararam, depois da Guerra de Gaza de 2008-9. Desde 2009, foram assassinados 271 palestino; e morreram três israelenses. Nos últimos poucos dias, foram assassinados ou resultaram feridos em ataques israelenses mais de 700 palestinos – mais da metade são mulheres e crianças. Ontem, 12 pessoas de uma mesma família foram massacradas.

Mas a agressão israelense não se faz só contra Gaza. Prossegue o confisco de terras palestina, as expulsões em Jerusalém e na Cisjordânia, apesar dos esforços da Organização para a Libertação da Palestina para construir acordos de paz. O número de colônias ilegais em territórios ocupados aumentou dez vezes, desde os acordos de Oslo de 1993. Mesmo depois de se livrarem de Arafat, Israel não deu um passo em direção a alguma paz. Agora, é Lieberman que quer livrar-se do presidente da Autoridade Palestina.

Hamás
O Hamás decidiu defender os direitos de seu povo, usando medidas de contenção contra um dos exércitos mais bem equipados do mundo (e financiado pelo ocidente). Se o mundo recusa-se a defender os palestinos, nos defenderemos nós mesmos. Os palestinos temos o direito à autodefesa e não morreremos em silêncio.

O Hamás ainda não conseguiu derrotar Israel, mas mantém-se firmemente contra Israel. Podemos alcançar parte significativa do território de Israel. Defender-se é direito de todos os povos livres. Gaza e o Hamás não estão sozinhos. Crescem em todo o mundo os inimigos de Israel. O mundo árabe já não é o que era em 2008. O povo palestino hoje vê esperança e liderança no Hamás.

Israel embarcou numa aventura mal calculada. Que enfrente as consequências de sua violência. Trégua, agora, terá de ser nos termos do Hamás, não nos termos de Israel. A primeira condição para qualquer trégua terá de ser o fim do bloqueio da Faixa de Gaza.

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