3/11/2012, Paul Craig
Roberts – Institute for Political
Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Quem
vota não decide coisa alguma.
Quem
conta os votos decide tudo”
Joseph
Stalin
Paul Craig Roberts |
Se
Stalin disse ou não disse, não posso garantir. A frase virou folclore. Para que
alguma eleição signifique alguma coisa, os que contam os votos têm de ter mais
respeito pela integridade da democracia, do que ânsia de poder.
Dos
tempos de Stalin até hoje, a tecnologia mudou. Com máquinas de votar
eletrônicas, que não deixam marcas impressas e são programadas por programas
proprietários, o resultado de uma eleição pode ser decidido de véspera. Os que
controlam o programa podem programar as máquinas para elegerem (as máquinas, não
os eleitores) o candidato que o programador deseje eleger. As máquinas
eletrônicas de votar não são transparentes. Quando se vota em máquina
eletrônica, não se sabe em quem se está votando: só a máquina sabe.
Segundo
a maioria das pesquisas, a corrida pela Casa Branca está empatada. A história já
mostrou que eleição muito apertada, quando não se espera que o eleito vença por
grande diferença, é a mais fácil de fraudar. Mais importante que isso: a
diferença nas pesquisas de boca de urna, muito pequena nesse caso, tanto podem
indicar o vencedor real quanto o resultado roubado, sem que haja como
distingui-los.
Os
mesmos que podem roubar a eleição podem facilmente meter “especialistas” nas
televisões, que se porão a explicar que a divergência entre as pesquisas de boca
de urna e os votos contados está “na margem de erro”, ou “não tem significado
estatístico” ou, então, aconteceu porque as pesquisas de boca de urna ouviram
mais (ou menos) mulheres, ou mais (ou menos) uma ou outra minoria racial ou mais
(ou menos) membros de um ou do outro partido.
Já
circularam notícias segundo as quais as pesquisas de boca de urna em 2012, na
eleição presidencial, serão feitas com amostras menores, para reduzir custos. Se
forem notícias verdadeiras, já não haverá meio algum para detectar o roubo de
votos.
Eleições
digitais
Victoria Collier |
Em artigo fascinante para
Harper’s Magazine (26/10/2012), Victoria Collier [1] observa que, em mundo da velha
tecnologia, os roubos de votos dependiam do poder das máquinas eleitorais dos
próprios candidatos, como do senador Huey Long, da Louisiana, para não serem
descobertos.
Com
o advento da moderna tecnologia, diz Collier, “emergiu todo um bravo novo mundo
de falcatruas eleitorais”. O bravo novo mundo do roubo de votos foi criado pela
“adoção em massa de tecnologia eleitoral computadorizada e com a terceirização
das eleições, que foram entregues a um punhado de empresas que operam nas
sombras, com pouca ou nenhuma supervisão e praticamente sem ter de dar
explicações a ninguém porque não há quem lhe peça explicações. A privatização
das eleições aconteceu sem que a opinião pública tenha consentido e sem que
tenha sido, sequer, informada, o que levou a uma das crises mais perigosas e
menos bem compreendidas de toda a história da democracia nos EUA. Perdemos
completamente qualquer capacidade de recontar votos ou conferir resultados de
eleições”.
A
velha fraude de urnas era localizada e de curto alcance. As máquinas
eletrônicas, hoje, permitem fraudar eleições em escala estadual e nacional. Além
disso, em votações eletrônicas não há urnas cheias de votos a serem encontradas
em fundos de quintal na Louisiana. Com programas proprietários, os proprietários
dos programas decidem: a contagem dos votos indicará o número previsto no
programa proprietário.
As
duas primeiras eleições presidenciais nos EUA no século 21 têm história
vergonhosa. A vitória de George W. Bush sobre Al Gore foi decidida pelos
Republicanos na Suprema Corte dos EUA, que mandaram suspender a recontagem de
votos na Florida.
Em
2004, George W. Bush venceu na contagem de votos, embora as pesquisas de boca de
urna indicassem vitória de John Kerry. Diz Collier:
Ao
final do dia das eleições, John Kerry levava vantagem insuperável, segundo as
pesquisas de boca de urna. Muitos deram por consumada a vitória. No final da
contagem dos votos, houve grande desvio dos resultados das pesquisas de boca de
urna em 30 estados – em 21 desses estados as discrepâncias favoreciam George W.
Bush. As maiores diferenças aconteceram nos estados indecisos – Ohio,
principalmente. Numa das cabines eleitorais em Ohio, as pesquisas de boca de
urna indicavam que Kerry teria recebido 67% dos votos; pela contagem oficial,
teve só 38%. A probabilidade de acontecer resultado assim inesperado, explicável
como efeito de erro na amostragem, é de 1 em 867.205.553 pesquisas. Citando Lou
Harris, considerado há muito tempo como ‘o pai’ das modernas pesquisas
eleitorais: “Ohio teve a eleição mais suja que jamais aconteceu nos
EUA”.
A
era do roubo eletrônico de votos, diz Collier, “começou com Chuck Hagel,
milionário desconhecido que concorreu a uma cadeira no Senado, por Nebraska, em
1996. Hegel começou muito atrás, na disputa com o popular governador Democrata,
eleito dois anos antes por uma avalanche de votos. Três dias antes das eleições,
contudo, o jornal Omaha World-Herald mostrou eleição apertadíssima, com
47% dos eleitores preferindo cada um dos candidatos. David Moore, então
editor-gerente do Instituto Gallup, disse ao jornal que Não é possível prever o
resultado”.
A
vitória de Hagel na eleição geral, sempre referida como “uma reviravolta”,
garantiu a cadeira no Senado aos Republicanos, pela primeira vez em 18 anos.
Hagel atropelou Nelson, com diferença de mais de 15 pp. Até entre os que
trabalharam para derrotar o governador, produzindo uma barragem de spots de ataque pela televisão nos
últimos dias, a diferença entre as pesquisas e os resultados levantou suspeitas
em todo o país”.
Poucos
norte-americanos sabiam, até poucos dias antes das eleições, que Hagel fora
presidente da empresa fornecedora das urnas eletrônicas que, a seguir, estariam
contando votos para ele mesmo: a Election Systems & Software (então chamada
American Information Systems). Hagel deixou a empresa duas semanas antes de
declarar-se candidato. Mas não se desfez de milhões de dólares em ações do McCarthy
Group , grupo proprietário da empresa ES&S. E Michael
McCarthy, fundador da empresa parceira, trabalhava como tesoureiro de campanha
de Hagel.
O
roubo de votos pode também explicar a derrota de Max Cleland, senador Democrata
da Georgia. Collier expõe os fatos documentados:
Na
Georgia, por exemplo, as urnas eletrônicas declararam a derrota do senador
Democrata Max Cleland. Pesquisas iniciais davam sólida vantagem a favor de
Cleland, político muito conhecido, contra o opositor Republicano Saxby
Chambliss, favorito da direita cristã, da Associação Nacional Republicana e de
George W. Bush (que participou várias vezes de comícios pró Chambliss). Com o
dia das eleições chegando, a disputa apertou. Chambliss, que fugiu do serviço
militar, fez publicar spots de
ataque, pela televisão, nos quais denunciava Cleland – condecorado com a medalha
Silver Star, e que perdeu as duas pernas e um braço no Vietnã – como traidor,
por ter votado contra a criação do Departamento de Segurança Nacional
[orig. Department of Homeland
Security]. Dois dias antes das eleições, uma pesquisa Zogby dava a
Chambliss vantagem de um ponto entre eleitores que declararam interesse em
votar, enquanto o Atlanta
Journal-Constitution noticiava que Cleland mantinha vantagem de três
pontos, no mesmo grupo.
Jogo de
cartas marcadas
Cleland perdeu por sete pontos. Em
autobiografia que publicou em 2009 [2], ele
acusou as máquinas de votação computadorizadas, “perfeitas para fraudar
eleições”. Melhor seria dizer: programadas para fraudar. No mês anterior às
eleições, empregados de Diebold, liderados por Bob Urosevich, introduziram software jamais identificado, sem
marca (“patches”), em 5 mil
urnas eletrônicas que a Georgia comprara em maio.”
Fomos
informados de que o objetivo era acertar o relógio interno do sistema, o que não
foi feito, disse Chris Hood, consultor da empresa Diebold e “vazador”, em artigo
de 2006, na revista Rolling
Stone. “O mais estranho é o modo clandestino como foi feito (...)
Aplicaram um “patch” não
autorizado, e continuaram tentando manter tudo em segredo, até do Estado, (...).
Os empregados e consultores recebemos ordens de não falar com ninguém no condado
sobre o assunto. Eu recebi instruções diretamente de [Bob] Urosevich. Muito
estranho que o presidente da companhia desse instruções daquele tipo,
pessoalmente, e que estivesse pessoalmente envolvido naquele nível de
detalhe.
Quando
a Suprema Corte Republicana impediu a recontagem de votos na Florida e decidiu a
eleição entre George W. Bush e Al Gore nas eleições presidenciais em
2000, a
resposta dos Democratas foi não protestar, para não abalar a confiança dos
norte-americanos na democracia. John Kerry também aceitou e calou em 2004,
apesar da vasta diferença entre as pesquisas de boca de urna e os votos
acumulados em meio
eletrônico. Mas como os norte-americanos poderemos confiar na
democracia, se nem há votos para ver e contar e a eleição não é transparente?
Por
enquanto, os Republicanos parecem estar com a vantagem tecnológica a favor
deles, dado que são donos das empresas que produzem as urnas eletrônicas
programadas com software proprietário. No futuro, a vantagem pode passar
para os Democratas. Votos antecipados ajudam os assaltantes eleitorais a roubar
votos. Para garantir que o roubo de votos seja bem-sucedido e não gere
discussões, tudo depende de programar as urnas e máquinas de votar. A vitória
tem de ser indiscutível, perfeitamente plausível. Diferenças grandes demais
geram suspeitas, mas, mesmo que as suspeitas se encaminhem na direção errada e o
assaltante escape, o assalto dá errado. Voto antecipado ajuda os assaltantes a
decidir como programar as máquinas.
Eleição
2.0
A
falta de transparência é ameaça ao pouco que resta da democracia
norte-americana. No verão de 2011, em The Trends Journal ,
Gerald Celente dizia que “se podemos transferir dinheiro online, podemos
votar!”.
Vejam
só! Por todo o planeta, transações de trilhões de dólares acontecem diariamente,
e raramente há algum problema. Se se pode contar dinheiro online até os
centavos, claro que se podem contar votos online. O único problema é que
há interesses políticos gigantescos “programados” em cada urna ou máquina de
votar eletrônica.
A
falta de transparência movimenta o mundo jurídico. Dia 29/10, o Washington
Post noticiou que “milhares de advogados, representantes dos dois principais
candidatos à presidência, partidos, sindicatos, grupos de direitos civis e
organizações que fiscalizam o risco de fraude eleitoral estão a postos, por todo
o país, posicionados para contestar os resultados das eleições que venham a
poder ser atribuídos a vício nas máquinas de votar e urnas, impedimento ao
direito de votar ou outras acusações de práticas e atividades ilegais”.
O
voto online, se adequadamente organizado, pode assegurar a transparência
que não há no atual sistema eleitoral nos EUA. Embora os Republicanos talvez
ainda continuem ativos na prática de impedir a manifestação de eleitores vivos,
os Democratas mortos, pelo menos, não continuarão votando; e a contagem dos
votos de quem consiga, afinal, votar, não ficará sujeita a software
proprietário secreto.
Em
2005, a
Comissão Federal para Reforma Eleitoral [orig. Commission on Federal Election
Reform], não partidária, concluiu que a integridade das eleições estava
comprometida pela ação de quem controlou a programação. A propriedade privada da
tecnologia de votação é absolutamente incompatível com eleições transparentes.
País sem eleições transparentes é país sem democracia.
Notas dos
tradutores
[1] 4/11/2012, Harper’s
Magazine, Victoria Collier em: “How to Rig an
Election”, só para assinantes.
[2] Livro “Heart
of a Patriot” de Max Cleland, 272 pg., Simon &
Shuster.
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