Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O
segundo mandato de Barack Obama na presidência ainda nem começou, mas será
tumultuado, no que tenha a ver com sua política para o Oriente Médio. A cada
dia, é mais duvidosa a possibilidade de que o presidente dos EUA consiga
desengajar os EUA do Oriente Médio Expandido com a facilidade que esperava, para
“reequilibrar-se” na Ásia. Verdade é que os países asiáticos também assistem aos
eventos no Oriente Médio e observam o atoleiro no qual se vão metendo os EUA.
Nem
bem o conflito de Gaza foi suspenso num cessar-fogo incerto, que talvez nem seja
respeitado, já o presidente do Egito, Mohamed
Mursi caminha decidido para o olho de um furacão que se armava já há algum
tempo, e que opõe a Fraternidade Muçulmana ao resto da arena política doméstica.
Mursi e Obama in LOVE! "Hasta cuando?" |
A
apreensão dos sauditas é que Obama esteja indo longe demais, e depressa demais,
com a Fraternidade Muçulmana, em momento em que a realidade em campo mostra que
os EUA, de fato, não conseguem decidir se apoiam Mursi, no confronto que se
trava hoje na Praça Tahrir, ou se o deixam cozinhando, para ganhar tempo ou,
simplesmente, deixando-se levar pelo “fator vento”.
A
Casa Branca nada diz, [2] o
Departamento de Estado diz o mínimo indispensável, a benevolente mídia
norte-americana sua para apresentar Mursi como homem razoável, [3] enquando a embaixada dos EUA no
Cairo tuita sua simpatia aos que
protestam na Praça Tahrir. [4] Será
justa divisão de trabalho ou modo de fazer-se passar por lebre, na escapada; e
por cão, na caçada? O tempo dirá.
Rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz al-Saud |
Portanto,
o caso da sucessão saudita está para começar. Na opinião da maioria dos
especialistas, não será sucessão ordeira, porque não há regras claras [6] e é território virgem, e, sendo
assim, ninguém tem qualquer ideia do que possa acontecer se e quando cerca de
três, quatro mil príncipes mergulham nas intrigas palacianas.
Para
todos os efeitos, a Arábia Saudita permanecerá por algum tempo profundamente
mergulhada em suas questões nacionais. O que acontece agora com o ímpeto saudita
para promover “mudança de regime” na Síria? E o cisma entre sunitas e xiitas que
os sauditas tanto se aplicaram em promover? Ou , então, o que
acontecerá com a estratégia saudita para “conter” o Irã? Ou no Bahrain, Kuwait,
Jordânia, onde já se veem sinais de anseios por democracia? [7] Não há respostas fáceis. Hoje cedo,
um diplomata saudita foi assassinado no Iêmen.
Obama mostra o tamanho do "pepino" que os EUA enfrentam no Oriente Médio |
Mas
os chamados aliados dos EUA não darão vida mansa a Obama se ele começar a
conversar com o Irã ou se aceitar a Fraternidade Muçulmana como legítima
interlocutora dos EUA. (Pessoalmente, me parece que Obama acerta 100%, se fizer
isso.) Não só os sauditas; até os emirados estão incomodados. [8] Os oligarcas do Golfo Persa têm
muito com o que se preocupar sobre seu futuro – colhidos entre o Irã (xiita) e o
islamismo (sunita), com Obama dando prioridade aos interesses de longo prazo dos
EUA.
Notas de
tradução
[1] 26/11/2012, Asharq Al-Awsat, Mohammad Ali Salih em:
“Obama "betting"
on Mursi – US State Department source”
[2] 26/11/2012, IPS-Inter Press
Service, Carey L. Biron, em: “Pressure
Builds for U.S. Response to Egypt Power Grab”
[3] 26/11/2012, Washington
Post, Michael Birnbaum em: “Egypt’s
Morsi appears to accept some limits on his power”
[4] US Embassy Cairo/twitter (em
árabe)
[5] 27/11/2012, The Nation, Agencies em: “Saudi
King reported clinically dead”
[6] 16/10/2012, Al-Akhbar, Yazan al-Saadi em: “Saudi Succession: The Battle to
Be King”
[7] 23/11/2012, Gatestone
Institute, Mudar Zahran em: “More Trouble in
Jordan”
[8] 27/11/2012, Gulf News,
Abdulkhaleq Abdulla em: “US,
Islamists and Arab Gulf states”
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*MK
Bhadrakumar
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e
segurança para várias publicações, dentre as quais The
Hindu, Asia Online e Indian
Punchline. É o filho mais
velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e
militante de Kerala.
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