29 January 2009, pages 5-6 London Review of Books, vol. 31, n. 2,
sessão “Cartas”: “Responses
to the War in Gaza”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Eric Hobsbaum |
Já
há três semanas a barbárie está exposta aos olhos da opinião pública universal,
que está vendo, julgando e, com poucas exceções, rejeitando o terrorismo armado
que Israel emprega contra meio milhão de palestinos cercados, desde 2006, na
Faixa de Gaza.
Jamais
qualquer explicação oficial para a invasão foi mais patentemente refutada por
uma combinação de imagens de televisão e aritmética; ou o papaguear dos jornais
sobre “alvos militares”, pelas imagens de crianças ensanguentadas e escolas
incendiadas. 13 mortos de um lado, 1.360 do outro: não é difícil concluir quem
são as vítimas. Nem é preciso dizer muito mais sobre a horrenda operação militar
de Israel contra Gaza.
Mas
para nós, judeus, é preciso, sim, dizer mais.
Numa
história longa e sem segurança, de povo em diáspora, nossa reação natural a
quase todos os eventos públicos inevitavelmente inclui a pergunta “Isso é bom ou
é mau para os judeus?” E, no caso da violência de Israel contra Gaza, a resposta
só pode ser uma: “é mau, para os judeus”.
Bombardeio de Israel na Faixa de Gaza (nov/2012) |
É
muito evidentemente mau para os 5,5 milhões de judeus que vivem em Israel e nos
territórios ocupados de 1967, cuja segurança é gravemente ameaçada pelas ações
militares que o governo de Israel empreende em Gaza e no Líbano; ações que
demonstram a incapacidade dos militares israelenses para trabalhar a favor do
objetivos que eles mesmos declaram, e atos que só servem para perpetuar e
intensificar o isolamento de Israel num Oriente Médio hostil.
O
genocídio ou a expulsão em massa de palestinos do que resta de seu território
nativo original é, nada mais nada menos, que adotar uma agenda prática que só
pode levar à destruição do Estado de Israel. Só a convivência negociada em
termos igualitários e justos entre os dois grupos é garantia de futuro estável.
A
cada nova aventura militar de Israel, como a que se viu no Líbano e vê-se agora
[2009; e vê-se, outra vez, hoje, em 2012, NTs] em Gaza, a solução torna-se mais
difícil; e mais se fortalece, em Israel, o jugo da direita; e, na Cisjordânia, o
mando dos colonos que, em primeiro lugar, nunca quiseram qualquer solução
negociada.
Como
aconteceu na guerra do Líbano em 2006, Gaza, agora, torna ainda mais obscuro o
futuro de Israel. E o futuro se torna mais negro, também, para os nove milhões
de judeus que vivem na diáspora.
Bombardeio em Gaza (nov/2012) |
Sejamos
bem claros: criticar Israel não implica qualquer antissemitismo, mas as ações do
governo de Israel cobrem de vergonha os judeus e, mais que tudo, fazem renascer
o antissemitismo, em pleno século 21.
Desde
1945, os judeus, dentro e fora de Israel, beneficiaram-se enormemente da má
consciência de um mundo ocidental que se recusou a receber imigrados judeus nos
anos 1930, antes de ou cometer genocídio ou não se opor a ele. Quanto dessa má
consciência, que virtualmente derrotou o antissemitismo no Ocidente por 60 anos
e produziu uma era de outro para a diáspora, sobrevive hoje?
Israel
em ação em
Gaza não é o povo vítima da história. Não é sequer a “valente
pequena Israel” da mitologia de 1948-67, um David derrotando vários Golias que o
cercavam.
Israel
está perdendo a solidariedade do mundo, tão rapidamente quanto os EUA perderam a
solidariedade do mundo no governo de George W. Bush, e por razões semelhantes:
cegueira nacionalista e a megalomania do poderio bélico.
O que é bom para Israel e o que é bom
para os judeus como povo são coisas evidentemente associadas, mas até que se
encontre solução justa para a questão palestina essas duas coisas não são nem
podem ser idênticas. E é essencialmente importante que os judeus o declarem, bem
claramente.
Leia
mais sobre Eric Hobsbawn (em
português):
- 16/6/2011, redecastorphoto, em: “Marxismo
hoje: Beppe Grilo entrevista Hobsbawm, 94”
- 23/12/2011,
redecastorphoto, entrevista a Andrew Whitehead, em: Eric
Hobsbawm sobre 2011: “Fez-me lembrar 1848...”
- 10/3/2012, redecastorphoto, The Spiked Review of Books, Tim Black, em: “Lord
Byron, no Parlamento, em defesa dos
luditas”
- 22/4/2012, redecastorphoto, Eric Hobsbawn, London Review of Books, em:
“Depois
da Guerra Fria - Eric Hobsbawm sobre Tony
Judt”
- 9/10/2012, redecastorphoto, Ed.Verso (NY) em: “Introdução ao
MANIFESTO COMUNISTA de Marx & Engels”
- 22/10/2012, redecastorphoto, Seumas Milne, The Guardian (UK), em: “O fim da Nova Ordem Mundial”
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