24/11/2012, MK
Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido Pelo pessoal da Vila Vudu
É
virtualmente impossível capturar, em imagens, o tumulto de uma revolução –
especialmente a revolução no Egito, que prossegue, sem final à vista. Está em
curso outra revolução dentro da revolução.
Os cinegrafistas chineses
capturaram visuais fantásticos, com as margens do Nilo outra vez agitadas pelas
ininterruptas paixões humanas. Veja álbum
de fotos da rede Xinhua.
O
Egito se agita. O país está rachando. A esquerda, virou direita. A Fraternidade
Muçulmana, o azarão vencedor, tornou-se establishment. E uma Nova
Esquerda apareceu, incluindo, paradoxalmente, os centristas, liberais,
secularistas e esquerdistas de estilo ocidental – todo mundo, de fato; exceto os
islamistas.
Mohamed Mursi discursa em 23/11/2012 (Cairo-Egito) |
Aparentemente,
a questão é o movimento autoritário que, pelo que se diz, marcaria o recente
decreto assinado pelo presidente Mohamed Mursi, que o torna imune à corte
constitucional, no momento em que o Egito está às vésperas de
dar o importante passo de redigir uma nova constituição. O grande medo é que os
islamistas estejam empurrando a maioria silenciosa para o total alinhamento.
Mohamed El Baradei |
É
perigo real. Até um liberal como Mohammed El Baradei já chamou Mursi de “um novo
faraó”. Mas Mursi não dá sinais de remorso. É raposa esperta, que já conjurou os
militares e os vestígios remanescentes da era Mubarak, essa semana, no
desempenho que teve na questão de Gaza, demonstrando a Washington que pode
servir aos interesses ocidentais na região, com mais efetividade e mais
credibilidade que qualquer outro, no Egito.
Mursi
converteu o conflito de Gaza em jogo de xadrez político-diplomático de primeira
classe. Alcançou acordo que traz alívio aos EUA e a Israel. Mas enquanto o ferro
ainda está quente, age também para consolidar-se no poder, quando assinou o
catastrófico decreto, calculando que, hoje, nada tenha a temer dos militares
pró-EUA e do aparelho de segurança.
Para
o governo Barack Obama, Mursi tornou-se presente caído do céu: é voz legítima,
democraticamente eleito, preparado para subservir a agenda dos EUA. E, além do
mais, é islamista. O exemplo de Mursi como colaborador encoberto encoraja
Washington a ajudar os Irmãos da Fraternidade Muçulmana a assumir o comando
também na Síria – e na Jordânia, Inshah Allah.
Mursi,
de fato, trabalhou excepcionalmente bem. Conseguiu até o pacote de resgate do
FMI, de $4,2 bilhões, para a economia egípcia – com os cumprimentos de Obama,
claro. E tem também o presentinho de $2 bilhões de dólares de cada lado, do
Qatar e da Turquia. Só os sauditas mantêm-se a uma distância suspeitosa.
Mas,
para consolidar-se, Mursi tem de, antes, livrar-se do desafio barulhento da Nova
Esquerda. Como fará, ainda falta ver. Haverá sangue em suas mãos, no final de
tudo?
Tudo
isso gera tempos de alta ansiedade também para o governo Obama. Obama precisa
saber logo, mais uma vez, qual é “o lado certo da história” no Egito. Mursi é
grande dádiva – preciosa demais para deixar escapar. Por outro lado, se Mursi
vencer decisivamente o round em curso da revolução dentro da revolução na
Praça Tahrir, o islamismo estará incontivelmente em marcha na região.
A
ironia disso tudo é que Mursi, nesse caso, terá esmagado irreparavelmente todo o
eleitorado que se esperaria que fossem os “aliados naturais” dos EUA – os
liberais, os centristas, os secularistas, etc.
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MK
Bhadrakumar*
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialistaem questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu,Asia Online e Indian
Punchline. É o filho mais
velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e
militante de Kerala.
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