19/11/2012, Robert Fisk [de The Independent], em Information Clearing
House - Journalistic
Cliches: “Surgical Air Strikes”, “Rooting Out Terror”, and “Cyber-Terrorism”
Cannot Conceal Reality
Robert Fisk |
Terror,
terror, terror, terror, terror. Lá nos vamos, outra vez. Israel vai “extirpar o
terror palestino” – o que, vale lembrar, Israel tenta, sem sucesso, há 64 anos –
e o Hamás (...) anuncia que Israel “abriu as portas do inferno”, quando
assassinou seu comandante militar, Ahmed al-Jaabari.
O
Hezbollah anunciou várias vezes que Israel abrira “as portas do inferno” ao
atacar o Líbano. Yasser Arafat, que foi super-terrorista e, depois,
super-estadista – quando capitulou nos jardins da Casa Branca – e depois voltou
a ser outra vez super-terrorista, quando se deu conta de que fora enganado em
Camp David, Arafat também falou de “portas do inferno” em 1982.
E
nós, jornalistas, estamos escrevendo como ursos de circo, repetindo todos os
clichês que usamos, sem parar, há 40 anos. O assassinato do comandante Jaabari
foi “assassinato predefinido”, foi “ataque aéreo cirúrgico” – como outros
“ataques cirúrgicos israelenses” que mataram quase 17 mil civis no Líbano em
1982; 1.200 libaneses, a maioria dos quais civis, em 2006; ou os 1.300
palestinos, a maioria dos quais civis, em Gaza em 2008-9, ou a mulher grávida e
o bebê, assassinados também por “ataque aéreo cirúrgico” em Gaza semana passada
– e os 11 civis assassinados numa casa em Gaza ontem. O Hamás , pelo
menos, com seus rojões Godzilla, não se pretende atacante “cirúrgico”. (...)
Os
ataques israelenses também visam a matar mulher, criança, qualquer coisa viva,
em Gaza. Mas não se atreva a dizer tal coisa, ou você será nazista antissemita
perigoso, praticamente o demônio, o mal, a perversão, tão assassino quanto o
Hamás, com o qual (mas, por favor, nem pense em dizer tal coisa) Israel negociou
muito, alegremente, nos anos 80s, sim, quando Israel encorajava o Hamás e seus
homens a assumir o poder em Gaza, porque esse movimento decapitaria Arafat, o
super terrorista exilado. A bolsa de mortes em Gaza está hoje em 16 mortos
palestinos por israelense morto. E a proporção aumentará, é claro. Em
2008-9, a
cotação foi 100 palestinos, para 1 israelense.
E
os jornalistas estamos também ajudando a construir mitos. A última guerra de
Israel contra Gaza foi fiasco tão completo – sempre “erradicando o terror”,
claro – que as afamadas unidades de elite do exército de Israel não conseguiram
sequer achar um soldado, um, capturado, Gilad Shalit, cuja libertação, são e
salvo, foi trabalho, ano passado, não de Israel, mas do comandante Jaabari em
pessoa.
Ahmed al-Jaabari |
Para
a Associated Press, o comandante
Jaabari seria “líder No. 1 na clandestinidade” do Hamás. Mas que diabo de “líder
na clandestinidade” seria alguém perfeitamente conhecido, nome, endereço, data
de nascimento, detalhes da família, anos de prisão em Israel, período durante o
qual mudou de lado, do Fatah, para o Hamás?! Como?! Tantos anos de prisão em
Israel não converteram ao pacifismo o comandante Jaabari, certo? Nada de
lágrimas: homem que viveu pela espada morreu pela espada, destino que, claro,
não preocupa os guerreiros do ar de Israel, enquanto matam civis, de longe, em
Gaza.
Washington
apoia o direito de Israel “autodefender-se”, em seguida, fala de uma
neutralidade espúria – como se as bombas que Israel lança contra Gaza não
viessem dos EUA, tão certo quanto os foguetes Fajr-5 vêm do Irã.
William Hague |
Enquanto
isso, o lastimável, lamentável William Hague decide que o Hamás seria “principal
responsável” pela mais recente guerra. Mas... de onde tirou essa ideia? Segundo
o The Atlantic Monthly, o assassinato, por israelenses, de um palestino
“mentalmente desequilibrado” que caminhou em direção à fronteira, pode ter sido
o estopim da mais recente guerra. Há também quem suspeite que tudo tenha
começado com o assassinato de um menino palestino, que seria ato deliberado de
provocação. E há quem diga que o menino foi morto por israelenses quando um
grupo de palestinos armados tentava cruzar a fronteira e foi impedido por
tanques israelenses. Nesse caso, pistoleiros palestinos – talvez não do Hamás –
podem ter sido o estopim de tudo.
E
não há meio para deter essa loucura, esse lixo de guerra? É verdade que centenas
de foguetes são lançados contra Israel. É verdade também que milhares de acres
de terra são roubadas dos árabes, por Israel – para judeus e só para judeus – na
Cisjordânia. Hoje, já não resta terra suficiente, sequer, para um Estado
palestino.
Apaguem
o parágrafo acima, por favor. Só há os mocinhos e os bandidos nesse conflito
horrendo, no qual os israelenses dizem que são os mocinhos, para os aplausos dos
países ocidentais (os quais, imediatamente, passam a perguntar-se por que tantos
muçulmanos não gostam muito de ocidentais).
O
problema, por estranho que pareça, é que as ações de Israel na Cisjordânia e o
sítio de Gaza trazem cada dia para mais perto o evento que Israel diz temer
todos os dias: Israel talvez se veja face à face com a própria destruição.
Na
batalha dos foguetes – com os Fajr-5 iranianos e os drones do Hezbollah –
os dois lados avançam por uma nova trilha de guerra.
Já
não se trata de tanques israelenses que cruzam a fronteira do Líbano ou a
fronteira de Gaza. Começamos a falar de foguetes e drones de alta
tecnologia e de ataques cibernéticos – ou, “ciberterrorismo” quando a iniciativa
é dos muçulmanos – e, cada dia que passa, a escória humana deixada aos pedaços à
margem do caminho será ainda mais irrelevante do que é hoje e ao longo dos
últimos três dias.
Praça Tahrir e o Despertar Árabe |
O
despertar árabe começa a trilhar caminho próprio: os líderes terão de ouvir a
voz das ruas. Desconfio que acontecerá também ao pobre velho rei Abdullah da
Jordânia. A papagaiada dos EUA sobre “paz” ao lado de Israel, já não vale uma
vela queimada, entre os árabes. E se Benjamin Netanyahu crê que a chegada dos
primeiros foguetes Fajr do Irã exigirá um Big Bang israelense contra o Irã, e
depois o Irã devolve os tiros – e, talvez, também os norte-americanos – e, no
pacote, logo virá também o Hezbollah – e Obama acaba engolido em mais uma guerra
ocidente-muçulmanos... Sim, mas... então... o que acontecerá?
Ora...
Israel pedirá um cessar-fogo, o que Israel sempre pede, contra o Hezbollah. E
pedirá outra vez o imorredouro apoio do ocidente em sua luta contra o mal do
mundo, o Irã incluído.
E
o assassinato do comandante Jaabari? Por favor, esqueçam que os israelenses
estavam negociando com o próprio Jaabari, usando como intermediário o serviço
secreto alemão, há menos de um ano. Não se negocia com terroristas, certo?
Israel negocia.
Israel batizou o mais recente banho
de sangue que promove em Gaza, de Operação Pilar da Defesa. Está mais para Pilar
da Hipocrisia.
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