6/11/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O
muito aguardado comentário dos iranianos apareceu na edição de 2ª-feira do
Tehran Times [1] – sobre como a eleição
presidencial nos EUA atinge o Irã. A conclusão:
Romney
e Obama discordam em questões como assistência pública à saúde, emprego,
orçamento militar e impostos, mas partilham o mesmo ponto de vista no que tenha
a ver com prolongar a oposição ao Irã e ao programa nuclear iraniano para
finalidades pacíficas. O próximo presidente dos EUA será anunciado dentro de
algumas horas; pode-se dizer que qualquer dos candidatos que seja eleito será
hostil ao Irã, como todos os presidentes dos EUA que estiveram no cargo desde a
vitória da Revolução Islâmica em 1979
A
avaliação segue linhas previsíveis. Mas, de fato, o que importa no comentário
iraniano deve ser lido nas entrelinhas. A principal entrelinha é que o
comentário rebate a acusação de Mitt Romney, de que Obama seria “soft”
[suave, frouxo] contra o Irã. Dito em outras palavras, o comentário não
compromete as credenciais de Obama, nem suas chances eleitorais
Claro:
uma vitória de Romney será golpe duro de assimilar para o Irã, e quase com
certeza significará o fechamento do canal oculto de contato que parece estar
em operação
entre Washington e Teerã. Mês passado, o New York
Times [2] revelou que há contatos
secretos entre Washington e Teerã e que conversações diretas podem começar no
instante em que se concluam as eleições presidenciais.
Por
falar nisso, um jornal israelense de grande circulação popular, Yedioth
Ahronoth publicou matéria na 2ª-feira, em que identifica uma advogada de
Chicago, nascida na cidade iraniana de Shiraz e hoje conselheira de Obama,
Valerie Jarrett, como peça chave do lado norte-americano nas comunicações com os
líderes iranianos em reuniões secretas no Bahrain há vários meses.
Enriquecimento de urânio a 20% é essencial para uso civil |
Al-Arabiya também
noticiou no domingo [3] que o Irã
suspendeu o enriquecimento de urânio a 20% como gesto “de boa vontade”, ante a
aproximação do início de conversações, dentro do formato P5+1, previsto para o
final de novembro. E, isso, logo depois de notícias persistentes de que Ali
Akbar Velayati, alto conselheiro do Líder Supremo do Irã Aiatolá Ali Khamenei,
tivera reuniões com funcionários da ONU sobre a questão nuclear.
Velayati
é figura chave do establishment da política externa do Irã (foi Ministro
de Relações Exteriores do Irã, por dez anos) e, se o noticiário é verdadeiro, o
processo já envolve os líderes iranianos de mais alto nível. É muito possível um
acordo que permita ao Irã enriquecer urânio a baixos níveis e sob rigorosa
inspeção.
E até Israel já entrou em cena. Há
bons sinais, dado que, segundo matérias recentes, funcionários e diplomatas
iranianos e israelenses já estão trabalhando em torno da mesa de negociações,
[4] em atmosfera de contato entre
empresários, longe de qualquer publicidade; o objeto dessas discussões é a
eliminação de todas as armas nucleares em todo o Oriente Médio.
Nada disso jamais aconteceria, se o governo Obama não tivesse oferecido forte
encorajamento.
Um acordo com o Irã [5] poderia fazer do segundo mandato de
Obama algo realmente novo e transformador, não só em termos de desarmar um ponto
potencial de conflito altamente perigoso para a segurança internacional, mas,
também, em termos de pôr sobre novas bases as relações entre os EUA e o Oriente
Médio Muçulmano. E, se o processo levar a uma conferência internacional para que
se estabeleça uma zona livre de armas de destruição em massa no Oriente
Médio , será passo significativo na direção de implementar a
agenda de não proliferação nuclear, que Obama sempre acalentou como possível
legado de seu governo.
Notas
de rodapé
[1] 5/11/2012, The Tehran
Times, Kourosh Ziabari em: “How U.S. presidential election will impact
Iran”
[2] 20/10/2012, The New York
Times, Helene Cooper e Mark Landler em: “U.S.
Officials Say Iran Has Agreed to Nuclear Talks”
[3] 4/11/2012, Al Arabiya News, (with agencies) em: “Hard-hit by
sanctions, Iran suspends 20-percent uranium enrichment”
[4] 5/11/2012, The Guardian,
Julian Borger, diplomatic editor em: “Israel
and Iran hold 'positive' nuclear talks in Brussels”
MK
Bhadrakumar*
foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União
Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em
questões do
Afeganistão
e
Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações,
dentre as quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994),
famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de
Kerala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.