16/11/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
O
Pentágono do Amor – como no affair
Petraeus-Broadwell-Kelley-Allen-agente-de-torso-nu-do-FBI – é farsa que continua
a dar flor. O problema é que não se trata de sexo, mentiras &
e-mails. Trata-se, sempre e só, de Benghazi.
Com
escândalo ou sem, o general David Petraeus finalmente aceitou depor, em data
ainda a ser marcada, ante a Comissão de Inteligência do Senado sobre o 11/9, o
ataque, em 2012, ao consulado dos EUA na Líbia, no qual foram mortos o
embaixador Chris Stevens e três outros cidadãos norte-americanos; é possível que
lhe perguntem sobre o que a CIA fazia lá antes, durante e depois do ataque.
Barack Obama |
Quanto
ao presidente Obama, na primeira conferência de imprensa depois de reeleito,
tratou de alertar os Republicanos – que, há semanas, vêm tentando distorcer
Benghazi para que sirva aos seus objetivos – de que “me perseguirem”;
perseguirem a embaixadora na ONU, Susan Rice, “que nada teve a ver com Benghazi,
e apenas fazia uma apresentação baseada em informes de segurança que recebeu”; e
“enlamear sua reputação” (tudo isso) é “revoltante, inadmissível”.
Mais
do que os Republicanos enfrentarem problemas com o presidente, a coisa parece
que tem a ver com Petraeus enfrentar problemas com a nação. Sempre em surto de
negação obsessiva, os Republicanos evidentemente pirarão quando Petraeus contar
ao Senado exatamente o que contou à Casa Branca há dois meses. O general – e em
seguida a secretária de Estado Hillary Clinton, mais Susan Rice – todos,
disseram que o ataque em Benghazi foi resultado daquele filme ridículo sobre o
profeta Maomé que circulou em vídeo pelo YouTube.
David Petraeus |
Àquela
altura, o affair de Petraeus com a biógrafa-gata Paula Broadwell, já era
passado. Mas o general, provavelmente, não sabia que já estava fisgado também na
investigação que a socialite de Tampa, Jill Kelley, inspirara ao FBI,
sobre e-mails persecutórios que ela recebera de Paula. E aí, semana
passada, a investigação veio miraculosamente à tona, imediatamente depois das
eleições, exatamente quando Petraeus foi convocado a depor no Senado. O general,
ao que tudo indica, errou as contas estratégicas e não conseguiu salvar o
próprio emprego. Mas não há o que leve a duvidar de que ele terá bom desempenho
em seu “Especial
Benghazi ”.
A lean, mean
killing machine [1]
Paula Broadwell |
A
possibilidade de que o general, hoje caído em desgraça, sairá limpo no que tenha
a ver com o atual modus operandi da CIA é tão remota quando vermos Paula
Broadwell no papel de Branca de Neve. Desde que Petraeus foi nomeado por Obama
para dirigir a CIA, a agência foi convertida em máquina paramilitar de matar –
não exatamente um paraíso de Inteligência Humana (HUMINT). Só ações
clandestinas, agentes mascarados nas sombras, distante de qualquer controle pelo
Executivo, Legislativo ou Judiciário ou pela mídia; de fato, absolutamente fora
de qualquer controle.
Essa
militarização linha duríssima da CIA implica a agência jamais ter reconhecido a
Guerra dos Drones. Para nem falar sobre como se decidem os alvos dos
assassinatos predefinidos, do Chifre da África à Península Arábica e as áreas
tribais do Paquistão; e sobre quem é sorteado para ganhar ou mais um dia de vida
ou a morte. O que torna tudo ainda mais absurdo é que a CIA recebeu, da Casa
Branca, a missão de investigar com imparcialidade a sua própria empreitada de
guerra suja.
Dick Chaney |
Tudo isso nos leva inevitavelmente
de volta a Benghazi – e à notícia-bomba, divulgada pelo canal Fox News, [2]citando fonte anônima de
Washington, segundo a qual havia, no consulado em Benghazi, um “anexo da CIA”
onde estavam “detidos” três combatentes de milícias líbias (leia-se: jihadistas
salafistas) para interrogatórios (leia-se: para atividades aquáticas de
recreação e afogamento à moda Dick Cheney).
As
sessões de interrogatório estariam sob responsabilidade de “empresas
terceirizadas”, uma coleção sombria de “ex” Agentes Especiais (a própria CIA
encarregou-se de lembrar à opinião pública que “desde janeiro de 2009 já não
tinha autoridade para fazer prisioneiros, nos termos da Lei [orig. Executive
Order] 13.491)”.
Antes,
também foram “hóspedes” em Benghazi combatentes de várias guerras e conflitos no
Norte da África e no Oriente Médio. Em resumo: o tal “anexo” da CIA era um dos
principais buracos negros de todo o Norte da África.
Assim
sendo, temos uma prisão “secreta” da CIA funcionando dentro de um consulado
norte-americano – e, obviamente sem responder ao Departamento de Estado –
ocupada por “ex” e atuais empresas privadas de Forças Especiais contratadas,
recebendo “entregas especiais” de prisioneiros para interrogatório e cuidando de
práticas de “detenção” (leia-se: tortura) que são ilegais nos EUA. Toda essa
gente trabalhava para Petraeus – não para Hillary Clinton.
É
mais do que provável que não seja o único desses estabelecimentos recreacionais
– porque há Forças Especiais em ação por todo o Norte da África - e já se sabe
que a CIA mantém outra dessas prisões ilegais na Somália.
Aposto
um celeiro cheio de garrafas de Chateau
Petrus, que o general não dirá palavra sobre tudo isso, no depoimento ao
Senado. O general repetirá que a culpa de tudo que houve em Benghazi é do vídeo
sobre o Profeta Maomé.
E
há também o caso das Gataghazis
Gataghazis (Broadwell&Kelley) |
O
caso das Gataghazis é o máximo: a
Biógrafa-Gata Paula e sua briga virtual de foice no escuro contra Jill Kelley
(gata libanesa-norte-americana, também conhecida pelos codinomes de Jill Khawam,
Gilberte J Kelley, Gigi Khawam, Gigi Kelley, que mantinha um negócio de
“planejamento de eventos sociais” gratuitos na base do Comando Central (CENTCOM)
em Tampa, Flórida.
E , isso, ainda sem falar da espantosissimamente trabalhosa
troca de e-mails (mais de 30 mensagens por dia) todos os dias, entre
Kelley e o general John Allen e que durou, no mínimo, com certeza, três anos. É
claro que o general Allen não tinha mãos para cuidar daquele amaldiçoado,
chatíssimo, problema dos Talibã.
O Tampa Bay Times tem
publicado vastas matérias, todos os dias, sobre a metamorfose da “reputação,
consagrada por décadas, de hospitalidade e acolhimento gentil dos militares”. O
jornal diz que o “marco zero” das novas travessuras sexuais “não é o Pentágono,
mas uma mansão no bulevar Bayshore,
onde vive uma família com apetites lascivos insaciáveis e dívidas gigantescas”:
é onde moram os Kelleys [3].
Com
tanta torpeza e lascívia no mercado dos contatos “sociais”, difícil é alguém
pensar em
política externa. Mesmo assim, tudo leva a crer que Benghazi
seja só um aperitivo do que está cozinhando na Síria.
Benghazi
– como Darnah, no litoral – alimentou a guerra da OTAN na Líbia fornecendo
incontáveis jihadistas salafistas, inclusive gente ligada à al-Qaeda, através do
“ex” Grupo Islâmico de Combate Líbio [orig. Libya Islamic Fighting Group
(LIFG)].
Abdelhakim Belhadj |
Não
há dúvida alguma de que o embaixador Chris Stevens estava em contato íntimo com
essa poderosa linha “rebelde” – inclusive com o superastro islamista Abdelhakim
Belhadj. Depois que o coronel Gaddafi foi capturado e assassinado pelos
“rebeldes” – com amplo apoio dos mísseis dos EUA e de soldados de Forças
Especiais do Qatar por terra – islamistas líbios, com Belhaj à frente, começaram
a contrabandear jihadistas salafistas armados até os dentes para juntar-se aos
rebeldes sírios que querem derrubar o governo de Assad.
Demorou,
mas afinal Hillary e o Departamento de Estado acordaram e perceberam o risco a
que se expunham, de um contragolpe. Essa é uma das principais razões pelas quais
Hillary tem tanta pressa para “refundar” a liderança da oposição síria, o que
foi sacramentado no último fim de semana em Doha.
Na
sua primeira conferência de imprensa, Obama limitou-se a repetir platitudes
sobre a Síria (“estivemos sempre em contato com a comunidade internacional” e
“consultamos repetidas vezes a oposição”, além de Turquia, Jordânia e Israel;
muito significativamente, Obama não citou dois atores chaves do Conselho de
Cooperação do Golfo, anti-Assad: a Arábia Saudita e o Qatar). Alertou sobre
“elementos extremistas” infiltrados na oposição Síria; e não se comprometeu a
armá-los. Não, pelo menos, oficialmente.
Hillary Clinton |
Amanhã,
6ª-feira (16/11/2012), começa em Londres a segunda reunião de “amigos” da Síria
– para dar sequência aos planos de Hillary para demitir uns e empossar outros
dos tais “amigos”. O ocidente será então oficialmente apresentado ao novo líder
da oposição, Maaz al-Khatib – que toda a empresa-imprensa ocidental repete, em
frenesi, que seria “moderado”, com “impecáveis credenciais revolucionárias” e
que deseja, segundo suas próprias palavras, conduzir a Síria na direção de
converter-se em “estado cívico”.
É
farsa tão ridícula quanto os contos das Gataghazis. Al-Khatib já disse que os
problemas sírios só se resolvem com “armas”. A França – a qual, sob Hollande,
permanece tão pateticamente neocolonialista quanto nos idos do rei Sarkô – já o
reconheceu como líder e também reconheceu a nova oposição, criada essencialmente
por pressão dos EUA e do Qatar, sob vagas promessas de muito dinheiro.
Maaz al-Khatib |
Al-Khatib – ex imã da mesquita
Umayyad em Damasco, posição que jamais obteria sem o aval da inteligência síria
– é conhecido por ter convocado a Jihad para salvar o mundo muçulmano (há
notícia em árabe, mas nada que o Google
Translate não dê conta [4]). E o golpe fatal: Al-Khatib está
convencido de que Facebook é complô
de EUA-Israel contra os árabes. [5]
Com
amigos como EUA, França, Arábia Saudita, Qatar e Turquia, a Síria não precisa de
inimigos. Quanto à volta do chicote no lombo de quem chicoteia, preparem-se: o
que aconteceu em Benghazi é só o aperitivo do que os inimigos dos EUA estão
preparando.
Os
EUA já não podem contar, nem com Petraeus, nem com Allen para defender a pátria?
Ora! Podem convocar Jill Kelley! Ela a-do-ra quatro estrelas!
Notas
de rodapé
[1]
Aprox.,
“uma máquina de matar enxuta”. A expressão aplica-se aos Marines e
circulou muito, em tom de elogio e propaganda em 2004, na tomada de Fallujah, no
Iraque. Vídeo a seguir:
[2]
Vídeo
a seguir:
[3] 14/11/2012, Tampa Bay News, Amy
Scherzer em: “Petraeus
friends Jill Kelley and Natalie Khawam share financial troubles”
[4] 27/10/2012, Darbuna, Ahmed Maaz Khatib al-Hassani
em: “Arquivo Diário de
27/10/2012” (Para ler em português acione o Google
Translate).
[5]
17/2/2008,
Darbuna, Ahmed Maaz Khatib al-Hassani em: “Arquivo Diário de
17/2/2008” (Para ler em português acione o Google
Translate).
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