2/11/2012,
Mauro
Santayana
Enviado
pelo pessoal da Vila Vudu
Mauro Santayana |
Os
Estados Unidos advertiram o governo de Israel contra seu projeto de ataque
preventivo às instalações nucleares do Irã, conforme noticiou The
Guardian, em sua edição de 4ª feira. O aviso não foi das autoridades civis
de Washington, e, sim, dos comandantes das tropas militares norte-americanas em
operação na região do Golfo – o que, ao contrário do que se pode pensar, é ainda
mais sério. O argumento dos militares é o de que esse ataque, além de não
produzir os efeitos desejados – porque o Irã teria como retomar o seu programa
nuclear – traria dificuldades políticas graves aos aliados ocidentais na região,
sobretudo a Arábia Saudita e os Emirados Árabes – de cujo abastecimento direto
depende a 5ª. Frota e as bases das forças terrestres e aéreas que ali operam.
Embora
as dinastias árabes pró-ocidentais temam o poderio militar do Irã, temem mais a
insurreição de seus súditos, no caso de que se façam cúmplices de novo ataque a
outro país muçulmano. Nunca é demais lembrar que os Estados Unidos e a Europa
dependem também do petróleo que passa pelo golfo e atravessa o Canal de Suez,
controlado pelo Egito.
Há,
nos Estados Unidos – e, entre eles, alguns estrategistas do Pentágono – os que
pensam ser hora de ver em Israel um país como os outros, sem a aura mitológica
que o envolve, pelo fato de servir como lar a um povo milenarmente perseguido e
trucidado pela brutalidade do nacional-socialismo. Uma coisa é o povo – e todos
os povos têm, em sua história, tempos de sacrifício e de heroísmo, embora poucos
com tanta intensidade quanto o judeu e, hoje, o palestino – e outra o Estado,
com as elites e os interesses que o controlam.
Nenhum
outro governo – nem mesmo o dos Estados Unidos – são tão dominados pelos seus
militares quanto o de Israel. Eminente pensador judeu resumiu o problema com a
frase forte: todos os estados têm um exército; em Israel é o exército que tem um
Estado.
O Pentágono acredita que uma
guerra total contra o Irã seria apoiada pelos seus aliados da região, mas os
observadores europeus mais sensatos não compartilham o mesmo otimismo. A
ofensiva diplomática de Israel na Europa, em busca de apoio para - em seguida às
eleições norte-americanas - uma ação imediata contra Teerã, não tem surtido
efeito. Londres avisou que não só é contrária a qualquer ação armada, mas,
também, se nega a permitir o uso das ilhas oceânicas de Diego Garcia
(Índico)
e
Ascenção (Atlântico
Sul) cedidas pela Inglaterra para as bases ianques, como plataforma
para qualquer hostilidade contra o país muçulmano.
Negativa
da mesma natureza foi feita pela França, que, conforme disse François Hollande a
Netanyahu, não participará, nem apoiará, qualquer iniciativa nesse sentido. É
possível, embora não muito provável, que Israel conte com Ângela Merkel. Israel
tem esperança na vitória de Romney, e a comunidade israelita dos Estados Unidos
se encontra dividida. Os banqueiros e grandes industriais de armamento, de
origem judaica, trabalham com afã para a derrota de Obama. E há o temor de que,
no caso da vitória republicana, os israelitas venham a aproveitar o esvaziamento
do poder democrata para o ataque planejado.
Além
disso, Netanyahu não tem o apoio unânime entre os militares de seu país para
esse projeto. Amy Ayalon, antigo comandante da Marinha, e dos serviços internos
de segurança, o Shin Bet, disse que Israel não pode negar a nova realidade nos
países islâmicos: “Nós vivemos – avisa – em novo Meio Oriente , onde as
ruas se fortalecem e os governantes se debilitam”. E vai ao problema
fundamental: se Israel quer a ajuda dos governos pragmáticos da região, terá que
encontrar uma saída para a questão palestina. É esta também a opinião, embora
não manifestada com clareza, do governo de Obama, de altos chefes militares
americanos, e dos círculos mais sensatos da comunidade judaica naquele país.
O
fato é que os Estados Unidos se encontram em uma situação complicada. Eles não
têm condições militares objetivas para entrar em nova guerra na região, sem
resolver antes o problema do Iraque e do Afeganistão. Seus pensadores mais
lúcidos sabem que invadir o Irã poderá significar a Terceira Guerra Mundial, com
o envolvimento do Paquistão no conflito e, em movimento posterior, da China e da
Rússia. Washington, na defesa de seus interesses geopolíticos, deu autonomia
demasiada a Israel, armando seu exército e o ajudando a desenvolver armas
atômicas. Já não conseguem controlar Telavive.
Estarão
dispostos, mesmo com o insensato Romney, a partir para uma terceira guerra
mundial?
No tabuleiro de xadrez, se trata de
“zugzuang” [1]; na mesa de bilhar,
de “sinuca-de-bico” [2].
Notas da
redecastorphoto
[1] “Zugzuang” é uma palavra de origem
alemã que significa movimento
forçado. É usada no jogo de xadrez para designar o momento em que todas as
alternativas escolhidas pelo jogador são
perdedoras. Expressão também usada para definir uma situação de derrota circunstancial.
[2] “Sinuca-de- bico”: A Confederação
Brasileira de Bilhar e Sinuca explica o que é sinuca-de-bico: situação de jogo
em que a bola branca toca ou se aproxima do bico (contorno arredondado no canto,
junto às caçapas), impedindo que o jogador atinja outra bola visada, em tacada
natural direta. Expressão usada também para definir uma situação de dificuldade
extrema.
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