3/11/2012, Jeremiah Goulka, Tom Dispatch em: “The
Dogs of War Are Barking - Mitt Romney’s Team Wants to Let’Em Loose in
Iran ”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jeremiah Goulka |
É
consenso entre os “especialistas” “midiáticos”: a política externa não pesa nas
eleições presidenciais em curso. Insistem em que o Republicano Mitt
Romney mais ou menos papagueou o que disse o presidente Barack Obama, em tudo,
de gastos militares à conversa sobre outro “século norte-americano”.
Os
“especialistas” da “mídia” estão errados. Há uma questão que pesa e muito: o
Irã.
Não
se enganem. Não é só conversa fiada de campanha, quando Romney diz que será
muito mais duro que o presidente, contra o Irã e ameaça “uma opção militar que
mereça confiança”. Claro que também tenta soar mais forte e mais duro que Obama
– e logo quem, o presidente da guerra dos drones, das “listas de matar” e
do assassinato de bin Laden – mas não é ameaça vazia.
O candidato Republicano cercou-se
de conselheiros [1] que são, todos, comprometidos com
ação militar e golpe para mudar o regime no Irã, a mesma gente que arrastou os
EUA para a Guerra Global ao Terror e a Guerra do Iraque. Com seus colegas, em
institutos e think-tanks Republicanos de linha duríssima, passaram anos
induzindo os cidadãos a crerem que o Irã teria programa de armas nucleares,
falando sem parar de mulás “loucos” que trabalhariam para varrer Israel e os EUA
do mapa, diplomacia de desqualificação – e endurecendo um pouco mais, cada vez
que eram desmentidos por intelectuais sérios ou funcionários do governo que os
norte-americanos ainda respeitam.
Diferente do caso do Iraque em
2002 e 2003, hoje, para eles, as coisas são mais fáceis. E esse pessoal partiu
em caravana de promoção de vendas [2], falando sem parar sobre armas de
destruição em massa, para assim arregimentar apoio para invadir o Irã. Hoje,
ampla maioria dos norte-americanos já acredita que o Irã está construindo armas
atômicas.
O presidente ajudou a empurrar
ladeira acima essa bola de neve, com sanções para enfraquecer o regime iraniano,
guerra suja, ciberguerra e descomunal presença naval dos EUA no Golfo Persa. O
Irã promoveu manobras militares ampliadas, e os EUA promoveram manobras
conjuntas com Israel naquela área e “a maior operação multinacional de toda a
história para treinamento militar antiminas” [3]. Os EUA dançam ali uma dança
perigosa [4].
Irã e P5+1 |
Obama
carregou e engatilhou a arma. Mas, até agora, manteve o dedo longe do gatilho,
tentando solução diplomática nas conversações do grupo chamado P5+1 e deixou no
ar rumores de futuras conversações com os iranianos. O problema é que o pessoal
de Romney quer tiroteio.
Diferente
do Iraque, a guerra contra o Irã é mais fácil de vender
Lembram-se
dos dias de inocência, em 2002 e 2003, a guerra do Afeganistão ainda
começando, e o governo Bush tentando vender aos norte-americanos uma invasão do
Iraque?. Lembro-me perfeitamente. Naquele tempo, eu era Republicano. Mas nem
assim comprei a ideia. Jamais senti qualquer necessidade de invadir o Iraque,
nunca vi qualquer conexão entre a al-Qaeda e o Iraque, nem jamais me preocupei
com armas de destruição em massa. Eu, de algum modo, sentia que alguma coisa
estava errada. E quanto ao Irã, hoje? Tudo diferente! Se eu ainda fosse
Republicano, com certeza, o jogo seria esse mesmo, e sei que não estaria
sozinho, por três razões.
Primeiro,
até estrategistas de poltrona sabem que o Irã possui muito petróleo, ao qual os
EUA não temos acesso: é a quarta maior reserva do planeta. Tem também longo
litoral no Golfo Persa, e tem capacidade para fechar o Estreito de Ormuz, o que
é como ter poder para pinçar umas das principais artérias planetárias por onde
fluem recursos de energia.
Estreito de Ormuz |
E
há também o fato de que o Irã ocupa lugar especial na consciência dos
norte-americanos. A República Islâmica do Irã e os mulás que a governam são
inimigos culturais dos EUA desde que estudantes revolucionários iranianos
derrubaram o regime-fantoche que mantínhamos lá e invadiram a Embaixada dos EUA
em Teerã, em 1979. O país é uma teocracia governada por barbudos, com cara de
mau e roupas esquisitas. Ajudam o Hezbollah e o Hamás. Nas ruas, as multidões
nos chamam de “O Grande Satã”. O presidente deles nega o holocausto dos judeus e
diz horrores sobre varrer Israel do mapa. Aí está, para pronta entrega, um
inimigo.
E
por fim, cereja do bolo, as armas nucleares.
O
público parece hipnotizado. Grande maioria dos norte-americanos crê que o Irã
mantém programa de armas nucleares: 71% em 2010; 84% em março de 2012. Há
pesquisas, até, que mostram que uma maioria de norte-americanos apóia ação
militar para impedir que o Irã prossiga na produção de armas nucleares.
Chama
a atenção, contudo, a quantidade e a qualidade dos especialistas que pensam
exatamente o oposto disso tudo. Por exemplo, o Conselho de Inteligência Nacional
[orig. National Intelligence
Council], seminário de especialistas que redigem o documento conhecido como
National Intelligence Estimates do
governo dos EUA. Continuam a repetir que, segundo avaliação deles, o Irã teve um
programa para construir armas nuclerares sim, mas foi extinto em 2003. Altos
funcionários de EUA, Israel e países europeus também insistem que o Irã não tem
o tal programa, que sequer chegou algum dia a decidir tê-lo, que, no máximo, os
iranianos começam a chegar perto de poder ter, talvez, o tal programa. O Supremo
Líder do Irã, em pessoa, lançou uma fatwa que proíbe que se construam
bombas atômicas no Irã. O que, então, dá tal convicção aos cidadãos
norte-americanos, contra tantas evidências e provas de que estão errados? Como
chegamos a esse ponto?
As
principais razões para termos chegado ao que chegamos são três; dessas, só uma,
e parcialmente, é honesta.
O
que se esconde num adjetivo?
A
primeira razão é linguística e muito simples. Enuncie, em voz alta, as seguintes
palavras: “Programa nuclear civil do Irã”.
Já
ouviram antes? Há altíssima probabilidade de que todos respondam “não”.
Estranharam, até, ver as palavras escritas? Provavelmente, “sim”. Porque a
imprensa-empresa não usa essas palavras; nem os “especialistas” da
imprensa-impresa jamais as usaram; porque nenhum dos candidatos usa essas
palavras ao se referir às atividades nucleares do Irã. O Irã tem um programa de
uso civil da energia nuclear, inclusive uma usina nuclear em Beshehr, lá
implantada com a ajuda e o estímulo do governo Eisenhower em 1957, como parte de
seu programa “Átomos para a Paz”. Alguém algum dia ouviu falar disso nos últimos
anos? Não. Só se fala e escreve-se sobre “o programa nuclear iraniano”.
Devidamente contextualizado, o significado dessas três palavras passou a ser um
só: “o Irã está construindo bombas atômicas”.
Por
pura curiosidade, fiz minhas próprias pesquisas no Google. O resultado é
espantoso:
“Iran’s disputed nuclear weapons program”: 4
resultados
“Iran’s
possible nuclear weapons program”: aprox. 8.990 resultados
“Iran's
civil nuclear program”: aprox. 42.200 resultados
“Iran’s
civilian nuclear program”: aprox. 199.000 resultados
“Iran’s nuclear weapons program”: aprox. 5.520.000 resultados
“Iran’s nuclear program”:
aprox. 49.000.000 de resultados [5]
As
palavras fazem toda a diferença, e esses deslizamentos de significados estão
modelando a percepção dos norte-americanos e empurrando os cidadãos para que
apoiem mais guerras.
Parte disso tudo é, provavelmente,
efeito de preguiça ou inércia. Ter de escolher entre escrever “civil” ou “armas”
ou “discutível”/ “discutido”/ “controverso” ou “possível” é trabalho extra e a
escolha parece nem fazer diferença alguma. Até quem teria boas razões para
buscar a máxima precisão usa a fórmula mais sintética; entre esses, o presidente
Obama [6]. Mas, sim: parte disso tudo é
intencional e deliberado.
Os candidatos Republicanos à
presidência fazem proselitismo
A
segunda razão pela qual tantos norte-americanos estão convencidos de que o Irã
busca empenhadamente construir armas atômicas pode ser atribuída diretamente aos
candidatos Republicanos à presidência. Eles usaram o espectro desse programa de
armas para espancarem-se uns os outros durante a campanha das primárias, cada um
tentando apresentar-se como o mais mau, o maior, o mais durão do mercado, em
matéria de xerife-de-quarteirão – e dali em diante, não pararam nunca mais.
O
exagero foi impressionante. Por exemplo, Rick Santorum: “Depois que tiverem uma
bomba atômica, acreditem em mim, vocês nunca mais estarão a salvo, nem aqui no
Missouri”. Ou Newt Gingrich: “Lembrem do que foi o 11/9, quando 3.100
norte-americanos foram mortos. Imaginem então se se metem mais dois zeros: dá
300 mil mortos. Talvez meio milhão de feridos. Há perigo real. Não é ficção
científica”.
E o próprio Mitt Romney: “Nesse
momento, o maior perigo que os EUA enfrentam e o mundo enfrenta é um Irã
nuclear”. [7]
A
Brigada do Golpe/Mudança de Regime
Embora isso não a torne
desculpável, o desleixo, a preguiça, a omissão e a posição ativa da
imprensa-empresa na disputa política são previsíveis. Mas há uma terceira razão
pela qual os norte-americanos são obcecadamente empurrados na direção de mais e
mais guerras: há em Washington o que se pode chamar de “Lobby pró
Bombardeie o Irã” – sujeitos linha-duríssima e grupos dedicados a nos tornar
crentes praticantes da religão “O Irã está produzindo Bombas Atômicas para NOS
Atacar”, que trabalham exclusivamente para pavimentar a estrada que levará a
golpe para derrubar o regime do Irã – que, entre eles, chama-se “mudança de
regime”. Não se deve esquecer que, além de Republicanos que martelaram a ideia
durante todo o outono, o grupo inclui também atuais [8] e ex-Democratas [9] que já disseram que bombardear o
Irã seria excelente ideia.
Numerosos
think-tanks conservadores e neoconservadores vivem de produzir
relatórios, colunas, matérias jornalísticas e artigos em periódicos
‘especializados’ todos sugerindo e alguns claramente declarando que “o Irã tem
um programa nuclear” que tem de ser contido – e que, com certeza, será preciso
usar forçar armada para contê-lo.
Basta
examinar o fluxo continuado de palavras que jorram de think-tanks
Republicanos como a Heritage
Foundation e o American Enterprise
Institute (AEI). (“Já está
suficientemente claro há muito tempo que, na ausência de mudança de regime em
Teerã, nenhum meio pacífico conseguirá persuadir ou impediro o Irã de atingie
seu objetivo nuclear, cada dia mais perigosamente próximo”.) Ou o Claremont Institute (“Ameaça mortal,
hoje, quando o Irã ainda não é senhor de um arsenal nuclear? Sim!”) ou os
neoconservadores que tomam a fresca nos solários de institutos e fundações não
partidárias como Max Boot, no Council on
Foreign Relations (“Ataques aéreos contra o Irã são plenamente
justificados”).
E vê-se a mesma coisa até nas
igrejinhas Republicanas de linha ainda mais dura, como a Foundation for the Defense of Democracies
[10] [Fundação para a Defesa das
Democracias], com sua “campanha para garantir que o juramento feito pelo Irã, de
destruir Israel e criar “um mundo sem EUA”, continue nem cumprível nem
factível”. (Segundo um dos distintos conselheiros políticos do grupo e âncora da
rede Fox News, o Irã tem “programas
de armas atômicas” [tudo no plural]).
Para
o velho grupo da Guerra Fria, Committee
on the Present Danger [Comissão para o Perigo Presente], o Irã “marcha rumo
à nuclearização”. O general aposentado e cruzado cristão Jerry Boykin, do Family Research Council [Conselho da
Busca/Pesquisa da Família] até já garantiu a Glenn Beck, “Acredito que o Irã tem
uma ogiva nuclear hoje”.
Há
também duas organizações, muito ouvidas à direita, que se dedicam
exclusivamente, em tempo integral, ao golpe/mudança de regime. Há o Emergency Committee for Israel [Comissão
de Emergência pró Israel], grupo militante fundado por Bill Kristol e Gary
Bauer, no qual se conectam a direita cristã, os neoconservadores e o
lobby israelense. A Comissão insiste em que “o Irã prossegue na busca de
uma bomba atômica”; e não se cansa de pregar o golpe/mudança de regime no Irã,
com imediato bombardeamento.
Este casal comanda os terroristas MEK Mujahedin-e Khalk |
Não
menos importante é o grupo Mujahedin-e Khalq (MEK), de dissidentes iranianos
que, recentemente, em movimento cercado de muita controvérsia, foi removido da
lista oficial dos EUA de organizações terroristas estrangeiras. O MEK divulgou
informações da inteligência israelense, sobre um supostamente então ainda ativo
programa iraniano de armas nucleares, em conferência de imprensa, em 2002, em
Washington. Desde então, jamais se cansou de contar histórias picantes em que
sempre há um personagem iraniano e ‘nuclear’; mantém também campanha de
lobby gigante, pagando dúzias de ex-funcionários de serviços e agências
norte-americanos antiterrorismo – vários dos quais trabalham hoje na indústria
da Defesa – mas que, hoje, já praticamente vivem de elogiar o MEK pela imprensa.
O
MEK quer golpe/mudança de regime, porque tem esperanças de que os EUA
implantarão no poder no Irã, “depois”, um “presidente eleito” e um “parlamento
no exílio”, só de MEKianos. (Coisa como Ahmed Chalabi e seu Congresso Nacional
Iraquiano, que desempenhou papel similar junto ao governo Bush, nos preparativos
para a invasão do Iraque. Os dois grupos compartilham até algumas das cadeiras
da fila do gargarejo, de gritadores de “apoiado!”).
E
há ainda os grupos que clamam por guerra contra o Irã por razões ditas
religiosas. Os Christians United For
Israel, CUFI [Cristãos Unidos por Israel], organização político-religiosa
que prega o fim dos tempos, comandada por John Hagee, pastor da megatemplo em
Cornerstone, em San Antonio. Como
Nicholas Guyatt demonstra em seu livro Have a
Nice Doomsday [Bom Apocalipse p’rá você], a organização de Hagee promove a
crença, frequentemente encontrável entre cristãos fundamentalistas, de que uma
guerra entre Israel e Irã será o gatilho para o fim dos tempos.
O próprio livro de Hagee,
Countdown Jerusalem, sugere que o Irã já teria armas nucleares e total
capacidade para usá-las e advoga agressivamente a favor de um ataque contra o
país. Para muitos norte-americanos, Hagee, seus seguidores e outros grupos
religiosos assemelhados parecem doidos ou perfeitamente alucinados; nada disso
implica que devam ser desconsiderados: o livro de Hagge vende aos milhões de
exemplares. [11]
Coadjuvantes
e elenco de apoio
As
empresas-imprensa do partido Republicano também entraram nesse jogo, e não se
cansam de passar e repassar matéria jornalística sobre o assunto, empenhadas em
assegurar plena liberdade de manifestação aos grupos que ladram a favor de mais
guerra. Por exemplo, a pergunta incluída numa pesquisa de opiniã feita em março,
encomendada e paga pela rede Fox
News: “Você acha que o Irã pode ser impedido de continuar a trabalhar para
ter bombas atômicas mediante diplomacia e sanções, ou será indispensável usar
força militar para impedir que o Irã fabrique bombas atômicas?” Sem levar a
sério os resultados desse tipo de “pesquisa”, a maioria dos norte-americanos
realmente prefere a diplomacia; 81% apoiam a via de conversações diretas entre
Washington e Teerã.
E
não se pode esquecer o complexo militar-industrial, gente para quem o medo de um
Irã armado com armas nucleares significa oportunidade de negócios. Em geral
defendem essa vaca na qual mamam há muito tempo servindo-se de um escudo muito
amado pelos Republicanos: os mísseis de defesa (que a campanha de Romney promove
com todas as honras, em sua página na internet, “Iran: An American Century” [Irã: Um
Século Americano]. Criam assim o espaço e a oportunidade para que o Pentágono
clame pela produção de novas bombas anti-bunker e pela construção de duas
novas classes de caríssimas naves de combate em áreas litorâneas.
Se os EUA chegarem a ser
arrastados a bombardear instalações iranianas – e inevitavelmente arrastados a
envolver-se em guerra prolongada – a conta, em sangue, será medida em tonéis. E
não esqueçam os potenciais LOGCAP, contratos de construção e de contratação de
batalhões de “guardas” e “soldados” privados (que seriam assinados, mesmo sem
que haja ocupação) com as KBRs, SAICs, DynCorps, Halliburtons, Bechtels, Wackenhuts, Triple Canopies e Blackwater [12] /Academis do mundo
inteiro.
(Infelizmente,
não há, nos EUA, leis que obriguem os beneficiários a divulgar o total de
dinheiro que essas empresas doaram, direta ou indiretamente, para a campanha de
Romney ou para os institutos, fundações, think-tanks [e Institutos
Milênios, iFHCs e outros] que existem para gerar e divulgar argumentos
construídos por ideólogos profissionais.)
O
problema com Romney
Tudo
isso significa que a opinião pública foi manipulada na direção de “desejar”
guerra contra o Irã. Recebendo sempre a mais atenta cobertura da
imprensa-empresa, os candidatos Republicanos implantaram aqui a noção de que o
Irã estaria às vésperas de ter bombas atômicas; que essas bombas representam
ameaça real à existência de Israel e dos EUA; e que diplomacia é coisa para
“almofadinhas”. Se Obama vencer, terá de trabalhar muito mais e mais
aplicadamente para impedir a guerra. Se Romney vencer, a guerra será a coisa
mais fácil. E isso, para o pessoal de Romney é boa notícia.
O
problema com Romney é que, sabem... Ele tem andado em péssima companhia – a
Brigada do Golpe/Mudança de Regime, muitos dos quais já ajudaram a empurrar o
timão na direção do Iraque quando, pressupostamente, quem estava ao timão era
George W. Bush. E não esqueçam que Bush, como Romney (e Obama), era barco vazio,
em matéria de assuntos externos, quando chegou ao Salão Oval. Ainda que o Irã
não passe de ferramenta de campanha para Romney, a ideia do golpe/mudança de
regime é objetivo fixado há muito tempo pelo pessoal que o cerca. Aquela gente
realmente quer bombardear o Irã. Nunca pararam de dizer que querem, e querem.
Project for a New American Century |
Robert
Kagan, por exemplo. Seu ninho está armado na Brookings Institution, não partidária,
mas ele também comanda o Project for a
New American Century [Projeto para um Novo Século Americano], dos
neoconservadores, e uma organização aí incluída, a Foreign Policy Initiative (FPI).
“Mudança de regime no Irã”, Kagan escreveu, “é a melhor política de não
proliferação”.
Outros
diretores da FPI, companheiros de Kagan, também estão na equipe de Romney: Bill
Kristol, Eric Edelman (ex-conselheiro de Cheney e sucessor de Douglas Feith no
Pentágono); e o ex-porta-vóz da Coalition
Provisional Authority, Dan Senor, que se converteu no assessor político que
Mitt mais ouve e em quem mais confia (e candidato sério a Conselheiro Chefe de
Segurança Nacional). O que pensa e diz a FPI? “É hora de empreender ação militar
contra elementos do governo iraniano que apoiam o terrorismo e o programa
nuclear. Mais diplomacia não é resposta adequada”. (...) E a lista continua.
Claro
que, em tese, um presidente Romney poderia ignorar todos os conselhos de sua
equipe ultraconservadora, exatamente como George W. Bush ignorou todos os
conselhos da equipe de moderados que participou do governo de seu pai. Mas... É
difícil acreditar que Romney daria as costas aos sábios coroados de governos
passados: a Cheney, ao ex-secretário da Defesa Donald Rumsfeld, ao
ex-vice-secretário da Defesa Paul Wolfowitz. Fato é que não há quem não saiba
que Romney a todo momento corre a aconselhar-se com os “Cheney-itas” (e dá as
costas a Republicanos internacionalistas moderados). Cheney nunca pensou em
outra coisa que não fosse bombardear o Irã.
Num
possível governo Romney, a única coisa que se tem de esperar é que essa gangue
cerque completamente o presidente, até conseguir que termine o serviço e detone
as instalações nucleares iranianas ou que, pelo menos, dê luz verde a Israel.
Todos fecharão os olhos a tudo que a experiência ensinou aos EUA no Iraque e no
Afeganistão, quando a coisa vira negócio cobrado em sangue vivo. Podem
esperar: dirão que algumas poucas bombas garantirão sucesso “cirúrgico”; dirão
que o alto comando militar é frouxo, burocrático, tem medo de assumir riscos,
caso hesitem em envolver-se em aventura que com absoluta certeza logo estará
convertida em
pesadelo regional. A mensagem será uma e só uma. Dirão: “Dessa
vez, dará certo”.
Derrotar e submeter os cães da
guerra
A
ninguém parece agradável a ideia de o Irã vir a ter bombas atômicas, mas se o
governo iraquiano decidir tê-las, não representarão nenhuma ameaça existencial a
ninguém. Os mulás em Teerã sabem que uma nuvem atômica sobre Telavive, ou sobre
Washington, converterá o país deles em pátio de estacionamento.
Se
os mulás decidirem reiniciar algum programa de armas nucleares, será para efeito
de autoproteção, de contenção, para terem capacidade de dizer aos EUA: “Aqui,
não. Caiam fora”. Por mais que haja aí dificuldades à vista para interesses da
política externa dos EUA – sobretudo os que tenham a ver com petróleo – nada tem
coisa alguma a ver com a segurança física de Israel ou dos EUA.
Guerra
contra o Irã é ideia péssima, macabra, mas existe, sim, como risco real. O
presidente Obama aproximou-se perigosamente desse precipício. Porque é delírio
falar, até, em ataque preventivo a instalações nucleares iranianas, porque, como
praticamente todos os analistas já lembraram, nunca saberemos, sequer, se o
ataque funcionou (e dificilmente funcionaria); e será ato de guerra que o Irã
não absorverá com um sorriso. No mesmo dia, começará a morrer gente aos magotes.
Mas o pessoal de Romney não vê aí
problema grave. Acham boa ideia. E estão doidos por uma dose dessa
loucura.
Notas dos
tradutores
[1] 6/10/2011, Foreign Policy, Josh Rogin em: “Romney creates shadow National
Security Council”
[2] 10/1/2003, CNN.com/U.S.,
Wolf Blitzer em: Search for the
“smoking gun”
[3] 23/9/2012, Stars &
Stripes, Christina Silva em: “In
volatile Gulf, US emphasizes diplomacy as capabilities grow”; com vídeo
a seguir:
[4] 13/1/2012, CNN U.S., Barbara Starr – correspondente
no Pentágono em: “Official:
U.S. vessels harassed by high-speed Iranian boats”.
[5] Há problemas de tradução que
exigiriam mais atenção, mas, para algumas possibilidades de tradução das mesmas
expressões, para o português do Brasil, os resultados, hoje, alguns muito
discrepantes dos números norte-americanos, e algumas discrepâncias até que
interessantes, são:
“Iran’s disputed nuclear weapons program”: 4 resultados
–
(port.) “Discutível programa nuclear iraniano de armas atômicas”: 0
resultados
–
(port.) Discutível programa nuclear iraniano de armas atômicas (sem aspas):
aprox. 2.270 resultados – mas praticamente todos são artigos em que a única
coisa cuja existência é dita “discutível” é o arsenal nuclear
israelense.
– (port.)
Controvertido programa iraniano de armas atômicas (sem aspas): aprox.
527.000
resultados
–
(port.) Controvertido programa de armas nucleares do Irã (sem aspas): aprox.
348.000 resultados
“Iran’s possible nuclear weapons program”:
aprox. 8.990
resultados
–
(port.) “Possível programa de armas nucleares do Irã”: 0
resultados
– (port.) Possível
programa de armas nucleares do Irã (sem aspas): aprox. 1.600.000
resultados – mas praticamente
todos são artigos em que a única coisa “possível” é um iminente ataque do
Irã a Israel, com as tais bombas atômicas inexistentes.
“Iran's
civil nuclear program”: aprox. 42.200
resultados
–
(port.) “Programa nuclear civil iraniano”: aprox. 3.900 resultados – mas
praticamente todos são artigos em que Ahmadinejad é citado e imediatamente
esquartejado por ter falado de programa nuclear “civil” do Irã!
– (port.) Programa
nuclear civil iraniano (sem aspas): aprox. 523.000
resultados – mas os primeiros
250.000, que deu pra ler, são, todos, artigos em que um ‘especialista’ diz que o
Irã decidiu usar menos de 1/3 de seu programa nuclear para finalidade
“civil” (e todo o resto para produzir bombas atômicas).
“Iran’s
civilian nuclear program”: aprox. 199.000
resultados
–
(port.) “Programa nuclear dos civis iranianos”: 0 resultados (o Google recomenda
“Certifique-se de que todas as palavras estejam escritas
corretamente”).
– (port.) Programa nuclear dos civis iranianos (sem
aspas): aprox. 91.900 resultados, mas praticamente todos são idênticos ao que a
revista Veja publicou: “programa de produção de bombas atômicas que os
iranianos garantem que teriam finalidade “civis”. Mas o Google recomenda
que se procure também por “Programa
nuclear dos civis iraquianos, com aprox. 42.400 resultados.
“Iran’s nuclear weapons program”:
aprox. 5.520.000
resultados
– (port.) “Programa
iraniano de armas nucleares”: aprox. 6.630
resultados. Poucos. E um
deles informa que Israel JÁ DESTRUIU o “programa iraniano de armas
nucleares”.
–
(port.) Programa iraniano de armas nucleares (sem aspas): aprox. 516.000
resultados.
– (port.) “Programa
iraniano de armas atômicas”: 5
resultados, todos de páginas
portuguesas [“atômicas”]
– (port.) Programa
iraniano de armas atômicas (sem aspas): aprox. 462.000
resultados, mas uma maioria
significativa só para informar que “Teria o programa iraniano de armas
atômicasfinalidades pacíficas?”
“Iran’s
nuclear program”: aprox. 49.000.000 de resultados
–
(port.) “Programa nuclear iraniano”: aprox. 2.220.000 resultados
–
(port.) Programa nuclear iraniano (sem aspas): 361.000 resultados
–
(port.) Programa nuclear do Irã (sem aspas): aprox. 870.000 resultados
[6] 22/10/2012, NPR, Bob
Schieffer (mediador) em: “Transcript
And Audio: Third Presidential Debate”
[7] 31/12/2011, IOWA Caucuses 2012, Tony Leys em: “Mitt
Romney: Ready military options to prevent Iranian nuclear
weapon”
[8] 6/11/2012, Think Progress, Bem Armbruster em: “Evan
Bayh Plays Bill Kristol’s Role On Fox News Sunday, Says U.S. Should Bomb
Iran”
[9] 29/8/2012, Jonathan Turley
blog, em: Lieberman
Predicts Victory in War With Iran With A Prayer For “Regime
Change”
[10] 16/11/2012, IPS Right Web, em: “Foundation
for Defense of Democracies”
[11] Tradução
brasileira, na Casa de Bíblia (online)
do livro: “Em
defesa de Israel”
[12] Ver também, sobre isso:
27/6/2010, redecastorphoto em: “Eric
(Blackwater) Prince: Empresário, soldado, espião”, Adam Ciralsky (Vanity Fair), em português e 15/9/2010, Blackwater
& Co.: A “negabilidade total”, de Jeremy Scahill, The Nation, redecastorphoto, em
português.
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