13/11/2012, John Robles, The Voice of Russia
Traduzido pelo pessoal da VilaVudu
John Robles |
A
formação da chamada oposição síria unificada – logo onde?! Em Doha, Qatar ! – e que
não inclui inúmeros grupos e facções de sírios que lutam contra Bashar al-Assad,
foi saudada no ocidente e em vários estados muçulmanos sunitas como uma vitória;
e a “coalizão” foi apresentada como legítima voz do povo sírio. O ocidente
continua a promover e atiçar o morticínio, fornecendo armas a alguns grupos e
até, como já se noticiou, treinando atiradores e grupos terroristas para
assassinar Assad. Simultaneamente, os clamores de David Cameron, que “exige”
imediata intervenção militar na Síria, colidiram violentamente contra um muro de
descrédito.
David Cameron |
O
ocidente insiste em tentar impor seus planos à Síria e promover uma “mudança de
regime” a qual, desde o começo, é desejo de Washington, muito mais que do povo
sírio.
O
mais recente golpe/tentativa de legitimar a oposição apoiada e armada pelo
ocidente apareceu sob a forma de conferência realizada fora da Síria, no domingo
passado. Reunião de fantoches do ocidente, a tal ponto que muitos dos líderes da
oposição síria “real”, que permanecem na Síria, recusaram-se a participar
daquela encenação.
A
escolha do Qatar para sediar a “conferência” já sugere viés bem claro: o Qatar
sempre apoiou os muçulmanos sunitas e seus interesses; e lá estão instaladas
bases dos EUA e do Comando Central dos EUA [orig. US Central Command
(CENTCOM)] que também mantém bases no Kuwait, Bahrain, Emirados Árabes
Unidos, Omã e Paquistão.
Importante
observar que a maioria da população síria é formada de muçulmanos sunitas, e que
Bashar al-Assad é alawita (denominação que para muitos se refere a uma seita do
Islã xiita). Isso explica por que o Qatar e outros países são tão empenhadamente
contra Assad e tanto se interessam em fazer o jogo dos EUA, no golpe para
derrubar Assad e seu governo de alawitas.
O
resultado da conferência em
Doha, Qatar , que reuniu várias associações e grupos da chamada
oposição síria, foi acordo assinado que constituiu mais um grupo de oposição,
chamado hoje Coalizão Nacional [orig. National Coalition (NC)].
EUA
e Grã-Bretanha apressaram-se a anunciar apoio ao novo grupo, e por razões
óbvias: assim se podem apresentar ao mundo como apoiadores de coalizão dita
legítima, mesmo que formada fora do país e marcada por favorecer interesses dos
aliados de Washington, selecionados a dedo. Como se já não estivessem ruins o
suficiente, as coisas, em seguida, pioraram.
Na
2ª-feira, o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), formado de Arábia Saudita
(sunitas), Bahrain (sunitas), Emirados Árabes (sunitas), Omã (ibadistas), Qatar
(sunitas) e Kuwait (sunitas) também decidiram reconhecer a tal Coalizão
Nacional, como legítima representante do povo sírio.
Bashar al-Assad |
As
razões pelas quais todos esses países tanto se empenham em derrubar o governo de
Assad são variadas e todas envolvem interesses específicos desses países, muito
mais do que interesses dos sírios; a nova Coalizão fatalmente levará a ampliar a
carnificina e a instabilidade na região, que virão como consequências
inescapáveis se Assad for derrubado. Para o CCG, o apoio parece óbvio, dado que
estão apoiando os irmãos sunitas e pondo fim a um importante aliado do Irã na
região.
O
Irã é país xiita, caso único no mundo muçulmano, porque a população da República
Islâmica do Irã é constituída de 90% de xiitas. Os xiitas iranianos são
malvistos pelos vizinhos muçulmanos árabes também porque não são árabes, mas
persas e muitos países árabes veem o Irã como ameaça.
Quanto
ao ocidente, as razões pelas quais querem ver Assad fora do governo são
completamente diferentes e nada têm a ver com a oposição sunitas-xiitas. O
ocidente tem ambições imperiais na região e a rixa religiosa, que o ocidente
sempre manipula, serve muito bem àquelas ambições. Para os EUA, há dois
objetivos na região: fixar o controle, para facilitar a exploração dos recursos
naturais; e proteger Israel.
A
duplicidade é evidente e o ocidente não tem qualquer objetivo humanitário. Se o
governo apóia a implantação militar dos EUA na região, é governo aliado; se não,
os EUA imediatamente passam a trabalhar para a “mudança de regime”.
No
Bahrain, por exemplo, o governo sunita oprime a população de maioria xiita. Mas
o Bahrain é crucialmente importante para o ocidente, do ponto de vista
estratégico, porque ali estão aquartelados o Comando Central das Forças Navais
dos EUA [orig. United States Naval Forces Central Command (COMUSNAVCENT)]
e da 5ª Frota dos EUA [orig. United States Fifth Fleet (COMFIFTHFLT);
nessas circunstâncias, os EUA ignoram todas as questões sociais; e o levante da
maioria xiita no Bahrain praticamente não é assunto na mídia mundial.
Saddam Hussein |
Saddam
Hussein é outro exemplo. Saddam era sunita, e oprimia a população xiita do
Iraque; mas o problema, para os EUA jamais foi a opressão dos xiitas. O
problema, ali, foi que Saddam começava a constituir política independente dos
EUA e a não obedecer aos ditames do ocidente. Se Saddam tivesse autorizado a
instalação de bases dos EUA em território iraquiano e garantisse pleno acesso
para os EUA aos recursos do Iraque, lá estaria, até hoje, por mais que
governasse como ditador sanguinário.
Assim,
em resumo, embora ainda haja quem suponha que o ocidente apóia muçulmanos
sunitas, fato é que os EUA só fazem manipular os sunitas e servir-se deles como
instrumentos para alcançar seus objetivos. Esses movimentos nem sempre são bem
claramente entendidos por muitos muçulmanos, que veem as atitudes dos EUA como
traição sempre: ou os EUA traem os sunitas, ou os EUA traem os xiitas e, em
todos os casos, traem muçulmanos.
O
mundo muçulmano enfrenta levantes populares hoje que ainda acompanham as linhas
sectárias manipuladas pelo ocidente, sempre na direção que mais interesse aos
EUA.
Muammar Gaddafi |
Outro
exemplo foi Muammar Gaddafi, do qual muitos dizem que seria o mais verdadeiro
dos muçulmanos, dado que não era nem xiita nem sunita. Os EUA decidiram derrubar
Gaddafi pelas mesmas razões (interesse em ocupar os recursos naturais da Líbia),
porque Gaddafi trabalhava para construir políticas de autonomia e independência
nacional – e já governava o sistema socialista de governo mais justo e produtivo
que o mundo jamais conheceu. Aí está exatamente o tipo de governo e governante
cuja existência o ocidente não pode admitir, porque governo e governante, nesse
caso, convertem-se em obstáculos vivos à exploração predatória do país por
interesses capitalistas.
De
volta à Síria, importante aliado do Irã, a “mudança de regime” tornou-se
absolutamente necessária porque o ocidente vê a Síria como ameaça importante aos
planos ocidentais de invadir e ocupar o Irã. Aí está outro país que construiu
políticas de autonomia e independência e que, além do mais, é arqui-inimigo de
Israel.
Muitos
especialistas concordam que, se a Síria cair, o alvo seguinte será o Irã. Há
quem diga que, nos planos dos imperialistas ocidentais para dominar o mundo,
depois do Irã virá a Venezuela; depois a Rússia; depois a China.
William Hague |
Assim
sendo, o que se tem é, em resumo muito apertado: nações sunitas, que trabalham
para promover interesses dos sunitas; o ocidente, que manipula a seu favor as
divisões sectárias, com vistas a promover o projeto imperialista de exploração
de recursos e o que entendem que seja o interesse de Israel; como consequência
disso tudo, o Irã e a Síria estão sendo hoje atacados por todos os lados.
A
Síria está sendo saqueada e rachada ao meio por efeito da manipulação, do
aprofundamento de ódios sectários, que voltam a reabrir as muitas divisões
internas, estimulados pela infiltração, no país, de terroristas e mercenários
vindos de fora. E o Irã está sendo completamente isolado pelas sanções,
aplicadas de fora para dentro.
Quanto
à Grã-Bretanha que, agora, parece que unilateralmente – de fato, só se ouviu uma
voz: do Primeiro-Ministro David Cameron – anda dizendo que o país estaria pronto
para iniciar intervenção militar na Síria, os planos do Primeiro-Ministro
colidiram violentamente contra um muro de descrédito.
Philip Hammond |
Segundo
o jornal Sun da Grã-Bretanha, uma fonte militar contou que:
Um
brigadeiro, que assistiu ao noticiário e soube que Cameron falava de invasão
armada contra a Síria, perguntou: “Quer invadir, primeiro-ministro?! Você e que
exército?”
Segundo
o Sun, o Secretário de Defesa Philip Hammond e o Secretário de Relações
Exteriores, William Hague também se manifestaram contra qualquer ideia de
invadir a Síria; lembraram que a Síria não é a Líbia; e que o presidente Bashar
al-Assad, além de comandar exército poderosíssimo, conta com o apoio dos
russos.
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